"Tempo mais solene do que aquele em que vivemos nossos interesses eternos se acham em jogo, e devemos despertar para importância de tornar firme nossa vocação e eleição." Ellen White
O nascimento de um Novo Dia
Por F.T. Wright
Prefácio
Esta
publicação é uma amadurecida versão doutra, que foi transcrita de um estudo
gravado em cassete dado pelo autor em 1965 na Austrália. Tão abençoados foram
os ouvintes que eles insistiram que o estudo fosse impresso. Por fim foi
acordado que fosse feita uma impressão temporária directamente da gravação com
algumas revisões para o melhorar. Foi feito isto e apareceu sob o título Da Escravidão para a Libertação.
Aproximadamente
dez anos depois o autor levou a cabo a obra de escrever uma revisão mais
aprofundada do manuscrito original. Grande experiência foi adquirida entretanto
na apresentação do assunto e o testemunho foi dado em vida após vida da certeza
da vitória alcançada por todos os que fielmente aplicaram os princípios ali
apresentados. Esta nova versão alargada é publicada com um titulo revisto, Da Escravidão para a Liberdade.
Os publicadores
Índice
Introdução
Parte 1: O Problema
Parte 2: A Solução
Parte 3: Depois de Renascer
Conclusão
Bibliografia
Introdução
Todas
as publicações são produzidas com um propósito. O propósito deste estudo é
mostrar ao leitor como entrar numa vida de vitória sobre problemas tentadores
que tão persistentemente marcam a experiência diária da humanidade hoje.
Não é
um estudo que vos diz o que devíeis ser. Há pouca necessidade disso porque a
pessoa em geral, se não for despida de qualquer ambição de ser uma pessoa
melhor do que é, já sabe o que quer e luta por esse objectivo. Se o leitor for
um membro de qualquer igreja com elevados ideais e normas, então a compreensão
do que deveria ser é ainda mais clara. Não só é a compreensão mais clara, mas a
exigência sobre a pessoa para alcançar esse ideal é ainda mais premente.
O
problema é: Como poderei alcançar aquilo que no fundo da minha consciência sei
estar certo e que desejo acima de tudo alcançar? Essa é a pergunta e há
inúmeros milhares de pessoas que hoje estão diligentemente à procura da
resposta.
Se sois
uma dessas pessoas, então este estudo é para vós. É escrito, não com base na
mera teoria de alguém que, sentado numa cadeira, especulou sobre um caminho
para alcançar a vitória que à sua mente pareceu ser melhor, mas por alguém que
procurou com intenso fervor alcançar os elevados ideais de uma vida cristã, por
fim encontrou o caminho da libertação da escravidão da sua própria natureza má.
Portanto, é um procedimento testado e provado que se apresenta aqui. Não só é
um procedimento testado e provado mas é também o procedimento escriturístico.
Além do mais, é um procedimento que, uma vez apresentado a outra alma que
também luta, se tem provado eficaz na sua experiência como aconteceu no caso do
autor desta publicação.
É em
resposta aos pedidos insistentes daqueles que, apesar de seguirem o caminho
apresentado nesta publicação, têm encontrado para si mesmos a solução para o
problema da vida que este estudo se apresenta impresso. É a mais sincera oração
do autor e de todos que ele faça por vós aquilo que tem feito por nós.
Parte 1
O Problema
Todo o
mundo hoje sabe que está mergulhado em terríveis problemas para os quais os
homens estão buscando com intensidade de propósito as soluções. Mas há apenas
um lugar onde as soluções podem ser encontradas e esse é na Palavra do Deus
vivo. Existe uma boa razão para isso porque, quando os apóstolos Pedro e João
estiveram perante os seus perseguidores judeus, declararam acerca de Jesus
Cristo: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro
nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” Actos 4:12.
Portanto,
não é ao psicólogo, ao médico, ao cientista, ou ao sociólogo ou qualquer outro
que podemos ir em busca da solução para estes problemas. Não há senão um lugar,
que é a Palavra de Deus, onde é revelado o poder salvador de Jesus Cristo e o
modo pelo qual esse poder salvador pode ser pessoal e efectivamente nosso.
Nessa
Palavra temos o emocionante testemunho de alguém que conheceu por si próprio o
poder salvador dessa palavra e conhecendo-o declarou. “Porque não
me envergonho do evangelho de Cristo.” Romanos 1:16.
Havia
uma razão muito boa para ele não se envergonhar do evangelho de Jesus Cristo,
razão essa que ele com gosto deu rapidamente. “Pois é o poder de Deus.”
Pensai
em tudo o que Paulo poderia ter dito que o evangelho era. Podia tê-lo designado
como uma teoria, um argumento, boas novas, ou coisa semelhante. Mas ele não
usou qualquer destas definições. O evangelho “é o poder de Deus”, declarou ele.
Para Paulo era poder, mas não qualquer poder. Era o poder de Deus.
É
essencial que precisamente no começo deste estudo compreendamos o que o
evangelho realmente é. Faríamos bem em ponderar a força e majestade desse
poder. É o poder de Deus pelo qual os céus e a Terra foram chamados à existência.
Não temos aqui tempo nem espaço para dar alguns dos factos e números
astronómicos a respeito da imensidade do espaço. Se o pudéssemos fazer, então
algo do imenso poder que é o poder de Deus, começaria a raiar nas nossas
mentes.
Este
mesmo poder pelo qual os mundos foram chamados à existência é o evangelho. É o
poder que tendo sido em primeiro lugar devotado à obra de chamar a criação à
existência, é agora devotado à
nossa salvação. Porque, a Palavra de Deus declara através de Paulo: “É o poder
de Deus para a salvação.”
O texto
não diz especificamente do que é que o evangelho nos salva. Mas há alguma
necessidade disto? Já nas Escrituras
se tornou isso muito claro. Quando o anjo do Senhor apareceu a José, o marido
de Maria, a mãe de Jesus, para anunciar o nascimento que se aproximava, disse:
“E dará à luz um filho e
chamarás o Seu nome Jesus; porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados.” Mateus 1:21.
Escritura
tem que ser comparada com Escritura. Verdades uma vez estabelecidas na Palavra
de Deus não necessitam de ser repetidas com as mesmas palavras. Jesus é o
coração do evangelho e o poder do evangelho. Portanto, se Jesus veio para
salvar o Seu povo dos seus pecados, então quando Paulo nos diz que o evangelho
é o poder de Deus para a salvação, está claro que tem que ser salvação do
pecado.
Quando
esse imenso poder, comparado como o qual não há outro, é devotado à salvação de
todo o ser humano dos seus pecados, então como pode haver qualquer desculpa
para o pecado na vida de qualquer pessoa sobre a face da Terra. Não há desculpa. As multidões,
evidentemente, são indiferentes ao problema do pecado. Vivem segundo os seus
próprios desejos e o Senhor dá-lhes a perfeita liberdade de fazerem o que
desejam. Mesmo assim, são culpadas e porque são culpadas colherão os resultados
do seu próprio curso de acção.
Mas
aqueles que estão lutando por se adaptarem ao modelo divino e que pela fé viva
se agarram ao poder divino pela fé, serão tão mudados em si mesmos que o amor,
paciência e pureza será a sua condição natural. Experimentarão em si mesmos a
obra do imenso poder de Deus e saberão que não há poder na terra e no inferno
que possa obrigá-los a pecar. Por conseguinte, não têm qualquer necessidade de
pecar. Todos podem viver uma vida de perfeita vitória sobre o pecado se
quiserem, enquanto crerem no poder do Altíssimo.
O
evangelho é para todos, mas o evangelho não é o poder de Deus para todos.
“É o
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê; primeiramente do judeu e
também do grego.”
O
evangelho é o poder de Deus para a salvação do pecado apenas para o crente.
Para todos os outros não é mais do que uma teoria, ou uma história, ou uma
doutrina, ou coisa semelhante. O evangelho é o poder de Deus unicamente para o
crente.
No
versículo seguinte Paulo prossegue dizendo-nos o resultado do poder desse
evangelho. “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está
escrito: Mas o justo viverá da fé. Porque nele se revela a justiça de Deus, de fé em fé, como
está escrito: Mas o justo viverá da fé.” Romanos
1:17.(versão)
No evangelho se
revela a justiça do próprio Deus. Ponderai o poder dessa palavra “revela”. Ela
significa que a justiça de Deus é mostrada de tal maneira que pode ser
claramente vista pelos que observam a cena. Mas onde é que o evangelho de Cristo
se revela? Ele é revelado na vida de todos dentro de quem o evangelho se tornou
um agente operante. Na vida do próprio Cristo quando esteve na Terra, o
evangelho era o poder de Deus. Salvou-O de cair em pecado todos os dias em que
esteve na Terra. Nessa vida a própria justiça de Deus foi revelada de fé em fé.
Cristo é o exemplo do que devemos ser.
“Porque para
isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo,
para que sigais as suas pisadas.” 1Pedro 2:21.
Exactamente, então, como a justiça de Deus através do poder do evangelho foi
revelada na vida de Cristo dia após dia, assim ela tem que ser revelada nas
vidas de todos os seus seguidores hoje.
A vida
de Cristo enquanto esteve na Terra é para nós a revelação do que Deus pretende
que as nossas vidas sejam. Quando cada um e todo o professo filho de Deus
contempla essa vida e vê nela o contínuo fluxo do amor, misericórdia, graça,
paciência e todas as outras virtudes cristãs, muito naturalmente deseja copiar
o ideal. Mas uma vida de derrota e frustração no passado desencoraja o
pensamento de que isto seja possível. Mas no começo deste estudo é importante
que a fé agarre a poderosa verdade que o evangelho é o poder de Deus para a
salvação do pecado, para que na vida real de cada verdadeiro crente a própria
justiça de Deus possa ser revelada de fé em fé. Está aberta perante todo o
crente a maravilhosa perspectiva de um feito pessoal glorioso através do poder
de Jesus Cristo nosso Salvador.
Isto,
então, é o evangelho. É o poder que Jesus usa para cumprir a Sua promessa de
tomar um homem pecador, corrupto, poluído, perdido, cheio de discórdia e males,
más suspeitas, ódio e todos os outros frutos da natureza má, e eliminar tudo
isso enchendo-o com amor, gozo, paz, gentileza, mansidão, paciência e todos os
frutos do Espírito de modo que a própria justiça de Deus seja revelada na sua
vida. Isto é o evangelho e nada menos que isto pode ser o evangelho de Jesus
Cristo.
Mas é
esta hoje a experiência dos professos filhos de Deus em geral?
Para encontrar
a resposta, fazei a seguinte experiência.
Ide a
um professo filho de Deus sem considerar a igreja a que pertença e fazei a
simples pergunta: “Diga-me honestamente, comete pecado dia após dia?”
Se a
pessoa for verdadeiramente honesta, invariavelmente responderá, “Sim, devo
dizer que cometo pecado todos os dias.” Devemos aplaudir a pessoa por essa
resposta honesta e verdadeira. Em seguida, fazei esta pergunta; “Quando comete
esse pecado e é oprimido com um sentimento de culpa por causa dele, que faz então?”
Em
resposta a pessoa dirá; “Confesso esse pecado, peço ao Senhor que o perdoe e
para me ajudar a não tornar a cometê-lo.”
Mais
uma vez esta é uma resposta que é honesta e verdadeira e novamente podemos
aplaudir a pessoa por isto. Mas agora prosseguimos com a questão um pouco mais
perguntando o seguinte; “Agora que confessou o pecado, pediu o perdão e auxílio
para não mais tornar a cometê-lo, o que acontece então? Acha que esse pecado se
torna uma coisa do passado, ou acha que o mesmo pecado está presente para
atormentar o seu caminho como antes? Por outras palavras, acha que comete o
mesmo pecado uma e outra vez?”
Nesta
altura um olhar de espanto aparece no rosto daquele a quem foi feita a
pergunta. Ele responde como que dizendo: “Porque me faz uma pergunta tão
ridícula?” “Evidentemente, o mesmo pecado continua presente! Sou ainda um ser
humano e tenho que lutar sempre contra este pecado. Cometo o pecado uma e outra
vez e devo confessá-lo uma e outra vez.”
Pode
uma tal experiência ser chamada libertação do pecado? A resposta deve ser um
inequívoco não! Esta é uma experiência de pecar e confessar, pecar e confessar,
pecar e confessar.
Pensai
na vossa experiência do passado. Pensai no pecado que mais assedia a vossa
vida. Pensai como o haveis cometido, como haveis sentido remorso da culpa, como
haveis procurado o Senhor para obterdes o perdão, como sinceramente haveis
pleiteado pelo Seu auxílio a fim de vos salvar de o cometer novamente, como
haveis prometido fielmente que não o voltaríeis a cometer e então verificastes
que voltastes a cometê-lo uma e outra vez. Não é verdade a vosso respeito que
se não fordes uma daquelas pessoas que descobriu e aplicou a fórmula para obter
libertação do pecado, o mesmo pecado que era o vosso maior problema há dez anos
atrás, é ainda um problema presentemente?
Se com
toda a honestidade podeis reconhecer que é assim, então destes um dos primeiros
passos muito importantes necessários para obter a libertação desta situação.
Não é da vontade do Senhor que fosse assim e não será assim na experiência da
vida de quem, como crente, conheça o evangelho como o poder de Deus para
salvação.
Hoje,
existem amplas diferenças de crença doutrinal entre cada uma das diferentes
igrejas. Cada uma afirma que, por crer certas doutrinas, na sua comunhão está
no caminho da salvação. Mas, o facto real é que, não importa quão correcta a
doutrina possa estar, se a pessoa não compreende nem experimenta o poder
salvador do evangelho, continua tão perdida como se nunca tivesse crido em
coisa alguma. Alguém poderá ter uma teoria diferente de religião, um credo
diferente, um edifício para a sua igreja diferente, um sistema de religião
diferente, mas isso não irá necessariamente trazer-lhe salvação. O que importa
é o que a religião faz na pessoa. O que conta é o resultado final. Se o
evangelho que cremos fizer menos por nós do que faz o evangelho de Jesus
Cristo, aquilo que cremos ou é uma imitação e não o verdadeiro ou se é o
evangelho de Jesus Cristo, não é aplicado como é o caso das virgens loucas.
Unicamente
aqueles que têm uma vitória pessoal sobre o pecado, que conhecem por si
próprios o que significa ser salvo dos seus pecados e vêem real crescimento nas
suas vidas, têm o evangelho de Cristo e, por conseguinte, podem pregar o
evangelho de Jesus Cristo. Ninguém pode pregar o que não conhece. Somente um
homem de justiça pode ensinar a justiça.
Aquilo
que deve ser compreendido nesta altura é que a obra da salvação envolve a nossa
cooperação inteligente. Há uma obra que Deus faz e há uma obra que nós devemos fazer.
Deus compreende perfeitamente qual é a Sua parte e está pronto a fazê-la em
qualquer altura e em qualquer lugar. O problema é que os homens não compreendem
qual é a sua parte a desempenhar e desse modo fazem com que seja impossível
Deus cumprir a Sua.
Que nós
temos uma parte a desempenhar é tornado claro nas seguintes palavras de Jesus
Cristo: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8:32.
O
propósito real deste estudo é tornar clara a verdade que devemos conhecer e a
qual nos tornará livres. Sem mais discussão acerca da necessidade de conhecer
esta verdade, entraremos directamente no estudo desse conhecimento em linguagem
tão clara e tão simples quanto nos possa ser possível.
A
experiência e a verdade da Palavra de Deus mostrou que a primeira pergunta a
ser feita e respondida é esta, “O que é o pecado?” Note-se que a pergunta não
é, “O que são pecados?”, mas sim “O que é o pecado?”. À primeira pergunta
responderíamos rapidamente; assassínios, mentiras, roubos e assim por diante,
mas a resposta à última pergunta é novamente algo mais. Não é demais dizer que
se esta pergunta não pode ser respondida de modo exacto e preciso, então não
será possível encontrar o caminho para a libertação do pecado, porque devemos
primeiro compreender o problema a resolver antes de podermos compreender a sua
solução.
Contudo,
muitos professos cristãos estão bastante confiantes que compreendem a resposta
a esta pergunta. Quando é feita, a pessoa rapidamente responderá nas palavras
das Escrituras, “O pecado é a transgressão da lei.” 1João 3:4.
Esta é
uma resposta escriturística e, por conseguinte, tem que estar correcta como uma
definição do que é o pecado, desde que compreendamos tudo quanto o versículo na
verdade diz. A palavra “transgressão” traz à mente das pessoas em geral o
pensamento de acção. Assim, a compreensão comum deste versículo é que o pecado
é um procedimento errado. Por causa deste procedimento errado, a condição
perante Deus daquele que pratica a acção é a de um condenado, ao passo que o
remédio divino para isto é o perdão. Isto pode ser exposto da seguinte maneira:
DEFINIÇÃO CONDIÇÃO REMÉDIO
👇 👇 👇
Acção Culpado Perdão
Nesta
altura não é difícil mostrar a importância de compreender a resposta a esta
pergunta, “O que é o pecado?”. Para o fazer temos apenas que fazer algumas
perguntas.
A
primeira é: “Poderá alguém obter o perdão se o não pedir?”
A
resposta é Não!
“Pedirá
alguém perdão se não tiver um sentido de culpa?” E novamente a resposta é
“Não!”
“Pode
alguém ter um sentido de culpa se não souber que o que está fazendo é pecado?”
Uma vez mais a resposta é “Não!”
Portanto,
uma pessoa tem que saber quais são a acções pecaminosas para que possa ter um
sentido de culpa tal que a leve a buscar o perdão. Assim, a pergunta tem que
ser feita e respondida como um elemento vital do conhecimento, por aqueles que
desejam o ter o remédio divino para o pecado.
Mas a
pergunta tal como foi respondida até aqui não foi respondida com a profundidade
suficiente necessária para garantir a salvação do pecado. O pecado é muito mais
do que aquilo que fazemos. Aquilo que fazemos não é mais do que o fruto daquilo
que somos. Esta última definição daquilo que o pecado é, faz parte do
conhecimento essencial para nos tornarmos livres do seu poder.
O
Ensinador Mestre ficou envolvido numa discussão com os fariseus e outros que
ali estavam na qual colocou perante eles uma clara definição do que é o pecado.
Jesus disse-lhes: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”
Estes
homens revelaram a sua ignorância acerca dos princípios básicos do problema do
pecado respondendo: “Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém;
como dizes Tu, sereis livres?”
Agora,
na resposta de Cristo temos perante nós a definição plena e completa do que é o
pecado: “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é
servo do pecado.” João 8:32-34.
Aqui o
pecado é identificado não como uma acção, mas como um Senhor, porque, se o
pecador é servo do pecado, então o pecado tem que ser o senhor do pecador. Para
ser tal senhor o pecado tem que ser um poder, porque ninguém pode governar como
senhor se não tiver o poder para governar como tal, especialmente quando os
súbditos não estão dispostos a entregar-se ao serviço desse poder.
O
pecado é um senhor, não um senhor que recebe um serviço de amor por parte dos
seus súbditos, mas um senhor que tem de obrigá-los a obedece-lhe. Assim temos
que pensar no pecado como sendo um senhor de escravos. De facto, a palavra
original no grego da qual servo é traduzida era a palavra usada para escravo e
é normalmente traduzida como escravo nas traduções mais modernas.
Isto,
então, significa que a nossa definição de pecado deve ser alargada ao que se
segue. O pecado é um senhor que nos governa contra a nossa vontade de modo que
estamos na condição de escravidão. Para este problema o perdão ou desculpa, no
sentido em que esta palavra é geralmente compreendida, não é a solução. O que
necessitamos agora é de libertação. Expondo isto novamente em forma de diagrama
temos o seguinte:
Acção Culpado Perdão
O que
se passa com o perdão passa-se com a libertação; ninguém recebe a libertação
sem primeiro pedi-la. Ninguém pedirá a libertação se não compreender que está
em escravidão e ninguém compreenderá que está em escravidão a não ser que
compreenda a natureza do pecado como jugo ou senhor de escravos que governa
sobre si. Por conseguinte, uma vez mais tem que ser claro que o primeiro passo
na compreensão do caminho da libertação está na compreensão da resposta à
pergunta, “O que é o pecado?”
E,
contudo, não é verdade que a compreensão da maioria do povo, no que respeita ao
pecado, cessa no nível de: Acção — Culpa — Perdão? E por causa disso, o machado
nunca é colocado à raiz da árvore, o senhor dos escravos nunca é desenraizado
de modo que uma profissão de religião e uma conformidade exterior com as
exigências dessa religião passa como se fosse uma experiência genuína, deixando
uma raça enganada de pessoas da igreja a marchar rapidamente em direcção à
perdição e ao esquecimento.
O
senhor do escravo é a raiz do pecado e na Bíblia são-lhe atribuídos vários
nomes. Em Romanos 8:7 é chamado a
“mente carnal”; em Romanos 6:6 “o
velho homem”; em Ezequiel 36:26
“coração de pedra”. É simbolizado pela lepra.
Mas em
parte alguma é a obra deste senhor do pecado melhor descrita do que em Romanos 7, para onde nos voltaremos,
começando a ler a partir do versículo 9 onde Paulo diz: “E eu, nalgum tempo,
vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri.” Paulo
refere-se aqui a uma altura em especial em que a lei entrou na sua vida. Até
essa altura, a altura em que o mandamento veio, Paulo simplesmente diz: “E eu,
nalgum tempo, vivia sem lei.” Por outras palavras, ele era simplesmente um
pecador voluntário. Este é o estado em que se encontra o homem no mundo antes
de chegar ao conhecimento da lei de Deus. Ele é completamente feliz por estar
assim. Isso não o preocupa.
Mas
chega por fim o momento em que a lei entra na sua experiência. Esta entrada da
lei traz-lhe o conhecimento das suas justas exigências sobre a sua vida e
conduta. Isto constitui o primeiro passo em direcção a Cristo — o conhecimento
da lei. Este conhecimento pode vir através da leitura da Palavra, ou pelo pregador
vivo, ou de qualquer outra maneira, mas tem que vir se alguma vez quiser
encontrar Cristo como um Salvador do pecado.
Este
conhecimento da lei de Deus conduz a um segundo conhecimento, o conhecimento do
que a própria pessoa é perante Deus. isto chama-se convicção. É o segundo passo
essencial em direcção a Cristo.
A
convicção por seu lado conduz ao arrependimento, desde que não seja pelo
convicto levantada uma resistência à obra do Espírito Santo no coração. Isto
acontece porque não é uma experiência agradável ver-nos a nós próprios como
Deus nos vê. A tendência natural da natureza humana é rejeitar isto como sendo
uma revelação indesejada. Um caso a apontar encontra-se na história de Félix e
Drusila registado em Actos 24:24-27.
“E tratando Paulo da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro, Félix,
espavorido, respondeu: Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei.”
O pavor
de Félix é uma clara evidência que ele esteve sob essa profunda convicção que o
teria conduzido ao arrependimento se não tivesse procurado afastar as
indesejáveis revelações a respeito de si próprio. Mas ele mandou o apóstolo
embora justamente quando precisava mais desse ministério para o guiar passo a
passo ao Mestre. Assim, também deve ser tomado grande cuidado por parte de cada
uma e todas as pessoas, para ter a certeza que, quando o Senhor nos mostra a
verdadeira imagem do que nós somos, não rejeitemos essa revelação mas a
aceitemos e também o espírito do verdadeiro arrependimento que o Senhor de
igual modo nos dá nessa altura.
O
arrependimento é não só odiar o pecado mas desviar-nos dele. Não é suficiente,
apenas odiar o pecado devido ao que ele nos faz. Judas e Balaão odiavam ambos
as consequências do pecado, mas não odiavam o próprio pecado. Da mesma maneira
que nós odiamos a sujidade porque é sujidade, assim temos que aprender a odiar
o pecado por ser pecado. Fazer isto, significa por sua vez que amaremos a
justiça por ser justiça.
Fazer
isto não é natural para o ser humano. Não é algo que possamos gerar em nós
próprios. Por conseguinte, o arrependimento é o dom de Deus. Esta é a verdade
das Escrituras que declaram: “Deus com a Sua destra O elevou a Príncipe e
Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados.” Actos 5:31. O arrependimento, uma vez recebido
como o dom de Deus como resultado da operação do Espírito Santo através da
Palavra, será acompanhado pela confissão do pecado.
Estes,
então, são os primeiros quatro passos para Cristo: conhecimento, convicção,
arrependimento e confissão. É verdade que muitos passaram por cada uma destas
experiências segundo o melhor que sabiam delas e têm sentido que satisfizeram
os requisitos necessários para obterem a libertação do pecado e mesmo assim
verificaram que tinham sido libertos. A verdade é que quando estas experiências
na verdade forem obtidas como o Senhor deseja que sejam, então a libertação
terá sido alcançada. O problema está no facto que muitos não têm compreendido o
que na verdade cada uma destas experiências é. A regra geral é que tem havido
um arrependimento e uma confissão do que tem sido feito, ao passo que tem
havido uma falha em compreender aquilo que deve ser o mais profundo
arrependimento por aquilo que somos e uma confissão do que somos.
Pensai
no passado, naquele momento emocionante em que pela primeira vez vos chegou o
conhecimento da verdade de Deus. Quão bela e consistente a verdade vos apareceu
por um lado, mas por outro quão convincente ela era. Vistes toda a vossa vida
passada como sendo cheia de egoísmo e pecado e em profundo arrependimento nada
mais desejastes senão acabar como tudo isso. Determinastes que obedeceríeis
cada um dos mandamentos de Deus. Como os israelitas do passado dissestes: “Tudo
o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos.” Êxodo 24:7. Determinastes que obedeceríeis a todos os mandamentos
de Deus.
Achastes
que tivestes sucesso no que respeita a certas actividades exteriores. Grandes
vitórias foram ganhas sobre aquelas atracções do mundo que anteriormente vos
tinham prendido. Mas, de alguma maneira, a impaciência, o mau temperamento e
outros problemas interiores ficaram. Eles levantaram-se para vos derrotar.
Inclinastes-vos sob a profunda convicção da continuação do pecado. Confessastes
os pecados e determinastes que daí em diante seria diferente, mas não foi. Os
mesmos problemas vieram outra e outra vez para vos dar uma experiência de
tentar e falhar, confessar e tentar e falhar novamente.
Esse é
precisamente o quadro do qual Paulo declara em Romanos 7:15-24.
“Porque
o que faço não o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço
isso faço.
“E, se
faço o que não quero consinto com a lei, que é boa.
“De
maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
“Porque
eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o
querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.
“Porque
não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.
“Ora,
se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
“Acho
então esta lei em mim; que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.
“Porque,
segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus.
“Mas
vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento, e
me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.
“Miserável
homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?”
Seria
impossível a Paulo descrever a nossa experiência como professos filhos de Deus,
melhor do que o fez aqui. Quantas vezes quando leio estas palavras, as pessoas
me tem respondido dizendo: “este é o quadro exacto da minha experiência. Paulo
estava a escrever a meu respeito quando escreveu esta palavras.”
Enquanto
lemos esta passagem vemos que Paulo tinha todos esses primeiros passos para
Cristo. Que ele conhecia a lei e a sua própria condição em relação a ela é
evidente por causa das repetidas admissões de não conseguir satisfazer os
requisitos da lei. No princípio do capítulo ele tinha testificado directamente
a respeito da lei nas seguintes palavras: “E assim, a lei é santa, e o mandamento
santo, justo e bom.” Versículo 12.
Outra
vez ele disse: “Porque nós sabemos que a lei é espiritual.” Versículo 14.
Anteriormente neste estudo mencionámos que o conhecimento da lei é acompanhado
dum conhecimento de nós próprios. Por isso Paulo diz imediatamente: “Mas eu sou
carnal vendido sob o pecado.”
Tais
convicções são seguidas de arrependimento se não forem reprimidas. Não há
dúvida que Paulo tinha nesta altura o dom do arrependimento porque odiava o
pecado, quando afirmou: “Mas o que aborreço isso faço.” Ainda mais, ele estava
a desviar-se do pecado com toda a determinação que tinha. Não há dúvida que
isto é verdadeiro arrependimento.
Juntamente
com ele está a confissão. De facto toda esta passagem é uma confissão.
É então
claro que Paulo nesta fase da sua busca pela salvação, tem estes primeiros
quatro passos para Cristo, conhecimento, convicção, arrependimento e confissão.
É igualmente claro que ele não tem a libertação do pecado e portanto não tem
salvação. É muito importante que isto seja visto, porque há o grande perigo de
pensar isso por termos dado estes passos, ou pensarmos que os demos, temos desse modo temos
assegurada a salvação. Mas esta passagem da Escritura claramente mostra que é
possível ter dado estes passos pelo menos em certa medida e mesmo assim
continuar e ser servo do pecado e estar sem libertação do poder desse senhor do
pecado que nos governa contra a nossa vontade. Esta é na verdade uma
experiência de pecar e arrepender, pecar e arrepender dos mesmos pecados que
nos assediaram ano após ano. É a vida de um escravo do pecado apesar do
conhecimento de algo melhor e desejo de fazer melhor.
Quando
uma pessoa chegou a um conhecimento da verdade de Deus, experimentou a
convicção pelo pecado e se arrependeu dele e o confessou, está pronta a crer
que encontrou a salvação, apesar de ainda ser escrava da sua velha natureza
pecaminosa. O testemunho de Paulo em Romanos
sete foi para ele uma confirmação adicional de que assim é.
Sem
dúvida que, embora erradamente, é possível tirar esta conclusão do testemunho
de Paulo a respeito da sua experiência. De facto, essa é a conclusão a que se
chegará se o raciocínio for: Paulo era um grande homem de Deus. Compreendia o
evangelho e o plano da salvação. Estará no reino, contudo declarou que era
carnal, vendido sob o pecado e um escravo do pecado. Ele não fazia o que sabia
ser certo, mas via que fazia as próprias coisas que sabia estar erradas. Se
esta fosse a experiência de Paulo na altura em que era um verdadeiro cristão e,
por conseguinte, tinha a esperança da salvação, então devemos esperar que a
nossa experiência cristã seja a experiência descrita em Romanos sete. Por outras palavras, crê-se que a experiência do
homem de Romanos sete é a experiência
do verdadeiro filho de Deus renascido.
A falha
deste argumento é a aceitação que em Romanos
sete Paulo está a descrever a sua experiência depois de se tornar cristão,
quando estava a relatar aquilo que passou no seu caminho para se tornar um
cristão vitorioso.
Para
ilustrar este ponto ainda mais, permitam-me recordar uma experiência que uma
vez vivi. Foi-me feito o convite
para falar a respeito do caminho da libertação a um homem que tinha uma elevada
posição na igreja. Mais ainda, ele era o director de uma instituição religiosa,
era bem versado nas doutrinas da igreja e certamente guardava a lei no que
respeita aos requisitos exteriores. Durante anos havia estado no púlpito a
pregar ao povo. Contudo, quando lhe li as palavras de Paulo em Romanos sete, ele disse-me: “Este é o
quadro exacto da minha experiência desde que me entreguei ao Senhor. Nasci com
a maldição de um mau temperamento e ainda tenho esse problema comigo. Perco o
minha calma. Sinto a convicção do pecado. Confesso-o e determino que não
voltará a acontecer. Então vem o poder da tentação e eu perco-o uma e outra
vez. Com certeza sinto-me como Paulo nesta passagem.”
Este
homem foi tão franco e honesto como foi Paulo em Romanos. Sem estarmos a julgar este homem é próprio fazer a
seguinte pergunta: Ressuscitaria na ressurreição dos justos um homem neste
estado, ou estaria pelo contrário, eternamente perdido?
Antes
de tentardes responder à pergunta tende a certeza de que compreendeis o que é
esta experiência como testificada em Romanos
sete. Aqui está o homem. Ele conhece a lei de Deus e está a guardá-la o melhor
que sabe e pode. É fiel comparecendo na igreja todas as semanas. Tem um elevado
cargo na igreja. Paga os seus dízimos e ofertas. Ocupa-se activamente em
projectos missionários para a igreja. É grandemente respeitado pela comunidade.
Mas tem que declarar que ainda é escravo da sua própria natureza interior e não
pode fazer as coisas que sabe no seu coração que devia fazer.
Este é
o homem de Romanos sete. Este homem
não é o pecador voluntário do mundo que não se interessa pelas coisas de Deus
nem pela eternidade. Nós sabemos que o homem do mundo, enquanto permanece como
tal, nunca ressuscitará na ressurreição, mas, o que acontece ao homem de Romanos sete? Esta é a pergunta e é uma
pergunta muito importante.
Existem
dois factores além do argumento a respeito da vida de Paulo que influenciarão
em grande parte a mente para dizer que esta é a experiência dum verdadeiro
filho de Deus. Primeiramente, há o testemunho de que as nossas vidas durante
toda a nossa associação com a igreja, tem sido a descrição de Romanos sete. Somos levados a pensar em
todos os sacrifícios que fizemos pela verdade e estamos muito relutantes em
admitir que tudo isto foi para nada.
Então,
uma vez mais, pensamos em todos os amados que morreram e que sabemos que
estavam na experiência de Romanos
sete. Temos acariciado a esperança de os ver outra vez no reino. Portanto, se
tivermos que chegar à conclusão que o homem de Romanos sete não é um filho de Deus, então tememos que nunca mais
voltaremos a vê-los. Tenho visto pessoas agarrarem-se à crença que o homem de Romanos sete é um verdadeiro filho de
Deus apenas por esta razão. Falharam em compreender que não importa o que
acreditaram, a realidade é o que é. A sua recusa em aceitar esse facto não
altera a situação em nada.
Portanto
a pergunta está perante nós em toda a sua importância vital.
É a
experiência de Romanos sete a
experiência de um verdadeiro filho de Deus ou não?
Sempre
que esta pergunta é feita em regra gera três respostas. Há os poucos que dizem
logo que uma pessoa nestas condições ressuscitaria na ressurreição. Depois há
os que não estão tão certos, há outros ainda que dizem que este homem, se
morresse nesta experiência, não ressuscitará na ressurreição dos justos.
Portanto,
é claro que existe alguma confusão a respeito da experiência Romanos sete ser a experiência dos que
são salvos ou não. É extremamente importante que esta questão seja estabelecida
muito claramente nas mentes de todos os que buscam a vida eterna. Há uma boa
razão para isto. Considerai a posição perigosa da pessoa que sabe que está na
condição da experiência descrita em Romanos
sete e mesmo assim, crê que ao mesmo tempo é uma experiência cristã normal,
quando de facto não é. Essa pessoa não procurará mais nada do que isto e estará
contente com o que tem. Unicamente o que busca encontra. Portanto, em virtude
de não procurar mais do que isto, nada mais encontrará. Quando, no grande dia
de contas final, descobre que tem estado apoiada numa falsa esperança, a sua
perda será terrível. Não há nada mais temível do que passar a vida pensando que
tudo está no caminho certo e no fim descobrir demasiado tarde que aquilo que se
julgava ser salvação não é salvação alguma.
É da
maior importância que as interpretações e opiniões humanas não tenham aqui
lugar na determinação desta questão. A única autoridade é a Palavra de Deus. Aí
é o lugar onde as respostas devem ser encontradas. Então, quando a resposta
tiver sido encontrada na Palavra de Deus, deve ser aceite porque é a Palavra de
Deus dada para nossa salvação.
Sem
dúvida, o homem de Romanos sete está
em escravidão. Ele sabe o que deveria fazer, mas verifica que é impossível
fazê-lo. Não é de modo algum um pecador voluntário, mas pelo contrário um
pecador involuntário. Mas a verdade é que ele continua a ser um pecador. É um pecador
que está ao serviço do poder do pecado e está portanto ao serviço de Satanás.
Se está
ao serviço de Satanás, então não pode estar ao serviço de Deus, porque,
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há-de odiar um e amar o
outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a
Mamom.” Mateus 6:24.
Se não
está a servir a Deus, como pode ser filho de Deus? Não pode. Se não é filho de
Deus, então como pode ter a salvação? Uma vez mais a resposta é que não pode.
Portanto, com base nesta evidência, é claro que o homem de Romanos sete não tem salvação.
Mas
este é apenas um testemunho para provar que o homem de Romanos sete não tem salvação. É claro e convincente, mas não é
suficiente pois é a regra das Escrituras que “pela boca de duas ou três
testemunhas toda a palavra possa ser estabelecida.” Mateus 18:16. Por conseguinte, buscaremos mais testemunhos da
Bíblia para este efeito.
Nos
últimos versículos de Romanos sete,
Paulo chega ao fim da sua descrição da experiência de escravo do poder do
pecado. No grande desespero que a experiência lhe trouxe exclama: “Miserável
homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?”
É
próprio fazer uma pergunta nesta altura, que foi bem apresentada e respondida
pelo Dr. E.J. Waggoner no seu livro Christ and His Righteousness, 86 e 87. “É uma verdadeira experiência cristã um corpo de
morte tão terrível que a alma é constrangida a clamar por libertação? — Não, de
modo algum.... Livra Cristo duma verdadeira experiência cristã? — Não, de maneira
nenhuma. Então o cativeiro do pecado, do qual o apóstolo se queixa no sétimo
capítulo de Romanos, não é a
experiência de um filho de Deus, mas a de um servo do pecado. É para libertar
os homens deste cativeiro que Cristo veio; não para nos livrar de lutas e
contendas, durante esta vida, mas da derrota; para nos habilitar a ser fortes
no Senhor e na força do Seu poder, para que pudéssemos dar louvores ao Pai 'que
nos libertou do poder das trevas e nos trasladou para o reino do Seu querido
Filho', através de quem temos a redenção.”
O
argumento aqui usado por E.J. Waggoner é que Cristo nunca libertaria alguém de
uma verdadeira experiência cristã. Contudo, aqui está Paulo a pedir que o
libertem da experiência de Romanos
sete. O próprio facto dele pedir a libertação, à luz da verdade que Cristo
nunca libertaria alguém de uma verdadeira experiência cristã, é prova positiva
que a experiência de Romanos sete não
é a experiência de um verdadeiro filho de Deus. Este portanto é o segundo
testemunho.
Voltemos
ainda a nossa atenção para um terceiro testemunho.
Logo
que Paulo clama por libertação na grande fé de alguém que compreende não só que
a salvação só se encontra em Deus, mas que o evangelho é o poder de Deus para
salvar do pecado, então, em resposta à pergunta: “Quem me livrará?” ele pôde
dizer imediatamente, “Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor.” Romanos 7:25.
Em
seguida todo quadro muda. Ele fez uma pausa apenas o tempo suficiente para
resumir a experiência de Romanos sete
nas palavras, “Assim que eu mesmo como
o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.” Este é o
quadro exacto do homem de Romanos
sete. Ele sabe o que é recto e com a sua mente decide que servirá a Deus. Com a
sua mente ele crê nas verdades de Deus. A sua mente é leal ao Senhor e é
entregue ao serviço de Deus, mas as actividades reais de sua vida são devotadas
ao serviço do pecado apesar de, na sua mente, saber que está errado e desejar
fazer outra coisa.
Depois deste resumo,
Paulo em seguida descreve a completa mudança de cena à medida que ela acontece
depois do seu sentido apelo à libertação e sua gratidão pelo recebimento.
“Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que
não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.
“Porque
a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da
morte.” Romanos 8:1, 2.
Em
seguida, no resto do capítulo, ele fala de liberdade, de vitória, da filiação
com Deus e termina com o triunfante testemunho: “Mas em todas estas coisas somos
mais do que vencedores, por Aquele que nos amou.
“Porque
estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados,
nem as potestades, nem o presente, nem o porvir.
“Nem a
altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 8:37-39.
É
impossível ler Romanos sete e depois Romanos 8 sem ver que são na verdade
duas experiências diferentes. Romanos
sete é a experiência de um escravo que é constrangido contra a sua vontade a
fazer as obras do pecado, ao passo que o outro capítulo é a história de uma
pessoa liberta do poder do pecado para fazer aquilo que sabe estar certo e
deseja fazer. Eles não podem ser ambos a descrição de uma experiência cristã.
Um ou outro mas não ambos. Embora possais ter alguma dificuldade em ver que
essa experiência em Romanos sete não
é a experiência de um filho de Deus, essa dificuldade não devia existir a
respeito de Romanos oito. Todos
deviam ser capazes de ver que esta é na verdade a experiência de um cristão. Em
Romanos oito “nenhuma condenação” há,
versículo 1; ele está “livre da lei do pecado e da morte” versículo 2; a
justiça da lei está a ser cumprida na pessoa e a pessoa anda, “não segundo a
carne, mas segundo o espírito” versículo 4; a pessoa é um filho de Deus,
versículos 14-16; por conseguinte, a pessoa é um herdeiro, e, de facto, um
co-herdeiro com Cristo, versículo 17 e é mais do que vencedor através d'Aquele
que nos amou. Versículo 37.
Esta
sim, é uma experiência cristã. Ninguém pode ter a mínima dificuldade em ver
isto. Mas quão diferente isto é da experiência descrita em Romanos sete. Por conseguinte, se Romanos oito é a descrição da experiência cristã, então Romanos sete tem que ser a descrição de
outra experiência que não essa. Não poder ser a descrição da experiência de um
cristão.
Mas
esta não é toda a evidência que suporta estes factos. No fim de Romanos sete, Paulo pede para ser
liberto e, como a mudança veio, deu graças ao Senhor por essa mudança. Então, o
seu testemunho imediato foi: “Portanto nenhuma condenação há para os que estão
em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.” Romanos 8:1.
É bom
salientar nesta altura o significado de duas palavras neste texto, que são,
“portanto” e “agora”. A primeira é uma palavra que é muito comum na construção
dos argumentos de Paulo. Repetidamente é o seu estilo expor certos factos e
depois tirar conclusões desses factos. À medida que tira conclusões dos factos
apresenta-a com a palavra, “portanto”. Com efeito, o que ele está a dizer é
isto: Por causa deste factos que já apresentámos, têm que se seguir estas
coisas.
Neste
caso particular ele descreveu, a passagem pela terrível experiência de estar na
escravidão do poder do pecado, do seu clamor pedindo libertação e de a ter
recebido. Porque se deu essa libertação, então segue-se aquilo que de outra
maneira não poderia ser. Por conseguinte, agora não há condenação. A palavra
“agora” dá força ao uso de “portanto”, pois indica que existe uma mudança. As
coisas eram deste modo, mas agora são diferentes.
Para
tornar duplamente certo que todos compreendem o porquê de agora não existir
condenação, é dito que ela não existe, “porque a lei do espírito de vida em
Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.”
Em Romanos sete ele tinha um testemunho
muito diferente a dar. Aí, certamente não estava livre da lei do pecado e da
morte. Agora está e porque está não existe condenação. Isto então significa
admitir que quando ele não estava livre da lei do pecado e da morte, havia
condenação.
Há uma
só palavra que significa o mesmo que “não há condenação” e essa palavra é,
“justificação”.
Já
vimos que onde existe libertação da lei do pecado e da morte, como acontece em Romanos oito, depois dele ter sido
liberto do cativeiro de Romanos sete,
não há condenação, o que significa dizer que existe justificação. Isto, então,
significa dizer que o homem em Romanos
sete nem sequer tem justificação ou perdão. Se ele não tem estas coisas, então
como pode ressuscitar na ressurreição dos justos?
De modo
algum esgotámos os testemunhos que declaram que o homem de Romanos sete não tem salvação, mas estes são mais do que
suficientes.
Pede-se
ao leitor para considerar honestamente o que isto significa no que respeita à
sua própria experiência. Se sois um dos que podem testificar neste momento que Romanos sete é o quadro perfeito do
vosso estado espiritual, então o facto é que não tendes salvação do pecado, e,
se morrêsseis nesta altura, não ressurgiríeis na primeira ressurreição.
Para
alguém que durante muito tempo tem sido um membro fiel da igreja, que tem
estado activamente empenhado nas suas actividades, que tem subscrito as suas crenças e tem
liberalmente suportado os seus programas tendo uma boa reputação junto dos seus
vizinhos, mas, tem a experiência de Romanos
sete, esta conclusão de que não tem salvação deve apresentar-se como um choque
severo. Contudo, é vitalmente necessário que esta compreensão venha, pois é
essencial que a verdadeira situação seja compreendida para que possam ser dados
os passos necessários para se apegar àquilo que o Senhor tem para ele.
Há duas
reacções possíveis quando se chega a esta compreensão. A tendência da natureza
humana é rejeitar aquilo que está perturbando o que está estabelecido e assente
na vida. Depois de ter repousado durante tanto tempo numa certeza confortável,
apesar de enganosa, há o forte desejo de não enfrentar a realidade acerca de
nós próprios. Não queremos que isto seja verdade. Por conseguinte, existe um
perigo real muito grande que nos desviemos daquilo que é mais aceitável e
agradável para nós.
Se
sucumbirdes a essa tentação, então vereis que uma dúzia de argumentos afluirão
subitamente aos vossos lábios a fim de contradizer as evidências da Palavra de
Deus. Direis com ansiosa rapidez: “Porquê, é claro que sou um cristão! Vê o que
abandonei para seguir a Cristo! Olha para o meu amplo conhecimento das
Escrituras, o tempo que passei a estudar e orar, o meu elevado cargo na igreja
e... e... e....”
Não há
erro mais fatal que possa ser cometido do que este. Há demasiadas pessoas na
história que perderam a sua vida eterna porque não tiveram a coragem e a
honestidade de enfrentar a verdade a respeito de si próprios neste assunto. O
resultado foi que o Espírito de Deus não podia fazer mais nada por eles e as
impressões criadas morreram.
A outra
reacção que podeis experimentar é a de um desespero sem esperança. Sois
suficientemente honestos para reconhecer a verdade da Palavra de Deus quando
ela claramente vos diz que a experiência que tendes passado não é salvação. Uma
sensação de serdes uma alma perdida e condenada vos vence e sentis que estais
eternamente separados de Deus.
Se,
nesta altura, é assim que vos sentis, então nada podia ser melhor para vós. O
haverdes sido trazidos a esse estado é a obra do Espírito Santo. O Espírito
sabe que é essencial que a vossa verdadeira condição seja conhecida por vós. É
de extrema importância que o encanto da falsa segurança seja quebrado para que
o Espírito de Deus possa fazer a obra seguinte por vós. Demasiadas pessoas têm
vivido na condição de Laodiceia descrita em Apocalipse
3:14-22. Essas pessoas não sabem que são miseráveis, e desgraçados, e pobres, e
cegos e nus.
Mas
isto tem que ser conhecido, porque, se não for, então a alma permanecerá na sonolência
da falsa certeza até ser demasiado tarde. Por conseguinte, regozijai-vos e
alegrai-vos se chegastes nesta altura ao ponto em que vos vedes como
completamente perdidos.
Regozijai-vos,
também, porque existe um caminho de libertação do poder do pecado. Não
necessitais de permanecer na experiência de Romanos
sete, derrotados e frustrados em vossos zelosos e sinceros desejos de servir o
Deus vivo. Mais ainda, esse caminho, o caminho da libertação, não é segredo.
Nem é nossa intenção trazer-vos a este lugar de desespero sem vos mostrar o
caminho da libertação para o gozo da salvação de Deus. Rogamo-vos, então, que
continueis com o estudo deste assunto até que a fé se apodere do poder de Deus
e sejais curados.
Tendo
estabelecido, então, que o homem de Romanos
sete não é certamente um cristão, necessitamos de compreender justamente
porquê, apesar de conhecer a lei e desejar guardá-la é incapaz de o fazer.
Compreendermos a razão disto é uma parte importante para a solução do problema.
A Natureza do Homem
A compreensão
deste problema está em conhecermos a natureza do homem. É verdade que o homem é
um organismo muito complexo no qual existe uma interligação muito íntima entre
todas as partes. Contudo, conquanto exista esta interligação, há, ao mesmo
tempo uma distinção que deve ser feita entre as partes principais, considerando
por sua vez o papel desempenhado por cada uma delas.
Assim,
para ser mais específico, cada um de nós, primeiramente tem uma mente
inteligente que pensa. Neste departamento recebemos a informação através dos
vários sentidos, os olhos, os ouvidos, o tacto, o gosto e o cheiro. É assim que
as mensagens de Deus são levadas até à pessoa de modo que ela fica a conhecer o
que necessita conhecer a respeito da sua própria condição pessoal, da sua
necessidade e do que o Senhor fará por ela.
A mente
não aceita tudo quanto lhe é oferecido. Algumas coisas são rejeitadas por
várias razões. Rejeitará mesmo a verdade que a pessoa mais necessita porque já
foi treinada para crer numa mentira ou porque a aceitação da verdade serie
inconveniente ou teria custos.
Para
fazer isto, a mente tem que raciocinar e tirar conclusões. Essas conclusões por
sua vez exigem tomar decisões, as quais pedem acções correspondentes da parte
da pessoa. Isto chama-se exercer a vontade.
Quando
toda esta obra se realiza na mente, então o corpo é chamado a obedecer ou a
levar a cabo as decisões tomadas na mente. Para o propósito deste estudo, será
suficiente compreender que o corpo é um instrumento destinado a cumprir os
propósitos da mente do homem. Mais tarde, à medida que o estudante avance mais
no estudo da obra da reforma a qual se sucede à experiência do renascimento,
será necessário compreender que o corpo é também capaz de exercer uma grande
pressão sobre a mente para satisfazer as suas necessidades de gratificação
própria ou auto-preservação.
Que o
corpo é um instrumento é tornado claro nas seguintes palavras: “Nem tão pouco
apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas
apresentai-vos a Deus, como vivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus
como instrumentos de justiça.” Romanos
6:13.
Não
deveria ser difícil para qualquer pessoa compreender que o corpo se destina a
servir a mente. Pensai numa ilustração muito simples. Como resultado de
informações que tendes e das resultantes decisões da mente, desejais
dirigir-vos do lugar em que estais para um outro ponto. A informação armazenada
diz-vos que primeiramente tendes que caminhar do lugar em que estais para a
estação do comboio. A vossa mente não pode lá chegar sozinha, mas pode ordenar
aos membros do corpo, que são os pés e as pernas neste caso particular, que vos
transporte a esse lugar. O corpo assim procede de acordo com as indicações da
mente.
Muitos
outros exemplos poderiam ser dados para ilustrar este sistema. Cada um de nós
pode evocar na sua vida diária a operação deste sistema, mas, no caso do homem
de Romanos sete, o corpo nem sempre
faz o que a mente lhe ordena. Lede a clara declaração disto no versículo
quinze.
“Porque
o que faço não o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço
isso faço.”
Aquilo
que é feito, é feito pelo instrumento do corpo físico e através dele. Mas
aquilo que neste caso é feito, não é consentido, ao passo que aquilo que se
deseja o corpo não faz, pelo contrário, ele faz precisamente aquilo que se
odeia. É claro que é na mente pensante que o ódio por estas coisas existem. É
aí que se diz que não deve ser feito. Aqui está, portanto, um caso claro de uma
situação em que a mente sabe o que deveria fazer, deseja fazê-lo, envia
instruções aos membros do corpo para ser feito, mas para seu completo
desapontamento vê que o corpo faz outra coisa e não aquilo que a vontade deseja
fazer.
Não
deveria haver dificuldade em compreender isto, pois estou certo que todos nós já
experimentámos isto uma vez ou outra. De facto, se podeis testificar que estais
ainda na experiência de Romanos sete,
então sabeis bem o que é esta situação. Resolvestes, por exemplo, que nunca
mais pronunciaríeis palavras precipitadas, irreflectidas e desagradáveis contra
alguém. Sois na verdade sinceros nas vossas intenções. Aplicais a vossa vontade
para o conseguir e durante algum tempo tudo parece correr bem, mas vem o dia em
que esse instrumento indisciplinado, a língua, pronuncia essas irreflectidas
palavras de amarga recriminação contra alguém. Quão pesarosos nos sentimos
depois da força do ímpeto ter passado?
Sem
dúvida, o homem de Romanos sete sabe
o que está certo. Conhece a lei de Deus e deleita-se nas grandes verdades da
Palavra de Deus. “O querer está em mim, mas não consigo realizar o bem,” diz
ele no versículo 18.
A
pergunta agora a ser feita é esta: Porque é que, na situação descrita em Romanos sete, o corpo que é o
instrumento não obedece às instruções da mente? Tem que haver uma razão muito
clara e definida para isto, razão essa que, quando é conhecida e compreendida,
será um passo decisivo para a solução do problema.
A
situação de Romanos sete não está
correcta. Deus não fez o homem com a intenção de que o seu corpo fosse rebelde
contra a sua mente. Deus deu ao homem um corpo como instrumento, destinado a
executar os desejos da mente, a ser obediente à vontade, mas, uma embora este não seja
o caso de Romanos sete, acontece sim
em Romanos oito onde vemos o quadro
de um crente que é capaz de fazer com que o instrumento aquilo que sabe estar certo.
Neste
ponto qualquer pessoa concluiria que o problema é que a vontade também é fraca
para colocar o corpo em verdadeira sujeição de modo que o que é necessário é
exercer a vontade com maior determinação e poder de maneira a colocar o corpo
em sujeição à mente. Mas, não importa quanta determinação seja exercida, pois
chega-se à conclusão que a situação não muda. A resposta nesta altura não está
numa vontade mais forte ou numa maior determinação. Ela está na detecção de um
outro aspecto da natureza humana que ainda não foi mencionado neste estudo.
Todas
as pessoas normais têm uma mente e um corpo. Também têm uma terceira entidade
que desempenha um papel importante na experiência da sua vida. E identificação
e isolamento desta terceira entidade não é fácil e há muitos que negam a sua
existência como entidade separada. Mais própriamente, identificam esta terceira
entidade e a natureza humana carnal como sendo uma e a mesma coisa. Este é um
erro grave que impede tais pessoas de encontrar libertação deste inimigo.
Porque
a identificação e isolamento deste terceiro aspecto das nossas vidas é tão
vital para o sucesso na procura da positiva vitória sobre o pecado, algum
espaço será devotado à demonstração da sua existência e à diferenciação da
natureza humana física.
Com
grande certeza e clareza Paulo referiu-se a todos estes três aspectos da
natureza humana neste capítulo de Romanos.
“Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos
meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento, e me
prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.” Romanos 7:22, 23.
Considerai
este versículo muito cuidadosamente. Primeiramente, Paulo testifica que se
deleita na lei de Deus segundo o homem interior. Esse deleite unicamente pode
estar na sua mente intelectual, racional. Que ele se está aqui referir à sua
mente, é tornado claro pelas palavras do próximo versículo. “Mas vejo nos meus
membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento.” Assim,
enquanto na mente ele se deleita na lei de Deus, aqui está outra lei nos
membros que batalha contra essa mente. O resultado é que ele se torna cativo ou
escravo desta lei do pecado que está nos seus membros.
Deve
ser visto que a lei do pecado não é a carne em si mesma, mas sim algo que
reside nessa carne. Anteriormente, no versículo dezassete, Paulo tinha
declarado: “de maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que
habita em mim.” Aqui o pensamento de “residir em” é expresso nas palavras “que
habita em mim”.
Esta
“lei do pecado” nos membros não é a carne e o sangue da natureza humana da
pessoa. É algo diferente que reside nessa carne e a governa contra a vontade da
mente racional educada. Que assim é, torna-se claro por outras passagens das Escrituras. “E
vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o
coração de pedra da vossa carne, e vos darei um coração de carne.” Ezequiel 36:26.
Aquilo
a que Paulo chama a “lei do pecado” em Romanos
é aqui chamado o “coração de pedra”. Em Romanos
sete é apresentado como habitando na carne, enquanto aqui a promessa é que será
tirado da carne. Será
removido e afastado daqueles a quem o Senhor traz a salvação. Quando é tirado e
afastado a carne continua lá, pois a própria carne não é tirada nem removida da
pessoa, mas algo é tirado e removido da carne. Isto deve tornar claro que
existem estas três entidades. Há a mente, existe a carne e também a lei do
pecado ou o coração de pedra, que habita na carne e a governa contra a vontade
da mente.
Em Romanos 8:7 esta mesma terceira entidade
é referida como sendo a mente carnal nestas palavras: “Porquanto a inclinação
da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em
verdade, o pode ser.”
Este
texto é talvez uma das mais fortes provas de que existe esta terceira entidade
na pessoa. Considerai muito cuidadosamente o que é dito neste versículo que não
pode aplicar-se à carne ou natureza humana. No primeiro caso, enquanto é
inteiramente possível à carne pecaminosa e decaída do homem ser um instrumento
de justiça pela sujeição à lei de Deus, é impossível à inclinação carnal ser
sujeita a esta lei.
A mente
carnal não está meramente em inimizade contra Deus. Ela é inimizade. A sua
própria constituição, a sua própria natureza, aquilo que ela é, é em si
inimizade contra Deus. Se estivesse apenas em inimizade, então, poderia ser
reconciliada com Deus, mas quando ela própria é a inimizade, então nunca pode
ser reconciliada com Deus, nunca pode ser sujeita à lei de Deus. É uma
impossibilidade.
Mas a
carne pode. De facto, em Romanos
6:13, Paulo diz aos conversos para entregarem os seus “membros a Deus, como
instrumentos de justiça”.
Assim,
temos uma natureza ou poder no ser humano que está em inimizade e não pode
servir a Deus e temos um outro poder, chamado a carne, que pode. Por
conseguinte, não podem ser uma e a mesma coisa. Têm que ser duas coisas
diferentes, porque uma mesma coisa não podia estar numa posição em que era
impossível servir a lei e ao mesmo tempo ser entregue como instrumento de
serviço à lei. Isto é impossível.
A
inclinação da carne é a lei do pecado, o coração de pedra e o poder do pecado
que governa a vida da pessoa contra a vontade da mente. Não é que a carne seja
o senhor da mente. Antes, a carne é sujeita a um outro poder ao qual se
encontra forçada a obedecer, enquanto esse poder tiver o domínio.
Paulo
maravilhosamente resume todo o problema no último versículo de Romanos sete quando diz: “Assim que eu
mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.”
Portanto é claro que existem dois senhores operando na vida do homem de Romanos sete. Um é o grande Senhor de
toda a verdade ao qual a mente está devotada a servir, o outro é a lei do
pecado à qual a carne está em escravidão. Assim, a mente e a carne estão ao
serviço de dois poderes diferentes e é por esta razão que a carne não faz
aquilo que a mente lhe ordena. Está em sujeição a um outro senhor que é
despótico e inimigo mortal da lei de Deus.
Chegámos
agora ao coração do problema que é aquilo que fazemos não é mais do que o fruto
do que somos. É exactamente como Jesus disse: “Porque não há boa árvore que dê
mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo
seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam
uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o
homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do
seu coração fala a boca.” Lucas
6:43-45.
Aqui, a
referência de Cristo é uma lei da Natureza que nunca foi quebrada e com a qual
mesmo uma criança é familiar. É um princípio absolutamente sólido. Isto é, a
correcta espécie de árvore. Então, tendo dirigido a mente a este princípio
desde há muito provado como se revela na natureza, o Salvador declara que como
se passa na natureza assim também se passa no mundo espiritual. O mesmo
princípio aí se encontra. Por conseguinte, se desejamos ter uma vida cheia de
boas obras, então primeiro que tudo temos que ser bons.
Mas
ninguém pode ser bom enquanto ainda tem a inclinação da carne ou o coração de
pedra. Ter esse poder e essa natureza má dentro de nós, é ser uma pessoa má e
como tal produzir fruto mau e não bom fruto.
Este,
então, é o problema. Não é a mente porque ela está convertida ao serviço de
Deus e às verdades da Palavra de Deus. Não é a natureza humana de carne porque
essa é serva de outro poder, o poder da lei do pecado que habita nos membros e
os controla contra a vontade.
Isto
não significa que a mente e a carne não possam ser um problema. Podem, mas não
são o problema, uma vez que a pessoa seja levada à experiência de Romanos sete. A pessoa chegou ali porque
viu a beleza da verdade e se converteu a ela. A sua carne não é o problema uma
vez que está cativa de um outro poder, de modo que, até ser liberta desse
poder, não pode escapar do domínio do pecado e fazer aquilo que a mente lhe
ordena.
O
problema é a lei do pecado nos membros. É a raiz, a causa básica, a fonte
oculta do problema. Se isto é o problema, então obviamente é aqui que a solução
tem que ser aplicada. Portanto, nesta altura procuraremos encontrar e
compreender como essa solução deve ser aplicada.
Parte 3
A Solução
Agora
que o verdadeiro problema foi identificado, a questão é como se pode tratar do
problema com eficácia.
Deve
salientar-se logo no início desta parte que nenhuma tentativa deve ser feita a
fim de forçar esta inclinação da carne a servir a lei de Deus pois isso é
tentar o impossível. Só temos que nos lembrar das palavras de Jesus quando Ele
deu a ilustração do espinheiro, para sabermos que nenhuma quantidade de coerção
resultará na produção de bons frutos a partir de um coração mau. Considerai o
espinheiro. Ele está por natureza em inimizade contra a lei de produzir maçãs. Se
uma pessoa encontrasse no seu pomar um espinheiro, saberia que nenhuma
quantidade de cultivo, irrigação, fertilização, poda e cuidados ou preocupação,
faria com que essa árvore produzisse uma única maçã. A pessoa sabe que isso é
impossível.
Que a
pessoa que procura obter a vitória sobre o pecado, se convença profundamente
que, nenhuma quantidade de esforço ou estudo intenso da Palavra de Deus, ou
frequência na ida à igreja, ou actividade missionária, orações devotas e dar
liberalmente ofertas, fará com que a inclinação da carne produza os frutos do
Espírito. Não é esta a forma, porque, a “inclinação da carne... não é sujeita à
lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.” Também é tão verdade que isto seja
assim como é verdade que o espinheiro que não está sujeito à lei da produção de
maçãs nem em verdade pode estar.
Portanto,
qualquer pessoa que, retendo ainda a inclinação da carne, esteja tentada a
guardar a lei de Deus e produzir os activos frutos do Espírito, está a tentar o
impossível. Enquanto essa inclinação da carne não for tratada de modo que o seu
poder seja quebrado, a pessoa não pode começar a guardar a lei de Deus. O
machado tem que ser lançado à raiz da árvore. Não há outra maneira.
Existem
aqueles que, no mundo religioso de hoje, pensam que a solução para o problema é
remover a lei. Um pequeno pensamento cuidadoso mostrará que isto não pode ser
assim. Um homem ignorante pensou livrar-se do problema do calor quebrando o
termómetro, mas quando o fez o calor não se alterou nem o problema diminuiu. O
problema continuava o mesmo na temperatura que não se alterava nem baixava.
Aquilo que ele tinha perdido era um meio exacto de saber a temperatura que
estava.
Assim,
da mesma maneira, se a lei é abolida não fará diferença ao pecado. O pecado
continuará lá na mesma. O que terá acontecido é que o homem ficará sem uma
norma exacta por onde possa saber o que é o pecado.
Na
primeira parte de Romanos sete esta
verdade é bem expressa na ilustração do casamento. Aí é claramente mostrado que
não existe necessidade de mudar a lei. Ela é perfeita e não necessita de
mudança. O que necessita ser mudado é a pessoa pois aí é que está o problema.
“Não
sabeis vós, irmãos [pois que falo aos que sabem a lei], que a lei tem domínio
sobre o homem por todo o tempo que vive? Porque a mulher que está sujeita ao
marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está
livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera,
se for doutro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não será
adúltera, se for doutro marido.” Romanos
7:1-3.
Todos
nós somos familiares a esta situação, pois conhecemos a lei do casamento.
Enquanto a mulher estiver legalmente casada com o seu marido, a lei condenará
como adultério qualquer tentativa que ela possa fazer para casar com outro
homem. Mas se o marido morresse, então a mesma lei que anteriormente condenava
o seu casamento com outro homem, agora o consentiria. Uma mudança tinha
ocorrido, mas não foi na lei. Foi na mulher. Ela deixou de ser uma mulher
casada para ser uma mulher livre.
Isto é
igualmente verdade no mundo espiritual. De facto, Paulo aqui, não entrou numa
dissertação sobre a questão do casamento, mas em vez disso, usou a lei do
casamento como uma ilustração do casamento espiritual com Cristo.
“Assim,
meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que
sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos
fruto para Deus.” Romanos 7:4.
Não há
a mínima alusão neste versículo
de qualquer mudança feita na lei, mas existe uma clara referência a uma
mudança. Mudança essa feita na pessoa. Ela tem que morrer para poder casar com
outro homem que é Cristo, pois foi Ele que ressuscitou dos mortos.
Todo o
propósito da obra de Jesus Cristo é salvar do pecado, como está escrito: “e
chamarás o seu nome Jesus; porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados.” Mateus 1:21.
Ser
salvo do pecado é ser salvo da transgressão da lei, porque o pecado é a
transgressão da lei, como está escrito: “o pecado é a transgressão da lei.” 1João 3:4. Transgredir a lei é
desobedecer. Por conseguinte, ser salvo da transgressão da lei é ser salvo para
a obediência.
É claro
então que, nem o exercer o esforço supremo da vontade, nem o abolir a lei é a
solução para o problema.
Portanto,
tendo visto o que não é a solução, veremos agora qual é na verdade a solução. A
solução está na erradicação da velha natureza e na sua substituição por uma
natureza totalmente nova. Nada está mais claramente ensinado nas Escrituras do
que isto. Considerai a clareza deste versículo como prova do que dissemos.
“E lhe
darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua
carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne; para que andem nos
Meus estatutos e guardem os Meus juízos, e os executem; e eles serão o Meu
povo, e Eu serei o seu Deus.” Ezequiel
11:19, 20.
Em
linguagem tão clara quanto possível, o Senhor declara que tirará o velho e
pecaminoso coração de pedra da sua carne e lhes dará um novo coração em seu lugar.
Ele não diz que lhes dará um novo coração juntamente com o velho. Esta não é a
mensagem do versículo. Notai cuidadosamente, pois o versículo declara que o
velho será tirado da sua carne, e que um novo espírito e um novo coração
tomarão o lugar do antigo.
Tudo
isto é feito com um propósito. É feito com o fim de alcançar certos resultados.
É feito “Para que (com a intenção ou propósito) andem nos Meus estatutos e
guardem os Meus juízos, e os executem; e eles serão o Meu povo, e Eu serei o
seu Deus.”
Quão
claramente nós vimos que em Romanos
sete a razão pela qual o suposto servo de Deus não podia fazer aquilo que
pretendia era porque ainda tinha a velha mente carnal nele governando como um
senhor. Tem sido salientado que a presença deste poder é o problema deste
homem. Agora deve ser visto que o Senhor conhece este problema e que a única
solução para o problema é a remoção do ofensor e a sua substituição por um
coração completamente novo.
Se
retornarmos à ilustração dada por Cristo sobre o espinheiro encontraremos aí a
mesma resposta. No pomar o espinheiro apresenta-se verdejante e florescente,
não tendo valor algum como produtor de frutos. Está no caminho, ocupa bom solo
e rasga as roupas de todos quantos por ali passem. Portanto, o jardineiro tem
um problema. Deseja ter bom fruto como por exemplo, maçãs ou laranjas, mas tem
um espinheiro. Ele sabe que a única solução é arrancar o espinheiro do seu
lugar na terra e substitui-lo por uma árvore boa. Então sabe que em devido
tempo obterá bom fruto pela simples razão que agora tem uma árvore boa.
Assim,
da mesma maneira, o homem de Romanos
sete deseja produzir as boas obras da lei na forma dos frutos do Espírito, os
quais são: amor, gozo, paz, etc. Mas ele tem uma natureza má, dentro da qual
está a fonte, não da obediência em amor, mas do ódio, orgulho, ciúme e coisas
semelhantes. A sua condição é a mesma do jardineiro com o espinheiro e a
solução é a mesma. Essa natureza má tem que ser arrancada do corpo humano o
qual é feito do pó da terra e substituída por uma natureza nascida do alto.
Unicamente assim pode ele ser um filho de Deus e só desta maneira pode produzir
os bons frutos do Espírito.
Esta
verdade é declarada repetidas vezes nas Escrituras, de modo que os seus
repetidos testemunhos não deixarão dúvida na mente de qualquer pessoa no que
respeita ao caminho da libertação do terrível poder do pecado. “Porque a lei do
espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.
Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne,
Deus enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado
condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que
não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito.” Romanos 8:2-4.
Deus
enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o pecado na carne. Existe aqui uma
distinção muito importante que necessita ser reconhecida. As acções do pecado
podem muito bem ser designadas como os pecados da carne, enquanto o poder
interior do coração de pedra ou a mente carnal, é o pecado na carne. Agora
notai que Jesus não veio para fazer uma obra superficial de meramente condenar
os pecados da carne. Ele veio para condenar o pecado que está na carne que é a
causa da derrota contínua experimentada por todos aqueles que ainda possuem no
interior este poder mau.
Porque
é que Ele veio condenar o pecado na carne? Foi porque, uma vez condenado, “a
justiça da lei pudesse ser cumprida em nós, que não andamos segundo a carne,
mas segundo e Espírito.”
A
mensagem é sempre a mesma. O velho é condenado, é desenraizado e removido para
que se cumpram certos objectivos. Esse objectivo é para que sejamos colocados
onde possamos viver a vida da justiça de Deus através de Jesus Cristo nosso
Senhor.
Quando
Jesus veio e efectuou a condenação do pecado na carne, condenou-o a quê?
Condenou-o a ser colocado sob sujeição e controlo? Condenou-o ao exílio?
Condenou-o meramente como uma declaração de desaprovação? Na verdade não o
condenou a nenhuma destas coisas. Condenou-o à morte, uma morte que se tornou
efectiva através do resultado da Sua morte e ressurreição.
Em
parte alguma é a verdade disto mais claramente exposta do que em Romanos 6:1-6.
“Que
diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo
nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou
não sabeis que todos quantos fomos baptizados em Jesus Cristo fomos baptizados
na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo baptismo na morte;
para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos
nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele
na semelhança da Sua morte, também o seremos na da Sua ressurreição: sabendo
isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do
pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.”
O
versículo 6 é o ponto alto do argumento contido nestes versículos. Enquanto os
versículos anteriores tornaram claro que aqueles que estão em Cristo Jesus e
por isso são verdadeiros filhos de Deus têm a justificação e por consequência
um título para o reino de cima, morreram e ressuscitaram como Ele morreu e foi
ressuscitado, este versículo diz especificamente o que é que morreu.
Mas
antes de virar a nossa atenção para aquilo que tem de morrer antes de sermos
libertos do pecado, vejamos a força da mensagem dos versículo anteriores. A
mensagem aqui contida é que somente aqueles que morreram podem viver. É uma
outra maneira de dizer que o velho tem que ser removido para que o novo entre.
A morte remove sempre o velho. A ressurreição traz o novo.
Nos
termos mais fortes desta passagem, esta verdade é expressa no versículo 5.
“Porque se fomos plantados juntamente com Ele na semelhança da Sua morte,
também o seremos na semelhança da Sua ressurreição.”
A
primeira parte deste texto é uma clausula condicional. “Se fomos plantados
juntamente com Ele na semelhança da Sua morte....” Isto expressa a grande
verdade que se esta condição não for cumprida o resto não pode seguir-se
porque, só aqueles que morreram com Cristo podem como consequência viver com
Ele. Isto é dizer que, somente se o velho for removido pode o novo tomar o seu
lugar. Primeiro, o espinheiro tem que ser arrancado antes que a macieira possa
tomar o seu lugar. Eles não podem crescer nem crescem no mesmo solo ao mesmo
tempo.
Portanto,
o que é que Paulo está a dizer nestes versículos? Está ele a pronunciar alguma
retórica pomposa e elevada mas sem sentido nem significado, ou são estas
palavras reais a respeito de experiências reais? Quando ele declara que temos
de morrer com Cristo, o que quer ele dizer com isto? Temos que morrer na
realidade, ou é isto meramente alguma mudança na atitude mental ou algo
parecido?
O que
torna difícil as pessoas acreditarem que isto deve ser uma morte real e
verdadeira é o facto de falharem em compreender a distinção entre a carne
pecaminosa e a pecaminosa mente carnal que por outro lado é chamada o coração
de pedra, o velho marido e o senhor do pecado. Porque a generalidade das
pessoas pensam na natureza pecaminosa como sendo a carne e porque sabemos que
uma pessoa não termina esta vida terrena a fim de poder renascer, é suposto que
esta é uma morte fictícia. Imaginam que isto é algo que é meramente imputado ou
atribuído à pessoa mas real na vida de Cristo.
É
inteiramente verdade que a pessoa que deixa para trás de si a experiência de Romanos sete e se torna um verdadeiro
filho de Deus ressurgido, não morre fisicamente. Depois de convertido, tem a
mesma carne e o mesmo sangue que tinha quando estava no mundo. Não houve aí
qualquer morte ou mudança. Carne pecaminosa é carne mortal. Disto ninguém será
liberto a não ser na grande manhã da ressurreição, quando Cristo descer e
chamar o Seu povo para o lar celestial.
Mas a
pessoa morre, porque, se não morrer, então não pode estar em Cristo. O que é
que morre então? A resposta está no versículo 6: “Sabendo isto, que o nosso
homem velho foi com Ele crucificado....” Aqui está algo chamado como “homem
velho”. O que significa esta expressão? Quem ou o quê é este homem velho? Para
ter a certeza que compreendemos a parte seguinte do versículo Paulo diz-nos que
o homem velho é crucificado, “para que o corpo do pecado seja desfeito...”, mas
em vez de usar o termo “homem velho” da segunda vez usa outro nome, “o corpo do
pecado”. Deste modo somos ajudados a saber que o “velho homem” e o “corpo do
pecado” são uma e a mesma coisa.
Em Romanos 7:24 é chamado “o corpo desta
morte” que é também uma outra maneira de expressar aquilo que antes no mesmo
capítulo ele tinha chamado a “lei do pecado”. Do estudo já dado nesta
publicação, sabemos agora que o “homem velho”, o “corpo do pecado”, o “corpo de
morte” e a “lei do pecado” se referem a esse terceiro factor, a inclinação da
carne que “não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser".
Isto é
aquilo que é crucificado para morrer na vida daqueles que passam de não
convertidos a convertidos. Isto é aquilo que tem que ser removido pela morte
para que uma nova vida possa ressurgir no lugar da antiga.
Que
nenhuma má compreensão seja admitida acerca do facto que esta tem que ser uma
morte real. Não é simplesmente ser colocado na prisão como prisioneiro
perpétuo. Não é ser acorrentado ou posto sob controlo. Crucifixão é uma forma
de morte. O seu propósito é matar e aqueles que crucificam não ficam
satisfeitos enquanto o resultado não for alcançado.
Portanto,
quando Paulo diz que o velho homem é crucificado, quer dizer que é morto. Para
ter a certeza que este significado é alcançado pelo leitor, ele diz que é
crucificado para que o corpo do pecado seja desfeito. Quando algo é desfeito,
simplesmente deixa de existir. A história da sua vida acabou. Já não existe
mais.
Em cada
um dos outros textos e ilustrações, nós vimos que esta obra é realizada com um
propósito definido. É feita para que a pessoa possa passar da desobediência
para a obediência, da situação em que se queixa de não poder fazer aquilo que
deseja fazer, para a situação em que a justiça da lei é cumprida na sua vida.
Assim, neste versículo, o velho homem é crucificado, o corpo do pecado é
destruído “para que daí em diante não sirvamos mais ao pecado”.
A
natureza é uma maravilhosa ilustração da verdade do evangelho. Então, a verdade
deste versículo, será vista com maior força se substituirmos a situação do
espinheiro pela do homem velho e depois lermos o versículo como se aplicaria ao
jardineiro que deseja ter bom fruto mas tem um espinheiro. Arranca-o e
substitui-o pela semente de uma macieira. Em seguida diz:
“Sabendo
isto, que a velha árvore foi arrancada pela raiz, para que o espinheiro pudesse
ser destruído, para que daí em diante não mais produzisse espinhos.” Ninguém
terá a mínima dificuldade em ver que este princípio opera na natureza e como
opera ali. Vede os mesmos princípios a operar no mundo
espiritual e a compreensão será igualmente clara a respeito desta obra de
limpeza da alma como acto preliminar da vitória sobre o problema do pecado.
Libertação
Até
aqui foi dedicado bastante espaço ao estudo do problema. Deste estudo deve ser
claro que, fazemos o que fazemos, não por causa da fraqueza ou força da
vontade, mas por causa daquilo que somos. Enquanto tivermos dentro de nós a lei
do pecado e da morte, teremos uma força má que controlará o instrumento de
carne e sangue humano e usá-lo-á de acordo com a vontade do senhor do pecado,
sem respeito pelo conhecimento, desejos ou consciência da mente.
Por
conseguinte, para se libertar deste poder a pessoa tem que o ter retirado e
afastado de si e ter uma nova vida colocada no lugar da antiga. Não há outra
maneira de entrar na experiência do novo nascimento. Não há outro processo de
passar do cativeiro de Romanos sete
para a liberdade de Romanos oito.
Embora a
compreensão do problema e da necessidade ser muito vital para obter a
libertação, há que responder ainda como se passa da escravidão para a liberdade.
Lembro-me
quando dei este estudo a uma família pela primeira vez. Expliquei muito
cuidadosamente o problema, como fizemos até aqui nesta publicação. Uma vez
completa esta fase do estudo fizemos uma pausa.
A
esposa disse: “sabe, ouvimos um sermão precisamente igual a este há algumas
semanas.”
“É
verdade” disse o marido. “O pregador apresentou o problema tal como o senhor
fez aqui. Estive sempre com atenção a tudo o que ouvi, pois queria compreender
o problema e a sua solução. Sabia que estava em Romanos sete e desejava obter libertação dessa experiência. Mas
quando tinha acabado de apresentar o problema, ele sentou-se. Na minha
ansiedade para conhecer as respostas que ele ainda não tinha dado, levantei-me
e disse: 'pastor, falou-nos do problema. Agora por favor diga-nos a solução.
Diga-nos como obter a libertação deste poder.'
“Perante
isto, o pastor levantou-se novamente e muito triste disse: 'lamento, mas não
lhe posso dizer, pois eu próprio ainda não encontrei a resposta.' Fiquei tão
desapontado que não pude dizer mais nada e voltei a sentar-me muito triste.”
Por um
momento o homem ficou a pensar na experiência passada. Em seguida voltou-se
para mim e disse: “vai também trazer-nos o problema e deixar-nos sem a solução
para ele?”
Fiquei
tão contente por lhe poder dizer que tínhamos parado só por uns momentos e que
a solução seguir-se-ia na verdade em termos muito claros. Do mesmo modo, aqui
nesta publicação, não vos deixaremos só com o problema. Exporemos a solução em
termos claros e eficazes.
O
evangelho é a solução. É o poder de Deus para salvar do pecado.
Bem
podíeis perguntar, então, porque é que não fostes salvos do pecado, se o
evangelho é o próprio poder de Deus dado com o propósito de efectuar esta
libertação. A resposta é que o evangelho não é o poder de Deus para todos.
Lede Romanos 1:16 cuidadosamente para ver
isto. Tem que ser visto que Paulo não diz: “Pois não me envergonho do evangelho
de Cristo; pois é o poder de Deus para a salvação de todos.” Embora Paulo
usasse estas mesmas palavras pela mesma ordem que aqui estão, ele não disse o
que estas palavras dizem se pararmos aqui. O que ele disse foi que o evangelho
é o poder de Deus para a salvação de todo “aquele que crê”. E isto é o que faz
toda a diferença no mundo. O evangelho é, para o incrédulo tantas palavras
bonitas, mas, para o crente, é o poder de Deus para a salvação do pecado.
O
apóstolo João repetiu as mesmas verdades nas seguintes palavras: “E esta é a
vitória que vence o mundo, a nossa fé.” 1João
5:4.
Se hoje
alguém perguntasse a um comum professo filho de Deus, “tem fé?” receberia
respostas prontas, a maior parte para o efeito que a pessoa se sente segura que
realmente tem fé. Num certo sentido, a resposta está correcta, porque a pessoa
tem fé na Bíblia como a Palavra de Deus. Tem fé em Deus de que Ele é o Ser
Supremo. Tem fé para crer que o pecado receberá a sua punição e que apenas em
Jesus se pode encontrar a salvação.
Mas,
pode alguém pode ter fé em todas
estas coisas e contudo não tem fé no evangelho como o poder vivo do Deus vivo para
o salvar do pecado? É seguro dizer que alguém que esteja ainda na experiência
de Romanos sete, não tem aquela fé
que é a vitória que vence o mundo. A fé não traz só a vitória. Ela é a vitória.
Portanto, se tendes a fé da qual Paulo fala em Romanos e João na sua epístola, então é certo que não estareis na
experiência de Romanos sete, mas sim
na liberdade de Romanos oito.
É desta
fé que Jesus falou, quando disse: “Quando o Filho do homem vier, porventura
encontrará fé na terra?” Lucas 18:8.
A fé deste tipo que traz libertação do cativeiro do pecado não é a mais comumente possuída hoje no
mundo hoje.
Jesus sabia que seria assim e é por essa razão que fez a pergunta acerca do que
queria dizer quando disse que não esperava encontrar muito deste tipo de fé quando
viesse.
Contudo,
sem esta fé, a vitória é impossível. Por conseguinte, deve tornar-se bastante
claro como exercitar essa fé. Vejamos a história do homem nobre que foi de
Cafarnaum para ir ter com Jesus para Lhe pedir que curasse o seu filho.
“Segunda
vez foi Jesus a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. E havia ali um
régulo, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum. Ouvindo este que Jesus vinha da
Judeia para a Galileia, foi ter com Ele, e rogou-lhe que descesse, e curasse o
seu filho, porque já estava à morte. Então Jesus lhe disse: Se não virdes
sinais e milagres, não crereis. Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o
homem creu na palavra que Jesus lhe disse, e foi-se. E, descendo ele,
saíram-lhe ao encontro os seus servos, e lhe anunciaram, dizendo: O teu filho
vive. Perguntou-lhes pois a que hora se achara melhor; e disseram-lhe: Ontem às
sete horas a febre o deixou. Entendeu pois o pai que era aquela hora a mesma em
que Jesus lhe disse: O teu filho vive; e creu ele, e toda a sua casa. Jesus fez
este segundo milagre, quando ia da Judeia para a Galileia.” João 4:46-54.
O que
este homem buscava era cura física para o seu filho que estava tão doente que
não se esperava que vivesse muitas horas mais. Evidentemente os médicos
terrestres tinham desistido do seu caso, havendo feito tudo ao seu alcance para
o salvar.
Embora
esta seja uma história a respeito do exercício da fé para obter uma cura
física, tem lições de valor directo para nós no que respeita à cura da
enfermidade espiritual. De facto, o propósito mais profundo da obra de Cristo
ao curar as doenças físicas, era revelar o Seu poder para salvar da
pecaminosidade e da forma de receber a libertação das enfermidades espirituais.
Se vemos Cristo apenas como alguém que tinha poder para curar a lepra, a
paralisia e outras doenças semelhantes, então falhámos em ler a verdadeira
mensagem do Seu ministério de cura. Na Palavra de Deus, a enfermidade é um
símbolo do pecado. Vede Isaías 1:4-6.
Além do mais, é um símbolo muito válido e adequado para o pecado também.
Comparai
o que já estudámos acerca do problema do pecado, com o problema da doença. O
homem doente tem uma mente e
tem um corpo que é o seu instrumento. Nessa mente ele deseja fazer certas
coisas, mas a enfermidade é um poder que habita na sua carne e domina-a de modo
que não pode fazer as coisas que gostaria. Somente depois da doença ter sido
destruída nele pode ter esperança de fazer as coisas que gostaria de fazer. Que
ilustração mais perfeita podíeis obter para ilustrar a tríplice natureza do
problema do pecado do que o problema da doença?
Dificilmente podia haver outra.
Portanto,
quando o nobre viajou de Cafarnaum para Caná a fim de buscar o auxílio de
Cristo, procurava uma solução que é semelhante ao problema do pecado. Ele
necessitava da remoção do senhor da doença
de dentro do próprio corpo do filho exactamente como necessitamos da remoção do
senhor do pecado dos nossos corpos.
Sem
dúvida que ele se dirigiu à única Pessoa que podia ajudá-lo e era Jesus. Ele
veio pedir aquilo que o Senhor desejava que ele tivesse. Portanto, veio pedir à
Pessoa certa a coisa certa. Mas Jesus recusou-se a honrar o pedido. Esta recusa
não foi porque Jesus escolhesse assim, ou porque esse homem não estivesse no
favor de Deus. Cristo não o fez porque a maneira como o nobre se aproximou
d'Ele tornou impossível a Cristo curar o seu filho.
Quantas
vezes nos temos ajoelhado em oração para pedir perdão por um pecado e rogado ao
Senhor que nos dê a vitória sobre esse pecado e contudo verificamos que o
pecado ali continua como se nunca tivéssemos orado. Temos falhado em
compreender que apesar de termos pedido aquilo que o Senhor deseja dar-nos não
o temos pedido com a verdadeira fé. Assim este homem teria seguido o seu
caminho e encontraria o seu filho morto em casa se não conseguisse ver o erro
da forma como se aproximou de Cristo e corrigido isso de acordo com a
verdadeira ciência da oração. Foi quando veio crendo que a sua oração fora
ouvida e respondida.
Jesus
não deixou este homem na ignorância quanto à sua falta de fé. Jesus disse-lhe
com tristeza. “Se não virdes sinais e milagres, não crereis.” João 8:48. Dizer a este homem, “não
crereis”, é dizer, na linguagem mais clara possível, ainda não crês; continuas
a ser um incrédulo.
Porém,
não esqueçais o facto que este homem conhecia a sua grande necessidade. Vós
também conheceis isto. Ele sabia que nenhum poder na Terra podia curar o seu
filho. Semelhantemente vós sabeis que nenhum poder na Terra pode salvar-vos do
pecado. Este homem apresentou a Cristo o seu pedido. Também vós, do mesmo modo,
vos tendes aproximado de Cristo com o vosso pedido para ser salvos dos vossos
pecados. Este homem orou a Cristo, porque a apresentação de um pedido a Cristo
é uma oração. Também vós, tendes orado a Cristo muitas vezes.
Contudo,
Cristo disse-lhe muito claramente que apesar de tudo isso era incrédulo. Cristo
nada podia fazer por ele naquelas circunstâncias.
Isto é
dizer que, depois de terdes feito tudo quanto fizestes a fim de obter a vitória
sobre os vossos pecados ainda vos encontrais em Romanos sete, então, também sois um incrédulo. Se sois um
incrédulo, então necessitais de compreender o caminho da fé, a fé que opera
pelo amor e purifica a alma.
Como se
dirigiu este homem a Jesus? As palavras que Cristo lhe disse dão-nos a
resposta. “Se não virdes sinais e milagres, não crereis.” Por outras palavras,
o homem dirigiu-se a Jesus com o seu pedido. Colocou esse pedido perante
Cristo. Depois esperou para ver se Cristo podia satisfazer o seu pedido. Se
pudesse e fizesse, então o homem sentia que por sua vez creria em Jesus Cristo
por si próprio.
Este
não é o caminho da fé salvadora e nunca poderá ser. Contudo, se cada um de nós,
com a maior sinceridade, examinasse de novo a maneira em que nos temos
aproximado de Deus em oração, verificaríamos que temos vindo exactamente fez o
régulo. Temo-nos aproximado do Senhor e pedido para nos abençoar. Depois temos
seguido o nosso caminho, esperando ver a bênção derramada antes estarmos
preparados para crer que temos o dom que foi prometido. De facto, seria seguro
dizer que se o Senhor nos desse realmente a bênção que pedimos ficaríamos antes
surpreendidos por ver que ela fora dada.
O
grande momento da verdade tinha chegado para aquele homem, como também tem que
chegar para nós se tivermos que experimentar a fé salvadora. Quando o Senhor
nos fala com palavras de reprovação, então o Espírito de Deus como Aquele que
convence do pecado, introduz profundamente essas palavras na consciência para
nos revelar os defeitos de carácter. Por isso, as palavras de Cristo foram
suficientes, sob o ministério do Espírito, para revelar a esse homem o tipo de
incredulidade que reinava no seu coração. Quando viu o que o Salvador tinha
para lhe revelar, deve ter aceite a reprovação. Deve ter compreendido o poder
que viu revelado na vida de Cristo, a sua fé deve ter-se agarrado a esse poder
porque a resposta do Salvador à oração que ele fez a seguir foi muito diferente
da primeira resposta.
O homem
procurou Jesus com estas palavras: “Senhor, desce antes que meu filho morra.”
Existe
uma diferença nesta oração. Talvez não seja possível discernir a diferença nas
próprias palavras da oração, mas sabemos pela resposta divina que existe uma
diferença. A primeira oração apenas trouxe uma dolorosa repreensão, a segunda
trouxe a libertação. Qual é a diferença? A diferença é que o homem era agora um
crente. Sabemos isso porque as Escrituras assim o dizem, “e o homem creu na
palavra que Jesus lhe disse, e foi-se”. Versículo 50.
Caná
não estava a uma grande distância de Cafarnaum. Não seriam mais do que vinte e
cinco quilómetros. Cristo disse as palavras ao pai à hora sétima, que é cerca
da uma hora da tarde, de modo que o pai facilmente podia ter feito o caminho de
regresso a casa nessa mesma tarde, contudo não o fez. Mas tê-lo-ia feito se necessitasse
de ver com os seus próprios olhos que o filho estava na verdade curado.
Ele
sabia que o filho estava bem. Pouco tempo depois de chegar a casa no dia
seguinte, os seus servos disseram-lhe aquilo que a fé lhe tinha dito no dia
anterior. Sem dúvida que eles ficaram surpreendidos pela ausência de qualquer
surpresa na sua resposta ao que lhe transmitiam.
Comparai
agora a mudança que houve na aproximação do homem a Cristo. É a comparação do
crente com o descrente. No segundo exemplo, ele apanha um vislumbre do poder
que reside em Jesus como Filho de Deus. A sua fé toma posse desse poder ao ver
nele a resposta completa à sua necessidade. Em seguida pede o dom, agarra-o
pela fé, sabe que já é seu e depois segue o seu caminho sabendo que essa
bênção, que ele já possui, será realizada quando dela mais necessitar.
Nisto
é-nos revelada a fórmula para o triunfante caminho da fé.
Primeiramente,
devemos ter um conhecimento preciso do problema que enfrentamos. Quantas vezes
no passado tendes vindo a Deus rogando o perdão pelo que fizestes, sem
reconhecer o verdadeiro problema e pedir a remoção dessa lei do pecado que está
nos vossos membros? Tem havido uma grave deficiência na compreensão de que
estamos realmente a tratar do problema do pecado, uma deficiência que deve ser
compreendida antes de podermos orar com inteligência e sucesso.
Em
segundo lugar, devemos conhecer as promessas de Deus até que não sejam apenas
meras palavras na Bíblia, mas que sejam o próprio poder de Deus para nós. Para
fazerem isto devem ser lidas e estudadas até que sejam absorvidas pelo nosso
pensamento ao ponto em que se tornem uma parte de nós próprios.
Contudo,
quantas vezes tenho estado perante um grupo de professos cristãos e lhes tenho
pedido para me repetirem as grandes promessas da Bíblia a respeito da vitória
pessoal sobre o pecado, para verificar que eram incapazes de o fazer. Para
aqueles que desejam ter e manter uma vitória pessoal sobre o problema do
pecado, estas promessas têm que se tornar uma parte viva do próprio indivíduo.
Elas têm que estar exactamente na pessoa, prontas a brotarem dos lábios em
resposta a qualquer ataque do inimigo ou a qualquer sugestão para duvidar do
poder de Deus para salvar do pecado.
Não
procuraremos dar algo como uma extensa lista de todas as grandes promessas na
Bíblia porque são tão numerosas quanto eficazmente poderosas para salvar da lei
do pecado e da morte. Cada pessoa devia procurá-las por si própria. Aqui estão
alguns exemplos para os que desejam iniciar uma colecção destas cápsula de
poder.
“O
pecado não terá domínio sobre vós.” Romanos
6:14: Lede estas palavras até que compreendais que são a promessa pessoal de
Deus para vós de que o pecado não terá domínio ou controlo sobre vós.
“Não
veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará
tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que
a possais suportar.” 1Coríntios
10:13. Da mesma maneira que um pai nunca permitirá que o seu filho enfrente
perigos demasiado grandes para a sua tenra idade, assim o Senhor nunca
permitirá que venha sobre vós uma tentação demasiado forte para poderdes
suportar. Para toda a tentação que vos assedia, Ele proveu um escape, de modo
que, não existe qualquer tipo de desculpa para o pecado. Nós “podemos fazer
tudo através de Cristo que nos fortalece.” Filipenses
4:13.
E assim
poderíamos continuar, mas é melhor que cada pessoa procure as promessas por si
mesma. Aqui estão as referências para mais algumas: Mateus 1:21; João 8:36; 1Coríntios 15:34, 57; 2Coríntios 2:14; Gálatas 3:14-21; Filipenses
1:16; 1Tessalonicenses 4:3; 5:23, 24;
1Pedro 1:15; 2Pedro 1:4; e Judas 24.
No Velho Testamento, Salmos 23 e 46
são particularmente boas promessas de poder para a libertação. Absorvei também
o poder em Ezequiel 11:19, 20; 36:26.
O grande
objectivo do conhecimento das promessas, é construir fé que opere a purificação
da alma. Quanto mais sejam lidas e estudadas e tornadas uma parte de vós
próprios, mais elas construirão a fé na experiência, até que chega uma altura
em que vos encontrareis possuindo o poder e experimentando aquela libertação
que unicamente esse poder pode trazer. A fé não é algo que tenhamos
naturalmente. Não é algo que possamos gerar em nós próprios. É impossível. “A
fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.” Romanos 10:17.
Quando
chega o momento em que a fé viva verdadeiramente se apodera e creia nas
promessas de Deus, então é altura de dar o terceiro passo. Isto é vir a Cristo
e pedir a bênção. Não oreis a velha oração que por tanto tempo tem falhado em
trazer sucesso. No passado o modelo de oração tem sido, “Senhor, pequei. Por
favor perdoa-me esse pecado e ajuda-me a não mais tornar a cometê-lo.”
Esta
aproximação de Deus não vos trouxe a vitória no passado e nem vos trará no
futuro. Tem que haver uma mudança, da mesma maneira que o homem nobre teve de
mudar a sua maneira de se aproximar de Cristo. Em vez disso, deveis agora orar
segundo estas palavras. “Senhor, cheguei ao lugar onde vejo que o verdadeiro
problema está nesta natureza má que está dentro de mim. É o poder 'do pecado',
a 'lei do pecado e da morte', o 'corpo de morte', a 'inclinação carnal' e o
'coração de pedra'. Enquanto isso estiver em mim, sou uma árvore má e
unicamente poderei produzir frutos maus, porque o meu corpo está sob controlo
desse poder. Senhor, prometeste tirar o coração de pedra e dar-me um coração
completamente novo. Eu creio absolutamente que o farás e por consequência Te
entrego este velho coração. Tira-o de mim. Eu não o quero. Depois, no seu lugar
põe um coração completamente novo. Torna-me participante da Tua própria
natureza divina. Pela fé e, portanto, de facto, eu recebo esta bem-aventurança
e te agradeço. No nome Salvador de Jesus, Amém.”
Se a fé
viva se tornou posse sua, então, não esperareis desta vez para ver a bênção, antes
de saberdes que a tendes. Sabereis aí e nesse momento que fostes libertos, que
o pecado já não tem domínio sobre vós e que vos tornastes por fim um verdadeiro
filho de Deus. Resisti a todo o custo à tendência da natureza humana em querer
esperar para ver o resultado antes de crerdes. Não espereis para sentir que
fostes transformados. Crede porque a Palavra de Deus assim o diz e muito em
breve verificareis que assim é.
O
régulo não esperou para ver o filho vivo e bem antes de poder crer que ele
estava completamente curado. Não necessitou de vê-lo, pois tinha a Palavra de
Deus através de Cristo de que assim era e isso foi o suficiente. A fé repousa
na Palavra de Deus e não na vista ou sentimento, que pode mudar tão facilmente
de dia para dia. Portanto, para compreenderdes onde estais no que respeita à
relação com Deus, olhai para a Palavra de Deus e deixai que ela seja a vossa
resposta e não o sentimento.
O Meu Testemunho
O
apóstolo João declara: “Aquilo que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para
que também tenhais comunhão connosco.” 1João
1:3. Os que melhor podem ajudar os seus semelhantes são os que podem
testemunhar acerca da sua própria experiência pessoal. Eles podem falar a
respeito daquilo que sabem e não de uma mera teoria daquilo que poderia ser.
Por isso, desejo contar como isto aconteceu na minha vida, como uma certeza
para outros de que este é um caminho testado e provado que conduz ao sucesso.
Existem muitas outras pessoas espalhadas pelo mundo, que já ouviram a mesma
apresentação e desde então podem contar as mesmas histórias de sucesso por esta
mensagem.
Em
1953, juntei-me aos quadros de um colégio missionário como professor. No ano
seguinte fui eleito pastor da igreja. Amava a igreja e tornei-me empenhado nas
suas actividades. Compreendia e amava as doutrinas e pregava a mensagem com
zelo e entusiasmo. Acreditava estar tão seguro da salvação como qualquer outro
podia estar e repousava dia após dia na esperança da vida eterna.
Eu
gozava de uma boa reputação e vivia uma vida “boa”, mas, interiormente tinha
problemas sobre os quais não conseguia ganhar a vitória. Era professor em
trabalhos de madeira e parecia-me que os alunos que não eram bons em assuntos
teóricos eram transferidos para esta classe. Alguns desses rapazes
desenvolveram uma forte resistência à aprendizagem até que, a aula se tornara
uma cena de batalhas diárias entre os meus esforços para os ensinar e os deles
para resistir à aprendizagem.
A minha
paciência era provada para além dos limites, de modo que, a minha fúria se acendia
contra eles. Havia alturas em que me apetecia bater com as suas cabeças contra
a parede. Mas havia uma força limitadora que me impedia de o fazer. Eu tinha
uma boa reputação a preservar. Não queria ser repreendido pelo director ou pela
comissão, por isso refreava a minha ira e mantinha-a em sujeição de tal maneira
que dificilmente se notava exteriormente.
Se
pegardes numa caldeira a vapor e acenderdes debaixo dela um fogo vivo, com
todas as saídas tapadas, é certo que aguentará algum tempo. Mas a pressão
interna irá aumentando cada vez mais. Se o fogo fosse apagado por algum tempo,
a pressão desceria, não se dando nesse caso a explosão, mas se o fogo fosse
novamente ateado e mantido, chegaria uma altura em que a caldeira iria pelos
ares. Quanto mais tempo resistisse ao aumento da pressão, maior seria a
explosão no fim.
Assim
se passava comigo. Como a pressão da tentação que estava sobre mim dia após dia
durante a semana, inflamava a minha ira, eu fechava todas as saídas de modo que
a ira interior não podia escapar. Mas apesar disso estava lá, de modo que chegaria
a altura em que explodiria. Quanto mais tempo fosse contida maior seria a explosão
no fim. Geralmente vinha durante o fim de semana, quando estava em casa. Então,
a minha esposa e filhos eram o objecto da ira que outros tinham gerado.
Quando
todas as palavras desagradáveis eram ditas e toda a pressão desaparecia,
sentia-me culpado e com remorsos. Ia junto do Senhor e suplicava o Seu perdão e
prometia sempre sinceramente que não o tornaria a fazer. Com firme e corajosa
determinação voltava para a sala de aula, apenas para verificar que todo este
processo se repetia. De novo a atitude para com os rapazes acendia a minha ira.
Novamente eu fechava todas as saídas. Outra vez havia o desenvolvimento de uma
explosão. Mais uma vez havia o arrependimento e a súplica do perdão. Em seguida
mais outro fracasso.
Eu
estava a tentar e falhar, pecando e arrependendo-me, pecando e arrependendo-me
repetidamente. Era sem dúvida a experiência de Romanos sete. Não me compreendia a mim próprio e o livro de Romanos parecia-me o livro da Bíblia
mais difícil de compreender. Procurei as respostas. Ouvi outros pregadores para
ver o que tinham a dizer a respeito do assunto, mas, em toda a parte era
evidente que mesmo os mais altos dirigentes da igreja estavam a experimentar a
mesma frustração que eu.
Então
estabeleci uma filosofia protectora que racionalizava a minha experiência como
sendo a experiência dos salvos. Raciocinava eu que, era sincero e zeloso que
estava fazendo o melhor que podia e que no grande dia do Juízo o Salvador
diria, “Este homem deu o seu melhor, apesar de ter vivido uma vida pecaminosa
sobre a Terra. Por isso perdoar-lhe-emos e dar-lhe-emos um lugar no reino.”
Depois chegou um dia em que encontrei um jovem que estava na verdade cheio do brilho
de uma nova experiência da
libertação. Nada havia sobre que ele mais desejava falar do que isto. Ao
princípio, a sua conversa comigo parecia-me uma linguagem estranha, pois ele
falava a respeito de uma experiência e de uma vida da qual eu nada conhecia.
Então
subitamente dirigiu-se a mim da maneira mais directa possível. “O senhor sabe o
que significa ter a vitória diária sobre todo o pecado conhecido?” Perguntou
ele.
Eu
ri-me da sua pergunta e disse-lhe incredulamente. “Porquê”, “procurei durante
dez anos esse tipo de experiência. Não existe ninguém que tivesse orado mais
sinceramente ou tentado mais do que eu para a obter. Ainda estou para encontrar
a pessoa que a tenha. Olhe, eu tento o melhor que posso dia após dia. Ao fim do
dia peço o perdão pelos meus pecados. Creio que Deus me perdoa e que, no dia da
ressurreição Deus aceitará o meu melhor como o melhor possível e creio que
serei salvo.”
Nunca
esquecerei a sua resposta. Não foi em palavras mas no olhar. A expressão na sua
face, claramente disse: “irmão necessita de auxílio e auxílio rápido.” Essa
muda mensagem causou em mim uma profunda impressão de modo que quando ele pediu
se podia voltar e dar-me um estudo bíblico fui pronto em preparar o encontro.
Suponho
que nunca me deram um estudo tão estranho como este. Ele lia-me um texto das
Escrituras. Então fazia um esforço para comentá-lo e explicá-lo, mas parecia
não encontrar palavras e passava ao texto seguinte para sair da situação. Assim
o estudo prosseguiu só com a leitura de texto da Bíblia após texto. Copiei-os
fielmente para uma folha de papel.
No fim,
argumentei os argumentos da incredulidade e vi-o ir-se embora. Estou certo que
ele foi-se embora desencorajado e inteiramente convencido que eu era um pobre
sujeito com quem trabalhar com a sua mensagem de libertação.
Vários
dias passaram durante os quais o poder daqueles textos das Escrituras
trabalharam na minha mente. Nada de definitivo ou bem definido havia. Fazia-me
lembrar a história do cego que começou a ver. “E, levantando ele os olhos,
disse: Vejo os homens; pois os vejo como árvores que andam.” Marcos 8:24.
Quatro
dias passaram. Era quarta-feira à tarde. Vim a casa no intervalo do trabalho e
sentei-me com a lista dos textos da Escritura. Comecei a lê-los novamente um
por um: “O pecado não terá domínio sobre vós.” “Mas graças a Deus, que nos dá a
vitória através de nosso Senhor Jesus Cristo.” “Aquele que é capaz de vos
guardar para não cairdes.”
À
medida que lia cada texto fazia-o atentamente e devagar deixando que o
significado penetrasse profundamente na minha mente. Sei que o Espírito Santo
ali estava para iluminar a Palavra da Verdade. Deste modo, avancei um terço dos
textos da lista quando me sobreveio uma tremenda convicção. Até ali tinha
acreditado que não podia viver sem pecado. Subitamente as terríveis implicações
desta crença veio sobre a minha mente com uma força impressionante. Vi que se
acreditasse que tinha de pecar dia após dia era crer que Satanás era mais forte
do que Cristo e o pecado era mais forte do que a justiça. No momento em que
compreendi este facto vi que a minha vida não tinha sido um testemunho do poder
de Deus mas sim do poder de Satanás. O que fez esse testemunho estar muito mais
do lado de Satanás era o facto que eu tinha a posição e mantive a profissão que
tinha.
Agora o Espírito de Deus era realmente capaz de operar. Repentinamente, vi tudo aquilo em que sempre tinha confiado como uma evidência de que era um filho de Deus ser arrebatado de mim — o meu conhecimento, o meu zelo, a minha posição, o meu amor pela verdade como eu a compreendia. Tudo isto agora nada significava no que respeita a segurança. Vi-me a mim mesmo como Deus me via — desesperado, sem esperança, perdido, eternamente condenado.
Rolou sobre mim o negror de um terrível desespero, as trevas da terrível percepção de que não ressurgiria na ressurreição dos justos. Nunca conheci um momento mais tenebroso e terrível em toda a minha vida e posso compreender como os ímpios se sentirão quando permanecerem à volta da cidade de Deus e souberem que estão eternamente perdidos. Algures, não sei como, o Senhor deu-me a honestidade de admitir que tudo isto era também verdade. Não tentei argumentar, dizendo que era um ancião da igreja, professor dum colégio, bem versado nas Escrituras, pregador, um homem de boa reputação e de um zelo sincero e abnegado pela causa da verdade. Agradeci ao Senhor por isto e, rogo a cada leitor que, quando o vosso terrível momento da verdade chegar o enfrenteis e o aceiteis tal como é, porque, se reprimirdes as convicções que o Espírito Santo vos trouxe, fechareis a porta contra qualquer posterior obra da graça que o Senhor deseje fazer por vós. Isso seria eternamente desastroso.
O Senhor nunca faz a ferida senão para a curar depois. Naquele preciso momento em que me vi a mim mesmo como um pecador desesperadamente perdido e em que aceitei a veracidade de tudo isso, o Senhor abriu perante os meus olhos as promessas como nunca as tinha visto antes. Eram como se tivessem sido escritas pessoalmente para mim. Fé viva brotou no meu coração, visto que possuía o poder na Palavra Viva. Prostrei-me em oração junto à cadeira e orei uma oração diferente pela primeira vez na minha vida: “Senhor, vejo agora que o problema não é aquilo que tenho feito, mas sim, o que sou. Esta vida má em mim é a fonte do problema. Semelhantemente a uma doença, é o senhor do meu corpo, de modo que não posso fazer aquilo que desejo e que sei que deveria fazer. Aqui está esta velha vida; remove-a e dá-me a Tua nova vida em lugar da antiga. Senhor, agradeço-ta no nome salvador de Jesus, Amen.”
Levantei-me dos meus joelhos. Através de todo o meu ser havia uma consciência de que tinha nascido de novo. Não era um sentimento. Não senti qualquer diferença. Era antes uma convicção. Era o testemunho da fé baseado na Palavra de Deus. Era a mesma consciência que levou o homem nobre a dirigir-se para casa sem pressa pois ele sabia que o seu filho estava curado. Não havia necessidade de se apressar para ver. Ele já o sabia. Assim, eu sabia-o também e sabia-o naquela altura. O ver visualmente viria mais tarde, como foi com o homem nobre.
Naqueles dias adquirimos um imprevisível modelo A Ford. Quase sempre a minha esposa levava-o à cidade, mas nem sempre conseguia trazê-lo de volta. Havia alturas em que recebia uma chamada telefónica sua, dizendo-me que estava em dificuldade. Por vezes, o ter que deixar o meu trabalho para a ir ajudar era-me muito maçador e incómodo, e, antes dos dias da minha libertação irritava-me e aborrecia-me com isso. Não só o pensava como também lho dizia e isso em palavras de impaciência e irritação. Através de todos estes problemas, o nosso casamento caminhava para a destruição. Depois de tudo se ter passado, sentia-me triste pelo meu procedimento e confessava-o e determinava que não voltaria a acontecer. Lembro-me perfeitamente do dia em que recebi a usual chamada telefónica em que recordei a mim próprio que tinha determinado [em oração] proceder paciente e amavelmente. Durante alguns minutos tudo corria bem. Então a chave de porcas resvalou e eu esfolei os nós dos dedos. A ira ressurgiu e em breve se seguiu a torrente de palavras. Um sentimento de tristeza me sobreveio. Conduzi o carro até casa, silencioso e derrotado e incapaz de me compreender a mim próprio.
Quando o dia da libertação chegou, não senti qualquer diferença dentro de mim próprio. Por essa altura não havia as usuais pressões sobre mim. O fogo causador da fervura e consequente explosão não estava presente, pois eu estava de férias e tudo corria maravilhosamente de dia para dia. Então numa sexta-feira à tarde, em que uma vez mais a minha mulher tinha saído com o carro, recebi a costumada chamada telefónica de dificuldade da povoação que estava à distância de 4 quilómetros de onde eu estava.
Sem pensar como haveria de proceder, fui ter com ela o mais rapidamente possível, tentei reparar a avaria e, incapaz de o por a funcionar, mandei a minha esposa para casa com um vizinho que por ali havia passado. Finalmente o carro teve que ser rebocado. Então fui para casa para jantar, nessa mesma noite, assistimos a um culto. Depois viemos para casa para dormir, pois já era tarde.
Estava já quase a dormir. Minha esposa a meu lado tinha estado calada todo o tempo, como se estivesse a pensar. Isso não me despertou a atenção, até que, repentinamente ela me disse, “O que é que te aconteceu?”
Não tinha a mínima noção do que é que ela estava a referir-se e pedi que me explicasse. Respondeu-me dizendo, “Algo te aconteceu e quero saber o que foi.”
Novamente lhe disse que não sabia do que estava falando e pedi que me explicasse.
“Esta tarde, esperei junto do carro pelas usuais
acusações e palavras iradas. Mas em vez disso, simplesmente fizeste o que
podias e então mandaste-me para casa. Fiquei contente por me ir embora, mas
disse a mim própria que quando chegasses a casa, então te exaltarias comigo.
Porém quando chegaste, também não disseste nada. Então pensei que seria quando
acabássemos de jantar, mas continuaste calmo e imperturbado. Por fim concluí
que desta vez tinhas conseguido deter a tua ira. Mas quando chegaste a casa
fatigado no fim da reunião e nos deitámos, pensei que seria nessa altura. Mas
nada sucedeu até agora. Algo te aconteceu e quero saber o que foi.”
Foi então que a evidência visível estava perante mim, da grande mudança que se tinha operado no meu interior. Subitamente compreendi que durante todo este acontecimento eu tinha agido como a pessoa que agora era, da mesma maneira que previamente tinha agido como a pessoa que havia sido. Enquanto que, antes da minha libertação, a minha reacção natural era de impaciência e irritação, agora, era de paz e paciência. A maravilha de tudo isto tanto me impressionou, que fui incapaz de lhe responder, enquanto que no meu coração brotou o testemunho de minha própria alma, “Foi o Senhor que fez isto, e é maravilhoso aos nossos olhos.” Salmo 118:23.
Caro
leitor, quando chegardes ao lugar em conheceis dentro de vós mesmos esta
maravilhosa transformação interior e vedes o resultado duma reacção diferente
às pressões da vida, então conhecereis e compreendereis como eu me senti
naquele momento. Foi maravilhoso e abençoado, para dizer o mínimo na verdade.
Muitos
anos passaram desde então. Alegro-me por isso, pois têm sido anos em que o
poder desta verdade tem sido testado nas batalhas da vida. Lamento não poder
testificar nunca ter pecado nessa altura, mas posso alegrar-me por testemunhar
o precioso facto que a mensagem ainda opera como operou naquela altura. Todas
as vezes que pequei foi sempre por falta minha. Tenho tido falta de fé, sido
descuidado em manter ligação com o poder de Deus ou qualquer outra coisa do
género. A falta nunca foi da verdade de Deus.
Mas a
vida tem sido tão diferente desde aqueles dias de derrota. Nessa altura era uma
contínua repetição das mesmas lutas contra os mesmos pecados nunca saindo do
círculo do pecar e confessar a respeito do mesmo problema ano após ano. Agora
aquelas coisas foram deixadas para trás ao passo que a obra da vitória avançou
para novas áreas à medida que mais e mais luz brilha. O livro de Romanos já não é um mistério. É um
prazer lê-lo agora porque posso compreender o que Paulo estava a dizer.
Parte 3
Depois do Renascimento
Não de Cativeiro para Cativeiro
É necessário nesta altura dar uma explicação a fim de
desfazer uma má impressão que muitos adquiriram das verdades apresentadas até
aqui nesta publicação. Quantas vezes as pessoas me têm dito quando lhes leio as
verdades da Palavra de Deus que a velha natureza tem que ser removida e uma
nova tomar o seu lugar, “significa isso que não mais se pode pecar. Significa
que se vai directamente para o Céu.”
Não
significa tal coisa porque, não passamos de cativeiro para cativeiro mas sim,
do cativeiro para a liberdade. A pessoa que está sob o controlo da natureza má
não está livre para fazer as obras da justiça, o cristão, pelo contrário, está
livre para pecar se desejar. Um breve estudo das diferenças entre os dois
senhores tornará isto claro.
Na
situação descrita em Romanos sete, a
pessoa tem dentro de si a mente carnal que é um despótico senhor cujo poder
ultrapassa grandemente o poder da vontade do indivíduo. Este despótico senhor
governa sobre a vontade a fim de servir todos os desejos da carne pecaminosa e
usar essa carne como um instrumento de injustiça. Estudai cuidadosamente o
diagrama abaixo a fim de verdes esta verdade.
O homem
de Romanos 8 não tem a inclinação
carnal. Tem a mente divina, a própria mente de Cristo. Foi criado de novo e tem
um novo senhor em lugar do velho. Existe uma diferença vital entre as naturezas
destes dois senhores. A mente carnal é um despótico senhor que governa pela
força. Mas Deus não governa pela força. Ele governa pelo amor. Deus nunca obriga
o indivíduo a servi-l’O. Ele chama, convida, oferece, mas nunca usa a força.
Por conseguinte, a menos que a pessoa faça uma escolha pessoal e clara de
servir a Deus, nunca O servirá. Quão diferente é isto da maneira de Satanás
governar. Uma vez que ele vos tenha sob seu poder, servi-lo-eis quer queirais
quer não.
Quando
Jesus veio a esta Terra, disse, “o Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos.” Mateus 20:28. Este é o grande princípio
da vida de Cristo e de Seu Pai. Por conseguinte, a mente divina é um servo que
serve a vontade a fim de subjugar e controlar a natureza humana decaída e
pecaminosa da pessoa.
Isto
não significa dizer que o cristão nascido de novo pode usar a mente divina como
um servo, porque não é assim. Pelo contrário, esse maravilhoso poder está ali, para
servir a vontade, sempre que essa vontade seja exercida com o fim de obedecer
aos Seus justos mandamentos.
Em Termos Práticos
A fim
de tornar a situação perfeitamente clara temos apenas que descrever a operação
de tudo isto, primeiramente no caso do homem em Romanos sete e depois do homem de Romanos oito. Ao homem de Romanos
sete vêm as tentações de Satanás que apelam para os desejos ou fraquezas da
carne. Na sua mente, o homem sabe que isto está errado. Ele toma uma clara
decisão de não os cometer e envia ao corpo as instruções de como agir neste
caso.
Mas a
inclinação carnal é o verdadeiro senhor deste homem. Este poder nele, agora
domina a cena a fim de tornar completamente ineficaz a vontade desse homem, de
modo que, os desejos da carne não são mantidos em sujeição e transformam-se em
pecado declarado. Portanto, é claro que nesta situação a mente carnal é o
centro de controlo.
No caso
do homem de Romanos oito a situação é
diferente. Uma vez mais, vêm as mesmas tentações a essa mesma carne. Uma vez
mais a mente é chamada a tomar uma decisão com respeito ao que se fará perante
a tentação, porque cada tentação é um ponto de escolha. Se a mente agora
decidisse muito claramente que não haveria rendição à tentação, então, desde
que essa decisão fosse tomada na absoluta fé de que o poder de Deus nele e o
poder de Deus de cima se combinarão para tornar essa decisão efectiva, então
esses poderosos poderes levantar-se-ão a fim de servir a vontade a tornar essa
decisão positivamente vitoriosa. A carne será mantida sob perfeito controlo e
os males do pecado não aparecerão.
Não é exagero
dizer que é a fé que dá a vitória. O centro de controlo foi transferido da
mente carnal para a vontade, mas, essa vontade apenas pode ser eficaz se
exercer a sua força na fé de que o Senhor tornará a decisão efectiva. Esta fé
envolve a confiança no conhecimento do poder e na certeza que Deus o fará.
Qualquer que, tendo nascido de novo, pense que agora tem em si próprio força
suficiente para resistir ao poder do pecado, cairá certamente sob a tentação
porque, “o justo viverá pela fé.” Romanos
1:16.
Manutenção
Por conseguinte,
segue-se que existe uma real necessidade de manter a viva experiência que foi
obtida. “O justo viverá pela fé.” Romanos
1:16, mas a fé pode morrer pouco a pouco e ser perdida. Por isso, necessita não
só de ser mantida, mas desenvolvida e fortalecida. A fé é uma coisa viva, e, a
menos que as coisas vivas estejam continuamente crescendo, certamente morrerão.
Portanto, tem que
haver diariamente uma nutrição baseada na Palavra de Deus. A entrada nesta
experiência de libertação do poder do velho senhor, é chamada na Palavra de
Deus, “o novo nascimento.” É por esta razão que um novo cristão é chamado “um
bebé recém-nascido.” Um bebé recém-nascido, apenas começou a longa jornada da
vida e necessita logo de nutrição para que possa desenvolver-se em tudo até à
perfeita maturidade de homem ou mulher. Portanto, ele deseja o leite para a sua
nutrição. Tal como, “bebés recém-nascidos, desejai o genuíno leite da Palavra,
para que por ele possais crescer.” 1Pedro
2:2.
A necessidade do novo
cristão e também dos mais antigos estudarem a palavra de Deus diariamente não
pode deixar de ser recomendada. Porque aí está a força. Sem esta nutrição
espiritual diária, a fé irá enfraquecendo a pouco e pouco de modo que caireis
com certeza quando as poderosas tentações do inimigo vos assediarem. Caireis,
mesmo apesar de terdes dentro de vós o maravilhoso poder de Deus.
Podeis perguntar como
pode isto ser possível quando é reconhecido que o poder de Deus é o poder mais
forte que existe e é certamente muito mais forte do que o poder do pecado. Se
esse poder está dentro de nós, então como pode o pecado ter domínio sobre nós?
A fim de mostrar o
mais claramente possível, como é que a presença do poder de Deus na vida não
significa a automática garantia de que nunca mais voltaremos a pecar está
perante nós a seguinte ilustração.
Um poderoso exército,
como por exemplo, o comandado por César ou Alexandre o Grande, vai para a
batalha. Os exércitos que eles comandavam eram no seu tempo os mais poderosos
exércitos da Terra e nenhum inimigo era capaz de competir com eles ou
desafiá-los. Ao considerar-se qualquer um destes exércitos, tem que ser visto
que existem neles duas divisões — o general que comandava o exército e o poder
colectivo do exército que era composto por soldados de infantaria com as suas
armas e a cavalaria com os seus carros, cavaleiros e armas. O general sozinho
não tem poder em si próprio para começar sequer a ripostar a mais pequena força
inimiga que possa vir contra ele. O seu poder é o poder do exército e
unicamente quando este é devotado ao seu serviço, pode ele esperar marchar
vitoriosamente. Da mesma maneira, o exército tem que ter a perícia e a direcção
do general para operar com eficácia e sucesso. O general é a vontade do
exército e tudo depende da correcta acção dessa vontade se quiser assegurar a
vitória.
Suponhamos que um
poderoso exército marchou sempre vitoriosamente e nunca conheceu outra coisa
senão a vitória em todo o seu caminho. Agora faltava-lhe travar apenas mais uma
grande batalha antes de conquistar toda a área que tinha alcançado. Um inimigo
de tamanho relativamente pequeno estava esperando na base da montanha e era
necessário um confronto para assegurar o total controlo do território.
Mas o general e os
seus conselheiros tornaram-se demasiado confiantes na sua perícia, habilidade e
poder e então decidiram que antes de iram para a batalha, teriam uma grande
celebração envolvendo festa, comida e bebida durante toda a noite. Deste modo,
o general e seus principais conselheiros, sub-comandantes e oficiais, deixaram
o exército no acampamento e devotaram as horas noturnas às suas festividades,
resultando que, pela manhã, estavam todos intoxicados e também virtualmente
inconscientes.
Vamos supor que neste
momento o inimigo decide fazer um súbito e inesperado ataque sobre o exército.
Acordado subitamente pelas sentinelas, o exército enfrenta o inimigo, mas
necessita da direcção do general a fim de eficazmente organizar e dispor as
suas forças e dispor as suas forças, pois o
inimigo é astuto e feroz. Mas nesta altura, na condição em que o general se
encontra, ele é incapaz de tomar uma única decisão e por isso não pode dar uma
única ordem, às forças que se encontram sob o seu comando.
Subitamente, o
exército vê-se sem comandante, sem vontade, sem uma inteligência orientadora.
Aqui está o mais forte e poderoso exército da Terra, enfrentando um inimigo
consideravelmente mais pequeno e fraco e deveria por conseguinte ter uma rápida
e assinalada vitória, mas sob estas circunstâncias quem ganhará a vitória? A
resposta é que o inimigo mais pequeno e mais fraco será o vencedor no campo de
batalha.
As
partes correspondentes segundo a ilustração dada acima são as seguintes: o
forte poder do exército é o símbolo da presença do poder de Deus na vida. Este
poder é o poder mais forte que existe e nada há que consiga enfrentá-lo. O
comandante na experiência de Romanos
8 é a vontade educada e inteligente. O inimigo é a carne não santificada e
pecaminosa através da qual Satanás opera para conseguir a queda e a destruição
de todo o nosso ser.
Conquanto
o exército da Terra possa ser capaz de fazer algo sem a vontade e direcção do
seu comandante, o poder de Deus em nós não pode fazer coisa alguma em nosso
favor sem a devida acção da vontade. Por conseguinte, se na hora da tentação,
falhamos em tomar as decisões certas, e
resolutamente dizer "Não!" ao inimigo, então o poder de Deus não pode
fazer coisa alguma e seremos vítimas do poder de Satanás através da nossa carne
caída.
Isto é
algo muito pouco compreendido com o resultado que demasiadas pessoas verificam
que caem sob o poder do inimigo quando as suas vidas deviam ser um constante hino
de vitória sobre o pecado. Estudo especial dever ser dado, por um lado, quanto
ao papel desempenhado pela vontade e por outro quanto ao papel desempenhado
pela pecaminosidade e falsidade da carne caída. Necessitamos, como os santos
apóstolos, confessar a pecaminosidade desta natureza e não pôr na carne seja
que confiança for.
A derrota
é certa, quando a fé cresceu enfraquecida, mas nem sempre precisa ser assim. A
fé pode ser conservada viva e deve ser conservada viva.
Lembrai
que, quando a nova vida é dada, ela é perfeita, tal como um bebé é perfeito
quando nasce. Para o bebé crescer nessa perfeição deve ser alimentado e
tratado. O Senhor fornece o alimento mas somos nós que temos de alimentar o
bebé. Deus não alimenta automaticamente a criança dia a dia. Essa é a tarefa do
pai humano. Assim, também, Deus dá toda a comida necessária na Bíblia com a
qual se deve nutrir o bebé espiritual, mas é da nossa responsabilidade
alimentá-lo. Deus não o fará por nós. Uma Bíblia fechada é como uma despensa fechada.
Não serve para nada.
Jesus
disse, “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: na verdade, o espírito
está pronto, mas a carne é fraca.” Mateus
26:41.
A
entrada na vida cristã é o alistamento no exército do Senhor. Daí em diante, a
jornada de cada dia, é uma batalha e uma marcha. Não estamos num piquenique.
Estamos em guerra. O nosso inimigo está sempre em campo, procurando os pontos
fracos, para que nos possa destruir. “Sede sóbrios, vigiai: porque o diabo,
vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa
tragar.” 1Pedro 5:8.
Nenhum exército
entrou em guerra sem primeiramente colocar vigias para que o inimigo não apareça
inesperadamente. Assim o cristão deve estabelecer os seus postos de vigia dia
após dia. A Bíblia claramente revela todas as tácticas do maligno, de modo que,
podemos saber onde e como vigiá-lo e enfrentá-lo com a Palavra de Deus antes
que possa ganhar qualquer vantagem.
É muito importante
que nenhuma tentativa seja feita para de lutarmos nós próprios contra o inimigo.
A grande controvérsia é entre Cristo e Satanás. Não tenteis travar as batalhas
que só a Cristo pertencem. Então, quando, o diabo vos assediar, mandai-o para o
Salvador e deixai que Ele se ocupe de Satanás. Assim que o façais o diabo fugirá
de vós pois ele sabe que Cristo já o derrotou.
Há aqueles, sem
dúvida, que podem sorrir perante esta ilustração mas tenho visto que ela tem
sido de muito auxílio para muitos.
Estais numa safari
nas selvas da África Central. Chega o dia em que tendes que atravessar uma área
particularmente densa e perigosa. Não estais familiarizados com a região nem
com as espécies de animais que lá se encontram. Mas há um guia competente e
experiente que vos oferece os seus serviços. Este homem tem viajado muitas vezes
com sucesso nesta área. Conhece a região e sabe como tratar os animais
selvagens. Vem armado com todas as armas necessárias para as batalhas que se
possam vir a travar.
Depois de algum
tempo, estais face a face com um grande e terrível gorila que se lança ao
ataque assim que vos vê. Agora suponde que enfrentais esse gorila unicamente
auxiliado pelas vossas mãos. Certamente mostraríeis grande coragem. Mas não vos
esquecestes do guia que contratastes e assim, ao mesmo tempo que vos
precipitais contra ele, dizeis ao guia, “depressa, ajuda-me a lutar contra este
gorila.”
Mas o que dirá o guia
em desesperada ansiedade? Ele gritará, “Saia daí! Não posso usar as minhas
armas, a menos que saia do caminho!”
Assim, frustraríeis a
obra do guia e de asseguraríeis a vossa própria derrota. Portanto, da mesma
maneira, devemos deixar para Cristo a tarefa que Lhe pertence. Quando o inimigo
vier, não tenteis lutar contra ele, porque “a batalha é do Senhor” 1Samuel 17:47. “A batalha não é vossa,
mas sim de Deus.” 2Crónicas 20:15.
Não somos tão fortes
como Satanás, mas Cristo é mais forte do que ele. Não podemos manter uma
argumentação com o diabo. Somente Deus pode fazer isso. Por conseguinte,
lembrai-vos sempre, de simplesmente resistir a Satanás, com o poder da Palavra
e não com o vosso próprio poder. Quando ele se dirigir a vós, dizei-lhe simples
e terminantemente que deve estar enganado. Que a pessoa que costumava responder
a essas tentações não mais reside em vós. Que as coisas mudaram e que a nova
vida em vós não mais faz essas coisas. Assim que Satanás ouve a voz da fé a
declarar estas coisas, foge e a tentação morre degenerando em nada.
Conclusão
Aqueles
que aplicarem e seguirem os princípios expostos neste estudo, serão libertos do
domínio do pecado e iniciados no corpo de Cristo.
Segue-se
o processo de educação pelo qual a alma é liberta das ideias e teorias erradas
aprendidas na escola de Satanás. O fim de uma obra é o início de outra. Uma vez
implantada, a boa semente cresce até à maturidade. Dia a dia haverá o firme
crescimento se o crente se alimentar diligentemente da Palavra viva.
Satanás
procurá activamente desviar de Cristo a alma renascida e infelizmente por vezes
pode ser bem sucedido. Contudo, isto não quebra o casamento com Cristo. Rápido
arrependimento, perdão e purificação renovarão a filiação com Deus e, valiosas
lições aprendidas e a alma estará mais segura no futuro.
Este
estudo não é a última palavra a respeito do plano da salvação. Ele descreve
apenas a entrada inicial na família de Cristo. Foram apresentadas algumas
linhas de orientação de como manter a experiência, mas a obra de reforma não
foi descrita em profundidade e pormenor. Uma obra complementar, Renascimento e Reforma, trata este
aspecto mais apropriadamente e está disponível na Igreja do Advento e do
Repouso do Sábado.
O
caminho de Deus para cada um dos Seus filhos é vitória e paz, não derrota e
miséria. Que cada um sacuda os grilhões do pecado e viva como Deus deseja que
vivamos.