A
ELIMINAÇÃO DO PECADO
É parte da decaída natureza humana
fazer com que a religião consista de formas e cerimônias, fórmulas e doutrinas.
O sacerdotalismo não é peculiar a certas denominações; é inerente à decaída
natureza humana, e em tal extensão que a pessoa perde a Deus de vista, que o
formalismo se manifestará até naqueles que são mais sinceros. Há exatamente
tantas almas sinceras entre aqueles cuja religião consiste de formas como entre
qualquer pessoa sobre a Terra. Tenho visto entre católicos romanos tanta
sinceridade devota como entre quaisquer outros religiosos. Nosso perigo jaz em
pensar que a verdade consiste entre verdade e a declaração da verdade. Há
exatamente tanta diferença entre esses dois como há entre e lei e a redação da
lei. A lei real é viva; a escrita dela no livro é somente uma sombra. Estamos
em perigo de fazer um credo, e pensar que é a verdade. Nenhuma palavra humana pode expressar
a verdade de Deus. "O olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no
coração do homem, as coisas que Deus tem preparado pela aqueles que O amam. Mas
Deus no-las revelou por Seu Espírito". A integridade da verdade de Deus não pode ser declarada em linguagem humana; doutro modo, poderia ser ouvida com
o ouvido. Não pode ser estruturada em pensamento humano; doutro modo poderia
entrar no coração do homem. A verdade pode ser revelada ao homem somente pelo
dom do Espirito de verdade.
"Ora, a mensagem que da parte d'Ele temos ouvido e vos anunciamos, é esta: que Deus é luz, e não há Nele treva
nenhuma. Se dissermos que mantende comunhão com Ele, e andarmos nas trevas,
mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como Ele está
na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, Seu Filho,
nos purifica de todo pecado". I João 1:5-7.
Esqueça
por um pouco a divisão desta epístola em capítulos, com o que João nada teve a
ver. Esta era uma carta, contendo somente umas poucas sentenças, não tão longa
como as que às vezes temos escrito. No início da carta ele faz esta declaração
do que é sua mensagem, e pouco depois escreve a respeito do fim do mundo:
"Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência
dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o
mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de
Deus permanece eternamente". Esta, portanto, é exatamente a mensagem para
os últimos dias, a que fará as pessoas permanecerem firmes quando o mundo
passar.
A seguir o apóstolo fala da "unção
que vem do Santo", de modo que "não tendes necessidade de que alguém
vos ensine". Nenhum homem pode ensinar-lhe a verdade; as coisas que Deus preparou estão reveladas somente para os ungidos do Espírito Santo. "Mas,
como a Sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e
não é falsa, permaneceu n'Ele, como também ela vos ensinou. Filhinhos, agora,
pois, permanecei n'Ele, para que, quando Ele se manifestar, tenhamos confiança e
d'Ele não nos afastemos envergonhados na Sua vinda". Assim, essa é a
mensagem que dará ao povo ousadia por ocasião da vinda do Senhor, de modo que
podem olhar para o alto e dizer: "Eis que este é nosso Deus, em quem
esperávamos, e Ele nos salvará".
Esta, pois, é a mensagem, de que Deus é luz, e se andarmos na luz, o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo
pecado, elimina toda a iniquidade. A prova de termos ou não a verdade está no
efeito que esta exerce sobre a nossa vida. Purifica-nos ela da iniqüidade? Se
andarmos na luz, então o sangue de Jesus Cristo nos purifica. A luz é a vida de
Deus fluída, que purifica e elimina o pecado.
Precisamos ser nosso próprio guardião
contra a idéia de que a eliminação do pecado é meramente o passar uma esponja
sobre uma superfície lisa, ou um lançamento no livro de contabilidade para
equilibrar a conta. Isso não constitui eliminação do pecado. Um homem ignorante
que viu um termômetro pela primeira vez pensou que poderia abaixar a
temperatura quebrando-o. Mas que efeito isso teve sobre o clima? Exatamente
tanto quanto o mero apagar do registro do pecado tem sobre o pecador. O rasgar
de uma folha de um livro, ou mesmo a queima do livro contendo o registro, não
elimina o pecado. O pecado não é eliminado por apagar-se o seu registro, mais
do que o atirar minha Bíblia dentro do fogo torna sem efeito a Palavra de Deus.
Houve um tempo quando todas as Biblias que pudessem ser encontradas deveriam
ser destruídas; mas a Palavra de Deus a verdade permaneceu exatamente a
mesma, porque a verdade é o próprio Deus.
A verdade está implantada nos céus e
na Terra; ela enche as estrelas, e mantêm-nas em seus lugares; é aquilo por
meio de que as plantas crescem, e os pássaros edificam seus ninhos; é aquilo
por meio de que sabemos como encontrar nosso rumo em alto mar. Quando Moisés
quebrou as tábuas de pedra, a lei permaneceu tão válida quanto antes. Do mesmo
modo, embora todo o registro de nossos pecados, conquanto escritos com o dedo
de Deus, fossem apagados, o pecado permaneceria, porque o pecado está em nós.
Ainda que o registro de nossos pecados estivessem gravados na rocha, e esta
fosse despedaçada e tornada em pó,--mesmo isso não eliminaria o nosso pecado.
A eliminação do pecado é o apagá-lo da
natureza, do ser do homem. O sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado.
Nossos corpos são meros canais, a fronteira, a areia sobre a praia do rio da
vida. Impressões têm-nos sido feitas pelo pecado. Na praia, quando você vê um
suave trecho de areia, seu primeiro impulso é deixar ali uma marca, escrever
alguma coisa. Então vem o mar, e cada onda que passa sobre a marca a oblitera
até desfazer-se inteiramente. Desse modo o rio da vida que procede do trono de
Deus lavará as impressões do pecado sobre nós.
A eliminação do pecado é sua
erradicação de nossa natureza, de modo que não mais o conheceremos. "Os
adoradores uma vez purificados"--na verdade purificados pelo sangue de
Cristo "não mais têm consciência do pecado", porque para eles o
pecado se foi para sempre. Sua iniqüidade pode ser procurada, mas não será encontrada.
Para sempre se desfez, é estranha à sua nova natureza, e conquanto possam ser
capazes de recordar o fato de que cometeram certos pecados, esqueceram-se do
pecado em si e não pensam em cometê-lo de novo. Esta é a obra de Cristo no
verdadeiro santuário, que o Senhor levantou, e não o homem,--o santuário não
feito por mãos, mas trazido à existência pelo pensamento de Deus.
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