LIBERDADE RELIGIOSA
E
INDIVIDUALIDADE
Por
A.T. Jones
INTRODUÇÃO
O
Deus da individualidade e da liberdade não permitirá que o princípio divino e
direito à individualidade e liberdade na fé e na verdade, que Ele tem operado
tão maravilhosa e constantemente ao longo desses séculos para tornar claro e
manter, será sempre combatido e rebaixado, deixado de ser reconhecido e sendo
mal representado pela igreja cristã e pelo povo cristão. Não, esta verdade,
esta esplêndida verdade, que é a verdade fundamental e coroadora na e para a
própria existência da igreja cristã e do próprio cristianismo - essa divina
verdade vencerá e assegurará para sempre o seu divino lugar perante o mundo e na
igreja. Aqueles que esposam essa verdade
fundamental e divina da religião e igreja cristã serão, eles próprios, agora e
sempre, como foram no princípio, a verdadeira igreja cristã no mundo, e
comporão aquela "igreja gloriosa" que Cristo, que Se deu pela igreja,
"santificará e purificará com a lavagem de água pela Palavra", a fim
de que por ocasião de Seu glorioso aparecimento "possa a apresentar a Si
mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa
e sem defeito".
Religião
é "o dever que temos para com o nosso Criador e a maneira de dele nos
desincumbir".
Liberdade
"é o estado de ser isento do domínio de outros, ou de circunstâncias
limitadoras. Em ética e filosofia, o poder em qualquer agente racional de fazer
suas escolhas e decidir por si mesmo sua conduta, espontaneamente e
voluntariamente, de acordo com razões ou motivos".
Liberdade Religiosa,
portanto, é a isenção do homem da dominação por outros, ou de circunstâncias
limitadoras; a liberdade do homem para fazer suas escolhas e decidir sua conduta
por si mesmo, espontaneamente e voluntariamente; em seu dever para com o seu Criador, e no modo de desincumbir-se desse
dever.
Uma
vez que Deus criou o homem, na natureza das coisas o primeiro de todos os
relacionamentos é aquele que tem que ver com Deus; e o primeiro de todos os
deveres não poderia ser nada mais que o dever para com Deus.
Suponha-se
um tempo em que houvesse somente uma criatura inteligente no universo. Ele foi
criado; e seu relacionamento para com o seu Criador, seu dever para com seu
Criador, é o único que poderia possivelmente ser. Esse é o primeiro de todos os
relacionamentos que possivelmente podem existir. Portanto, está escrito que
"o primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus
é o único Senhor; amarás o Senhor teu Deus de todos o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todo o teu espírito, e de toda a tua força".
Tudo
quanto há da parte de qualquer alma é primeiro de tudo devido a Deus, pois tudo
veio de Deus. Este, portanto, é o primeiro de todos os mandamentos, não porque é o primeiro já concedido
pela palavra falada ou escrita, mas porque é o primeiro que poderia
possivelmente ser. E isso devido a ser a expressão do primeiro princípio da
existência de qualquer criatura inteligente. O princípio lá estava, inerente à
existência da primeira criatura inteligente, no primeiro momento de sua
existência; e lá o princípio jaz eternamente, não modificado e sem dissipar-se.
Agora,
conquanto esse seja o primeiro de todos os relacionamentos possíveis, e o primeiro
de todos os deveres; conquanto esse relacionamento e dever sejam inerentes à
própria existência das criaturas inteligentes, contudo, mesmo nessa obrigação
inerente, Deus criou toda criatura inteligente livre - livre para reconhecer tal obrigação ou não, livre para
desincumbir-se desse dever ou não, como prefira.
Nesse
aspecto, está escrito: "Escolhei
hoje a quem servireis". "Quem quiser, tome de graça da água da
vida". Assim, é absolutamente verdadeiro que em religião - no dever que
temos a cumprir para com o Criador e o modo de desincumbir-nos dele - Deus criou
o homem inteiramente "isento do domínio de outros e de circunstâncias
limitadoras"; criou-o livre "para fazer sua escolha, e decidir sua
conduta por si mesmo, espontaneamente e voluntariamente". Assim, a
liberdade religiosa é o dom de Deus, inerente ao dom da própria existência
racional.
Qualquer
serviço a Deus que não seja escolhido livremente por aquele que o presta não
pode ser de Deus; porque "Deus é
amor": e amor e
compulsão, amor e força, amor e opressão nunca podem caminhar juntos. Portanto,
qualquer dever, qualquer obrigação, seja o que for oferecido ou prestado a Deus
que não proceda da própria livre escolha do indivíduo, não pode nem ser de Deus,
nem para Deus. Nesse aspecto, quando o Senhor criou qualquer de suas
criaturas--anjo ou homem - a fim de que essa criatura pudesse ser feliz no
serviço de Deus, e a fim de que houvesse virtude em prestar serviço ou culto a
Deus, criou-a livre para escolher
assim fazer. E isso é individualidade, e o divino direito dela.
Deus
criou o homem livre. Quando o homem pelo pecado foi separado dessa liberdade e
a perdeu, Cristo veio para restaurá-lo plenamente a ela. O caminho de Deus e de
Cristo, portanto, é o da liberdade. E a obra de Deus mediante Cristo com a
humanidade em toda a história do mundo tem sido tornar claro esse caminho para
dar ao homem a absoluta segurança dessa "liberdade de alma" que é a
única verdadeira liberdade. Aquele a quem o Filho torna livre, é
verdadeiramente livre.
Nas
Escrituras são dadas distinta e claramente seis lições específicas sobre esse
tema de liberdade religiosa - a liberdade da alma individual contra o domínio
do homem e combinações de homens nos poderes do mundo. Cada uma dessas lições
trata com o assunto sobre um princípio distinto e específico. E as seis lições,
tomadas juntas, cobrem completamente toda a extensão de cada princípio.
Propomos
agora atacar para estudo especial essas seis lições separadamente e em sucessão
como dadas nas Escrituras. A luta pela liberdade religiosa não está ainda
concluída. A liberdade religiosa completa não é reconhecida ainda, mesmo em
princípio, e muito menos na prática, até mesmo pela massa de cristãos, como é
tornado perfeitamente claro nas Escrituras.
Vinde, pois, estudemos e tenhamos e estudemos para
que possamos ter completa liberdade religiosa, em princípio e em experiência,
como constam nas Escrituras da verdade.
CAPÍTULO 1
LIBERDADE RELIGIOSA
RELACIONADA COM AUTOCRACIA
Na
natureza das coisas não há lugar legal para a dominação de outros na vida e nos
negócios da alma da pessoa individual. Isso é peculiar e supremamente do
domínio de Deus somente, que criou o homem a sua própria imagem e para a sua
própria glória; e quem criou cada pessoa individual e pessoalmente responsável
e tendo que somente a ele dar contas.
Contudo,
o homem, pecador e rebelde, nunca esteve disposto a permitir que Deus tivesse o
Seu lugar em e com a alma do homem individual; mas tem sempre sido ambicioso e
pronto para reivindicar esse lugar para si mesmo, e por todos os meios e
instrumentalidades possíveis para tornar essa reivindicação efetiva. A própria
história, no que se refere aos princípios gerais e não a detalhes,
dificilmente seria algo mais do que uma sucessão de tentativas na maior escala
possível de tornar bem sucedida essa arrogante reivindicação do homem pecador e rebelde de pôr-se no lugar
de Deus para dominar as almas dos homens. E nenhuma demonstração maior de que
há uma divindade empenhada intensamente em moldar o destino da humanidade
poderia jamais ser requerida ou dada do que desde o tempo de Abel até agora é
dada na permanente e heróica asserção e manutenção dessa perfeita liberdade da
alma individual pela pessoa individual contra as sutis pretensões e poderosas
combinações de força e poder que este mundo poderia possivelmente arquitetar.
De Ninrode para Nabucodonosor e de Nabucodonosor até agora o curso e energia do
império tem sido inclinado e exercido para esta única coisa. E ao longo de todo
esse tempo indivíduos tão magníficos como Abraão, José, Moisés, Daniel e seus
três irmãos, Paulo, Wycliff, Huss, Militz, Matthias, Conrado, Jerónimo, Lutero,
Roger Williams e multidões de nomes não lembrados, e acima de todos Jesus Cristo,
por divina fé têm sublimemente permanecido sós
com Deus, absolutamente sós no que concerne ao homem, pela individualidade
e, nessa, a liberdade da alma do homem, e pela soberania de Deus somente em e
acima do território da alma.
O
Império de Babilónia abrangia o mundo civilizado, como era então o mundo.
Nabucodonosor foi monarca e governante absoluto do império. "Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus
do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória; a cujas mãos foram
entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem, e os animais do campo
e as aves dos céus, para que dominasses sobre tudos eles". Daniel 2:37,38.
Em
seu próprio propósito providencial Deus havia feito todas as nações sujeitas ao
domínio do Rei Nabucodonosor de Babilónia. Jeremias 27:1-13. Na
forma e sistema do governo de Babilónia, a autoridade do rei era absoluta. Sua
palavra era lei. Nesse absolutismo de soberania o Rei Nabucodonosor presumia
ser o soberano das almas, bem como dos corpos, da vida religiosa, bem como da conduta civil, daqueles que eram
sujeitos ao seu poder. E uma vez que era o governante das nações, seria regente
na religião, e da religião das nações.
Nesse
sentido, ele fez uma grande imagem, toda de ouro, com cerca de trinta metros de
altura e três de largura, e "levantou-a
no campo de Dura, na província de Babilónia". Então convocou
das províncias todos os oficiais do império para a dedicação e culto da grande
imagem de ouro. Todos os oficiais vieram, e reunidos postaram-se diante da
imagem.
"Nisto o arauto apregoava em alta voz:
Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: No
momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do
saltério, da gaita de foles, e de toda sorte de música, vos prostrareis, e
adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou. Qualquer que se
não prostrar e não a adorar, será no mesmo instante lançado na fornalha de fogo
ardente".
E quando os instrumentos musicais soassem o grande sinal para a adoração, todas
as "nações e homens de todas as
línguas" se
prostraram para adorar a imagem de ouro. Daniel 3:4-6.
Mas
na assembléia havia três jovens hebreus que tinham sido levados cativos de
Jerusalém para Babilónia, mas que haviam sido designados pelos oficiais do rei sobre os negócios da província de Babilónia.
Esses nem se inclinavam nem adoravam, ou doutro modo prestavam qualquer atenção
particular ao que se passava.
Isso
foi observado e despertou acusação perante o rei. "Há uns homens
judeus, que tu constituíste sobre os negócio da província de Babilônia: Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti, a teus deuses
não servem, nem adoram a imagem de ouro que levantaste". Daniel 3:12.
Então
o rei "irado e furioso"
ordenou que os três jovens fossem trazidos perante ele. Isso foi feito. O
próprio rei agora falou-lhes direta e pessoalmente: "É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vós não servis a
meus deuses nem adorais a imagem de ouro que levantei?" O
próprio rei então repetiu a ordem de que ao som dos instrumentos de todo tipo
de música eles se baixassem e adorassem, caso contrário seriam "no mesmo instante lançados na fornalha
de fogo ardente".
Mas
os jovens responderam tranquilamente: "Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o
nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, Ele nos livrará da fornalha de
fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não
serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste". Daniel 3:16-18.
A
questão estava agora claramente estabelecida. O soberano da maior potência
mundial havia pessoalmente expressado a sua ordem diretamente aos três
indivíduos; e deles havia recebido resposta declarada de que não se
conformariam.
Aquela
era uma conduta, e aquelas eram palavras tais como o rei em seu absolutismo de
poder jamais tinha deparado. Havia, portanto, um ressentimento pessoal, bem
como oficial, nele despertado; e estava tão irado que ficou "transtornado o aspecto do seu
rosto" contra os jovens, e ordenou que a fornalha fosse aquecida
sete vezes mais do que o costumeiro; e que "os homens mais poderosos que estavam no seu
exército" amarrassem os jovens e os lançassem no meio da
fornalha ardente.
Assim
foi feito. E os três homens, "foram
atados com os seus mantos, suas túnicas e chapéus, e suas outras roupas caíram
atados dentro da fornalha sobremaneira acesa".
Mas foi então que o rei ficou mais assustado do que nunca ficara na vida, e
"se levantou depressa" gritando aos seus conselheiros: "Não lançamos nós três homens atados
dentro do fogo?"
Eles
lhe asseguraram que isso era verdade. Mas ele continuou: "Vejo quatro homens soltos, que andam
passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a
um filho dos deuses".
Então
o rei aproximou-se da entrada da fornalha e chamou os homens por seus nomes,
dizendo: "Servos do Deus
Altíssimo, saí e vinde!" Eles, então, "saíram do meio do fogo. Ajuntaram-se os
sátrapas, os prefeitos, os governadores e conselheiros do rei, e viram que o
fogo não teve poder algum sobre os corpos destes homens; nem foram chamuscados
os cabelos da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo
passara sobre eles".
"Falou Nabucodonosor, e disse: Bendito seja o Deus
de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo, e livrou os seus
servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo
entregar os seus corpos, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão só
seu Deus".
Aqui,
pois, está a situação: o Senhor havia trazido todas as nações em sujeição ao
rei de Babilónia. Pelas mensagens de seu próprio profeta ele havia ordenado a
seu povo, os judeus, e àqueles três jovens entre eles, a servirem "ao rei de Babilónia".
Contudo, os três haviam explicitamente recusado servir ao rei de Babilónia naquele
pormenor que ele próprio pessoal e diretamente lhes ordenara; e nessa recusa, o
Senhor mesmo havia muito significativamente permanecido do lado deles
livrando-os.
Portanto,
seria impossível demonstrar mais claramente que o Senhor, ao ordenar o povo a
sujeitar-se ao rei de Babilónia para servi-lo, jamais havia ordenado ou
intencionado que devessem sujeitar-se a ele para servi-lo no campo da religião.
Por
essa indiscutível aprovação da atitude dos três homens, e espetacular
libertação deles, o Senhor tornou perfeitamente claro ao rei que sua ordem
nessa questão estava errada; que havia requerido um culto que não tinha o
direito de exigir; que ao torná-lo rei das nações o Senhor não o havia tornado
rei na religião do povo; que ao
conduzi-lo à liderança das nações, povos e línguas, Deus não lhe havia dado ser
líder da religião mesmo de um único indivíduo; que conquanto o Senhor houvesse
trazido todas as nações e povos sob o jugo do rei quanto a seu serviço político
e físico, esse mesmo Senhor havia indiscutivelmente demonstrado ao rei que não
lhe havia conferido poder nem jurisdição de qualquer maneira que fosse quanto
ao serviço de suas almas; que conquanto em todas as coisas entre nação e nação,
e entre homem e homem, todos os povos, nações e línguas haviam-lhe sido dadas
para servi-lo e Deus havia-o tornado governante sobre eles todos; contudo o rei
não podia ter nada a ver com as relações entre cada homem e Deus; e que na
presença dos direitos da pessoa individual, em consciência e culto "a palavra do rei" deve
mudar, o decreto do rei é nulo; que nisso mesmo o rei do mundo é apenas um ninguém,
pois aqui somente Deus é soberano e tudo em todos.
E
para a instrução de todos os reis e todos os povos para sempre, tudo isso foi
feito naquela dia, e foi escrito para nossa admoestação, a quem os fins dos
tempos são chegados.
CAPÍTULO 2
LIBERDADE RELIGIOSA
EM VISTA DA SUPREMACIA DA LEI
A
potência mundial e império de Babilónia foi-se para sempre; e outro tomou o seu
lugar - o poder e império da Medo-Pérsia. Aqui estava outro princípio de
governo, e aqui é dado ao mundo outra lição em liberdade religiosa.
No
Império medo-persa os princípios de governo eram diferentes dos de Babilónia.
Babilónia,
como vimos, era não somente uma monarquia absoluta, mas uma autocracia - governo
de um só homem, um absolutismo de um único indivíduo. A palavra do rei era a
lei, e a lei era mutável segundo a vontade e a palavra do rei mudavam. O rei
era a fonte da lei, sua palavra era a lei para todos os outros; mas quanto a si
próprio não havia restrição da lei.
O
governo medo-persa era também uma monarquia absoluta. Ali, também, a palavra do
rei era a lei; mas com uma diferença fundamental quanto a Babilónia - uma vez a
palavra do rei era emitida como lei, essa lei não podia ser mudada nem
contrariada pelo próprio rei. O rei mesmo ficava preso contra si próprio, por
sua própria palavra ou decreto que outrora se tornara lei. O governo da
Medo-Pérsia, portanto, era um governo de lei,
seus princípios eram a supremacia da lei.
Como
cabeça da administração dos negócio desse império havia três presidentes, dos
quais Daniel era o primeiro. Devido ao conhecimento, integridade, habilidade, e
valor geral de Daniel na administração, o rei tinha em mente "estabelecê-lo sobre todo o reino".
Tornando-se isso conhecido despertou os ciúmes dos outros dois presidentes e
dos príncipes; e eles conspiraram para deitá-lo abaixo.
Primeiro
buscaram "ocasião para acusar a
Daniel" a respeito de sua conduta nos negócios do império. Mas
após longa e diligente busca, e o escrutínio mais detalhado, foram obrigados a
suspender seus esforços e confessar que nunca achariam "culpa alguma nenhum
erro, nem culpa" porque "ele era fiel".
"Disseram, pois, esses homens: Nunca acharemos
ocasião alguma para acusar a este Daniel, se não a procurarmos contra ele na
lei do seu Deus". Mas não podiam achar ocasião
nenhuma contra ele com respeito mesmo à lei do seu Deus, até que eles próprios
tivessem primeiro criado uma situação que tornasse inevitável a oportunidade
desejada.
Seus
longos e incansáveis esforços para encontrar
alguma ocasião ou falta contra ele nos negócios do império tinham-nos
convencido de sua absoluta devoção e lealdade a Deus. Através da investigação
deles sabiam por experiência que ele não podia de modo algum ser levado a
inclinar um fio de cabelo da estreita linha da absoluta devoção a Deus. Mas
essa era uma questão inteiramente individual, em que não havia qualquer
interferência com homem algum em nenhuma maneira. E em sua conduta com relação
aos outros e ao Estado, sua própria investigação conscientemente preconceituosa
havia demonstrado que ela era na verdade benéfica.
Assim,
não havendo terreno possível sobre o qual achar ocasião contra ele, até mesmo
no que concerne à lei de seu Deus, segundo fossem as circunstâncias e
condições; e eles, portanto, sendo postos ante a necessidade de realmente criar
tal circunstância, a devoção inabalável de Daniel a Deus tornou-se o meio pelo
qual procederiam. Portanto, armaram um esquema ao qual atraíram todos os
oficiais do império, e foram ao rei e disseram: "rei Dario, vive para sempre! Todos os presidentes do reino, os
prefeitos e sátrapas, conselheiros e governadores, concordaram em que o rei
estabeleça um decreto e faça firme o interdito que todo homem que, por espaço
de trinta dias, fizer petição a qualquer deus, ou a qualquer homem, e não a ti,
ó rei, seja lançado na cova dos leões. Agora, pois, ó rei, sanciona o
interdito, e assina a escritura, para que não seja mudada, segundo a lei dos
medos e dos persas, que se não pode revogar". Daniel 6:6-8.
O
rei se deixou seduzir por essa proposta lisonjeadora de tão grande número dos
mais elevados oficiais do império, e assinou o decreto. Daniel sabia que o
decreto havia sido tramado, e que a lei havia sido assinada pelo rei. Sabia que
era agora a lei do império--uma lei que não podia ser contornada nem alterada.
Não obstante, foi para a sua casa, e ao aproximarem-se os período regulares de
oração, três vezes ao dia, "orava
e dava graças, diante do seu Deus". Então, em vista desse
aberto desrespeito da lei imperial, apressaram-se até o rei e com muita
deferência lhe indagaram: "Não
assinaste um interdito."
O rei respondeu: "Esta
palavra é certa, segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode
revogar". Então os autores da artimanha relataram: "Esse Daniel, que é dos exilados de
Judá, não faz caso de ti, ó rei, nem do interdito que assinaste, antes três
vezes por dia faz a sua oração".
Então
o rei ouvindo isso "ficou muito penalizado, e determinou
consigo mesmo livrar a Daniel; e até ao pôr-do-sol se empenhou por
salvá-lo". Mas por todo aquele tempo e em toda ocasião o rei
era defrontado pelos ardilosos homens com o apelo: "A lei; a lei".
"Sabe, ó rei, que é lei dos
medos e dos persas que nenhum interdito ou decreto, que o rei sancione, se pode
mudar". A supremacia da lei restringia o próprio rei; não havia
escape; e, em meio a grande relutância, "ordenou que trouxessem a Daniel, e o lançassem na cova dos leões".
O
rei passou a noite em jejum e sem dormir. Mas bem cedo de manhã ele apressou-se
à cova dos leões, e "chamou por
Daniel com voz triste; disse o rei a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo,
dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido
livrar-te dos leões?"
Daniel
respondeu: "rei, vive para
sempre! O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca aos leões, para que não
me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; também contra
ti, ó rei, não cometi delito algum". E ali ficou demonstrado de
modo perfeito e para sempre que a pessoa que desrespeita qualquer lei que afeta
o culto a Deus é inocente perante Deus,
e também não comete "delito
algum" ao rei, ou ao Estado, ou à sociedade, ou a qualquer
princípio de lei ou governo.
Tudo
isso em divina verdade demonstra novamente que nenhum governo terreno pode
jamais ter qualquer direito ou jurisdição em questões de religião, ou seja, no "dever
que temos para com o nosso Criador, e na maneira de dele desincumbir-nos".
E nesse caso ocorre a demonstração
adicional de que nenhum governo pode jamais ter o direito de incorporar na lei provisões que respeitem à religião, e então pleiteie a supremacia e integridade da "lei"; que "não é basicamente uma questão de religião,
mas somente de lei", que "não estamos pedindo por observância religiosa, mas somente pedimos
respeito à lei". No caso de Daniel e a "supremacia da lei dos medos e dos
persas", a resposta divina a todos esses apelos é de que nada
pertencente à religião pode jamais por direito ter qualquer lugar na lei.
O
direito de perfeita individualidade em religião é de caráter divino e,
portanto, um direito absolutamente inalienável. E tornar as observâncias ou
proibições religiosas uma questão de lei não afeta o livre exercício desse
divino direito. A plenitude do direito, e a perfeita liberdade de seu exercício
permanecem sempre os mesmos, mesmo embora a religião seja tornada parte da lei.
E quando a religião ou a observância ou proibição religiosa é fixada na lei, conquanto
a lei seja suprema e inflexível como a dos medos e persas, o divino direito e
perfeita liberdade da individualidade em religião então se estende à lei que incorpora
a religião, e tal lei é simplesmente lei nenhuma. O subterfúgio de impor
observâncias ou proibições religiosas sob a capa da "supremacia e integridade da lei", em vez de
eliminar ou de algum modo limitar o direito divino e a perfeita liberdade e individualidade
em religião, simplesmente reage na extensão de realmente eliminar todo terreno
de reivindicação quanto à "supremacia
e integridade da lei" - na realidade anulando a lei específica
no caso.
A
lei civil é certamente suprema no campo das coisas “civis”, mas no campo
das coisas “religiosas” simplesmente não tem lugar em absoluto.
Na
presença do divino direito da individualidade em religião, no que se refere a
governo autocrático, ilustrado no rei Nabucodonosor, a palavra do rei deve mudar.
Na
presença do direito divino de individualidade em religião, no que se refere à
supremacia e inflexibilidade da lei, ilustrada no governo dos medos e persas,
qualquer lei que afeta ou contempla a religião simplesmente não é lei alguma.
O
campo da religião é o de Deus. Nesse campo Deus somente é soberano, e sua
vontade é a única lei. E nesse campo o indivíduo posta-se só com Deus, sendo
responsável somente a ele.
CAPÍTULO 3
LIBERDADE RELIGIOSA NO QUE
TANGE à UNIÃO DE ESTADO E
IGREJA
Por
fatos bastante notáveis e experiências inquestionáveis, no caso do rei
Nabucodonosor e os três jovens hebreus, foi tornado claro para sempre a divina
verdade e princípio de que com a religião do povo nenhum monarca pode por
direito ter nada que ver; de que diante do direito de individualidade em
religião, a palavra do rei deve mudar.
Por
fatos e experiências correspondentes, no caso do governo medo-persa contra
Daniel, foi tornado clara para sempre a divina vontade e verdade e o princípio
de que com a religião do povo nenhuma lei, nem qualquer governo por meio da
lei, pode por direito ter nada a ver - que diante do livre exercício da
individualidade em religião, qualquer lei atinente a religião nada é; e todo
indivíduo que ignora e desconsidera absolutamente tal lei é "inocente" perante Deus,
e também nenhum "delito"
há ante governo, lei ou sociedade.
Esses
dois exemplos e os princípios que ilustram abrangem toda fase do governo
terrestre como tal; e assim torna claro a grande e vital verdade de que a
religião, com os seus ritos, instituições e observâncias, é totalmente isenta,
e deve ser totalmente isenta, de coerção de governos terrenos de qualquer fase
ou forma; que religião, com tudo quanto lhe diz respeito, pertence ao indivíduo
somente em suas relações pessoais com Deus.
Mas
há outro meio pelo qual o homem buscou dominar o homem no reino da religião, ou
seja, por meio da Igreja através do Estado.
Pessoas
chamadas do mundo e separadas do mundo para Deus são a sua igreja no mundo.
Quando Deus chamou o seu povo para fora do Egito, eles eram primeiramente "a igreja do deserto"; e
posteriormente na terra de Canaã eram a igreja ali.
Devido
a sua dura cerviz, dureza de coração e cegueira de mente, eles tristemente
perderam de vista o grande propósito de Deus para eles como sua igreja.
Contudo, em sua bondade e misericórdia Deus"suportou sua conduta no deserto", e na terra de
geração a geração. Assim, por muitas vicissitudes aquele povo tinha continuado
como a igreja até o tempo em que Cristo, o Senhor, veio habitar sobre a Terra;
e ao longo de todo esse tempo essa igreja foi herdeira das mais gloriosas promessas
de um amplo reino e domínio.
Ao tempo em que Cristo veio à Terra como
homem, o domínio e poder de Roma mantinham o povo daquela igreja em severa e
cruel sujeição temporal, e eles ansiavam pelo aparecimento do prometido
Libertador. Esse Libertador havia sido abundantemente prometido, e finalmente
veio. Mas os grandes da igreja tinham permitido que sua ambição mundana
ocultasse seus olhos da espiritualidade do reino e do domínio que tinha sido
prometido; e buscaram, e ensinaram as pessoas a aguardar um libertador político
e temporal que desfaria o jugo de Roma, quebraria o seu poder e exaltaria a
igreja do povo escolhido a uma posição de poder e domínio sobre as nações,
correspondente ao que por tanto tempo havia sido mantido pelas nações sobre a
sua.
Quando
Jesus primeiro apareceu em seu ministério público, esses grandes da igreja
foram com as multidões que se reuniam em torno dele e o ouviam com interesse, e
esperavam que ele cumprisse suas expectativas. Mas quando viram o interesse e
entusiasmo das multidões alcançar o ponto em que "queriam forçá-lo a ser rei", e quando viram que Jesus,
em lugar de aceitar a honra ou incentivar tal projeto "retirou-se do meio deles",
viram também nisso que todas as suas ambiciosas esperanças de libertação do
domínio de Roma, e de exaltação sobre as nações, eram inteiramente vãs no que
dizia respeito a Jesus.
Por
esse tempo a influência de Jesus junto às pessoas havia se tornado tão ampla e
forte que os líderes eclesiásticos viram que o poder deles sobre as pessoas estava
rapidamente desaparecendo. Em lugar de verem cumpridos ou sancionados seus
ambiciosos planos e esperanças de poder e domínio mundanos, viram com desânimo
que o poder e influência que desfrutavam junto ao povo estava em grande parte
solapado; e isso devido a um homem nascido de grande obscuridade, que procedia
de uma cidade da menor reputação e que, quando muito, era somente um membro
particular da igreja! Algo precisava ser feito, e bem depressa, para preservar
o lugar e dignidade deles. Era manifestamente tarde demais para pensar em
ordená-lo não pregar ou ensinar; por aquele tempo sabiam muito bem que não
somente ele, mas as próprias multidões, não dariam atenção a quaisquer proibições
dessa natureza. Mas havia uma saída--um meio pelo qual manter sua posição e dignidade,
e assegurar o poder deles sobre ele e o povo. Na opinião deles sobre si
próprios e sua posição era algo muito fácil tornar sua posição e dignidade
idênticas não só com a posição mas com a própria existência da igreja e mesmo
da própria nação. Nesse propósito, eles concluíram: "Se o deixarmos assim todos crerão nele; depois virão os romanos e
tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação". E "Desde aquele
dia resolveram matá-lo". João
11:47,53.
Mas
sujeitos como estavam à autoridade romana, não lhes era legal pôr homem algum à
morte. Portanto, para realizar o seu propósito tinham que conseguir o controle
do governo ou autoridade civil. Não importava que tal autoridade fosse romana;
e não importava que essa autoridade romana, que odiavam acima de todas as
coisas terrenas, e que não podiam, sob hipótese alguma, reconhecer; tudo isso
devia ser esquecido na presença da terrível alternativa de verem desaparecer o
seu lugar e dignidade e poder na igreja.
Na
igreja, os fariseus e herodianos postavam-se em polos opostos. Os herodianos
eram assim chamados por serem partidários de Herodes. Eram os apologistas de
Herodes em sua posição de rei da Judéia. Mas sendo Herodes rei somente por
designação direta de Roma, e permanecia e se mantinha como rei pelo poder de
Roma, ser alguém partidário e apologista de Herodes significava ser ainda mais
partidário e apologista de Roma.
Os
fariseus constituíam os exclusivamente justos da igreja. Eles representavam o
partido extremo da igreja. Como tais, eram os conservadores da pureza da
igreja, os representantes da mais verdadeira lealdade a Deus e da antiga
dignidade do povo escolhido. Como tais eram os dissidentes mais extremistas e
contrários a Roma e de tudo quanto fosse de Roma ou tivesse qualquer ligação
com Roma.
Mas
os fariseus, como os exclusivamente justos e os de mais elevada dignidade, eram
os que tinham a maior hostilidade contra Cristo, e assumiram a liderança nos
conselhos e planos para destruí-lo. E a fim de realizarem o seu propósito de
levá-lo à morte, precisavam da cooperação do poder secular, que era somente
Roma. Portanto, a fim de cumprir seu propósito contra Jesus, eles iriam passar
por alto seu ódio de Roma, e utilizariam para seu propósito contra Jesus o
próprio poder de Roma de que, por sua profissão, eram os oponentes e contestadores
mais extremados.
O
meio pelo qual superariam esse abismo até Roma para assegurar o poder secular
era o de encontrar temas comuns junto aos herodianos. Os herodianos, sendo
apenas menos opostos a Jesus do que eram os fariseus, estavam prontos para a
aliança. Mediante essa aliança o partido político estaria consoante com os
fariseus, e a influência e poder políticos daquele partido estaria sob o
comando dos líderes eclesiásticos. Isso lhes asseguraria o emprego de força
militar, de que deviam valer-se para realmente garantir seus declarados
movimentos contra Jesus.
A
aliança foi estabelecida, e a conspiração formada: "Retirando-se os fariseus, conspiravam logo com os herodianos,
contra Ele, em como Lhe tirariam a vida". Marcos 3:6. "Então, retirando-se os fariseus, consultaram
entre si como O surpreenderiam em alguma palavra. E enviaram-Lhe discípulos
juntamente com os herodianos", "emissários que se fingiam de justos
para verem se O apanhavam em alguma palavra, a fim de entregá-Lo à jurisdição e
à autoridade do governador". Mateus
22:15,16; Lucas 20:20. E
esse governador era o romano Pilatos.
Quando
finalmente chegou o tempo, naquela terrível meia-noite no Getsemani, quando
Judas tinha em sua companhia "uma
turba com espadas vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do
povo", Ele lhes foi entregue e preso.
Tendo-O
sob o domínio, levaram-No a Anás primeiro. Anás remeteu-O a Caifás, e Caifás
enviou-O a Pilatos, o governador romano. Pilatos O enviou a Herodes, o qual, "com os da sua guarda"
reduziu-O a nada e dEle zombou, apresentando-O trajado numa vistosa vestimenta
e remetendo-O a Pilatos novamente. E quando Pilatos O quis libertar, eles
emitiram sua nota política derradeira de lealdade
a César e a Roma, mesmo acima da lealdade do próprio Pilatos a Roma. "Se soltas a Este, não és amigo de
César; todo aquele que se faz rei é contra César".
Pilatos
apresentou este último apelo: "Hei
de crucificar o vosso rei?" somente para obter como resposta as
expressivas palavras de seu final abandono de Deus, e mais completa união com
Roma. "Não temos rei, senão
César" "Crucifica-O!
Crucifica-O!" "Eles instavam com grandes gritos pedindo que fosse
crucificado. E o seu clamor prevaleceu".
Assim,
o mais portentoso crime em toda a história do universo foi cometido, e isso foi
tornado possível e cometido mediante a união do estado e igreja - a igreja em
controle do poder secular, empregando esse poder para tornar eficaz sua ímpia
vontade e propósito.
E
esse terrível fato somente é suficiente para assegurar perpétua e infinita
condenação, e lançar à eterna infamia, todas as ligações semelhantes para
sempre. Com tal registro na primeira oportunidade em que se deu, não é
absolutamente estranho que essa mesma coisa de união de estado e igreja - a
igreja em controle do poder secular - deva ter provado e precise jamais provar
a maior maldição aos homens e nações onde quer que seja achado em todo o tempo.
Assim,
deveras fica inteiramente demonstrado que "o poder secular tem-se comprovado um dom satânico para a
igreja".
CAPÍTULO 4
LIBERDADE RELIGIOSA
NO QUE
TANGE À PRÓPRIA IGREJA
Vimos
que nenhum governo monárquico tem qualquer direito de impor alguma observância
religiosa; e que quando um poder desses o faz, o direito à individualidade na
religião é supremo, e a palavra do monarca deve mudar.
Também
descobrimos que nenhum governo em que a lei é suprema tem qualquer direito de
acrescentar à legislação do reino qualquer estatuto, decreto ou provisão que
abranja religião; e que quando tal coisa é feita, o direito da individualidade
na religião permanece supremo, e a inocência perante Deus, e a perfeita isenção
de culpa perante o governo, a lei e a sociedade são achadas naquele que
desrespeita tal lei.
Descobrimos
que a igreja não tem direito de controlar o poder civil para a execução de sua
vontade ou promoção de suas metas; e que quando o faz, uma conexão de máxima
iniquidade é formada, somente um dom satânico está de posse de tal igreja, e o
direito de individualidade em religião é ainda supremo e para ser livremente
exercido.
Há
ainda outra combinação por meio de que o domínio do homem em religião tem sido
buscado; trata-se da própria
igreja - a igreja no que se relaciona com sua membresia. E sobre esta, seja em
princípio, em fatos de notável experiência, a Escritura não é menos explícita
do que em qualquer outros dos exemplos oferecidos sobre este assunto.
Já
se relatou como Israel, quando libertado do Egito, foi a primeira "igreja do deserto" e
posteriormente na terra de Canaã; e que esse mesmo Israel nos dias de Cristo
sobre a Terra, conquanto em espírito e substância ficasse tão aquém do ideal
divino para eles, contudo de fato era ainda a igreja em direta descendência.
A
organização oficial dessa igreja era também ainda de fato a mesma em
descendência direta. O sacerdócio - os principais dos sacerdotes e os
sumo-sacerdotes - em ordem e sucessão, eram a continuação direta na sucessão da
ordem estabelecida pelo Senhor mediante Moisés no deserto. O concílio oficial
da igreja - o Sinédrio--era também em sua idéia e forma descendente dos setenta
anciãos designados pelo Senhor por intermédio de Moisés no deserto. Assim, nos
dias de Cristo sobre a terra, a organização inteira de Israel -, o sacerdócio e
o grande concílio - era em forma e em fato diretamente descendente da
organização divina estabelecida pelo Senhormediante Moisés no deserto; e era
verdadeiramente a igreja descendente daquela no deserto.
Os
apóstolos do Senhor e os discípulos originais de Jesus eram todos, sem exceção,
membros dessa igreja. Eles tomavam parte igualmente com outros nos serviços e
cultos daquela igreja. Eles foram ao templo e para o templo, com todos os
demais para adorar nas horas regulares; e ensinavam no templo. Atos 2:46;
3:1; 5:12. E as pessoas alegravam-se de que assim fosse, e a aprovação
de Deus em grande medida estava sobre eles todos.
Mas
aqueles apóstolos e discípulos haviam aprendido algo e conheciam a verdade
divina de que os destacados da igreja não conheciam e não reconheceriam; e
sabendo isso eles a iriam declarar. Portanto, pregavam a Jesus e a
ressurreição, e a salvação mediante Ele, e de que não há outro meio - aquele
mesmo Jesus sobre quem a ordem oficial e organização da igreja tinham "agora sido os traidores e
homicidas". Portanto, essa ordem e organização oficial da
igreja assumia o ofício e prerrogativa de decidir que aqueles membros
individuais da igreja não deviam pregar nem ensinar essa verdade que sabiam
tratar-se da verdade.
Nesse
sentido, os sacerdotes e as autoridades do templo prenderam a Pedro e João,
pondo-os na prisão, quando tinham ido ao templo na hora da oração, e o homem
paralítico tinha sido curado mediante fé no nome de Jesus, e Pedro havia
pregado àquelas pessoas ali reunidas em admiração. Então, na manhã seguinte,
toda a ordem e organização oficial da igreja - os dirigentes, os setenta
anciãos, os escribas, os sacerdotes, e o sumo sacerdote - reuniram-se e
convocaram a Pedro e João colocando-os em seu meio, e indagaram-lhes com que
autoridade tinham estado pregando: "Com
que poder, ou em nome de quem fizestes isto?"
Então
Pedro "cheio do Espírito Santo"
deu resposta. Todos na assembléia "admiraram-se"
ante a ousadia daqueles dois meros membros iletrados da igreja na presença
daquele oficial e augusta corporação; "reconheceram que haviam eles estado com Jesus".
Pedro e João foram despedidos do conselho enquanto seus componentes "consultavam entre si".
Na
sua conferência eles decidiram: "Ameacemo-los
para não mais falarem neste nome a quem quer que seja". Daí,
chamaram a Pedro e João e "ordenaram-lhes
que absolutamente não falassem nem ensinassem em o nome de Jesus".
Mas Pedro e João responderam imediatamente: "Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do
que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e
ouvimos". Nessa resposta tão prontamente dada, parecia àquela
assembléia que aqueles homens comuns e iletrados membros da igreja realmente
transmitiriam a impressão de que era possível para indivíduos tais como eles
serem ensinados por Deus, e aprender diretamente de Deus, coisas que aquela
assembleia inteira de elevados oficiais e homens bem cultos da igreja
desconheciam; e que não prestariam atenção alguma à ordem do conselho, mas
iriam em frente a despeito de tudo que o conselho pudesse dizer ou fazer. E com
bastante clareza, à vista do conselho
tal curso de ação representaria somente que cada um responderia por si mesmo,
uma independência individual que "subverteria
toda ordem e autoridade".
Que
resposta, de pessoas como aquelas, a oficiais e a uma dignificada corporação
como aquela; que resposta de pessoas comuns àquela augusta assembleia; de
membros individuais da igreja à assembléia regular daqueles que por décadas
tinham sido os mais exaltados oficiais e ordem divinamente atribuídos à
organização da igreja; não podia ser considerada por aqueles oficiais como algo
menos do que presunção, e a destruição de toda ordem e organização na igreja.
Contudo,
o conselho permitiu que se fossem ainda sob pesada ameaça de não deverem mais
ensinar daquele modo.
Tendo
permissão de sair, Pedro e João foram fazer companhia e "lhes contaram quantas coisas lhes
haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos". E todos os
demais, em lugar de demonstrarem o menor respeito ou temor não só decididamente
aprovaram o que Pedro e João haviam feito, mas ficaram muito alegres com aquilo
que "unânimes" agradeceram
e louvaram a eus, pedindo-Lhe que olhasse para as ameaças deles e lhes concedesse
anunciar "com toda a intrepidez
a Tua palavra". E Deus testemunhou a sua firmeza cristã, e "tremeu o lugar onde estavam reunidos;
todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez, anunciavam a palavra
de Deus". "E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens
como mulheres, agregados ao Senhor".
Essa
aberta desobediência à "autoridade"
da igreja, essa ousada "desconsideração
com a ordem e organização estabelecidos" não podia ter
permissão de prosseguir. Portanto todos
os apóstolos foram em seguida detidos e presos; "Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com
ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos
e os recolheram à prisão pública".
Mas
eis que "à noite um anjo do Senhor
abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e,
apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida. Tendo
ouvido isto, logo ao romper do dia, entraram no templo e ensinavam".
Naquela
mesma manhã o sumo sacerdote e os que estavam com ele "convocaram o Sinédrio e todo o senado
dos filhos de Israel, e mandaram buscá-los no cárcere" para que
os apóstolos lhes fossem trazidos perante eles para responderam por isso tudo: "insubordinação",
"apostasia" e "oposição ao trabalho organizado"
da igreja. Os mensageiros retornaram e relataram que encontraram a prisão
seguramente fechada e os sentinelas em seus postos, mas nenhum dos prisioneiros
ali se encontrava. Mas enquanto os membros do Sinédrio se maravilhavam sobre o
significado daquilo tudo, veio alguém dizendo que os homens estavam "no templo, ensinando o povo".
Oficiais
foram enviados para prendê-los novamente e os levaram perante o Sinédrio. O
sumo sacerdote perguntou-lhes: "Expressamente
vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome, contudo enchestes Jerusalém de
vossa doutrina".
Os
apóstolos responderam como já o tinham feito: "Antes importa obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos
pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-O num madeiro. Deus,
porém, com a sua destra, O exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a
Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas
destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que Lhe
obedecem".
Diante
dessa ousada persistência na proibida atitude, os membros do Sinédrio "queriam matá-los". Mas
os membros desse conselho foram dissuadidos de tal ação extrema por Gamaliel.
Não obstante, novamente os apóstolos foram convocados e "açoitaram-nos" e
novamente ordenaram-lhes "que não
falassem em o nome de Jesus", soltando-os a seguir.
Os
apóstolos partiram da presença do conselho. Mas em lugar de se revelaram
assustados ou subjugados pelo conselho, ou pelo que tinham feito, estavam todos
somente contentes outra vez de terem sido considerados dignos de sofrer açoites
ou quaisquer outras aflições da organização oficial da igreja por ensinarem o
que viam e sabiam ser a verdade. E não obstante serem os membros do Sinédrio os
componentes da organização eclesiástica oficial que assim os havia tratado e
repetidamente ordenado que não pregassem absolutamente as coisas que vinham
tanto pregando quanto ensinando, "todos
os dias no templo e de casa em casa", não cessavam "de ensinar, e de pregar Jesus, o Cristo".
Assim,
por claros fatos de notáveis experiências sob Deus está demonstrado que acima
de toda a oficialidade do sacerdócio, conselho ou administração de qualquer
igreja, o “direito de individualidade na
religião, na fé, e no ensino”, permanece supremo. Por esse inquestionável
relato escriturístico é demonstrado que nenhuma assembléia ou concílio de
igreja tem qualquer autoridade ou direito de ordenar ou questionar qualquer
homem, ou mesmo a própria membresia da igreja no que respeita ao que deve
ensinar ou pregar. (1)
************
(1)No que se refere à conduta, em questões de 'transgressão' ou 'falta' de
qualquer membro, instrução e direção divinas são dadas à igreja exatamente como
proceder; e essa palavra deve ser fielmente seguida em letra e em espírito e
com espírito de mansidão para 'ganhar' e 'restaurar' o indivíduo, nunca para
julgar, condenar ou lançar fora. Mas no que tange à fé, a igreja não tem instrução divina e, portanto, nenhum direito
de procedimento - 'não que tenhamos domínio sobre a vossa fé'; 'Tens fé? Tende-a
para ti mesmo diante de Deus; 'Olhando para Jesus, autor e consumador da
fé'".
************
Pelo
registro inspirado neste caso é demonstrado que:
1. Tão certamente quanto no caso de Nabucodonosor e
os três hebreus, é mostrado divinamente que nenhum monarca pode jamais ter
direito de dar ordens a respeito de qualquer coisa que pertença à religião.
2. Tão certamente quanto no caso da lei e governo da Medo-Pérsia, é
divinamente demonstrado que nenhum governo pode jamais ter o direito de
estabelecer qualquer lei relativa a religião;
3. Tão certamente quanto no caso da igreja de Israel
contra Cristo, é divinamente demonstrado que nenhum oficialato de igreja pode
jamais valer-se do poder civil para fazer vigorar sua vontade ou promover os
seus intentos;
4. Tão certamente neste caso da igreja de Israel
contra os apóstolos e discípulos do Senhor, é também divinamente mostrado que
nenhuma igreja, nenhum concílio, comissão ou outra corporação ou associação de
oficiais, ou outros, pode jamais ter o direito de ditar o que qualquer membro
de sua própria comunhão qualquer coisa que tenha de ver com o que deve crer ou
não crer, ou o que ensinará ou não ensinará.
Os
quatro casos apresentados nas Escrituras são perfeitamente paralelos; em cada
caso o poder que tentava o domínio na religião estava diretamente oposto e
exposto pelo Deus do céu, e
assim foi divinamente mostrado estar absolutamente errado' e em cada caso o
direito de individualidade em religião foi divinamente demonstrado estar
eternamente certo.
Em
cada um dos quatro casos, um distinto princípio está envolvido e é ilustrado:
no quarto não menos do que em cada um dos três precedentes. Tão certamente
quanto Nabucodonosor estava errado em exigir culto; tão certamente quanto a lei
da Medo-Pérsia estava errada em proibir a adoração; tão certamente como a
igreja de Israel estava errada em empregar o poder civil para executar sua
vontade contra o Senhor Jesus; tão certamente como essa mesma igreja estava
errada em proibir qualquer membro da igreja de ensinar ou pregar a verdade que
conhecia do Senhor Jesus e pelo Espírito de Deus.
E
no caso de Nabucodonosor o princípio é que nenhum monarca pode legitimamente
agir como aquele monarca; como no caso da lei dos medos e persas o princípio é
que nenhuma lei pode jamais legitimamente ser semelhante àquela lei; como no
caso da organização eclesiástica empregar o poder civil contra Cristo, o
princípio é que “nenhuma igreja” e
nenhuma ordem ou organização eclesiástica pode jamais empregar o poder civil em
qualquer forma que seja; exatamente assim como no caso da igreja de Israel
contra os apóstolos, o princípio é que “nenhuma
igreja, e nenhuma ordem eclesiástica”,
ou organização, ou corporação religiosa pode agir de modo semelhante ao da
oficialidade daquela igreja.
Não;
o conselho de Gamaliel àquela administração eclesiástica naquele dia estava certo e está perenemente certo,
e é a instrução divina para toda comissão, concílio, administração eclesiástica
para sempre: "Deixai-os".
Se essa pregação ou esta obra procede de homens, perecerá; mas, se é de Deus,
nada que se faça poderá destruí-la; e nesse caso, seja do modo como a queira
destruir, descobrireis estar lutando contra Deus somente. Esse aspecto está no domínio de Deus. Está
sujeito a Sua jurisdição somente. Deixai-o ali, e confiai Nele e servi-O por
vós mesmos; e deixai os outros fazerem o mesmo segundo desejem.
Isso
está também suficientemente claro como verdade evidente. Pois o Espírito Santo
é dado a cada indivíduo para guiá-lo "em
toda a verdade". A verdade de Deus é infinita e eterna.
Portanto, será sempre verdade que há ainda uma infinidade e eternidade de
verdade a que o cristão deve ser conduzido. Na natureza das coisas é impossível
para qualquer outro senão o Espírito Santo infinito e eterno guiar qualquer um
para a ou na verdade de Deus. Portanto, toda
alma deve ser infinita e eternamente livre para ser guiada pelo infinito e
eterno Espírito nessa infinitude e eternidade da verdade.
Dizer
qualquer coisa mais do que isso é somente limitar a verdade de Deus, e limitar
o progresso da mente no conhecimento da verdade e de Deus; e é colocar um freio
sobre toda possibilidade de progresso. Imaginem a condição da humanidade e do
mundo hoje, se o princípio esposado por aquela igreja de Israel tivesse sido
reconhecido e suas ordens obedecidas pelos apóstolos e discípulos do Senhor!
Mas a iniqüidade máxima de dizer qualquer coisa mais do que isto é que
reconhece, sanciona e estabelece um mero tribunal humano no lugar do Espírito
eterno, e reveste um grupo de homens pecadores com a prerrogativa daquele
infinito e eterno Espírito, como o guia para e em toda a verdade.
Contudo,
tão claramente quanto tudo isso é na manifestação de sua verdade, é
deploravelmente verdade que desde o
encerramento do período apostólico até esta hora, não tem havido e não há agora uma única "organização"
eclesiástica ou denominação no mundo que não tenha esposado o idêntico
princípio, tomado a mesma posição, e feito a mesma coisa, como fez a igreja
judaica no caso dos apóstolos. E hoje não há denominação no mundo, inclusive a
última que se tenha levantado, em que se reconheça em qualquer forma o direito
da liberdade de cada membro individual da denominação ser dirigido pelo Espírito
de Deus na verdade e ao ensino e pregação da verdade que o oficialato denominacional não saiba ou prefira não defrontar. E
quando qualquer membro é assim conduzido e ensina e prega a verdade que conhece
pelo Espírito e Palavra de Deus, imediatamente o oficialato denominacional se
desperta, e seu maquinário é posto em ação, e no próprio espírito, e da mesma
maneira, o oficialato e o maquinário da igreja judaica, ele é proibido de ensinar
ou pregar naquele nome. E se, como fizeram os apóstolos, ele desconsidera tal
ação e comando, e prefere não deixar de ensinar e pregar a Jesus na verdade e
da maneira como conhece, então, como foram os apóstolos, é perseguido e
expulso.(2)
************
(2)
Eles o porão para fora das sinagogas; sim, virá o tempo que quem quer que vos
matar pensa que está prestando a Deus um serviço. João 16:2.
*************
E
esta é precisamente e única causa de haver 365 ou mais denominações no mundo.
Mas
não haverá nunca um fim para essa iniquidade? Chegará algum dia o tempo, ou nunca chegará, quando haverá entre os
cristãos o reconhecimento do princípio fundamental cristão do direito de
individualidade e liberdade na fé e na direção rumo à verdade divina? Chegará
algum dia o tempo, ou nunca precisará chegar, quando haverá um grupo de
cristãos no mundo que reconhecerá que o Espírito Santo é o guia em toda a
verdade, que reconhecerá o direito e a liberdade desse Espírito para conduzir,
que reconhecerá o direito e a liberdade de cada cristão ser guiado em toda a
verdade por esse Espírito da verdade, e que reconhecerá a liberdade de cada
cristão sustentar, ensinar e pregar qualquer e toda verdade em que pelo Espírito
da verdade ele possa ser conduzido?
Não
é tempo que tal coisa deva confirmar-se? Não é tempo que o princípio cristão
deva ser reconhecido, que tal condição deva prevalecer entre os cristãos? Mesmo
o mundo tem aprendido o princípio de
que o monarca e o autocrata devem reconhecer o pleno e perfeito direito de
individualidade liberdade em religião. Mesmo o mundo tem aprendido que a lei
deve reconhecer o pleno e perfeito direito da individualidade e liberdade na
religião.
Mesmo
o mundo tem aprendido que a igreja
não deve controlar o poder civil para
fazer com que prevaleça a sua vontade, mas deve reconhecer o pleno e perfeito
direito no campo da persuasão, e, portanto, reconhecer o livre e perfeito
direito de individualidade e liberdade. E agora deve dar-se que a própria
igreja jamais aprenderá que
deve reconhecer o livre e perfeito direito de individualidade e liberdade em
fé, no Espírito, e na verdade? Não é alto tempo para que a igreja cristã esteja
aprendendo a reconhecer em sua perfeita genuinidade o princípio fundamental de “sua própria origem e existência”? E se
deve dar-se que nenhuma denominação jamais aprenda ou reconheça este princípio
fundamental de sua própria origem e existência, então não é duplamente alto
tempo que os “cristãos individuais”
reconheçam por toda parte e pratiquem constantemente esse princípio fundamental
de sua própria origem e existência
como cristãos, bem como o princípio fundamental da origem e existência da
igreja cristã?
E
assim haverá de ser. O Deus da individualidade e liberdade não permitirá que o
princípio e direito divino à individualidade e liberdade em fé e em verdade que
ele tem operado tão maravilhosa e constantemente ao longo de todas essas eras
para tornar claro e manter será para sempre combatido e oprimido, não
reconhecido e mal representado pela igreja cristã e pelo povo cristão. Não,
essa verdade, essa esplêndida verdade, que é a verdade fundamental e coroadora
em e para a própria existência da igreja cristã e do próprio cristianismo - essa
divina verdade ainda vencerá e manterá para sempre seu próprio divino lugar
perante o mundo e na igreja. àqueles que esposam esta verdade divina e
fundamental da religião e igreja cristãs serão eles próprios agora e para sempre,
como no início foram, a verdadeira igreja cristã no mundo, e comporão aquela "gloriosa
igreja" que Cristo, que se entregou a si mesmo pela igreja, "santificará
e purificará com a lavagem de água pela palavra", a fim de que por
ocasião de seu glorioso aparecimento possa apresentá-la "a si mesmo uma
igreja gloriosa, sem mácula nem ruga nem coisa semelhante, porém santa e sem
defeito".
Pois
sobre essa história toda da igreja de Israel contra os apóstolos, prevalece com
transcendente significado uma verdade que é digna da mais solene consideração
por cada cristão; esta verdade é:
Aquela
que até esse tempo tinha sido a verdadeira igreja, chamada e preservada pelo Senhor,
então ali deixou de ser a verdadeira
igreja inteiramente; e aquilo que essa igreja desprezou, e proibiu, e
perseguiu, e expulsou, “tornou-se em si a
verdadeira igreja.”
E
assim tem sido para sempre. João 9:34-38.
CAPÍTULO 5
LIBERDADE RELIGIOSA
ENTRE INDIVÍDUOS
As
Escrituras tornam claro que o direito divino de individualidade na religião
apresenta-se supremo na presença da monarquia autocrática; na presença de
qualquer decreto, estatuto, ou lei, de qualquer governo; na presença da igreja
em controle do poder civil; e na presença da própria igreja, mesmo dentro da
sua membresia.
Há
somente outra relação possível--a do “indivíduo
para indivíduo.” Mas quando está claro e positivo pela Palavra de Deus que
nenhuma autocracia, nenhum governo legítimo, nenhuma igreja em controle do
poder civil, e nenhuma igreja dentro do círculo de sua própria membresia, tem
qualquer autoridade, jurisdição, ou direito, em questões religiosas na presença
do supremo e absoluto direito do indivíduo, então é certo que nenhum indivíduo pode jamais ter qualquer
autoridade, jurisdição, ou direito sobre outro indivíduo em questões
religiosas.
Conquanto
isso seja claro por si mesmo, é bom estudar pelo menos algo das Escrituras a
esse respeito, bem como sobre cada uma das outras fases desse assunto.
Fé
é o dom de Deus, e para o indivíduo, Jesus Cristo é tanto o Autor como o
Consumador da fé. Sendo assim, jaz na natureza das coisas que nunca por
qualquer possibilidade em justiça pode alguém, a não ser Cristo, ter qualquer
autoridade, jurisdição ou direito no que respeita ao exercício da fé, que é o
elemento vital da religião. Cristo sendo tanto Autor e Consumador da fé, a Ele
somente pertence a única soberania e jurisdição em todas as coisas concernentes
à fé e ao exercício da mesma, que é religião.
Segundo
dizem as Escrituras, "a fé que
tens, tem-na para ti mesmo perante Deus". Romanos 14:22.
Sendo a fé o dom de Deus, e sendo Cristo o seu Autor e Consumador, é impossível
que alguém deva algo a não ser a Deus em Cristo qualquer responsabilidade em
matéria de fé ou de seu exercício, que é religião. E este é o terreno e
garantia de completa individualidade em religião.
Portanto,
a Palavra de Deus permanece escrita aos crentes individuais para sempre. "Acolhei ao que é débil na fé, não,
porém, para discutir opiniões"; não para julgar seus duvidosos
pensamentos; nem para decisões de dúvida; nem para "julgá-lo",
nem para "desprezá-lo". Romanos 14:1-3.
Seja,
por favor, observado para sempre, e para sempre reconhecido, que a razão,
divinamente dada, de nenhum cristão poder jamais "discutir" ou "decidir por", ou "julgar", ou "desprezar"
outrem é que "Deus o
acolheu".
"Deus o acolheu",
portanto, "acolhei" também a este.
"Deus o acolheu"
com base em sua fé, portanto "acolhei" também a este
por “”sua fé.
Conquanto
seja ele "débil na fé",
Deus "o acolheu";
portanto, ainda que ele seja "débil
na fé", a orientação é "acolhei-o".
Conquanto
seja ele "débil na fé",
é "a fé" em que
ele é fraco. E nessa fé e por essa fé ele é salvo. Essa fé é o dom de Deus,
dado para salvar a alma; e quem quer que esteja nessa fé, conquanto seja débil,
tem a salvação de Deus que é pela fé. Dessa fé, Jesus Cristo é o Autor e
Consumador, e quem quer que esteja nessa fé tem a Cristo operando nele para
concluir a bendita obra dessa fé para a salvação eterna da alma. Essa fé o
indivíduo deve manter para com Deus,
que foi quem a concedeu, e em Cristo,
o seu Autor e Consumador. A fé, sendo dom de Deus mediante Cristo, que a
possui, tem-na somente para com Deus em Cristo; e nessa fé sua
responsabilidade é unicamente para com Deus em Cristo.
Portanto, "acolhei o que é débil na fé . . . porque Deus o acolheu".
Sendo Deus o que concede "a
fé" mediante Cristo, o Autor e Consumador da Fé, a
responsabilidade de cada um "na
fé" é para com Deus em Cristo. Assim, "acolhei ao que é débil na fé, não,
porém, para discutir opiniões", nem para desprezá-lo, ou
julgá-lo, pois sendo que Deus o recebeu em fé, e sendo que em fé ele é somente
responsável perante Deus, "quem
és tu que julgas o servo alheio?" Verso 4. Isso é
impossível em justiça conquanto seja ele o servo de um homem; quanto mais, quando é servo de Deus, recebido e aceito por Deus
"na fé".
E
quando Deus sustenta e faz prevalecer "na fé" aquele que eu e você não recebe, a quem eu e
você não susterá nem tentará fazer suster-se, então esse é inteiramente seguro
com Deus "na fé".
E conquanto seja ele "débil na
fé", contudo Deus é capaz de sustentá-lo e fazê-lo estar "em pé" por Deus que o
acolheu "na fé"
de que Deus é o dador, e Cristo o Autor e Consumador. E quanto a mim e a vós,
em toda essa questão, "aquele
que está de pé cuide que não caia".
Outro
item que demonstra a perfeita individualidade do homem em coisas de caráter
religioso segue-se imediatamente às palavra já citadas: "Um faz diferença entre dia e dia; outro
julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente".
Verso 5.
Esta
passagem não diz que todos os dias são iguais; mas somente que alguns fazem "diferença entre dia e dia".
As Escrituras são perfeitamente claras sobre a verdade de que todos os dias não
são iguais; que há um dia que Deus tornou peculiarmente seu, e para o eterno
bem do homem ele o colocou à parte dos demais dias. Esse dia é "o sábado do Senhor teu Deus".
Conquanto
isso seja verdadeiro pela Palavra de Deus, no que se refere à observância ou
não observância desse dia, a Palavra do Senhor declara explicitamente: "Cada um tenha opinião bem definida em
sua própria mente". Nessa declaração ele uma vez mais confirma
a perfeita supremacia e absoluto direito de individualidade na religião.
E,
a propósito, este item toca uma questão que está em evidência nestes dias: a
questão da compulsória observância do dia de repouso. Mas em todas as coisas
referentes à observância ou consideração de um dia, a Palavra de Deus a todas
as pessoas é: "Cada um tenha
opinião bem definida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia, para
o Senhor o faz". Verso 6.
Qualquer
dia que não seja considerado ou observado para o Senhor não é verdadeiramente
considerado ou observado de modo algum; pois daí nada há nele verdadeiramente
para considerar. Deus é quem escolheu, distinguiu e colocou à parte o dia. A
observância do dia pertence, pois, a Deus; e fica somente entre Deus e o
indivíduo em fé e consciência. Portanto, qualquer observância de um dia de
repouso imposto por lei, por estatuto, por polícia, por tribunal, por
perseguição, é, em primeiro lugar, uma invasão direta da província de Deus e do
campo da fé e consciência do indivíduo; e em segunda instância não é nem mesmo
a observância do dia, e nunca poder ser, porque não é de persuasão na mente.
Deus
designou seu próprio dia escolhido e santificado; isso é verdade. Ele apela a
todas as pessoas para o observarem, isso é verdade. Mas na observância ou
consideração desse dia, a Palavra de Deus explicitamente declara que é questão
inteiramente do âmbito individual: "Cada
um tenha opinião bem definida em sua própria mente". E quando
qualquer homem não é plenamente persuadido em sua mente, e, portanto, não
observa o dia para o Senhor, sua responsabilidade por isso é para com Deus
somente, e não para com qualquer homem, nem para qualquer grupo de homens, nem
para qualquer lei, ou governo, ou poder sobre a terra.
Seguindo-se
a este item é feito um apelo em favor do reconhecimento da perfeita
individualidade em religião - isto em vista do terrível fato do julgamento de Cristo
e de Deus. Esse apelo assim se expressa: "Tu, porém, por que julgas a teu irmão? e tu, por que desprezas o
teu? pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito:
Por Minha vida, diz o Senhor, diante de Mim se dobrará todo joelho, e toda língua
dará louvores a Deus". Versos 10, 11.
Cada
um de nós deve comparecer perante o trono de julgamento de Cristo e de Deus,
para ali ser julgado por ele. Como, então, pode ser possível em justiça que um
de nós possa ser chamado para ser julgado por outrem, ou todos os outros, nas
coisas atinentes a religião? Isto é, nas coisas em que devemos responder
perante o tribunal de Cristo.
Não,
não. "Um só é Legislador e
Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas ao
próximo?" Tiago 4:11.
Assim,
o fato de dever haver um tribunal de Cristo e de Deus perante o qual todos
devemos comparecer, cada um para responder pelos "atos cometidos no corpo" - esta é a mais poderosa
garantia de perfeita individualidade em religião, e um dos mais fortes apelos
possíveis para o seu reconhecimento por toda alma sempre.
Finalmente,
o pensamento integral e verdade de perfeita individualidade na religião é
esplendidamente sumariado, e poderosamente realçado, bem como claramente
expresso, na inspirada conclusão:
"Assim, pois, cada um de nós dará contas de si
mesmo a Deus". Verso 12.
CAPÍTULO 6
LIBERDADE RELIGIOSA! DEUS E
CÉSAR!
No
caso da igreja de Israel, contra os membros daquela igreja que decidiram crer
em Cristo e ensinar a verdade com respeito a ele, o princípio é tornado
perfeitamente claro que nenhuma igreja tem qualquer autoridade, jurisdição, ou
direito em, sobre ou a respeito de fé ou de ensino de qualquer membro individual
daquela própria igreja. Atos 4 e 5; 2 Coríntios 1:24.
Há
outra passagem notável que não somente ilustra essa total ausência de
autoridade, jurisdição, ou direito, de qualquer igreja, mas também torna claro
alguns princípios adicionais da grande verdade da liberdade religiosa.
Essa
notável passagem é a que contém as palavras de Jesus quando os fariseus espiões
e os herodianos chegaram a ele com sua pergunta sutil: "É lícito pagar tributo a César, ou
não?" Com o dinheiro do tributo na mão Jesus disse: "De quem é esta efígie e inscrição?
Responderam: De César. Disse-lhes então Jesus: Dai a César o que é de César, e
a Deus o que é de Deus".
Aqui
estão reveladas duas pessoas - Deus e César; dois poderes--o religioso e o
civil; duas autoridades - a divina e a humana; duas jurisdições - a celestial e
a terrena; e somente dois, a quem, por divina instrução, alguma coisa é devida
ou deve ser submetida pelos homens.
Há
uma jurisdição e uma autoridade, um poder e um direito, que pertencem a Deus.
Há também uma jurisdição, um poder e um direito que pertencem a César.
E
esses são dois campos totalmente distintos. Há aquilo que é de César; e deve
ser submetido a César, não a Deus. Há aquilo que é de Deus; e isso deve ser
submetido a Deus, não a César. Deve ser submetido a Deus somente e diretamente.
Não deve ser submetido a César, nem a Deus por César.
Originalmente
havia, e por fim haverá, somente um campo, somente uma jurisdição, somente uma
autoridade, somente um poder, somente um direito - o de Deus unicamente. I
Coríntios 15:24-28.
Se
o pecado nunca tivesse penetrado o mundo não haveria outro campo, nenhuma outra
jurisdição, autoridade, poder ou direito além do de Deus somente. E mesmo
quando o pecado entrou, se o evangelho tivesse sido recebido por cada e todo
indivíduo que já habitou a Terra, então
nunca teria havido qualquer campo ou jurisdição, autoridade, poder ou direito
outro que não o de Deus somente. Efésios 1:7-10; Colossenses 1:20-23.
Mas
nem todos receberão o evangelho; e assim nem todos reconhecerão a soberania, a
jurisdição, a autoridade, o poder e o direito de Deus. Não reconhecendo o
reino, vontade, propósito e poder de Deus, que é moral e espiritual, e que
torna moral e espiritual todos que o reconhecem, esses, então, sendo pecadores,
falham em ser mesmo civis. Portanto, deve haver no mundo uma jurisdição e um
poder que levará aqueles a serem civis que não querem ser morais. E esse é o
Estado, o poder civil, César; e esta é sua razão de existir.
Na
natureza das coisas há somente os dois campos e as duas jurisdições: a moral e
a civil, a espiritual e a física, a eterna e a temporal; uma de Deus, a outra
de César. Há esses dois campos e jurisdições, e nenhum mais. E simplesmente não
pode legitimamente haver nenhum outro. Um desses é o campo e jurisdição de Deus.
O outro é de César.
E
sendo que pela palavra divina esses são os dois, e esses dois são os únicos
dois que possivelmente podem existir, então segue-se exclusiva e absolutamente
que para a igreja não há nem reino nem domínio, campo nem jurisdição, nem há
qualquer lugar para algum.
É,
pois, perfeitamente claro que sem presunção ou usurpação nenhuma igreja pode
jamais ter qualquer reino ou domínio, qualquer campo ou jurisdição. A igreja
não é de César; e sem a presunção e usurpação é impossível para a igreja
exercer qualquer coisa da jurisdição de César. O campo e jurisdição de César - o
Estado, o poder civil - é inteiramente deste mundo. A igreja com tudo que dela
é, não "é deste mundo".
Portanto, é impossível que a igreja, sem presunção e usurpação, ocupe o campo
de César, ou exerça qualquer jurisdição nas coisas de César, coisas essas que
são inteiramente deste mundo.
Assim
sendo quanto à igreja, no que se refere a César, quanto mais é verdade da
igreja no que se refere a Deus! A igreja não é César e não pode ser César.
Muito mais a igreja não é Deus e não pode ser Deus. E não tem a inspiração
estabelecido em termos implacáveis como "o homem do pecado", "o filho da perdição", "o
mistério da iniqüidade", "sentado no tempo de Deus, querendo parecer
Deus", essa igreja que tem imaginado ser o reino e mantém o
domínio, para ocupar o campo e exercer a jurisdição de Deus. Seria necessário
mais do que isso para tornar perfeitamente clara a verdade de que qualquer
igreja que presuma que a si pertence ser o reino e manter domínio, ocupar o
território e exercer a jurisdição de Deus é a derradeira arrogância, presunção
e usurpação?
Mas,
indaga-se, não é a igreja o reino de Deus? - Sim, é - desde que pelo termo "a
igreja" se fale somente da concepção divina da igreja como
expressa na Palavra inspirada - "a
plenitude daquele que preenche tudo em todos". Quando somente
isso tem o significado no emprego das palavras "a igreja", então é verdadeiramente o reino de Deus.
Mas quando por "igreja"
quer-se dar o sentido de alguma concepção humana, alguma seita ou denominação
religiosa, alguma "organização" terrena, então não é verdadeiro de
qualquer igreja que já tenha existido neste mundo representar o reino de Deus.
Mas
suponham que coisa tal fosse realmente a igreja, e, portanto, o reino de Deus;
mesmo assim, ainda seria verdade que a fim de tal ser em verdade o reino de Deus,
poderia sê-lo tão-só com a presença de Deus como rei nela. E onde Deus é rei,
Ele é rei e Senhor de tudo em todos. Deus nunca é, nem nunca pode ser, rei num
reino dividido. Ele nunca compartilha o Seu reino com outro, nem poderia
fazê-lo. Poderia alguém reivindicar ou deixar implícito que pode haver em
verdade e de fato um reino de Deus sem ser Deus em verdade e de fato rei ali; e
rei em tudo quanto há? Não, Deus deve ser rei lá ou, do contrário, não é na
verdade o reino de Deus. Ele precisa ser rei e Senhor de tudo e de todos que
ali existem, senão não é em verdade e de fato o reino de Deus. O território
deve ser ocupado por Ele, a jurisdição deve ser exercida por ele, os princípio
devem ser os Seus, o governo deve ser o dEle, a imagem e inscrição devem ser a
Dele, e tudo isso exclusivamente, ou do contrário não é em verdade e de fato o
reino de Deus.
A
alma e o espírito do homem, como o homem é no mundo, como o mundo é, em intenção e por direito é o reino de Deus.
E assim, para os ímpios e incrédulos fariseus, Jesus declarou: "o reino de Deus está dentro de
vós". Mas na perdida humanidade esse reino é usurpado e esse
campo é ocupado por outro. O usurpador está no trono, exercendo jurisdição que
escraviza, rebaixa e destrói. Assim, conquanto o intento e por direito o reino
é de Deus, contudo em verdade e em fato não é de Deus, mas de outro. Assim, que
a alma perdida e escravizada somente acolha a Deus nesse campo alienado para
ocupar o Seu lugar nesse trono usurpado, e para exercer verdadeira jurisdição
ali, então essa alma e espírito e
vida, em verdade e fato, bem como em intento e por direito, será o reino de Deus.
E mesmo então é o reino de Deus em verdade somente, segundo Deus é o rei em
tudo e sobre tudo para essa alma. E assim se dá com a igreja.
A
Igreja de Deus é verdadeiramente o reino de Deus; é "a plenitude dAquele que preenche tudo em todos": é
composta somente daqueles que são dEle. E Ele é o rei e único dirigente nesse
Seu reino. A jurisdição nesse campo é somente dEle; os princípios do governo, e
a autoridade e o poder do governo, são dEle somente. E todo cidadão do reino
deve-Lhe aliança somente; e isso direto, em Cristo, pelo Espírito Santo. Todo
habitante desse território está sujeito a Sua jurisdição somente; e isso
direto, em Cristo, pelo Espírto Santo. Todo membro dessa igreja, que é o Seu
reino, é inspirado e movido pelos princípios que são somente Seus e dEle somente;
e é governado pela autoridade e poder dEle somente; e isso tudo direto dEle,
mediante Cristo pelo Espírito Santo. Assim, todos os que são da Igreja de Deus
na verdade, que é o reino de Deus, dedicam a Deus tudo quanto é do coração, da
alma, da mente e da força. Esses também dedicam a César as coisas que são de
César - tributo, imposto, honra em seu lugar. Romanos 13:5-7.
Assim,
uma vez mais é perfeitamente claro e certo que nem entre Deus e César, nem
mesmo juntamente com eles, há alguma terceira
pessoa, partido, poder, campo ou jurisdição, a quem qualquer homem deva submeter
alguma coisa. Não há ordem nem obrigação da parte de Deus para submeter
qualquer coisa a algum reino ou domínio, a qualquer poder ou jurisdição, a não
ser de Deus e de César - há somente
dois. Não há efígie e inscrição da
igreja, nem há lugar para nenhuma.
Isso
significa apenas dizer que sem Deus, e sem Deus em Seu lugar como tudo em
todos, qualquer igreja é simplesmente nada. E quando tal igreja tenta ser
alguma coisa, ela é somente pior do que nada. E em qualquer dos casos ninguém pode
jamais dever alguma coisa para qualquer igreja dessa espécie.
Por
outro lado, quando a igreja está verdadeiramente com Deus; e quando ele é
verdadeiramente para ela tudo em todos; é verdadeiramente do reino de Deus. E
mesmo que então o reino, o domínio, a jurisdição, a autoridade e o poder são
todos de Deus e não dela; assim tudo quanto é devido ou submetido é de Deus,
não da igreja. Assim é estrita e literalmente verdadeiro que nunca em qualquer
caso é algo devido ou deve ser submetido por alguém à igreja, como tal.
Assim
novamente é realçado que há somente duas pessoas, dois reinos, duas
jurisdições, duas autoridades, dois poderes, aos quais alguém realmente deve ou
submete algo - de DeusS e de César; esses dois e não mais e nenhum outro.
Isso
requer, portanto, que a igreja para ser verdadeira a seu chamado e seu lugar no
mundo deve ser tão absolutamente dedicada a Deus, tão completamente envolvida e
perdida em Deus, que somente Deus será conhecido ou manifesto, quando quer e no
seja ou faça.
No
próprio espírito do cristianismo isso é certamente verdadeiro. Pois isso é
exatamente o chamado e atitude dos cristãos individuais no mundo--ser
absolutamente dedicados a Deus, tão completamente envolvidos e perdidos Nele,
que somente Deus será visto em tudo quanto são: "Deus manifesto em carne". E a igreja é composta
somente de cristãos individuais. Também a igreja é o "corpo de Cristo", e Cristo é Deus manifesto, para o
completo esvaziamento, sim, o próprio aniquilamento do eu. E esse é o mistério de Deus.
Exatamente
aqui é onde a igreja, tanto antes como depois de Cristo, perdeu de vista o seu
chamado e o seu lugar; aspirou ser algo ela
própria. Não lhe foi suficiente que Deus fosse tudo em todos. Não foi
suficiente que o reino e o domínio, e a jurisdição, e a autoridade e o poder, a
palavra e a fé, devessem ser totalmente de Deus e somente de Deus. Ela aspirou
o próprio reino; a um campo e jurisdição seus próprios; a autoridade que pudesse
assegurar; a poder que pudesse brandir; a uma palavra que pudesse falar; e a
uma "fé" que
pudesse ditar.
Para
satisfazer essa ambição e tornar tangível essa aspiração, rejeitou a Deus e
assumiu e usurpou o reino e o domínio, o campo e a jurisdição, a autoridade e o
poder, que pertenciam tanto a Deus quanto a César. E assim não sendo nem Deus
nem César, mas apenas um autoconstituído e auto-exaltado intermediário, sua
confusão e mistura das coisas somente multiplicou a iniquidade e aprofundou a
maldição sobre o mundo.
Essa
é precisamente a acusação que Deus lança contra ela em cada era e em ambos os
testamentos. A glória e a beleza, a honra e a dignidade, a autoridade e o
poder, a doce influência e divina atração, que eram todos dela e que estavam em
grande medida tornando-se dela, devido a sua “habitação com ela e por estar com ela” - todas essas coisas ela
arrogou para si própria e
presumiu pertencer-lhe. Ler
Ezequiel 16:11-19; Romanos 1:7-9; 2 Tessalonicenses 2:2,3; Apocalipse 17:1-6.
Quando
Deus lhe deu a verdadeira e divina fé que se mencionava "por todo o mundo habitado",
sobre isso presumiu que sua fé devia ser a fé do mundo inteiro, e assim tomou
sobre si o direito de atribuir e ditar "a fé" para o mundo inteiro, e para manter que "a fé" que ditava era a
verdade e de origem divina.
Quando
Deus lhe deu Sua palavra em tão perfeita pureza para falar, de modo que quando
ela falasse seria mesmo como a voz de Deus, sobre isso exaltou-se com a
reivindicação de que sua voz era a voz de Deus, e que a palavra que decidia
falar era a palavra de Deus porque ela o disse.
Quando
Deus lhe deu tal perfeição de verdade que seu próprio falar dessa verdade era
falar com toda autoridade, sobre isso presumiu para si que tinha autoridade de
falar; e, portanto, que quando devesse falar, todos deviam obedecer porque era
ela que falava.
Quando
Deus concedeu-lhe tal medida de Seu poder que mesmo os demônios se submetiam a
esse poder e deviam obedecer a Deus, sobre isso presumia que a ela pertencia o
poder; e mesmo o poder para compelir todos os homens e nações em todo o mundo a
se sujeitarem a ela e obedecer-lhe.
Assim,
em todas as coisas, ela realmente imaginava ser algo a que se devia apegar e
manter firme, a "usurpação"
de "ser igual a Deus". Mas chegou o tempo quando toda
pessoa e tudo que seria a igreja ou da igreja nunca mais devia pensar nisso
como algo a que se apegar, uma usurpação sobre que pensar, ser igual com Deus;
mas pensar somente de como a igreja se esvaziará de si mesma, fazendo-se de
nenhuma reputação, e tomar sobre si a forma de servo, e humilhar-se, e
tornar-se obediente até a morte, mesmo a morte de cruz; e tudo isso a fim de
que Deus pudesse ser tornado manifesto em Sua própria pessoa e Espírito nela; e
mediante ela para o mundo.
É
chegado o tempo em que nenhuma igreja deveria chamar os homens mais para si,
mas para Cristo somente. É chegado o tempo em que a própria igreja deve estar
interessada acima de tudo em tornar manifesto que não há um terceiro reino,
jurisdição ou poder, mas somente dois - Deus e César; e quando ela deve instar
junto às pessoas a divina instrução: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
É
chegado plenamente o tempo em que a igreja em todas as coisas deve abrigar
somente o mesmo sentimento "que
houve também em Cristo Jesus", o de não julgar "como usurpação o ser igual a Deus";
mas esvaziar-se completamente a si próprio a fim de que Deus possa ser
revelado; o Deus vivo e verdadeiro, e Ele sendo tudo em todos. Ele, o único Rei
e Senhor de todos na igreja e para a igreja, e que a igreja "a plenitude daquele que preenche tudo
em todos".
Por
muito tempo têm o estado e as igrejas usurpado a autoridade de Deus, e assumido
o reino no lugar de Deus. Agora é
chegado plenamente o tempo em que deveria haver, sim quando será ouvido sobre a
terra as grandiosas palavras das gloriosas vozes no céu: "Graças Te damos, Senhor Deus,
Todo-poderoso, que és e que eras, porque assumiste o Teu grande poder e
passaste a reinar". Apocalipse
11:17.
CAPÍTULO 7
LIBERDADE RELIGIOSA
RECAPITULAÇÃO
Temos
já identificado na Palavra de Deus o princípio do divino direito à
individualidade em religião, no que tal princípio se aplica e é ilustrado em
relação à autocracia, ao governo da supremacia e inflexibilidade da lei, à
união de estado e igreja, e aos indivíduos.
Por
favor, que ninguém pense que tudo isso é somente uma série de estudos em
história antiga, nem mesmo que é um estudo de princípios e passagens bíblicas
apenas, como tais; conquanto em qualquer dos terrenos o estudo fosse amplamente
justificado. Todavia, não se trata de nada disso, e sim de um estudo de
princípios que numa fase ou outra estão tão plenamente vigentes e ativos hoje
como sempre. E deve chegar o tempo, que não está muito distante, em que toda a
série de ilustrações coberta nesses estudos novamente está vigente e ativa, e
todos de imediato, tão verdadeiramente e no mesmo propósito como cada estava em
seu lugar e tempo.
Chegará
o dia, e não está distante, quando autocracias, governos de supremacia e a
inflexibilidade da lei, uniões de igreja e estado, e igrejas como tais, estarão
todos unidamente inclinadas, como se com uma só mente, a exigir submissão e
uniformidade em religião; e para esmagar toda sugestão de individualidade em
religião e todo tipo de direito a ela.
É
particularmente em vista do que brevemente deverá ocorrer que estes estudos
foram publicados. Todas essas coisas escritas nas Escrituras foram
estabelecidas aqui pelo Espírito de inspiração, não somente para a instrução de
todas as pessoas sempre, mas particularmente
"para advertência dos que temos
chegado aos fins dos tempos". O mais poderoso conflito, e isso
sobre a mais ampla escala, entre as forças do mal e o reino da justiça que a
experiência deste mundo jamais conhecerá, está ainda por vir. Esse tempo mesmo
agora está à mão. Por essa razão estas lições do registro inspirado são
supremamente importantes mesmo agora.
Em
vista da tremenda pressão de todas essas fontes e por todas essas forças que
brevemente será imposto sobre todo indivíduo, é da maior importância que cada
indivíduo conheça por si mesmo, e saiba pela evidência mais segura possível - conhecendo
pela própria certeza - exatamente qual é o seu lugar, sua responsabilidade, e
seu direito, individualmente, na presença das principalidades e poderes, e perante
Deus e com Deus.
Conquanto
nesses estudos das Escrituras discutimos cada caso do ponto de vista de que
esses poderes não têm direito de assegurar-se ou exercer qualquer autoridade ou
jurisdição em religião, mas que o direito de individualidade em religião é
supremo na presença de todos, o outro lado é igualmente verdadeiro e não menos
importante, ainda que não seja mesmo o mais importante - que resta a cada
indivíduo nunca permitir qualquer outro além de Deus impor autoridade ou
jurisdição em matéria religiosa sem ser abertamente desafiado e absolutamente
ignorado: que em verdadeira aliança a Deus e perfeita lealdade ao direito, o
divino direito à individualidade, em religião, será mantido. Isso todo
indivíduo deve absolutamente a Deus, ao direito, e a si mesmo em Deus e pelo
direito. Esse princípio cada indivíduo deve manter ou do contrário prova-se
desleal a Deus, a si mesmo como um homem diante de Deus, e consentir que o erro
prevaleça em lugar do certo; em outras palavras, consentir que o errado seja o
certo.
É
verdade, como demonstra o registro inspirado, que a autocracia, como ilustra o
rei Nabucodonosor, que o governo da supremacia da lei, como ilustrado no poder
medo-persa, que a união de igreja e estado, como ilustrado na igreja judaica e
no poder romano unidos contra Cristo, que a igreja como tal, como ilustrado na
igreja de Israel contra os discípulos de Cristo; não tem direito de assegurar
autoridade de jurisdição em religião. É igualmente, e mesmo mais enfaticamente,
verdade que para ser absolutamente fiel a Deus e ao direito, ou verdadeiro a
si próprios e a seus semelhantes, os três jovens hebreus, o homem Daniel, o Senhor
Jesus, e os apóstolos do Senhor devem absolutamente desconsiderar toda tal
asserção. Em cada caso o domínio de Deus foi usurpado. Em cada caso o direito
foi completamente lançado fora, e o erro estabelecido em seu lugar. Em tal caso
e em tal tempo poderia qualquer que conheceu a Deus ou preocupou-se com o
direito ficar em silêncio e nada fazer? É a aliança com Deus nada? É a lealdade
ao direito nunca para ser conhecida? Será o erro reconhecido como tendo somente
o direito de prevalecer? Nunca serão os homens verazes - nem verdadeiros a Deus
nem ao direito, nem verdadeiros a si próprios, nem a seus semelhantes?
É
verdade que Nabucodonosor estava inteiramente fora de seu lugar e agiu de modo
inteiramente errado quando tentou exercer autoridade em religião; e a história
foi escrita para mostrar a todas as pessoas para sempre que toda autocracia
está tão fora de lugar, e tão inteiramente errada, quando presume assegurar-se
autoridade em religião. Ao mesmo tempo, é verdade, e igualmente importante,
lembrar que os três hebreus abertamente e sem comprometimento desconsideraram
aquela asserção autocrática de autoridade em religião. E a história foi escrita
para ensinar que todos os outros indivíduos para sempre devem agir como agiram
aqueles três indivíduos, se esses dois quiserem ser verazes para com Deus, o
direito, e para si próprios e seus semelhantes.
É
verdade que, não obstante seus princípios de supremacia e inflexibilidade da lei,
o governo da Medo Pérsia agiu errado quando, por sua própria lei, entrou no
território da religião; e a história está registrada para demonstrar a todos os
governos e pessoas para sempre que todo governo está igualmente errado em
penetrar pela lei no território da religião. É igualmente verdade, e igualmente
importante, lembrar, que o indivíduo - Daniel, - de modo absoluto e
descompromissadamente desconsiderou aquela lei; e que a história foi escrita
para ensinar a todos os indivíduos para sempre que em todas as circunstâncias
semelhantes devem agir como agiu aquele indivíduo, se desejarem honrar a Deus
e ao direito e ser verdadeiros a si próprios e a seus semelhantes.
É
verdade que a igreja de Israel praticou uma coisa enormemente ímpia quando
aliou--se com o poder civil a fim de tornar sua vontade efetiva; e a história
foi escrita para mostrar a todo o mundo para sempre que toda igreja comete a
mesma falha toda vez que, sob o pretexto que for, busca controlar o poder civil
para tornar sua vontade vigente. É igualmente verdade, e igualmente importante,
reconhecer e recordar que o indivíduo sozinho que era o objeto dessa ímpia
aliança da igreja e estado morreria sob ela em lugar de submeter-se a ela para
reconhecê-la no mais leve grau. E isto está tudo escrito para que todo outro
indivíduo até o fim do mundo esteja pronto sob circunstâncias semelhantes a
agir como agiu o Senhor Jesus a fim de ser verdadeiro para com Deus, verdadeiro
para com a verdade, verdadeiro a si mesmo, e verdadeiro à raça humana.
É verdade que a igreja de Israel desviou-se
do caminho certo, e agiu de modo inteiramente errado, quando assumiu a
autoridade de decidir o que os membros daquela igreja deveriam ou não crer e
ensinar; e a história está escrita para tornar claro a todas as igrejas e
pessoas para sempre, que toda igreja está tão igualmente longe do caminho
certo, e igualmente errada, quando assume qualquer autoridade para decidir o
que qualquer membro da igreja deve ou não crer e ensinar. É igualmente verdade,
e exatamente tão importante lembrar, que os membros individuais da igreja ali
aberta e descompromissadamente recusarem reconhecer qualquer autoridade dessas
em qualquer medida ou grau que fosse. E está escrito para ensinar a todos os
membros de igreja para sempre que devem fazer individualmente o mesmo, se
desejarem ser verdadeiros para com Deus, verdadeiros para com Cristo,
verdadeiros ao direito, verdadeiros a si próprios e verdadeiros à humanidade.
Os
três jovens hebreus fizeram bem quando recusaram reconhecer qualquer direito de
autocracia na religião. Daniel fez bem quando recusou reconhecer qualquer
direito do governo civil de lei em religião. O Senhor Jesus fez o que era certo
quando recusou qualquer direito da igreja mediante o poder civil para tornar
vigente a sua vontade. Os apóstolos e discípulos do Senhor agiram certo quando recusaram
reconhecer qualquer direito da igreja em decidir ou ditar o que deveriam ou não
crer e ensinar. Em cada um desses casos, Deus abertamente e em poder miraculoso
tornou perfeitamente claro a todos que aqueles indivíduos estavam certos. Por
tal forma fica abertamente demonstrado não só que estavam corretos, mas que
estavam divinamente certos. E
em cada caso a história tem sido escrita
para que todos os poderes e pessoas para sempre saibam que tal atitude é
divinamente correta. E quem quer que fique do lado de Deus, como fizeram cada
um desses em seu lugar, possam sabê-lo.
São
tais indivíduos e outros como eles que naqueles dias e de tempos em tempos
mantiveram vivo no mundo a honra de Deus e conservaram vivo o direito no mundo,
que mantiveram viva a integridade e verdadeira hombridade na sociedade humana;
sim, exatamente estes e semelhantes a eles benditos indivíduos que conservaram o próprio mundo vivo.
Não
são autocracias, nem governos da lei, nem uniões de igreja e estado, nem ainda
mesmo igrejas como tais que têm mantido a honra de Deus, que têm-se mantido
verdadeiros ao direito, e que têm preservado a integridade do homem. Pois toda
a história testifica unanimemente que todos esses fizeram tudo que puderam para
solapar e eliminar toda individualidade e integridade do homem, obliterar o
direito, e excluir a Deus de seu próprio lugar nos homens e no mundo.
Não,
não são esses, mas o bendito indivíduo
com Deus e em Deus; são aqueles que conheceram e mantiveram o divino direito à
individualidade em religião; é o caso de Daniel, Cristo, Paulo, Wycliffe,
Lutero, que se posicionaram sozinhos no mundo e na igreja, e contra tanto a
igreja quanto o mundo - são esses que mantiveram a honra de Deus, que
têm mantido vivo o conhecimento de Deus, do direito e da verdade, e assim
mantiveram vivo o mundo.
Agora,
e pelo tempo vindouro - quando está sendo incentivado entre as igrejas e instado
sobre o mundo, denominacional, nacional, internacional a federação mundial em religião e de
religião; quando tudo isso expressamente visa a uma meta de assegurar pelas
autocracias, pelos governos de supremacia e inflexibilidade legal, pelas
igrejas aliadas com o poder civil e no seu controle, e pelas igrejas de sua
própria iniciativa; quando todos esses operarem imediata e conjuntamente para
assegurar e exercitar a absoluta autoridade em religião - em vista de tudo
isso, exatamente agora, como nunca antes, é essencial saber, proclamar, e
manter no divino direito de individualidade em religião, a liberdade religiosa
completa.
CAPÍTULO 8
LIBERDADE RELIGIOSA
INDIVIDUALIDADE, O DOM SUPREMO
O
governo existe na própria natureza da existência de criaturas inteligentes.
Pois o próprio termo "criatura" implica o Criador; e tão certamente
quanto qualquer criatura inteligente é, ela deve ao Criador tudo quanto é. E,
em reconhecimento desse fato, deve ao Criador honra e devoção suprema. Isso,
por seu turno, e na natureza das coisas, implica sujeição e obediência da parte
da criatura; e este é o princípio do governo.
Cada
criatura inteligente deve ao Criador tudo que é. Nesse aspecto, o primeiro
princípio do governo é: "Amarás
o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu
entendimento".
Isso
é pronunciado pelo Senhor para ser o primeiro de todos os mandamentos. Não é o
primeiro de todos os mandamentos porque foi o primeiro jamais dado; mas
simplesmente porque existe na própria natureza e existência de toda criatura
inteligente, e assim é parte integrante da natureza das coisas tão logo uma
simples criatura inteligente exista.
É,
portanto, o primeiro de todos os mandamentos, simplesmente porque é a expressão
da obrigação inerente no primeiro relacionamento que pode possivelmente existir
entre criatura e Criador. É o primeiro na natureza, circunstâncias e existência
de inteligências criadas.
É
o primeiro de todos os mandamentos no sentido supremo e mais absoluto. Integra
a natureza e relacionamento da primeira criatura inteligente, e se apresenta
tão completo no caso de cada um na sucessão de futuros milhões como no caso da
primeira criatura inteligente, ao figurar absolutamente só no universo. Nenhuma
expansão, nenhuma multiplicação do número de criaturas além da original pode
jamais, em qualquer sentido limitar o escopo ou sentido desse primeiro de todos
os mandamentos. Ele se apresenta absolutamente só e eternamente completo como a
primeira obrigação de toda criatura inteligente que jamais possa existir. E
essa eterna verdade distingue a individualidade como um eterno princípio.
Contudo,
tão logo uma segunda criatura inteligente recebe a existência, um
relacionamento adicional existe. Há agora não somente o relacionamento primário
e original de cada um para com o Criador, pois ambos devem igualmente sua
existência ao Criador, mas também um relacionamento adicional e secundário de
uns com os outros.
Esse
relacionamento secundário é de absoluta igualdade. E na sujeição e devoção de
cada um para com o Criador, no primeiro de todos os relacionamentos possíveis,
cada um desses honra o outro. Portanto, na natureza das coisas, na existência
de duas criaturas inteligentes, há inerentemente o segundo princípio
governamental, mutualidade de todos os súditos como iguais.
E
este princípio é expresso no segundo de todos os mandamentos: "Amarás o teu próximo como a ti
mesmo". Este é o segundo
de todos os mandamentos, pela idêntica razão de que o primeiro é o primeiro de todos os mandamentos; ele
existe e integra a natureza das coisas e das inteligências tão logo existe uma
segunda criatura inteligente. E também, à semelhança do primeiro, é completo e
absoluto no momento em que as duas criaturas inteligentes passam a existir, e
nunca pode ser expandido nem pode ser modificado pela existência do universo
cheio de outras criaturas inteligentes.
Cada
um por si mesmo, sozinho, em sua própria individualidade está inteiramente
sujeito e dedicado primeiro de tudo ao Criador; porque a ele tudo deve. E nessa
sujeição e devoção primeiro que tudo
cada um honra todas as demais criaturas inteligentes como sua igual; tão
igualmente consigo mesmo ocupando o seu lugar no desígnio do Criador e
responsável individualmente e somente ao Criador para o cumprimento desse
desígnio. Portanto, por respeito ao Criador, a seu semelhante, a si próprio,
ele ama a seu semelhante como a si mesmo. E essa segunda eterna verdade,
igualmente com a primeira, distingue-se
individualmente como um princípio eterno.
Esse
é o governo original. É também o governo derradeiro; porque essas são
primeiramente princípios completos e absolutos; e porque eles eternamente
integram a natureza e relacionamento de criaturas inteligentes. E esse governo,
que é imediatamente original e por fim simplesmente autogoverno - autogoverno em racionalidade e em Deus. Pois é
somente o mais claro, mais simples ditame da racionalidade que a criatura
inteligente deva reconhecer que deve tudo ao Criador; e que, portanto, a
sujeição e honra são deveres razoáveis da parte dela como criatura. É,
igualmente, um simples ditame da razão que, uma vez que seu semelhante
igualmente deva a si mesmo tudo ao Criador, seu semelhante deve ser respeitado
e honrado em tudo isso como ele próprio desejaria ser respeitado e honrado
nele.
É
também o simples ditame da racionalidade que uma vez que esses foram todos
criados, e em sua existência devem tudo ao Criador, essa existência com tudo
que a acompanha no exercício de habilidades e faculdades deve ser sempre
mantida estritamente de acordo com a vontade e desígnio do Criador. Porque é
ainda mais o simples ditame da razão que o Criador nunca tivesse determinado
que a existência, as faculdades, ou os poderes de qualquer criatura devessem
ser exercidos contrariamente a Sua vontade ou fora de Seu desígnio, portanto, é
o mais simples e claro ditame da racionalidade que este governo original e
derradeiro, que é o autogoverno,
é o autogoverno sob a direção de Deus, com
Deus, e em Deus. Isso é
verdadeiramente o único genuíno autogoverno.
Deus
criou todas as inteligências absolutamente livres. Ele fez o homem igualmente
com outras inteligências, para ser moral. A liberdade de escolha é essencial à
moral. Ter criado uma inteligência incapaz de escolher teria sido torná-la
incapaz de liberdade. Portanto, Ele fez o homem, igualmente com outras
inteligências, livre para decidir, e
sempre respeita aquilo de que é o Autor, a liberdade de escolha.
Quando,
no exercício dessa liberdade de escolha, uma inteligência decide que sua
existência, com suas conseqüentes faculdades e poderes, deve ser gasta
estritamente sujeita à vontade e dentro do desígnio do Criador, e assim, na
verdade, com o Criador e no Criador, este é no sentido mais verdadeiro estrita
e verdadeiramente autogoverno.
E
quando o culto, a adoração, e a aliança, de cada inteligência deve ser
submetida inteiramente a sua própria livre escolha, isso revela da parte de Deus,
o Supremo e verdadeiro Governante, o princípio do “governo com o consentimento do governado.”
Assim,
o governo divino, no que se relaciona tanto com o governante quanto com o
governado, o Criador e a criatura, é demonstrado igualmente como relevado pelo
governo de perfeita liberdade; e de perfeita “liberdade devido a perfeita individualidade.”
Mediante
o pecado o homem perdeu sua liberdade e, portanto, sua individualidade. Mas no
dom de Cristo tudo foi restaurado. "Enviou-me
para proclamar libertação aos cativos". "Cristo sofreu pelos pecados,
o justo pelos injustos, a fim de que pudesse nos trazer para Deus".
Cristo
Jesus, portanto, veio do céu para o mundo a fim de levar o homem de volta, e
para trazer o homem de volta àquilo que ele havia perdido. Individualidade foi
o supremo dom do Criador. Na queda, foi perdida. No dom de Cristo “o dia em que o homem pecou”, o dom da
individualidade foi restaurado ao homem.
Nas
longas eras de pecado e despotismo imperial desde Caim até Tibério César, os
homens haviam estado tão contínua e sistematicamente oprimidos que foram
roubados de todo vestígio de individualidade. Então Cristo veio ao mundo em
carne humana como homem, e mediante toda fase da experiência humana estabeleceu
a individualidade do homem sobre sua própria base original e eterna. Mateus
25:15. Portanto, sem o cristianismo em sua pureza original e nativa,
não pode haver verdadeira individualidade.
Mas
no interesse do despotismo o próprio nome do cristianismo foi pervertido. E
através das longas eras de tirania eclesiástica imperialista os homens foram
outra vez sistematicamente roubados de cada vestígio de individualidade. Na
Reforma, Deus novamente restaurou os homens ao cristianismo e à
individualidade. Mas o protestantismo
endureceu-se em formas e credos; e toda forma e denominação de protestantes têm
negado e feito tudo quanto pode para destruir a liberdade cristã e a
individualidade. E agora, mediante federação e confederação
denominacional, nacional, internacional e mundial em religião e de religiões,
novamente o despotismo eclesiástico imperialista operará com todos os poderes
mundiais, sinais enganadores e mentirosas maravilhas, sistematicamente para
destituir o homem finalmente de todo vestígio de individualidade.
Mas
o cristianismo em seu supremo dom de individualidade, como sempre antes, irá
agora e finalmente triunfar sobre todos. Apocalipse 15:2,3. E o
cristianismo triunfando mediante a individualidade, na natureza do caso, fá-lo
agora como sempre antes somente em e mediante o abençoado indivíduo; o indivíduo
sob a direção de Deus e com Deus, o indivíduo mantendo em perfeita sinceridade
o divino direito de individualidade em religião, e completa liberdade
religiosa, individualidade, tenham sempre em mente - não individualismo -- pois é distinta e eternamente um
ade, nunca um "ismo".
CAPÍTULO 9
LIBERDADE RELIGIOSA E
LEGISLAÇÃO DOMINICAL
Donde
procede a legislação dominical?
Qual
é a sua origem? Qual é o seu caráter?
O
que representa para as pessoas dos estados, dos Estados Unidos e do mundo?
Essas
perguntas são com destaque pertinentes em toda parte nos Estados Unidos hoje; pois
nos estados e na nação a legislação dominical é universalmente requerida do
congresso e de legislaturas estaduais a legislação dominical é constantemente
incentivada.
Também
por outra razão essas questões são não só pertinentes, mas inteiramente
importantes. Essa razão é que será “mediante
legislação dominical” que todas as autocracias, todos os governos legais,
todas as uniões de igreja e estado, e todas as igrejas como tais devem ser
alistadas e combinadas sob pressão da federação denominacional, nacional,
internacional e mundial de religiões, para a dominação do mundo inteiro em
religião. O movimento global para a federação do mundo em religião culmina
proeminentemente numa coisa - o domingo, e isso imposto por lei.
Sua Origem e Caráter
A
primeira legislação em favor do domingo deriva de Constantino; e originou-se na igreja e foi imposta somente com a
iniciativa e exigência dos bispos.
Isso é certo, não somente a partir das provisões da própria legislação, mas
também dos fatos e circunstâncias da legislação, e a partir de toda a história
do tempo, bem como da legislação.
A
primeira legislação sobre o tema é de cerca de 314 AD, e incluía a sexta-feira,
bem como o domingo. E a intenção da legislação era especificamente religiosa,
pois propiciava e ordenava que na sexta-feira e no domingo "houvesse
uma supressão de negócios nas cortes e em outros escritórios civis, a fim de
que o dia pudesse ser dedicado com menos interrupção aos propósitos de devoção".
Essa
é a paráfrase de Neander da declaração de Sozomen com respeito a essa primeira
de todas as legislações em favor da observância do domingo; e demonstra que a
única intenção da legislação era religiosa. Mas as próprias palavras de Sozomen,
como consta em inglês na tradução do Prof. Walford, realmente intensificam o
caráter religioso da legislação. Eis aqui:
"Ele
[Constantino] também impôs a observância do dia designado dia do Senhor, que os
judeus chamam de primeiro dia da semana, e o qual os gregos dedicam ao sol,
como semelhantemente o dia anterior ao sábado, e ordenou que nenhum assunto
judicial ou outro negócio fosse realizado nesses dias, mas que Deus deveria ser
servido com orações e súplicas". - Ecclesiastical History, de Sozomen,
Livro I, Cap. VIII.
Isso
coloca fora de questão que a intenção da primeira legislação imposta ao mundo
em favor do domingo como um dia de cessação de certos negócios e outras
ocupações comuns era inteira e unicamente religiosa.
Na
segunda etapa em legislação dominical, na lei de Constantino emitida em 321 AD,
a sexta-feira foi eliminada e o domingo ficou sozinho. O escopo da lei era agora
estendido para incluir não só as cortes e outros escritórios oficiais, mas
também as "pessoas que residem nas cidades" e "os que
atuam no comércio". E ainda a intenção dela foi indubitavelmente a
mesma; pois Eusébio, um dos bispos que tinham muito que ver com a legislação,
declara a respeito dela:
"Ele
[Constantino] ordenou também que um dia deve ser considerado como uma ocasião
especial para o culto religioso".- Oration in Praise of Constantine,
Cap. IX.
Quando
no ano 386 AD o escopo da legislação foi tornado universal e "transações
civis de toda espécie no domingo eram estritamente proibidas", o mesmo
caráter estritamente religioso ainda estava a ele ligado; pois "quem quer
que transgredisse devia ser de fato considerado tão culpado quanto um sacrílego".
- Neander.
"Sacrilégio"
não é em qualquer medida uma ofensa civil,
mas em todo sentido somente uma ofensa religiosa.
Assim,
em face da própria legislação, é perfeitamente claro que não houve nem nela,
nem sobre ela, em qualquer forma, qualquer outra intenção senão religiosa.
Contudo, não somos deixados somente com essa evidência, todo-suficiente como
seria em si mesma. Pelos próprios indivíduos que iniciaram e promoveram e
asseguraram a legislação, é dada a positiva garantia de que a intenção da
legislação foi exclusivamente religiosa, e especificamente assim. Novamente, o
bispo Eusébio é o que nos assegura isso, como se segue, referindo-se a
Constantino nessa conexão:
"Quem
mais ordenou às nações que habitam o continente e as ilhas desse poderoso globo
a reunir-se semanalmente no Dia do Senhor e observá-lo como um festival, não na
verdade para o desfrute do corpo, mas para o conforto e revigoramento da alma
pela instrução na verdade divina". Ibid., Cap. XVII.
Tudo
isso é confirmado pelo próprio comportamento de Constantino em relação com a
lei. Como o intérprete de sua própria lei, mostrando o que ele intencionava que fosse o seu significado, extraiu a seguinte oração que havia feito seus soldados
repetirem em coro segundo um dado sinal cada domingo pela manhã:
"Reconhecemos
a ti como o único Deus; possuímos a ti como nosso rei e imploramos o teu
socorro. Por teu favor obtivemos a vitória; mediante ti somos mais poderosos do
que os nossos inimigos. Rendemos-te graças por teus benefícios passados e
confiamos em ti por bênçãos futuras. Juntos oramos a ti e imploramos para nos
preservar e manter-nos seguro e triunfante nosso Imperador Constantino e seus
piedosos filhos". - Life of Constantine, Livro IV, Cap. XX.
Se,
contudo, persistisse na mente de qualquer pessoa razoável alguma dúvida quanto
a se a legislação dominical original fosse somente religiosa, sem nenhum
pensamento, muito menos qualquer intenção, de que tivesse qualquer outro que
não um caráter exclusivamente religioso, mesmo tais persistentes dúvidas devem
ser efetivamente removidas pelo indisputável fato de que foi por virtude de seu
ofício e autoridade como “pontifex maximus”,
e não como Imperador, que o dia foi posto à parte para os usos indicados;
porque era a única prerrogativa do “”pontifex
maximus designar dias santificados. Em prova disso há a excelente
autoridade do historiador Duruy nas seguintes palavras:
"Ao determinar que dias
deveriam ser considerados santos, e na composição de uma oração de uso nacional,
Constantino exercia um dos direitos que lhe pertencem como pontifex maximus, e
não causou nenhuma surpresa que ele fizesse isso". - História de Roma, Cap.
CII, Part. 1, par. 4.
Isso
é suficiente para a origem e caráter exclusivamente religioso da legislação
dominical como vem a ser por si mesma. Agora, o que dizer de
Sua Inspiração e Iniciação
Essa
legislação dominical original não era senão parte da grande ambição e esquema
da igreja popular da época mediante arranjos político-eclesiásticos e intriga
com Constantino para estabelecer um "reino de Deus" sobre a
Terra; e esse é o exato pensamento e propósito de uma teocracia terrena. Pois
de fato se havia levantado na igreja "uma falsa teoria teocrática que
poderia facilmente resultar na formação de um estado sacerdotal, subordinando a
si o poder secular numa maneira falsa e desviada". Essa teoria teocrática
já era a prevalecente ao tempo de Constantino; e os "bispos
voluntariamente tornaram-se dependentes dele por suas disputas e determinação
de fazer uso do poder do estado para a promoção de suas metas". - Neander.
Nesse
sentido, todo o esquema de uma teocracia humana em imitação da original e
divina nas Escrituras, foi definidamente arquitetada pelos bispos; e “mediante a legislação dominical” foi
tornada vigente. Isso é absolutamente inequívoco e inegável na história do
tempo. É a clara linha de pensamento que perpassa toda a literatura
eclesiástica da época; e apresenta-se cristalizada na obra do bispo Eusébio, Vida de Constantino. A igreja era Israel
no Egito oprimida pelo Faraó Maxentius, e Constantino era o novo Moisés que
libertou esse novo oprimido Israel. A derrota de Maxentius por Constantino na
batalha da ponte Mílvia, e seu afogamento no Tigre foi a derrocada de faraó no
mar, e o seu "afundamento abaixo como uma pedra". Após a
concessão da nova lei por esse novo Moisés, o novo Moisés com o novo Israel
partiu para a conquista dos pagãos no deserto; ao pleno estabelecimento da
teocracia, à entrada na terra prometida, e aos santos do Altíssimo assumindo o
reino. Nesse aspecto, pelo novo Moisés um tabernáculo foi erguido e um
sacerdócio em imitação do original divino nas Escrituras foi estabelecido. E
ainda em imitação àquele divino original nas Escrituras, o domingo foi por lei tornado o sinal dessa nova
falsa teocracia, como o sábado era e é o sinal da teocracia divina, verdadeira
e original. E isso foi feito com essa
intenção óbvia, pois o temos tão claramente enunciado nas palavras do
próprio bispo Eusébio que foi um dos principais em fazê-lo. Eis aqui as suas
palavras:
"Todas
as coisas que eram dever serem feitas no sábado, essas transferimos para o
domingo".
Que
o esquema e sistema de coisas assim estabelecidos era no pensamento deles o próprio
reino de Deus sobre a terra é também clara e positivamente declarado pelo Bispo
Eusébio deste modo:
"Investido
como ele é com uma aparência de soberania celestial, ele [Constantino] dirige o
seu olhar para cima e molda o seu governo terreno segundo o padrão daquele
divino original, sentindo força em sua conformidade com o monarca de Deus".
"E pela designação dos Césares cumpre as predições dos profetas,
segundo o que eles declararam eras antes: 'E os santos do Altíssimo assumirão o
reino". - Oration, Cap. III.
A
observância dominical estabelecida e imposta por lei imperial, como o sinal da
nova e falsa teocracia, no lugar e em imitação do sábado como sinal da
teocracia verdadeira e original, era o meio de tornar todas as pessoas "súditos
adequados" desse novo e falso "reino de Deus". Aqui
estão as palavras ainda pronunciadas pelo bispo Eusébio:
"Nosso imperador, sempre amado por
ele, deriva a fonte de autoridade imperial de cima". "Esse preservador
do universo ordena esses céus e terra e o reino celestial, coerentemente com a
vontade de seu Pai. Mesmo assim, nosso imperador, a quem ele ama, por trazer
aqueles sobre quem reina sobre a terra à única palavra gerada e salvador,
rende-lhes súditos fiéis do seu reino". - Id. Cap. II.
Essas
evidências demonstram que a inspiração e iniciação da legislação dominical
original foi exclusiva e especificamente eclesiástica; e tudo isso para a
promoção de um grande e sutil esquema dos bispos para o erguimento de um "estado sacerdotal" que devia "subordinar
o secular a si mesmo num falso e desviado modo", e para tornar efetivo a
"sua determinação de fazer uso do poder do estado para a consecução de
seus objetivos".
Portanto,
pela evidência nesses dois aspectos:
1.
"A origem e caráter";
2. "A inspiração e iniciação" da
legislação dominical original - vê-se que dita legislação dominical é
especificamente religiosa e eclesiástica, com todo outro pensamento e intenção
especificamente excluídos, ficando isso provado e demonstrado; uma demonstração, porque é o testemunho
unânime de toda a evidência que pode ser levantada no caso.
COMO FICA AGORA O CASO?
O
caráter exclusivo e especificamente religioso e eclesiástico da origem da
legislação dominical desperta a seguir a questão: A legislação dominical teria
perdido aquele caráter exclusivo e especificamente religioso?
Primeiro
de tudo, como podia esse caráter ser perdido? Sendo seu caráter nativo e inato;
sendo isso absolutamente o único caráter que sempre teve; é perfeitamente claro
que esse caráter simplesmente nunca poderia ser perdido. Tão certamente quanto
a coisa sobrevive, seu caráter nativo e inato ali jaz. Portanto, onde quer que
neste mundo a legislação dominical seja encontrada, seu caráter eclesiástico e
religioso inevitavelmente está a ele ligado.
Isso
é verdade no próprio princípio e natureza do caso. Mas tracemos a questão
historicamente e vejamos quão completamente o princípio é manifestado. O
"estado sacerdotal", para o erguimento do qual a legislação dominical
original foi fator tão preponderante, dominou toda a Europa por mais de mil
anos "subordinando o secular", e isso sendo feito
despoticamente "fazendo uso do poder do estado--todo estado--para a
consecussão de seus objetivos". Por todo esse tempo incrivel a legislação
dominical prosseguiu, e sem nenhuma pretensão que não o seu original, nativo e
inato caráter eclesiástico.
Em
1553 Henrique VIII divorciou-se a si próprio e a Inglaterra do papa de Roma.
Mas isso foi tudo; pois por aquilo que então se tornou a "Igreja da
Inglaterra" Henrique imediatamente postou-se como o papa no lugar do
papa. Por estatuto foi ordenado que o rei "será tido, aceito e reputado
como o único supremo cabeça da igreja da Inglaterra sobre a terra". E em
1535 Henrique assumiu oficialmente o título de "Supremo cabeça da Igreja
da Inglaterra sobre a terra". Aquilo que era agora a Igreja da Inglaterra
era somente o que antes havia sido a Igreja Católica na Inglaterra".
"Em forma nada havia mudado. A constituição exterior da igreja permaneceu
inalterada". - Green.
E
nesse mesmo sistema inalterado a legislação dominical papal continuou, e tem
prosseguido até os tempos atuais; e ainda sem pretensão de sugerir qualquer
coisa mais do que do que como em seu caráter religioso e eclesiástico original,
nativo e inato.
Da
Inglaterra espalhou-se para as colónias da América. Na América essas colônias
foram estabelecidas pelos colonizadores da Inglaterra e assim não passavam de
extensão aqui do governo inglês. E em estrito acordo com o sistema inglês, e em
plena extensão dele, toda colónia estabelecida na América, exceto a de Rhode
Island, tinha uma “religião estabelecida”, fosse na forma de "religião
cristã" em geral, ou, no máximo, na forma de alguma “igreja em particular.”
E
em cada um desses estabelecimentos religiosos na América, ficou extendida, e em
alguns mesmo intensificada, a legislação dominical do sistema inglês, que era
somente a extensão da legislação dominical do sistema original romano e papal.
E
ainda aqui, como sempre antes na Inglaterra e em Roma, a legislação dominical
das colónias americanas nunca teve o pensamento ou propósito ou pretensão
outra que não como seu caráter original
religioso e eclesiástico nativo e inato.
Presentemente
essas colónias libertaram-se do governo britânico e se tornaram "estados
livres e independentes". Mas ainda cada uma delas era o mesmo como antes
em seu sistema de religião estabelecida e legislação dominical. Virgínia,
contudo, imediatamente desbancou ali a igreja da Inglaterra e sua religião; e
no que respeito a religião estabelecida como tal, eliminou tudo quanto lhe
dizia respeito com um "Ato pelo Estabelecimento de Liberdade
Religiosa". Contudo, nos livros legislativos do atual estado da Virginia permaneceram
inalterada legislação dominical idêntica do sistema de igreja e estado da Inglaterra,
que era somente a legislação inalterada de Roma e o sistema papal em seu velho
caráter religioso e eclesiástico nativo e original.
E
a história de Virginia nisso é substancialmente a história de todos os outros
treze estados originais; exceto sempre Rhode Island. E a legislação dominical
de todos os estados da união, após os treze originais, tem sempre sido a
extensão, e praticamente cópia, da legislação dominical dos treze estados
originais que a possuíam. E nessa má progressão, até Rhode Island tem sido
pervertida e corrompida. E sempre essa legislação dominical dos últimos estados
tem sido do mesmo caráter religioso e eclesiástico nativo e original como nas
colônias, da Inglaterra e de Roma.
Assim,
a partir da legislação dominical original de Constantino até a última
legislação dominical nos Estados Unidos, é tudo a mesma coisa, para o mesmo
propósito, e precisamente do mesmo caráter.
LEGISLAÇÃO DOMINICAL
INCONSTITUCIONAL
Então
veio a formação do governo nacional dos Estados Unidos com sua total separação
de religião e estado, e sua provisão constitucional de que "o Congresso
não fará lei que diga respeito ao estabelecimento da religião, nem que proiba o
seu livre exercício". Este princípio da constituição nacional com o precedente
"Ato para Estabelecimento da Liberdade Religiosa", na
Virgínia, tem sido o guia na formação das constituições de todos os estados da
União americana, após os treze originais; e mesmo as constituições, conquanto
não a legislação, dos treze estados originais, tem sido materialmente moldados
por ele. E tão fielmente tem esse guia sido seguido, e tão geralmente tem o
princípio sido reconhecido por toda a união americana, que, como sumariado, o
caso assim se apresenta:
"As
coisas que não são legais sob qualquer das constituições americanas podem ser
assim declaradas:
"1.
Qualquer lei que diga respeito ao estabelecimento de religião.
"2.
Apoio compulsório, por taxação ou outra forma, de instrução religiosa.
"3.
Assistência compulsória a um culto religioso.
"4.
Restrições sobre o livre exercício da religião segundo os ditames da
consciência.
"5.
Restrições sobre a expressão da crença religiosa.
"Essas
são as proibições que em alguma forma de palavras devem ser achadas nas
constituições americanas, e que asseguram liberdade de consciência e culto
religioso. Nenhum homem em questões religiosas deve ser sujeito à censura do
estado ou de qualquer autoridade pública".
"Os
legisladores não têm sido deixados na liberdade de efetuar uma união de igreja
e estado, ou de estabelecer preferências por lei em favor de qualquer persuasão
religiosa ou modo de culto. Não há liberdade religiosa completa onde qualquer
seita seja privilegiada pelo estado obtendo vantagem pela lei sobre outras.
"Seja
o que estabeleça distinção contra uma classe ou seita, na medida em que a
distinção opere desfavoravelmente, uma perseguição; e se baseada em religião,
uma perseguição religiosa. A extensão da discriminação não é material ao
princípio; é suficiente que crie uma desigualdade de direito ou
privilégio". - Constitutional
Limitations, Cooley, Cap. XIII, par. 1-9.
Agora,
em razão desses fatos, provisões, e princípios, tomar a legislação dominical
pelo que inquestionavelmente é, - exclusivamente e especificamente religioso - é
perfeitamente claro sobre todo princípio que onde quer que seja nos Estados
Unidos, e sob todas as constituições, a legislação dominical é "uma
perseguição religiosa", e é absolutamente inconstitucional e nula por si
mesma.
Que
é inconstitucional tem sido admitido tanto por tribunais estaduais como
federais. A Suprema Corte de Ohio declarou claramente que "se a
religião fosse o único terreno de legislação dominical, não poderia permanecer
de pé um só instante" sob a constituição. E um Tribunal Distrital dos
Estados Unidos fez notar o "espetáculo um tanto deprimente dos advogados
do domingo tentando justificar a continuação da legislação dominical com o
argumento de que não é um conflito com o dogma cívico de liberdade
religiosa", quando “certamente o
é", e declara que "o potencial do fato de que existe como uma ajuda
à religião poderia ser francamente confessada e não negada". E o último
tribunal distintamente o reconheceu, em cada palavra, como
"perseguição".
Invenção Judicial e Sanção
E
contudo, por todos os Estados Unidos a legislação dominical é mantida pelos
tribunais como sendo constitucional! Como pode ser isso? A resposta é que isso se dá unicamente por invenção judicial e
sanção.
Observação:
Não é por construção judicial ou interpretação das constituições, mas inteiramente por invenção judicial e sanção
quanto ao caráter da legislação.
Isso significa que: por invenção judicial e sanção um caráter inteiramente novo
e estranho é dado à legislação dominical; e então sobre esse novo e estranho terreno
a legislação é mantida como constitucional. Se esse novo e estranho terreno
fosse em verdade o terreno original e nativo, mesmo assim a constitucionalidade
de tal legislação estaria aberta a questão. Mas não em qualquer sentido é o
novo e estranho terreno verdadeiro. É pura invenção, e falso tanto como
princípio e aos fatos.
Essa
invenção judicial e sanção de um novo e estranho terreno para a legislação
dominical é a proposição de que se aplica ao benefício físico, para a promoção da saúde e restauração
das energias perdidas das
pessoas; que visa à "proteção do trabalho", e assim é
constitucional "como regulamentação política" e "como regra puramente civil".
Agora,
qualquer que conheça o ABC da legislação dominical sabe perfeitamente bem que
nenhuma lei dominical no mundo jamais foi estabelecida com tal intenção, ou
para qualquer propósito desses, ou sobre qualquer terreno tal; mas que toda
legislação dominical do mundo foi imposta simplesmente por causa de seu caráter
religioso e eclesiástico, com todo elemento físico e cívico especificamente
excluído.
O
estado de Idaho é uma ilustração apropriada, e sendo o último é estritamente
pertinente. No próprio espírito, e como exatamente essa meta, os bispos ao
tempo de Constantino, uma claque eclesiástica, não do estado de Idaho, moldaram para Idaho uma lei dominical e levaram-na à legislatura de Idaho e
conseguiram tê-la passada em forma de lei de Idaho. E então, sob uma
constituição declarando o "exercício e desfrute da fé religiosa e culto
serão para sempre garantidos; e nenhuma pessoa ter negado qualquer direito
civil ou político, privilégio ou capacidade em razão de suas opiniões
religiosas; nem será dada qualquer preferência por lei a qualquer denominação
religiosa ou forma de culto", a Suprema Corte de Idaho manteve que esse
estatuto religioso e eclesiástico era "constitucional".
O
estado de Washington é outra ilustração. A constituição do estado declara que "absoluta
liberdade de consciência em todas as questões de sentimento religioso, crença e
adoração será garantida a todo indivíduo, e ninguém será incomodado ou
perturbado em pessoa ou propriedade em razão de sua religião."
Quando
em 1889 essa provisão constitucional foi forjada, era intenção unânime de seus
formadores que excluísse a legislação dominical igualmente com toda outra forma
de religião na lei. O escritor deste livro estava presente com o comité da
convenção constitucional quando essa provisão foi formulada. Eu pessoalmente
sei que tal foi a intenção dos seus formuladores, porque esse mesmo assunto de
legislação dominical era particularmente considerado pelo comitê, sendo mantido
pelo comité unanimemente que essa provisão constitucional como formulada
excluísse, como intencionado, a
legislação dominical. Contudo, sob essa constituição a Suprema Corte do estado
de Washington tem mantido a legislação dominical como "constitucional".
Assim,
com a legislação dominical realmente formulada por clérigos com nenhuma outra
intenção, que não religiosa e eclesiástica, e com provisões constitucionais forjadas
com intenção óbvia de proibi-la, as cortes por pura invenção judicial e sanção
a fizeram "constitucional".
Mas
toda decisão desse tipo está claramente em óbvio desrespeito de um dos
primeiros princípios, e da "regra universalmente
admitida" de ação judicial - o princípio e regra de que "a
intenção do legislador é a lei", que "a lei deve ser construída
segundo a intenção do legislador", e que "uma lei pode não ter
nenhum significado além da intenção daqueles que a fizeram".
Que
esse princípio deve sempre, “em justiça”, orientar na construção de “estatutos” bem como “constituições”, é declarado com
autoridade como segue:
"Um
tribunal que deva permitir mudança de sentimento público influenciá-lo em dar a
uma constituição escrita uma construção não respaldada pela intenção de seus
fundadores, seria justamente culpada de negligente desrespeito ao juramento
oficial e ao dever público". - Coley, Constitutional Limitations, p.
67.
O
princípio aplica-se com igual força à construção de um “estatuto”, e à construção de uma “constituição”. E se a mudança de sentimento que um tribunal deve
permitir assim a influenciá-lo, seja pública e geral ou somente o sentimento
privado e pessoal e preconceito do próprio tribunal, o princípio é o mesmo e
tal tribunal é igualmente "culpável de negligente desrespeito ao juramento
oficial e ao dever público". contudo, isso é precisamente o que tem sido
feito pelos tribunais quando, por estabelecer um sentido inteiramente novo e
estranho, dão à legislação dominical uma constução não em qualquer sentido
respaldado pela intenção de seus fundadores ou formuladores, em parte alguma da
história ou experiência humana.
UM SUBTERFÚGIO PALPÁVEL
Contudo,
mesmo essa invenção e sanção de novo e estranho terreno para a legislação dominical
não tem permissão de excluir o terreno religioso
nativo e original dele. Essa invenção, de fato, é somente o pretexto pelo qual
a legislação dominical como religiosa
pode ser introduzida e feita parecer "constitucional" sob provisões
constitucionais que absolutamente a proíbem. Pois tão logo tem ela em cada
instância sido tornada "puramente uma regra civil" é-lhe
imediatamente atribuída postura como religiosa
pela declaração de que "o fato de que a legislação é fundamentada em
religião" e é "o aspecto peculiar do cristianismo", "nada
é contra ela, mas sim fortemente em seu favor". Assim, sob
constituições que proíbem legislação religiosa, pura manipulação legislativa, é
realizado um feito de tornar "constitucional" legislação que é
inteiramente religiosa e eclesiástica.
INCONSTITUCIONAL AINDA
Mas
contra tudo isso ainda permanece a verdade permanente de que a legislação
dominical é inconstitucional por toda parte nos Estados Unidos devido a seu
caráter religioso. A invenção de uma "base
civil" para ela a fim de torná-la constitucional somente a deixa ainda
inconstitucional devido a seu caráter religioso
e eclesiástico original nativo e inato. Em outras palavras, quando a
constituição garante absoluta liberdade de todas as observâncias, restrições
ou provisões religiosas, pela lei
requerida, então qualquer caráter religioso que se ligue a qualquer lei
torna-a inconstitucional por essa razão.
A
constituição é a suprema expressão da vontade das pessoas no governo. E quando
essa suprema vontade exclui da legislação todas as coisas religiosas, então
essa suprema vontade não pode ser evadida pelo mero truque de inventar uma "base
civil" para uma “ religiosa”.
Por tal truque toda coisa religiosa já ouvida poderia ser tornada
constitucional e imposta sobre todos; e a garantia constitucional da liberdade
religiosa seria assim transformada num inatingível sonho.
Portanto, em vez de o "terreno religioso
da observância dominical nada ser contra, mas antes em favor da legislação
dominical como uma regra civil, a verdade é que essa é a objeção mais forte
possível contra ela; tão forte na verdade que isso somente a anula, seja qual
for sua natureza ou necessidade civil".
A
Suprema Corte da Califórnia bem declarou este princípio, como segue:
"A
Constituição declara que 'o livre exercício e desfrute da profissão religiosa e
culto, sem discriminação ou preferência, deve para sempre ser permitido neste
estado'.A questão constitucional é uma questão nua de poder legislativo. Tinha
a legislatura poder para realizar a coisa particular feita? Qual era a coisa
particular? - Era a proibição de trabalho no domingo. Tinha o Ato sido
formulado de molde a demonstrar que era intencionado por aqueles que votaram
por ele, como simplesmente um regulamento municipal; contudo, se, de fato,
contradizia a provisão da Constituição assegurando liberdade religiosa para
todos, deveríamos ter sido compelidos a declará-lo inconstitucional por essa
razão" - Ex-part Newman.
O
princípio é que seria impossível
atribuir ao estado, à sociedade ou ao indivíduo tanto dano pela privação de um
desejado benefício civil, como
certamente deve restar ao estado, à sociedade e a cada indivíduo, mediante a
transgressão da liberdade religiosa, a invasão dos direitos de consciência, e o
revestimento de religionistas com poder civil.
Mesmo que Constitucional Seria
Ainda Errado
É
inegável então que a legislação dominical e eclesiástica, e, como tal, e sob a
apelação que for, é inconstitucional e uma "perseguição" por
toda parte dos Estados Unidos. Mas mesmo se fosse constitucional aqui, como é
na Inglaterra e França, Espanha e Rússia, ainda estaria errada. Sendo religiosa
e eclesiástica, a legislação dominical é errada em si mesma e nunca pode por
qualquer possibilidade ser certa.
O rei Nabucodonosor, indo contra os três
jovens hebreus, fez uma lei tendo base e caráter religioso. Mas DEUS o ensinou
e a todos os reis e pessoas para sempre que é errado.
O
governo medo-persa, contra Daniel, estabeleceu um estatuto de inflexível lei
tendo uma base e caráter religioso. Mas Deus ensinou àquele governo e a todos
os governos e pessoas para sempre que era errado.
E quanto à igreja "fazer uso do
poder do estado para a consecução de seus objetivos", que poderia não
ser possivelmente com qualquer outra intenção a não ser religiosa - que por
esse truque sutil fosse cumprida pela igreja a sua "meta" na
crucifixão do Senhor da Glória, isso
é demonstração suficiente ao amplo universo e por toda eternidade que tal
combinação e procedimento sob ela é supremamente e satanicamente errado.
Assim,
há uma lei mais elevada e uma Autoridade mais poderosa do que qualquer sobre a
Terra; essa é a vontade e autoridade de Deus. Religião é o dever que as inteligências devem a seu Criador, e a
maneira de desincumbir-se de tal dever. A religião, portanto, de toda alma jaz
somente entre ele e o Soberano da alma. Portanto, embora a legislação dominical
fosse constitucional em todo estado ou governo da terra, ainda, “enquanto religiosa”, seria inteiramente
errada; porque é uma invasão do território e usurpação da autoridade e
jurisdição de Deus.
Nenhum Terreno Possível para
Ele
Há
somente duas autoridades às quais, no que respeita a lei ou governo, qualquer
um no mundo está sob obrigação de prestar alguma coisa. Esses dois são Deus e César.
Nesse sentido, o Senhor JESUS declarou esta verdade desta forma: "Dai, pois, a César o que é de César, e
a Deus o que é de Deus".
A
legislação dominical e a observância do domingo não procedem nem de Deus nem de
César.
Não
é de Deus; pois, como a evidência revela, no próprio início dela foi
estabelecida como sinal da teocracia falsa e de origem humana do homem do
pecado no “lugar de Deus”, mostrando
que era Deus, para suplantar o sábado do Senhor como o sinal da verdadeira e
divina teocracia em que o próprio Deus é Deus somente.
Não
é de César; pois, como a evidência demonstra, não era como César - o cabeça do estado,
mas somente como “pontifex maximus” - o
“cabeça da religião” que Constantino decretou o domingo como dia sagrado
e estabeleceu sua observância; e isso sob a inspiração e exigência da "igreja" que não é nem Deus
nem César.
Portanto,
sendo que não procede nem de Deus nem de César, mas somente da
"igreja" através de um "chefe da religião" pagão,
não há obrigação, nem terreno, nem espaço para ninguém no universo jamais
prestar qualquer observância dele em qualquer forma que seja.
SEU PROPÓSITO DERRADEIRO
Portanto,
em todo aspecto demonstrável, revela-se que o caráter inato, original e nativo
da legislação dominical sempre permanece o mesmo - exclusiva e especificamente
religioso e eclesiástico.
E
o propósito derradeiro da legislação dominical é semelhantemente o mesmo de
sempre. Temos visto que na legislação dominical original o propósito derradeiro
era "a formação de um estado sacerdotal, subordinando a si o secular
numa maneira falsa e desviada"; e o tornar efetivo a "determinação"
dos clérigos "para fazer uso do poder do estado para a consecução de
seus objetivos".
E
esse é precisamente o propósito
derradeiro dele agora. O congresso e as legislaturas estão constantemente
cerceados; os legisladores são persistentemente abordados, e até ameaçados,
pelos clérigos agora, como o escritório imperial era então, sempre em favor da
legislação dominical, e mais legislação dominical. Não importa quanto de tal
legislação possa já estar nos livros legislativos, ainda a persistente
exigência é para que haja mais, e mais, e ainda mais; e é tudo ditado, quando
não realmente formulado, pelos próprio clérigos interessados, e em termos que
mais e mais se aproximam da inquisição, precisamente como por aqueles outros
clérigos a princípio.
Não
precisamos prosseguir mais. As evidências aqui apresentadas demonstram
conclusivamente que o caráter da legislação dominical é sempre só e exclusiva e
especificamente religiosa e eclesiástica; que, portanto, nos Estados Unidos é inconstitucional e anti-americana; e que por toda parte é antidivina e
anticristã.
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INDIVIDUALIDADE EM RELIGIÃO
é o direito inviolável de todo ser humano. Contudo, sempre tem havido, desde a
queda de Lúcifer, a persistente determinação de homens em governar sobre outros
homens no lugar de Deus. Escuros com crueldade e opressão são os registros dos
esforços humanos para coagir outros para a adoração de Deus segundo os ditames
dos líderes eclesiásticos, os quais, quando pensavam estar executando a vontade
de Deus, na verdade serviam ao demônio. A despeito do extraordinário poder à
disposição desses potentados, os verdadeiros cristãos têm recusado renunciar
aos princípios divinos, não importa o custo pessoal. Em toda geração tem havido
aqueles que mantiveram a causa de Deus e, ao fazê-lo, lançaram o fundamento
para a vitória final.
INDIVIDUALIDADE EM RELIGIÃO
não é nem entendida nem valorizada hoje como devia porque a geração presente
nada sabe da luta requerida para estabelecer essas preciosas liberdades. Essa
ignorância e indiferença propicia a Satanás a vantagem de que precisa para
insidiosamente impor outra vez a opressiva regra do passado. É, portanto,
necessário que a geração presente se torne familiar com as vitórias obtidas
quando a individualidade em religião era testada perante o fogo, os leões, a
prisão, e toda outra perseguição, e então aprender a apreciar as liberdades que
foram conquistadas sob tão penosos custos, porque logo chegará o tempo em que
as pressões usadas no passado serão novamente impostas.
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