O PODER DO PERDÃO!
E. J. Waggoner
"E eis que Lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a
fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus
pecados. Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema. Jesus, porém,
conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal em vossos
corações? Pois qual é mais fácil, dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou
dizer: Levanta-te, e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre
a terra autoridade para perdoar pecados disse então ao paralítico: Levanta-te,
toma o teu leito, e vai para tua casa. E, levantando-se, partiu para sua casa.
Vendo isto, as multidões, possuídas de temor, glorificaram a Deus, que dera tal
autoridade aos homens." Mateus 9:2-8.
Uma das expressões mais comuns de ser ouvida entre professos cristãos
quando falando de coisas religiosas é esta: "Posso entender e crer que Deus
perdoará o pecado, mas é difícil para mim crer que Ele pode guardar-me de
pecar". Tal pessoa precisa ainda aprender muito do que significa o perdoar
Deus os pecados. É verdade que pessoas que falam desse modo têm frequentemente
uma medida de paz ao crerem que Deus perdoou, ou perdoa, os seus pecados; mas
devido à falha em assegurar-se do poder
do perdão, privam-se de muitas bênçãos que poderiam desfrutar.
Tendo em mente a declaração relativa aos milagres de Cristo, de que
"foram registados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus,
e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome" (João 20:31), estudemos o
milagre diante de nós. Os escribas não criam que Jesus podia perdoar pecado. A
fim de mostrar que tinha poder para perdoar pecados, Ele curou o homem
paralítico. Esse milagre foi operado para o expresso propósito de ilustrar a
obra de perdão do pecado e demonstrar o seu poder. Jesus declarou ao homem
paralítico: "Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa" a fim
de que eles, e nós, conhecêssemos o Seu poder para perdoar o pecado. Portanto,
o poder revelado na cura daquele homem é o poder concedido no perdão do pecado.
Notem particularmente que o efeito das palavras de Jesus continuou após
terem sido pronunciadas. Elas produziram uma mudança no homem, e essa mudança
foi permanente. O mesmo deve dar-se no perdão do pecado. A ideia comum é que quando
Deus perdoa o pecado, a mudança se dá nEle, e não no homem. Pensa-se que Deus
simplesmente deixa de manter algo contra aquele que pecou. Mas isto implica em
que Deus tinha alguma mágoa contra o homem, o que não é o caso. Deus não é um
homem; Ele não abriga inimizade, nem alimenta sentimentos de vingança. Não é
devido a Deus ter um sentimento irado no coração contra um pecador que pede perdão,
mas devido a que o pecador tem algo no coração. Deus é todo certo e o homem
todo errado; portanto, Deus perdoa o homem para que este também fique bem.
Quando Jesus, ilustrando o perdão do pecado, declarou ao homem:
"Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa", esse levantou-se
e foi para casa. O poder que havia nas palavras de Jesus ergueram-no e
fizeram-no caminhar. Esse poder permaneceu nele, e na força que lhe foi
concedida ao ser-lhe removida a paralisia é que dali em diante caminhou, desde,
logicamente, que mantivesse a fé. Isso é ilustrado pelo salmista quando
declara: "Esperei confiantemente pelo Senhor; Ele Se inclinou para mim e
me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, dum
tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos".
Há vida nas palavras de Deus. Jesus declarou: "As palavras que Eu vos
tenho dito, são espírito e são vida". João 6:63. A palavra recebida em fé traz o Espírito e a vida de Deus para a alma.
Assim, quando a alma penitente ouve as palavras: "Tem bom ânimo, filho; os
teus pecados estão perdoados", e acata essas palavras como as palavras
vivas do Deus vivo, ele é um homem diferente, porque uma nova vida nele se
iniciou. É o poder do perdão de Deus, e isso somente o guarda de pecar. Se ele
prossegue em pecado após receber o perdão, é devido a não ter apreendido a
plenitude da bênção que lhe foi dada no perdão de seus pecados.
No caso diante de nós, o homem recebeu nova vida; sua condição de paralisia
era simplesmente o desgaste de sua vida natural. Ele estava parcialmente morto.
As palavras de Cristo concederam-lhe novo vigor. Mas essa nova vida transmitida
ao seu corpo, que o capacitou a caminhar, era somente uma ilustração, tanto
para ele quanto para os escribas, da vida invisível que de Deus recebera
através das palavras: "estão perdoados os teus pecados", as quais
tornaram-no uma nova criatura em Cristo.
Com esta ilustração simples e clara perante nós, podemos entender algumas
das palavras do apóstolo Paulo, que doutro modo são "difíceis de
entender". Primeiramente, leiamos Colossenses 1:12-14: "Dando graças
ao PAI que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz.
Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho
do Seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados". (Ver a mesma declaração com respeito à
redenção mediante Cristo em I Pedro 1:18,19 e Apocalipse 5:9).
Assinalem dois pontos temos redenção mediante o sangue de Cristo, e essa
redenção é o perdão dos pecados. Mas sangue é vida. Ver Gênesis 9:4; Levítico
17:13,14. Portanto, Colossenses 1:14 realmente nos diz que temos redenção
mediante a vida de Cristo. Mas não dizem as Escrituras que somos reconciliados
com Deus pela morte de Seu Filho? Sim, e isso é exatamente o que está sendo
ensinado aqui. Cristo "a Si mesmo Se deu por nós, a fim de remir-nos de
toda iniquidade". Tito 2:14. Ele "Se entregou a Si mesmo pelos nossos
pecados". Gálatas 1:4. Ao entregar-Se, Ele ofereceu Sua vida. Ao derramar
o Seu sangue, derramou a Sua vida. Mas ao entregar a vida, Ele no-la oferece.
Essa vida é justificação, a perfeita justiça de Deus, de modo que quando a recebemos,
somos feitos "justiça de Deus nEle". É o receber a vida de Cristo, ao
sermos batizados em Sua morte, que nos reconcilia com Deus. É assim que nos
revestimos "do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e
retidão", "segundo a imagem dAquele que o criou". Efésios 4:24;
Colossenses 3:10.
Agora podemos ler Romanos 3:23-25, e descobrimos que não é assim tão
difícil: "Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus", sendo
justificados [ou seja, tornados justos, ou praticantes da lei] gratuitamente,
por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs,
no Seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a Sua justiça,
por ter Deus, na Sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente
cometidos".
Todos pecaram. A vida inteira tem sido de pecado. Mesmo os pensamentos têm
sido maus. Marcos 7:21. E ter mentalidade carnal representa morte. Portanto, a
vida de pecado é uma vida de morte. Se a alma não for livrada disso, findará em
morte eterna. Não há poder no homem para obter a justificação da santa lei de Deus;
portanto Deus, em Sua misericórdia, coloca Sua própria justiça sobre todos
quantos creem. Ele nos torna justos como um dom gratuito mediante as riquezas
de Sua graça. Isso faz por Suas palavras, pois declara Sua justiça em e sobre
todos os que têm fé no sangue de Cristo, no qual jaz a justiça de Deus,
"porquanto nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade".
Colossenses 2:9. E esse declarar ou pronunciar a justiça de Deus sobre nós é a
remissão ou remoção do pecado. Assim Deus remove a vida pecaminosa colocando
Sua própria vida justa no lugar. E é este o poder do perdão do pecado. É o
"poder de uma vida infinita".
Esse é o começo da vida cristã. É o receber a vida de Deus pela fé. Como
prossegue? Tal como começou. "Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor,
assim andai nEle". Colossenses 2:6. Porque "o justo viverá pela
fé". O segredo de viver a vida cristã é simplesmente o de apegar-se à vida
que, recebida no começo, perdoa o pecado.
Deus perdoa o pecado removendo-o. Ele justifica o ímpio tornando-o santo.
Ele reconcilia o pecador rebelde consigo, retirando a sua rebelião e tornando-o
um súdito leal e obediente à lei.
Ás vezes é dito: "É difícil compreender como podemos ter a vida de Deus
como um fato real; não pode ser real,
pois é pela fé que a possuímos". Também foi pela fé que o pobre paralítico
recebeu nova vida e vigor; mas foi sua força menos real? Não se tratou de um
fato real o ter recebido força? "Não dá para entender?" Logicamente
não, pois é uma manifestação do "amor de Deus que excede todo o
entendimento". Mas podemos crer nisso e reconhecer o fato, e então teremos
uma vida eterna durante a qual estudar a maravilha de tal ciência. Leiam vez
após vez a história da cura do homem paralítico, e meditem a respeito até
tornar-se-lhes uma realidade viva, e lembrem-se, então, que "estes foram registados para que creiais
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu
nome".