Carta Aos Romanos
(E. J.
Waggoner)
Tradução e
Edição
César L.
Pagani
Índice
Nota ao leitor
1. O Poder de Deus Está
no Evangelho
2. O Pecado de Outros
Também é Nosso
3. A Graça de Deus: Dom
Gratuito
4. Crendo na Maravilhosa
Promessa de Deus
5. Graça Abundante
6. O Jugo de Cristo é
Suave e o Seu Fardo é Leve
7. Casados Com um
Péssimo Marido
8. A Gloriosa
Libertação de um Matrimônio Insuportável
9. Quem São os
Verdadeiros Israelitas?
10. Boas-Novas de
Grande Alegria
11. Todo o Israel Será
Salvo
12. A Justificação Pela
Fé na Prática
13. O Crente e os
Governos Terrestres
14. Deus, o Único
Juiz
15. Louvem ao Senhor
Todos os Gentios
16. Saudações
Pessoais
Nota ao Leitor
A história inspirada
nos assegura que em quase todas as epístolas de Paulo há algumas "coisas
difíceis de entender" (II Ped. 3:16). Talvez seja o caso da epístola aos
Romanos, em maior medida do que qualquer outra. Mas sua compreensão não é algo
impossível, exceto para os "indoutos e inconstantes".
Vê-se que são os que
torcem "também as outras Escrituras" para sua própria perdição,
aqueles que malinterpretam o ensino de Paulo. Os que têm o desejo de
compreender e que lêem as singelas promessas da Bíblia com proveito, não se
encontrarão entre eles.
Ao empreendermos este
estudo, nos animaremos ao recordarmos que se trata simplesmente de uma carta
dirigida à igreja de Roma. Nada faz supor que a congregação em Roma fosse
diferente do grande corpo de cristãos em geral. Lemos sobre eles que "não
foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos
de nobre nascimento" (1 Cor. 1:26). Os verdadeiros seguidores de Jesus
sempre estiveram entre as pessoas comuns. Desse modo, na igreja de Roma deveria
haver negociantes, artesãos, trabalhadores, carpinteiros, jardineiros, etc.,
como também muitos criados das famílias de cidadãos ricos, e alguns poucos que
ostentavam posição elevada. Quando
consideramos que era esperado confiantemente que esse tipo de pessoas
entendesse a carta, podemos sentir-nos animados em crer que o mesmo há de
suceder hoje.
A exortação e a
asseveração de Paulo a Timóteo constitui o melhor guia para estudar qualquer de
suas epístolas e a Bíblia em geral. "Pondera o que acabo de dizer, porque
o Senhor te dará compreensão em todas as coisas." Deus é seu próprio intérprete. São as
palavras da Bíblia que explicam a Bíblia. É por isso que convém perguntar-se,
uma e outra vez, o que quer dizer exatamente o texto, em relação com o que o
precede e o que o segue.
Os comentários que acompanham o texto têm por objeto fixar mais detalhadamente na Palavra de Deus a atenção do estudante, bem como ajudar o leitor casual. Que o estudo desta epístola seja uma grande bênção a você, e que a Palavra lhe seja de grande valor, devido à luz crescente que o Espírito Santo faz brilhar a partir dela, é minha oração fervente
Ellet. J. Waggoner
Capítulo 1
O Poder de Deus Está no Evangelho
A
saudação.
1
– Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o
evangelho de Deus.
2
– Que Ele antes havia prometido pelos
Seus profetas nas Santas Escrituras,
3
– Acerca de Seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne,
4
– E que com poder foi declarado Filho de Deus segundo o espírito de santidade,
pela ressurreição dentre os mortos – Jesus Cristo nosso Senhor.
5
– Pelo qual recebemos a graça e o apostolado, por amor do Seu nome, para a
obediência da fé entre todos os gentios.
6
– Entre os quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo;
7
– E a todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados para serdes santos;
graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Romanos 1:1 a 7.
Um
servo (escravo) - "Paulo, servo de Jesus Cristo". O apóstolo
assim se apresenta aos romanos. Em outras epístolas ele utiliza a mesma
expressão. Alguns se sentiriam envergonhados de definir-se como servos; mas tal
não foi o caso dos apóstolos.
Há uma grande diferença,
dependendo de quem servimos. A importância do servo deriva da dignidade daquele
a quem serve. Paulo servia ao Senhor Jesus Cristo. Está ao alcance de todos
servir ao mesmo Mestre. "Não sabeis que daquele a quem vos apresentais
como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja
do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?" (Rom. 6:16). Até
o próprio empregado da casa que se entrega ao Senhor, é servo do Senhor e não
do homem. "Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne,
não servindo somente à vista como para agradar aos homens, mas em singeleza de
coração temendo ao Senhor. E tudo quanto fizerdes, fazei-o para o Senhor, e
nãos aos homens. Sabendo quedo Senhor recebereis como recompensa a herança;
servi a Cristo, o Senhor." (Colossenses 3:22-24).
Uma consideração tal
não pode senão dignificar o trabalho mais humilde e rotineiro que se possa
imaginar. Nossa versão não expressa toda
a força do termo que o apóstolo usa ao chamar-se "servo". Em realidade é "servo-escravo". Ele usou o termo
que normalmente era aplicado aos
escravos. Se somos realmente servos do Senhor, somos Seu escravos por toda a
vida. Mas esse é o tipo de escravidão que traz em si mesmo a liberdade. "Pois
aquele que foi chamado no Senhor, mesmo sendo escravo, é um liberto do Senhor;
e assim também o que foi chamado sendo livre, escravo é de Cristo." (I
Cor. 7:22).
Separado
-
O apóstolo Paulo foi "separado para o evangelho". Assim ocorre com
todo aquele que realmente serve ao Senhor. "Ninguém pode servir a dois
senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e
desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas." (Mat. 6:24).
Ninguém pode servir a Deus e, ao mesmo tempo, a outro senhor
Isso significa que um
empresário ou homem de negócios não pode ser um bom cristão? Nada o impede. O
que estamos dizendo é que um homem não pode servir ao Senhor e ao mesmo tempo a
outro mestre. "E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o
em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai." (Col. 3:17). Se um homem de negócios não está
servindo ao Senhor em sua atividade profissional, então não O serve
absolutamente. O verdadeiro servo está,
de fato, "separado para..."
Isso, porém, não quer
dizer que ele se isola do contato pessoal com o mundo. A Bíblia não justifica a
reclusão monástica. O pecador de quem menos se pode esperar é aquele que se
sente demasiado bom para associar-se com pecadores. Como pois somos separados
para o evangelho? Pela presença de Deus no coração. Moisés disse ao Senhor: 'Se
Tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui. Como, pois, se saberá
agora que tenho achado graça aos Teus olhos, eu e o Teu povo? Acaso não é por
andares Tu conosco, de modo a sermos separados, eu e o Teu povo, de todos os
povos que há sobre a face da Terra?" (Êxo. 33:15,16).
Porém, aquele que é
separado para o ministério público do evangelho, tal como foi o apóstolo Paulo,
é apartado no especial sentido de não poder envolver-se em outros negócios cujo
fim seja a ganância pessoal. "Nenhum soldado em serviço se embaraça com
negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra."
(II Tim. 2:4). Não pode se achar em nenhuma posição ante os governos da Terra,
por mais elevada que seja. Tal coisa desonraria a seu Senhor e comprometeria
seu serviço. O ministro do evangelho é
embaixador de Cristo, e nenhuma outra posição lhe pode ser comparada em
honra.
O
evangelho de Deus. - O apóstolo afirmou que havia sido "separado
para o evangelho de Deus". É o evangelho de Deus "acerca de Seu Filho".
Cristo é Deus e, portanto, o evangelho de Deus a que se refere o
primeiro versículo da epístola, é idêntico ao "evangelho de Seu
Filho", mostrado no verso 9.
Muitos pessoas separam
o Pai e o Filho na obra do evangelho. Muitos fazem isso inconscientemente. Deus
o Pai, tanto como o Filho, é nosso Salvador. "Deus amou o mundo de tal
maneira, que deu o Seu filho Unigênito" (João 3:16). "Deus estava em
Cristo reconciliando Consigo mesmo o mundo." (II Cor. 5:19) "... e
reinará perfeita união em ambos os ofícios." (Zac. 6:13). Cristo veio à
Terra como representante do Pai. Quem via a Cristo, via também o Pai (João
14:9). As obras que Cristo fez eram as obras
do Pai que nEle habitava (João 14:10). Até as palavras que Ele dizia eram as
palavras do Pai (João 10:24). Quando ouvimos
Cristo dizer: "Vinde a Mim todos vós que estais cansados e
oprimidos e Eu vos aliviarei", estamos ouvindo o convite cheio de graça de
Deus, o Pai. Quando contemplamos Cristo tomando em Seus braços as criancinhas e
abençoando-as, testemunhamos o afeto do Pai. Quando vemos a Cristo recebendo
pecadores e Se misturando com eles,
comendo com eles, perdoando seus pecados e purificando aos desprezados
leprosos por meio de Seu toque curador, estamos ante a condescendência e
compaixão do Pai. Até quando vemos nosso Senhor na cruz, com o sangue manando
de Seu lado ferido, o sangue pelo qual somos reconciliados com Deus, não
devemos olvidar-nos de que "Deus estava em Cristo reconciliando Consigo
mesmo o mundo", de forma que o apóstolo Paulo pôde dizer: "a igreja
de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue" (Atos 20:28).
O
evangelho no Velho Testamento - O evangelho de Deus para o qual o apóstolo
Paulo afirmava ter sido separado, era aquele
"que foi por Deus outrora prometido por intermédio dos Seus
profetas nas Sagradas Escrituras" (Rom. 1:2); literalmente, o evangelho
que Ele havia previamente anunciado ou pregado. Isso nos mostra que o Velho
Testamento contém o evangelho, e também que o evangelho veterotestamentário é o
mesmo que o do Novo. É o único evangelho que o apóstolo pregou. Considerando
que isso é assim, ninguém deveria estranhar nossa fé no Velho Testamento, e que
o consideremos como tendo a mesma autoridade que o Novo.
Lemos que Deus
"preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os
povos" (Gál. 3:8). O evangelho pregado nos dias de Paulo era o mesmo
ensinado aos israelitas do passado (Ver Heb. 4:2). Moisés escreveu acerca de
Cristo, e seus escritos contém tanto do evangelho que alguém que não cria no
que ele escreveu, não podia crer em
Cristo (João 5:46,47). "DEle todos os profetas dão testemunho de que, por
meio de Seu nome, todo o que nEle crê recebe remissão de pecados." (Atos
10:43)
Quando Paulo foi para
Tessalônica, dispunha somente do Velho Testamento, e "segundo o seu
costume, foi procurá-los e por três sábados arrazoou com eles acerca das
Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e
ressurgisse dentre os mortos..." (Atos 17:2,3)
Timóteo, em sua
mocidade, não teve outra coisa que não fosse as escrituras do Velho Testamento,
e o apóstolo Paulo que lhe escreveu: "Tu, porém, permanece naquilo que
aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que desde
a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação
pela fé em Cristo Jesus." (II Tim. 3:14,15)
Portanto, vá ao Velho
Testamento esperando encontrar ali a Cristo e Sua justiça, e você se tornará
sábio para a salvação. Não separe Moisés de Paulo, Davi de Pedro, Jeremias de
Tiago, nem Isaías de João.
A
semente de Davi - O evangelho de Deus é "com respeito a Seu filho, o
qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi". (Rom. 1:3). Leia a
história de Davi e dos reis que dele descenderam, que foram ancestrais de
Jesus, e comprovará que no aspecto humano, o Senhor foi afetado negativamente
por seus antepassados, como qualquer outro homem jamais poderia te-lo sido.
Muitos deles eram idólatras, licenciosos e cruéis. Embora Jesus estivesse
rodeado de fraquezas, "não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em Sua
boca" (1 Ped. 2:22). isso está escrito com o propósito de prover ânimo à
pessoa na pior condição imaginável em sua vida. Isso assim é para mostrar que o
poder do evangelho da graça de Deus triunfa sobre a herança.
O fato de Jesus haver
nascido da semente de Davi significa que Ele é herdeiro do trono de Davi.
Referindo-se a esse trono, disse o Senhor: "Porém a tua casa [de Davi] e
teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido
para sempre." (II Sam. 7:16). O reinado de Davi é, por conseguinte,
essencial para a herança prometida a Abraão,
ou seja, a Terra toda (Ver Rom. 4:13).
De Jesus, disse o anjo:
"Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, Seu pai: Ele reinará para
sempre sobre a casa de Jacó; e o seu reinado não terá fim." (Luc.
1:32,33). Porém, isso implicava que também levaria a maldição da herança,
sofrendo a morte. "... Em troca da alegria que Lhe estava proposta,
suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia..." (Heb. 12:2). "Pelo
que também Deus O exaltou sobremaneira e Lhe deu o nome que está acima de todo
nome." (Fil. 2:9).
Assim como foi com
Cristo, igualmente ocorre conosco. É
através de grande tribulação que entramos no reino. Aquele que recua
ante a censura, que faz de sua humilde condição de nascimento ou de suas
características herdadas uma desculpa para as derrotas, perderá o reino dos
céus. Jesus Cristo desceu às mais baixas profundidades da humilhação, a fim de que todos quantos ali estavam
pudessem, se assim o desejassem, subir com Ele aos lugares mais elevados.
O
poder da ressurreição – Conquanto Jesus Cristo tenha tido um nascimento
humilde, "foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de
santidade, pela ressurreição dos mortos" (Rom. 1:4). Acaso não era Ele
Filho de Deus antes da ressurreição? Não Se havia o Senhor declarado como tal?
Certamente! E o poder da ressurreição manifestou-se durante toda a Sua vida.
Sem precisar ir mais longe, o poder da ressurreição ficou demonstrado no fato
dEle erguer-Se dos mortos, algo que realizou pelo poder que habitava em Si
mesmo. Porém, foi a ressurreição dos
mortos que estabeleceu esse fato além de toda a dúvida à vista dos homens.
Depois de haver
ressuscitado, foi até os discípulos e lhes disse: "Toda a autoridade Me
foi dada no Céu e na Terra." (Mateus 28:18). A morte de Cristo havia
destruído todas as esperanças que eles tinham nEle, mas quando "se apresentou
vivo, com muitas provas incontestáveis,
aparecendo-lhes durante quarenta dias..." (Atos 1:3), tiveram ampla demonstração de Seu poder.
Sua única obra, a
partir de então, seria dar testemunho de Sua ressurreição e poder. O poder da
ressurreição é de acordo com o espírito de santidade, já que por meio do
Espírito foi Ele ressuscitado. O poder concedido para tornar um homem santo é o
poder que ressuscitou a Cristo dos mortos. "Visto como o Seu divino poder
nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento
dAquele que nos chamou por Sua própria glória e virtude." (II Ped. 1:3)
A
obediência da fé - Paulo diz que mediante Cristo havia recebido graça e
apostolado para a obediência da fé entre todos os gentios. A verdadeira fé é
obediência. "A obra de Deus é esta: Que creiais nAquele que Ele enviou." (João
6:29). Cristo disse: "E por que Me chamais Senhor, e não
fazeis o que eu vos digo?" (Luc. 6:46). Uma profissão de fé em Cristo, não
acompanhada de obediência, é inútil. "Assim também a fé, senão tiver obras,
é morta em si mesma. (Tiago 2:17). "Assim como o corpo sem o espírito está
morto, assim também a fé sem obras é morta" (v. 26).
O homem não respira
para demonstrar que está vivo; está vivo e por isso respira. A respiração é sua
vida. Assim também, o homem não deve fazer boas obras para demonstrar que tem
fé, mas as realiza porque são o resultado inevitável de sua fé. Até Abraão foi
justificado pelas obras, porque a fé "cooperou com as suas obras e...
pelas obras a fé foi aperfeiçoada, e se cumpriu a escritura que diz: E creu
Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça..." (Tiago 2:22)
Amados
de Deus
- Essa foi uma consoladora segurança para "todos os que estavam em
Roma". Quantos teriam desejado ouvir dos lábios de um anjo vindo
diretamente da glória o que Gabriel disse a Daniel: "... És muito
amado"! O apóstolo Paulo escreveu por inspiração direta do Espírito Santo,
de forma que a mensagem de amor dirigiu-se aos romanos tão diretamente do Céu como
a de Daniel. O Senhor destacou por nome alguns favoritos, mas afirmou que todos
em Roma eram amados de Deus.
Deus não faz acepção de
pessoas, e essa mensagem de amor é
também para nós outros. Eles eram "amados de Deus", simplesmente
porque "Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito
para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna."
(João 3:16). "De longe o Senhor me apareceu, dizendo: Pois que com amor
eterno te amei..." (Jer. 31:3). Esse amor eterno para com os homens nunca
hesitou, embora esses se houvessem esquecido disso. Àqueles que se separaram e
caíram em iniqüidade, Ele disse:
"Eu sararei a sua apostasia, Eu voluntariamente os amarei..." (Oséias
14:4). "Se somos infiéis, Ele permanece fiel; porque não pode negar-Se a
si mesmo." (II Tim. 2:13)
Chamados
para serem santos - Deus chama a todos os homens para serem
santos, porém àqueles que O aceitam, os chama santos. Tal é seu título. Se Deus
os chama de santos, eles são santos.
Essas palavras foram
dirigidas à igreja em Roma e não à igreja de Roma. A igreja "de Roma"
sempre foi apóstata e pagã. Abusou da palavra "santo" até convertê-la
em pouco menos que uma banalidade de calendários. Poucos pecados tão graves
cometeu Roma como fazer distinção entre
os "santos" e os cristãos comuns, criando com isso duas escalas de
bondade. Levou as pessoas a acreditarem
que o trabalhador e a dona de casa não são e nem podem chegar a ser
santos, rebaixando assim a verdadeira piedade prática diária, ao mesmo tempo
que exaltando a piedade indolente e os
atos de própria justiça.
Mas Deus não tem duas
normas de piedade e a todos os fiéis de Roma, pobres e desconhecidos como eram
muitos deles, Ele chama santos. A mesma coisa acontece hoje com Deus, embora
possam os homens não reconhecer esse fato.
Os primeiros sete
versículos do capítulo um de Romanos são dedicados a saudações. Jamais uma
carta não inspirada abarcou tanto em seus cumprimentos. Tão firmado estava o
apóstolo no amor de Deus que foi incapaz de escrever uma carta sem expressar a
quase totalidade do evangelho numa saudação introdutória. Os oito versículos
seguintes podem bem ser resumidos em: "sou devedor [a todos]", já que
mostram a plenitude da devoção do apóstolo para com os outros. Leiamo-los cuidadosamente
e não nos contentemos com uma única leitura:
"8 Primeiramente, dou graças a
meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque, em todo o
mundo, é proclamada a vossa fé.
9 Porque Deus,
a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de
como incessantemente faço menção de vós
10 em todas as minhas orações, suplicando que,
nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de visitar-vos.
11 Porque muito
desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que
sejais confirmados,
12 isto é, para
que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé
mútua, vossa e minha.
13 Porque não
quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no
que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum
fruto, como também entre os outros gentios.
14 Pois sou
devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes;
15 Por isso,
quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em
Roma."
Romanos 1:8 a 15.
Um
grande contraste - Nos dias do apóstolo Paulo, a fé da igreja que estava em
Roma era conhecida no mundo inteiro. Fé significa obediência, já que ela é
contada como justiça e Deus nunca considera
uma coisa pelo que ela não é. A fé "opera por amor" (Gál.
5:6). E essa ação é "a operosidade
da vossa fé" (I Tess.1:3). Fé também significa humildade, como demonstram
as palavras do profeta: "Eis
o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé."
(Hab. 2:4). Aquele cuja alma é reta é um homem justo; aquele que se orgulha não
é justo e sua alma carece de retidão. Mas o justo assim é por sua fé, portanto,
somente possui fé aquele cuja alma não se ensoberbe-se. Nos tempos de Paulo, os
irmãos romanos eram, pois, humildes. Hoje é muito diferente. O Catholic Times, de 15 de junho de 1894,
nos dá uma amostra disso. O Papa disse: "Temos dado autoridade aos bispos
do ritual sírio, para que se reúnam em sínodo em Mossul", e recomendou uma
"mui fiel submissão" desses prelados, ratificando a eleição do
patriarca por meio de "nossa autoridade apostólica". Uma publicação
anglicana expressou sua surpresa, declarando: "Trata-se de uma união livre
de igrejas num plano de igualdade, ou se trata de submissão a uma cabeça suprema e monárquica?" A réplica
do Catholic Times assim se
apresentava: "Não é uma união livre e igualitária entre igrejas, mas, de
preferência, uma submissão a uma cabeça suprema e monárquica… Queremos dizer ao
nosso orador anglicano: Você não está realmente surpreso. E sabe muito bem o
que Roma reclama e sempre reclamará:
obediência. Essa é a exigência que colocamos diante do mundo, se não o
fizemos previamente."
Mas tal pretensão não
existia na época de Paulo. Nesse tempo tratava-se da igreja em Roma; agora é a igreja de Roma. A igreja em Roma era conhecida
por sua humildade e obediência a Deus. A igreja de Roma é conhecida por sua
altiva pretensão de possuir o poder de Deus, e por exigir que a ela se
obedeça.
Orai
sem cessar – O apóstolo exortou aos tessalonicenses a orarem incessantemente
(I Tess. 5:17). Não encorajava a outros a que fizessem aquilo que ele mesmo não
fazia, já que disse aos romanos que os mencionava ininterruptamente em suas
orações. Não é necessário supor que o apóstolo tinha em mente os irmãos de Roma
a cada hora do dia, visto que nesse caso ele não teria podido ocupar-se de nada
mais. Ninguém pode estar conscientemente em oração sem interrupção, mas todos
podem ser "constantes na oração", ou "perseverar em oração"
(Versão de Young de Romanos 12:12).
Isso se harmoniza com a
palavra do Salvador "sobre
o dever de orar sempre e nunca esmorecer" (Luc. 18:1). Na parábola
a que Lucas se refere em seguida, o juiz injusto reclama das insistentes
visitas da viúva pobre. Essa é uma ilustração do que constitui orar sem cessar.
Não significa que deveríamos estar todo momento em oração consciente; nesse
caso negligenciaríamos os deveres importantes, mas que jamais devemos
cansar-nos de orar.
Um
homem de oração - Esse era Paulo. Mencionava os romanos em todas as suas
orações. Ele escreveu aos coríntios: "Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito..." (1 Cor.
1:4). Aos colossenses disse: "Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando
oramos por vós," (Col. 1:3). Com mais ênfase ainda escreveu aos
filipenses, "Dou graças ao
meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por
todos vós, em todas as minhas orações..."(Fil. 1:3,4). Aos
tessalonicenses: "Damos,
sempre, graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas orações e, sem cessar,
recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da
abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus
Cristo."(I Tess. 1:2,3). e "orando noite e dia, com máximo empenho, para vos ver
pessoalmente e reparar as deficiências da vossa fé?(I Tess. 3:10). A
seu querido filho na fé escreveu, "Dou graças a Deus, a quem, desde os
meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me lembro de
ti nas minhas orações, noite e dia." (II Tim. 1:3).
Sede
sempre jubilosos - O segredo de assim ser está em "orar sem cessar
(ver I Tess. 5:16,17). O apóstolo Paulo orava tanto pelos outros que não tinha
tempo para preocupar-se consigo mesmo. Nunca vira os romanos, porém orava tão
fervorosamente por eles como pelas igrejas que havia fundado. Ao falar de seus
trabalhos e sofrimentos, diz que "pesa sobre mim diariamente, a
preocupação com todas as igrejas." (II Cor. 11:28).
"Entristecidos mas sempre alegres". Cumpriu a lei de Cristo levando as cargas dos outros. Assim
pôde ele gloriar-se na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Cristo sofreu na cruz
pelos outros, pela "alegria que lhe estava proposta". Os que são
plenamente dedicados aos outros
compartilham da alegria de seu Senhor, e
podem alegrar-se nEle.
Uma
viagem próspera - Paulo orava ferventemente para poder ter uma próspera
viagem de visita a Roma, pela vontade de Deus. Se você ler o capítulo 27 de
Atos, verá o tipo de viagem que ele teve. Aparentemente poderíamos aplicar
qualquer qualificativo a essa jornada, exceto o de próspera. Porém, não ouvimos sequer uma queixa do apóstolo. E
quem disse que não foi uma viagem bem-sucedida? "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus", portanto,
deve ter sido realmente uma viagem próspera. Quantas lamentações poderíamos
evitar se nos lembrássemos sempre que Deus sabe muito melhor que nós como
responder às nossas orações.
Dons
espirituais - Quando Cristo ascendeu ao Céu levou cativo o cativeiro e
deu dons aos homens" (Efés. 4:8). Esses dons eram dádivas do Espírito, uma
vez que Jesus falou sobre a conveniência de ir para o Céu, "porque, se Eu não for, o Consolador não virá para
vós outros; se, porém, Eu for, vo-lo enviarei." (João 16:7). Pedro
afirmou no dia de Pentecostes: "A este
Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado, pois, à
destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou
isto que vedes e ouvis." (Atos 3:32 e 33)
Esses dons são
descritos nestes termos: "Ora,
os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos
serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo
Deus é quem opera tudo em todos. A manifestação do Espírito é concedida a cada
um visando a um fim proveitoso. Porque a um é dada, mediante o Espírito, a
palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do
conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito,
dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro,
discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade
para interpretá-las. Mas um só e o mesmo
Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada
um, individualmente. (I Cor. 12:4-11).
Estabelecidos
por dons espirituais – "... Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço,
para a edificação do corpo de Cristo, Até que todos cheguemos à unidade da fé e
do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo." (Efés. 4:12,13).
Os dons do Espírito
devem acompanhar o Espírito. Tão logo os primeiros discípulos receberam o Espírito,
de acordo com a promessa, também entraram na posse dos dons. Um deles, o falar
em novas línguas, manifestou-se no mesmo dia. Deduz-se, portanto, que a
ausência dos dons do Espírito em qualquer grau notável na igreja, é prova da
ausência do Espírito. Não completamente, é claro, mas também não na medida que
Deus prometeu.
O Espírito deveria
habitar com os discípulos para sempre, por conseguinte, os dons do Espírito
devem manifestar-se na verdadeira igreja até a segunda vinda do Senhor. Como já
vimos, qualquer ausência marcante da manifestação dos dons do Espírito, é indício
de ausência da abundância do Espírito. Essa é a causa da fraqueza da igreja,
como também das grandes divisões que nela existem. Os dons espirituais
estabelecem a igreja, portanto, a igreja que não possui esses dons não pode
considerar-se firmada.
Quem
pode ter o Espírito? - Aquele que pedir com fervente desejo. Ver
Lucas 11:13. O Espírito já foi derramado e Deus nunca retirou o dom; a única
coisa que falta é que os cristãos o peçam e aceitem.
"Sou
devedor" - Isso era capital na vida de Paulo e o segredo de seu
êxito. Hoje ouvimos as pessoas dizer: "O mundo está em dívida
comigo", mas Paulo considerava ser ele mesmo devedor do mundo. No entanto,
não recebia do mundo senão açoites e abusos. Tudo o que recebera antes de
Cristo encontrá-lo, era tido como perda total. Porém, Cristo fora ao seu
encontro e Se tinha dado a ele; por conseguinte, pôde dizer: "Estou
crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim;
e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me
amou e a Si mesmo se entregou por mim." (Gál. 2:20).
Uma vez que a vida de
Cristo era a vida de Paulo, e posto que Cristo Se entregou a Si mesmo ao mundo,
Paulo tornou-se devedor ao mundo. Esse é o caso de todos aqueles que se tornam
servos do Senhor. "Porque, na verdade,
tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus,
adormeceu..." (Atos 13:36).
"... e quem quiser ser o
primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio
para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos."
(Mateus 20:27 e 28)
Trabalho
pessoal
- Predomina a erronea noção de que os trabalhos comuns são degradantes, especialmente
para um ministro do evangelho. A culpa não é toda dos ministros, mas em grande
parte de quem os cercam. Crêem eles que os ministros devem se vestir sempre
impecavelmente, e que jamais devem manchar suas mãos com trabalho manual comum.
Tais idéias não procedem da Bíblia. Mesmo Cristo foi carpinteiro; porém, muitos
de Seus seguidores professos ficariam estupefatos se vissem um ministro do
Senhor serrando e lixando pranchas, cavando na terra ou carregando
pacotes. Prevalece um falso senso de
dignidade que é oposto ao espírito do evangelho. O trabalho não produzia vergonha
nem receios em Paulo. Ele não o realizava apenas ocasional, mas cotidianamente,
enquanto se ocupava da pregação. Ver Atos 18:3 e 4. Ele disse: "Vós mesmos sabeis que estas mãos serviram
para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo." (Atos
20:34). Estava ele falando aos dirigentes da igreja quando afirmou: "Tenho-vos mostrado em tudo que,
trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do
próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber." (Verso 35)
Paulo
difamado
- Na segunda convenção internacional do Movimento de Estudantes Voluntários
Para as Missões, o tópico principal de uma das sessões vespertinas era:
"Paulo, o Grande Missionário". O orador disse que "Paulo tinha
grande facilidade para organizar o trabalho, de tal maneira que podia assumir
pessoalmente pequena parte dele".
Essa foi uma injusta e infeliz invencionice apresentada perante jovens
voluntários ao serviço missionário, já que se constitui o supra-sumo da
falsidade e é qualquer coisa, menos um elogio para o apóstolo.
Além do que foi dito,
leia o que se segue: "Nem jamais
comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de
dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós." (II Tess.
3:8). "Eu de boa vontade me gastarei e
ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma." (II Cor. 12:15).
"São ministros de Cristo? (Falo como
fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões;
em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes." (II
Cor. 11:23). "Mas, pela graça de Deus,
sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes,
trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus
comigo." (I Cor. 15:10).
A graça de Deus se
manifesta no serviço pelos outros. A graça levou Cristo a entregar-Se por nós e
assumir a forma e a condição de servo. Portanto, aquele que mais tem da graça
de Cristo é o que mais trabalha. Não recuará ante o trabalho mesmo que esse
seja de caráter mais servil. Cristo desceu
às mais baixas profundezas por amor ao homem; O que pensa, por outro lado, que
algum serviço é incompatível com sua
dignidade, sente-se muito
superior para associar-se com Cristo.
A
liberdade do evangelho - É a liberdade que Deus dá ao homem por meio
do evangelho. Este expressa o conceito divino da liberdade. É a liberdade que
se observa em a Natureza e em todas as obras de Suas mãos. É a liberdade do
vento, soprando como quer; a liberdade das flores esparzidas em todos lugares, nos
gramados e nas montanhas,; a liberdade dos pássaros, planando num céu sem
fronteiras; a liberdade dos raios solares abrindo caminho por entre as nuvens e cumes elevados. A liberdade das
estrelas no céu, singrando sem cessar o espaço infinito. A liberdade que provém
do grande Criador através de todas as Suas obras.
Desfrutando
essa liberdade agora - Foi o
pecado que produziu todo sofrimento, toda limitação e confinamento. Ele ergueu
barreiras e transformou o homem num ser mesquinho e mau. Todavia, o pecado há de ser destruído e uma vez mais a
liberdade florescerá em toda a Criação. Até mesmo agora é possível
usufruir dessa liberdade, quando o
pecado é afastado de nosso coração. O fruir dessa liberdade pela vida eterna é
o privilégio glorioso que o evangelho já oferece a cada homem. Que amante da
liberdade quererá deixar passar essa oportunidade?
Consideramos a partir
de agora a introdução ao corpo principal da epístola. Os primeiros sete versos
constituem a saudação; os oito seguintes abordam assuntos pessoais concernentes
ao próprio Paulo e aos irmãos em Roma. O verso quinze é a ligação que une a
introdução com a parte doutrinária da
epístola.
Atente para os versos
citados e você verificará que não se trata de uma divisão arbitrária, mas de
algo evidente. Se na leitura de um capítulo você anotar os diferentes temas
abordados, e as mudanças de um assunto para o outro, ficará surpreso sobre como
é fácil captar o conteúdo do capítulo e retê-lo na mente. A razão pela qual
muitos acham difícil lembrar-se do que estudam na Bíblia, é por que tentam
rememorá-lo "empacotando-o", sem prestar atenção especial aos
detalhes.
Ao expressar seu desejo
de encontrar-se com os irmãos romanos, o apóstolo se declara devedor tanto a
gregos como a bárbaros, a sábios e a
ignorantes e, portanto, disposto a pregar o evangelho também em Roma, a capital
do mundo. O verso quinze e a expressão "anunciar o evangelho"
constituem a nota predominante de toda essa epístola, e Paulo entra então no
assunto de um modo natural e espontâneo. De acordo com ele, o que encontramos a
seguir é o evangelho definido
16 Pois não me envergonho do evangelho, porque é
o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e
também do grego;
17 Visto
que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O
justo viverá por fé.
Romanos 1:16 e 17
"Não
me envergonho" – Não há
razão alguma pela qual alguém poderia envergonhar-se do evangelho. Porém,
muitos se sentem envergonhados. e a tal ponto que não estão dispostos a rebaixar-se
fazendo profissão dele. E a muitos que o professam produz vergonha patente.
Qual é a causa dessa vergonha? É o desconhecimento do que constitui o
evangelho. Ninguém que o conheça realmente ficará envergonhado dele, nem de
alguma de suas facetas.
Desejo
de poder
- Nada o homem deseja tanto quanto o
poder. Trata-se de um anseio que o próprio Deus implantou nele. Desafortunadamente,
o diabo enganou a maioria dos homens de tal modo que procuram o poder de forma
equivocada. Crêem que ele é encontrado na posse de riquezas ou de posição
política, e se lançam à busca de tais coisas. Mas elas não provêem o poder para satisfazer o
desejo que Deus implantou em nós, como demonstra o próprio fato de não
produzirem satisfação.
Nenhum homem jamais se
satisfez com o poder oriundo das riquezas ou posição. Por mais que tenha sempre
deseja mais. Ninguém acha nelas o que desejava, de forma que se afana para
conseguir sempre mais, julgando que assim satisfará o desejo do seu coração,
mas tudo em vão. Cristo é "o Desejado de Todas as Nações" (Ageu 2:7),
a única fonte de satisfação completa, já que Ele é a encarnação de todo
autêntico poder que existe no Universo: o poder de Deus. "Cristo é o poder
de Deus" (I Cor. 1:24).
Poder
e sabedoria - Sabe-se que o
conhecimento é poder. Isso depende… Se nós ativermos à frase do poeta, "o
estudo apropriado para o gênero humano é o "estudo do homem",
então, realmente, o conhecimento é qualquer coisa, menos poder.
Todo homem sabe que é pecador, que faz o que não deve; porém, esse conhecimento
não lhe confere poder para mudar seu curso de ação. Você pode apontar para alguém todas suas faltas, contudo, se não faz
mais do que isso, debilitou-o em lugar de fortalecê-lo.
No entanto, aquele que
decide, juntamente com o apóstolo Paulo, não saber nada, "senão Jesus
Cristo e Esse crucificado", possui sabedoria que é poder. "E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e
a Jesus Cristo, a quem enviaste." (João 17:3) Conhecer a Cristo é
entrar na posse do poder de Sua vida infinita. É por falta desse conhecimento
que o homem é destruído (Oséias 4:6). Porém, visto que Cristo é o poder de
Deus, é absolutamente correto dizer que o poder é o que o homem necessita; e o
único poder genuíno, o poder de Deus, se revela no evangelho.
A
glória do poder - Todos os homens honram o poder. Onde esse se manifeste,
você achará uma nuvem de admiradores. Não há ninguém que deixe de admirá-lo ou
aplaudi-lo de alguma maneira. Uma
musculatura poderosa é objeto freqüente de admiração e orgulho, quer pertença a
um ser humano, ou a um animal irracional. Uma máquina poderosa que move
toneladas sem esforço aparente, chama
sempre a atenção, assim como aquele que a construiu. O homem rico, cujo
dinheiro pode pagar o serviço de milhares, sempre tem admiradores, não
importando como o adquiriu. O homem de
ascendência nobre e posição, ou o rei de uma grande nação, têm multidões de seguidores que aplaudem seu
poder. Os homens anseiam relacionar-se com eles, já que de tal relação deriva
certa dignidade, embora o poder em si mesmo seja intransferível.
Entretanto, todo o
poder terreno é frágil e temporário, enquanto que o poder de Deus é eterno. O
evangelho é o poder, e se os homens quisessem reconhecê-lo apenas pelo que ele
é, não haveria ninguém que se envergonharia dele. Paulo disse: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de
nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu,
para o mundo." (Gál. 6:14). A razão disso é que a cruz é o poder de
Deus (I Cor. 1:18). O poder de Deus manifestado do modo que é, significa
glória: nada para envergonhar-se.
Cristo
não se envergonha - Com respeito a Cristo, lemos: "Pois,
tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por
isso, é que Ele não Se envergonha de lhes chamar irmãos." (Heb.
2:11). "Por isso, Deus não
Se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus..." (Heb. 11:16). Se
o Senhor não se envergonha de Se chamar irmão dos pobres, débeis e mortais
pecadores, o homem não tem nenhuma razão de envergonhar-se dEle. "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados
filhos de Deus..." (1 João 3:1). Envergonhar-se do evangelho de
Cristo! Poderia existir um caso pior de exaltação do eu acima de Deus?
Envergonhar-se do evangelho de Cristo, que é o poder de Deus, é uma evidência
de que aquele que assim faz se crê, realmente, superior a Deus. Parece que
rebaixa sua dignidade ao associar-se com o Senhor.
Jesus, graças Te damos
porque Tu não Te envergonhaste de tornar-Se humano, sendo nosso Criador. Graças por haveres "menosprezado a
vergonha", quando Teu corpo pendia desnudo entre o céu e a terra, cravado
no madeiro. Para Ti não havia nenhuma
folha de figueira. Nenhuma pele de animal Te cobriu nessa hora. Só medo e
escuridão. Graças por haveres sorvido até às fezes essa taça. Graças por levar
em Teu corpo a vergonha de nossos pecados.
Graças porque Tu consideras ter sido ferido "na casa de Teus
amigos" quando, em realidade, éramos "inimigos" . Graças por
termos no Céu um representante como Tu, que apesar de tudo, "não Se
envergonha de nos chamar de irmãos".
Ao contemplar essa misericórdia, sentimos vergonha por haver-Te negado
tantas vezes. Aborrecemos nosso orgulho e nos apegamos a esse amor com que Tu
nos atrais a Ti mesmo. Como o discípulo amado, aceitamos recostar nossa cabeça
em Teu peito, Tu que não tiveste onde repousar a Tua, desde a manjedoura até a
cruz. (L.B.)
Salvos
pela fé
– O evangelho é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê. "Porque
pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus."
(Efés. 2:8). "Quem crer e for batizado
será salvo..." (Mar. 16:16). "Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus, a saber, aos que crêem no Seu nome." (João 1:12). "Porque com o coração se crê para justiça e com a
boca se confessa a respeito da salvação." (Rom. 10:10) A obra de Deus é esta: que creiais
naquele que por ele foi enviado." (João 6:29). A fé que opera.
Faltar-nos-á tempo para falar daqueles que "por meio da fé, subjugaram reinos,
praticaram a justiça, obtiveram promessas, ... da fraqueza tiraram
força..." (Heb. 11:33 e 34). Os homens podem dizer: "não vejo como uma pessoa pode ser feita
justa simplesmente crendo." O que você vê não tem nenhuma transcendência:
você não é salvo pela vista, mas pela fé, já que é o Senhor quem opera a salvação. Cristo habita no coração pela fé
(Efés. 3:17), e uma vez que Ele é a nossa justiça, também "é minha
salvação, confiarei e não temerei" (Isa. 12:2). Veremos mais amplamente ilustrada
a salvação pela fé, à medida que prosseguirmos
no estudo, posto que o livro de Romanos é totalmente dedicado a isso.
"Primeiro
do judeu" - Quando Pedro, a
pedido de Cornélio – o centurião romano –
por mandado do Senhor, foi a Cesaréia para pregar o evangelho aos
gentios, suas primeiras palavras, depois de haver escutado a história de
Cornélio, foram: "Reconheço,
por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer
nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável." (Atos
10:34 e 35).
Foi a primeira vez que
Pedro percebeu essa verdade, mas não a primeira vez que isso era verdade. Tal
verdade é tão antiga quanto o próprio Deus. Ele nunca escolheu uma pessoa com
exclusão dos demais. "A sabedoria, porém,
lá do alto é ... imparcial." (Tiago 3:17). É certo que os judeus,
como nação, foram maravilhosamente favorecidos pelo Senhor, porém perderam
todos os seus privilégios simplesmente porque
supuseram que Deus os amou mais do que a qualquer outro, e que tinham
exclusividade. Ao longo de toda a sua história,
Deus tentou fazer com que compreendessem que aquilo que lhes oferecia
era para o mundo inteiro, e que tinham de ministrar aos demais a luz e os
privilégios de que participavam.
Casos como o de Naamã,
o sírio, ou dos ninivitas, a quem Jonas foi enviado, figuram entre muitos
outros por meio dos quais Deus queria ensinar aos judeus que Ele não faz
acepção de pessoas.
Então, por que o
evangelho foi pregado "primeiro ao judeu"? Simplesmente porque
estavam mais próximos . Cristo foi crucificado em Jerusalém. Ali Ele
comissionou Seus discípulos para a pregação do
evangelho. Ao ascender, disse: " Sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda
a Judéia e Samaria e até aos confins da terra." (Atos 1:8) Era
muito natural que devessem começar a pregação do evangelho no lugar e para as
pessoas que estavam mais próximas a eles. Esse é o segredo de toda ação
missionária. Aquele que não trabalha de acordo com o evangelho em sua própria casa, não fará nenhuma obra
evangélica, embora possa viajar a um
distante país.
A
justiça de Deus - O Senhor disse:
"Levantai os olhos para os céus
e olhai para a terra embaixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a
terra envelhecerá como um vestido, e os seus moradores morrerão como mosquitos,
mas a Minha salvação durará para sempre, e a Minha justiça não será anulada.
Ouvi-Me, vós que conheceis a justiça, vós, povo em cujo coração está a Minha
lei..." (Isa. 51:6 e 7). "A minha língua celebre a tua lei, pois todos os Teus mandamentos são
justiça." (Sal. 119:172)
Portanto, a justiça de
Deus é Sua lei. Não podemos nos esquecer disso. A expressão "a justiça de
Deus" ocorre freqüentemente no livro de Romanos, e defini-la de modo
diversificado e arbitrário produziu considerável confusão. Se aceitarmos a
definição dada pela Bíblia e nunca a
abandonarmos, as coisas ficarão mui simplificadas: A justiça de Deus é Sua lei
perfeita.
Justiça
e vida
- Os Dez Mandamentos, seja os que estão gravados em tábuas de pedra ou escritos
num livro, não são senão uma declaração da justiça de Deus. Justiça significa a
prática do bem, a retidão. Ela é ativa. A justiça de Deus é a Sua prática do
bem, Sua forma de ser. E posto que todos
os Seus caminhos são justiça, deduz-se que a justiça de Deus é nada menos que a
vida de Deus. A lei escrita não é nenhuma ação, mas só uma descrição da ação. É
uma descrição do caráter de Deus.
A vida e o caráter de
Deus são vistos em Jesus Cristo, no coração de quem a lei de Deus habitava. Não
pode haver justiça sem ação. E assim como não há ninguém bom, senão Deus,
infere-se que não há justiça, exceto na vida de Deus. A justiça e a vida de
Deus são uma só e a mesma coisa.
Justiça
no evangelho - "A justiça que vem de Deus se revela de fé em
fé." Onde é revelada? "No evangelho." Não se esqueça de que a
justiça de Deus é Sua lei perfeita, da qual encontramos uma declaração nos Dez
Mandamentos. Não existe conflito algum entre a lei e o evangelho. Na
realidade, não existem duas coisas
separadas tais como lei e evangelho: a verdadeira lei de Deus é o evangelho, já
que a lei é a vida de Deus e somos "salvos por Sua vida". O evangelho
revela a lei justa de Deus, posto que ele comporta a lei em si mesmo. Não pode
haver evangelho sem lei. Qualquer que ignore ou rejeite a lei de Deus, desconhece
o evangelho.
A
primeira aproximação - Jesus disse que o Espírito Santo convenceria
o mundo d0 pecado e da justiça (João 16:8). Essa é a revelação da justiça de
Deus no evangelho. "Onde não há lei, também não há transgressão."
(Rom. 4:15). O conhecimento do pecado vem pela lei (Rom. 7:7). Daí se depreende
que o Espírito convence do pecado dando a conhecer a lei de Deus. O primeiro
vislumbre da justiça de Deus tem como efeito fazer com que o homem sinta sua
pecaminosidade, algo assim como a percepção que sentimos de nossa pequenez ante
a contemplação de uma magnífica montanha. O mesmo que acontece diante da visão
da imensidão da montanha – "A Tua justiça é como as montanhas de Deus." (Sal. 36:6),
"cresce" ante nossa visão, à medida que a contemplamos. Então, o que
olha continuamente para a justiça de Deus, reconhecerá continuamente sua
pecaminosidade
A
segunda e mais profunda aproximação - Jesus Cristo é a
justiça de Deus. E Deus não enviou Seu Filho ao mundo "para que julgasse o mundo, mas para
que o mundo fosse salvo por Ele". (João 3:17). Deus não nos revela
Sua justiça no evangelho para que fiquemos encolhidos perante ela devido à
nossa injustiça, senão para que possamos receber Sua justiça e viver por ela. de
forma que nós é encolhido antes de Ele, devido a nossa injustiça, mas de forma
que nós podem levar suas justiças e viver para ela. Somos injustos e Deus
deseja que nos demos conta disso, de maneira que desejemos receber Sua justiça
perfeita. É uma revelação de amor porque Sua justiça é Sua lei e Sua lei é amor
(I João 5:3).
Assim, "se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (I
João 1:9). Quando a pregação do evangelho nos revelar a lei de Deus, nós
a rejeitarmos e a ela nos opusermos porque condena nosso curso de ação, o que
estamos dizendo é simplesmente que não
queremos que Deus coloque Sua justiça em nós.
Vivendo
pela fé – "Como
está escrito: mas o justo viverá da fé?" Cristo é "a nossa vida" (Col. 3:4). Somos "salvos
por Sua vida" (Rom. 5:10). É pela fé que recebemos a Jesus Cristo, já que Ele mora
em nossos corações pela fé (Efés. 3:17). Ao habitar em nossos corações isso
significa vida, já que do coração "procedem as fontes da vida" (Prov.
4:23).
Agora vem a palavra: "Ora, como recebestes Cristo
Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e
confirmados na fé..." (Col. 2:6 e 7). Ao recebê-Lo pela fé e andar
com Ele da mesma forma que O havemos
recebido, "andamos pela fé e não por vista".
"De
fé em fé" - Esta expressão aparentemente complexa, que foi objeto de
não pequena controvérsia, é em realidade muito simples quando permitimos que a
Escritura se explique a si mesma. No evangelho "a justiça que procede de
Deus é revelada de fé em fé. Como é escrito: Mas o justo viverá da fé."
Observe-se o paralelismo entre "de fé em fé" e "o justo viverá
da fé." Justo significa reto.
Na primeira epístola de
João 1:9 lemos que Ele (Deus), é fiel e "justo". A vida de Deus é
justiça. É Seu desejo que a nossa também seja assim, de forma que nos oferece
Sua própria vida. Essa vida se torna nossa pela fé. Da mesma maneira que respiramos, assim temos
de viver espiritualmente pela fé; e toda a nossa vida há de ser espiritual. A fé é o alento (respiração) de vida para o
cristão. Por conseguinte, do mesmo jeito que vivemos fisicamente de respiração
em respiração, deveríamos viver espiritualmente de fé em fé.
Somente podemos viver
pelo que respiramos neste momento; assim, só podemos viver espiritualmente pela
fé que temos agora. Se vivermos uma vida
de consciente dependência de Deus, Sua justiça será nossa, já que a
respiraremos continuamente. A fé nos dá força, uma vez que os que a exercitam
"tiraram força da fraqueza" (Heb. 11:34).
Dos que aceitam a
revelação da justiça de Deus "de fé em fé", se diz que "vão indo
de força em força"
(Sal. 84:7).
Não nos esqueçamos de
que é das próprias palavras da Bíblia
que temos de aprender. Toda a real ajuda que um instrutor pode dar a
alguém, no estudo da Bíblia, consiste em ensinar-lhe como fixar sua mente com
maior clareza nas exatas palavras do registro sagrado. Portanto, primeiramente,
leia o texto várias vezes. Não o faça com precipitação, mas cuidadosamente,
prestando atenção especial a cada declaração. Nem desperdice um único momento
especulando sobre o possível significado do texto. Não há nada pior do que
elucubrar sobre o significado de um texto da Escritura, para fazê-lo dizer o que alguém pensa. Ninguém pode saber mais sobre a Bíblia
do que a própria Bíblia. Ela está tão disposta a contar sua história a uma
pessoa como a qualquer outra.
Pergunte atentamente ao
texto. Examine-o uma e outra vez, sempre com um espírito reverente, de oração,
para que o texto se explique a si mesmo. Não desanime se você não for capaz de
compreender de uma só vez todo o conteúdo do texto. Lembre-se de que se trata
da Palavra de Deus e que ela é infinita em profundidade, de maneira que jamais
chegará a esgotá-la. Quando chegar a uma passagem difícil, volte atrás e considere-a
em relação ao que a precede. Não pense que lhe será possível capturar o
significado mais pleno isolando-a de seu contexto. Aplicando-se com
perseverança às palavras do texto, a fim de ficar seguro de conhecer exatamente
o que ele quer dizer, logo logo chegararemos
a gravá-lo em nossa mente; é então que começararemos a saborear alguns dos mais ricos
frutos do estudo da Bíblia. Quando menos esperarmos, brilhará nova luz dessas
passagens, e através delas, enquanto estudamos outras partes das Escrituras.
A justiça do juízo
18 A ira de Deus se revela do céu contra toda
impiedade e perversão dos homens que detem a verdade pela injustiça;
19 Porquanto o que de Deus se
pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.
20 Porque os atributos invisíveis
de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio
das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; .
Romanos 1:18-20
Toda
injustiça é condenada - A ira de Deus se manifesta desde o Céu
contra toda maldade e injustiça dos homens. "Toda injustiça é pecado..."(I João 5:17).
"mas o pecado não é levado
em conta quando não há lei." (Rom. 5:13). Portanto, a todo o mundo
manifestou suficiente quantidade da lei de Deus, como para deixar a todos sem
desculpas para o pecado. O que expõe esse verso equivale ao que encontramos no
seguinte capítulo: "Deus não faz acepção de pessoas." Sua ira se
manifesta contra toda injustiça. Não há em todo o mundo uma pessoa tão importante
que possa pecar impunemente, nem tampouco uma pessoa tão insignificante que seu
pecado passe despercebido. Deus é estritamente imparcial. "... Invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas,
julga segundo as obras de cada um..." (I Ped. 1:17).
Detendo
a verdade - Lemos "dos homens que detêm a verdade pela injustiça". Alguns concluíram superficialmente, a partir
de Romanos 1:18, que o homem pode possuir a verdade ao mesmo tempo que é
injusto. O texto não diz tal coisa. Encontramos evidência suficiente de que
isso não é assim, no fato de o apóstolo estar falando nesse capítulo
especialmente dos que não possuem a verdade; mas que a transmudaram em mentira.
Tendo perdido todo o conhecimento da verdade, estão condenados por seu pecado.
Isso significa que os
homens detêm a verdade com injustiça. Quando Jesus foi para Sua própria região
natal "não fez ali muitos
milagres, por causa da incredulidade deles." (Mateus 13:58). Porém,
no texto de que estamos nos ocupando, o apóstolo quer dizer muito mais que
isso. Como mostra claramente o contexto, quer dizer ele que os homens, por sua
perversidade, impedem o trabalho da verdade divina em suas próprias almas. Se
não fosse pela resistência à verdade, ela os
santificaria. E o resultado é:
A
justiça da ira de Deus - A ira de Deus se manifesta desde o Céu
contra toda impiedade e injustiça dos homens, e se deve ao que "de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes
manifestou". Não importa quão cegamente o homem possa pecar, persiste
o fato de que está pecando contrariamente a grande luz, pois "o que de
Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes
manifestou". Com um tal conhecimento, não somente ante seus olhos, senão
de fato em seu interior, é fácil reconhecer a justiça da ira de Deus contra
todo pecado, não importando quem o
pratique.
Embora não nos esteja
perfeitamente clara a forma pela qual o conhecimento de Deus é posto em todo
homem, podemos aceitar a constatação que o apóstolo faz desse fato. Na maravilhosa
descrição dada a Isaías sobre a loucura
da idolatria, é-nos dito que o homem que faz para si um ídolo mente contra a
verdade que ele mesmo possui. "... Seu coração enganado
o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não é mentira
aquilo em que confio?" (Isa. 44:20)
Vendo
o Invisível - É-nos dito sobre
Moisés que ele "permaneceu
firme como quem vê Aquele que é invisível." (Heb. 11:27). Não se
trata de um privilégio especial de Moisés. Todos podem fazer o mesmo. Como?
"Porque os atributos invisíveis de Deus,
assim o seu eterno poder, como também a Sua própria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas
que foram criadas." (Rom. 1:20) Nunca houve um tempo, desde
que o mundo foi criado, em que os homens não tivessem à disposição o
conhecimento de Deus.
"Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras
das suas mãos."
Salmo
19:1
Seu
eterno poder e divindade – As coisas invisíveis de Deus que são dadas a conhecer
através das coisas criadas, são Seu eterno poder e divindade. "Cristo [é o] poder de Deus e
sabedoria de Deus." (I Cor. 1:24). "Pois nEle foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre
a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer
principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.
Ele é antes de todas as coisas. nEle, tudo subsiste." (Col. 1:16 e
17) "Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir."
(Sal. 33:9) Ele é "o Primogênito de toda a criação" (Col. 1:15). É a
origem, o princípio da criação de Deus (Apoc. 3:14).
Isto é, toda a criação
provém de Jesus Cristo, que é o poder de Deus. Chamou os mundos à existência a
partir de Seu próprio Ser. Portanto, tudo quanto foi criado leva o selo do
poder externo e a divindade de Deus. Não podemos abrir nossos olhos, nem sequer
sentir a brisa fresca no rosto sem ter uma clara revelação do poder de Deus.
Somos
a "geração de Deus" - Quando Paulo repreendeu os atenienses por
sua idolatria, disse que Deus não está longe de cada um de nós. "Pois nEle vivemos, e nos movemos, e
existimos..." (Atos 17:28) Paulo estava falando a pagãos e,
portanto, o conceito era tão certo para eles como é para nós. Mencionou, então,
seus poetas, que disseram: "Porque somos geração dEle", e pôs nessa
declaração o selo da verdade ao acrescentar:
"Sendo, pois,
geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à
prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem." (verso 29)
Cada movimento do homem
e cada respiração, são obra do poder
externo de Deus. Assim, o eterno poder e a divindade são manifestos a todo o
homem. Não que o homem seja divino em
qualquer sentido, nem que possua por si mesmo algum poder. Muito pelo contrário,
o homem é como a erva. "Na
verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade."
(Sal. 39:5). O fato de o homem não ser nada por si mesmo - "menos que nada
é o que ele é", evidencia o poder de Deus que se manifesta nele.
O
poder de Deus na erva - Observe uma pequena folha de erva abrindo
caminho desde o solo, em busca da luz solar. É algo realmente frágil.
Arranque-a e comprovará que não tem foça para suster-se por si mesma. O simples
ato de desenraizá-la faz com que perca sua relativa rigidez. Depende do solo
para seu sustento e, portanto, precisa atravessá-lo e emergir. Disseque essa
folha tão minuciosamente quanto possível, e você não achará nada que indique a
posse de um poder próprio. Esfregue-a entre os dedos e veja que ela se converte
em quase nada. É uma das coisas mais frágeis na Natureza, contudo, é capaz de
erguer grandes pedras que se interponham no caminho de seu crescimento.
De onde vem sua força?
É exterior à erva. Não é nada menos que o poder da vida de Deus, operando de acordo
com Sua palavra, que no princípio ordenou: "Produza a terra
relva."
O
evangelho na criação - Já vimos como em todas as coisas criadas se
manifesta o poder de Deus. Consideramos também como "o evangelho ... é o poder
de Deus para a salvação". O poder de Deus é sempre o mesmo, uma vez que o texto nos fala
de "Seu eterno poder". O poder
que se manifesta nas coisas que Deus criou, por conseguinte, é o mesmo que opera
nos corações dos homens para salvá-los do pecado e da morte. Podemos ter assim
a certeza de que Deus designou que cada parte do Universo seja um pregador do
evangelho. Dessa maneira, não é somente certo que a partir das coisas feitas
por Deus o homem possa conhecer Sua existência, mas também o eterno poder
divino para salvá-lo. O verso 20 do primeiro capítulo de Romanos é o
desenvolvimento do dezesseis. Ele nos diz como podemos conhecer o poder do
evangelho.
As
estrelas como pregadores - "Os
céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos.
Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não
há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por
toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do
mundo." (Sal. 19:1-4).
Agora leia Romanos
10:13-18: "Porque: Todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão Aquele em quem não
creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há
quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?
Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas
nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na
nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de
Cristo. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra
se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo."
Nesse texto é dada a resposta a toda objeção
que o homem possa fazer a propósito do castigo dos pagãos. Como é dito no primeiro
capítulo, ninguém tem desculpa. O evangelho foi dado a conhecer a toda a criatura debaixo do céu. Admite-se que
o homem não pode invocar Àquele em quem não creu, e que não pode crer sobre
quem nada foi dito; e também não pode ouvir sem que alguém pregue. E aquilo que
deveria ouvir, e ao qual não pôde obedecer, é o evangelho.
Tendo afirmado isso, o
apóstolo pergunta: "Não ouviram, realmente?", e então responde
categoricamente à pergunta que acaba de fazer, citando as palavras do salmo 19:
"Claro que ouviram. 'Por toda a terra
se faz ouvir a Sua voz, e as Suas palavras, até aos confins do mundo."
Conseguintemente, podemos saber que essa palavra que os céus contam dia
a dia, é o evangelho, e que essa sabedoria que se declara uma noite após outra
é o conhecimento de Deus.
Os
céus declaram justiça - Sabendo que aquilo que os céus declaram é o
evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para a salvação, podemos seguir
facilmente a linha do salmo 19. Ao leitor acidental parece que há uma interrupção
na continuidade desse salmo. Ele começa falando dos céus e, de repente, passa a
abordar a perfeição da lei, bem como seu poder convertedor. "A lei do
Senhor é perfeita e restaura a alma." (verso 7). Entretanto, não há
nenhuma interrupção alguns. A lei de Deus é a justiça de Deus; o evangelho
revela a justiça de Deus e os céus revelam o evangelho. Então, se deduz que os
céus revelam a justiça de Deus. "Os céus anunciam a Sua justiça, e todos os povos vêem a sua glória."
(Sal. 97:6).
A glória de Deus é a Sua
bondade, já que nos é dito que devido ao pecado todos os homens estão
destituídos de Sua glória (Rom. 3:23). Portanto, podemos saber que todo aquele
que ergue com reverência seus olhos para o céu, discernindo nele o poder do
Criador e estando disposto a colocar-se nas mãos desse poder, será levada à
justiça salvadora de Deus. Até o Sol, a Lua e as estrelas – cuja luz não é mais
que uma parte da glória do Senhor –
iluminarão sua alma com tal
glória (Ver Filhos e Filhas de Deus,
pág. 19).
Sem
desculpa
- Quão evidente é, por conseguinte, que os homens não têm desculpas para suas
práticas idólatras. Quando o Deus verdadeiro Se revela a Si mesmo em tudo e dá
a conhecer Seu amor mediante o próprio poder, que desculpa poderá apresentar o
homem para não reconhecê-Lo nem adorá-Lo? Porém, é verdade que Deus faz com que
todos os homens saibam de Seu amor? Sim, tão certo como Ele Se revela,
porque "Deus é amor." Qualquer
que conheça o Senhor, saberá de Seu amor. Se tal acontece aos pagãos, quão
indesculpável é a situação daqueles que vivem em países onde o evangelho é
pregado com voz audível, a partir da Palavra escrita!
A
origem da idolatria - Por que há tantos ainda que O ignoram
completamente se Ele Se revelou de maneira tão clara? Eis a resposta: "Porque
tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram
graças..." Há algo que Deus deu como sinal e selo de Sua divindade – o sábado. Referindo-se ao homem, disse:
" Também lhes dei os Meus sábados,
para servirem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu Sou o Senhor
que os santifica." (Eze. 20:12). Isso se harmoniza com o que
aprendemos em Romanos. Vimos nesse livro que o homem sábio percebe o poder e a
divindade de Deus por meio das coisas que Ele criou; o sábado é o grande memorial
da criação. "Lembra-te do
dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua
obra. Mas o sétimo dia é o sábado do
Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua
filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das
tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra,
o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou
o dia de sábado e o santificou." (Êxo. 20:8-11). Se o homem
houvesse guardado o sábado tal como foi dado jamais existiria a idolatria,
porquanto ele revela o poder da Palavra do Senhor para criar e operar
justiça.
Nulos
em seus próprios raciocínios - O
homem se rendeu à vaidade de pensamento, e "seu coração insensato foi
obscurecido." Com respeito às especulações dos antigos filósofos, disse
Gibbon: "Sua razão era freqüentemente guiada pela imaginação, e a
imaginação por sua vaidade". O
itinerário de sua queda foi o mesmo que do anjo que se converteu em Satanás.
"Como caíste do céu, ó
estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que
debilitavas as nações!
Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus
exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades
do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao
Altíssimo." (Isaías 14:12-14).
Qual foi a causa de sua exaltação e queda? "Elevou-se
o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa
do teu resplendor..." (Eze. 28:17) Uma vez que sua sabedoria e a
glória que possuía dependiam inteiramente de Deus, não O glorificou, mas achou
que todos os seus talentos originavam-se em si mesmo; conseqüentemente, ao
desligar-se, em seu orgulho, da Fonte de luz, converteu-se no príncipe das
trevas. Assim também aconteceu com o homem.
Mudaram a verdade de Deus em mentira - "Não
há poder senão de Deus." Em a Natureza vemos a manifestação de um magnífico
poder que é, em realidade, a obra de
Deus. As diversas formas de poder que os filósofos classificam e crêem serem
inerentes à matéria, não são mais que a
atuação da vida de Deus nas coisas que Ele criou. Cristo "é antes de todas as coisas. Nele tudo
subsiste" ou se mantém (Col. 1:17). A coesão, portanto, deriva do poder
direto da vida de Cristo. A força da gravidade também, como vemos na relação
entre os corpos celestes. "Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou
estas coisas? Aquele que faz sair o Seu exército de estrelas, todas bem contadas,
as quais Ele chama pelo nome; por ser Ele grande em força e forte em poder, nem
uma só vem a faltar." (Isa. 40:26). Mas os homens observaram os
fenômenos da Natureza, e em vez de discernir neles o poder do Deus supremo, atribuíram-lhes
divindade.
Desse modo, olhando
para si mesmos e vendo quão grandes coisas poderiam alcançar, em vez de honrar
a Deus como o Doador e Sustentador de todas as coisas - Aquele em quem nos
movemos e existimos –, supuseram ser
eles próprios, por natureza, divinos. Assim mudaram a verdade de Deus em
mentira.
A verdade é que a vida
e o poder de Deus são manifestos em tudo o que Ele criou; a mentira é que o
poder que se manifesta em todas as coisas é inerente a elas próprias. O homem
põe assim a criatura em lugar do Criador.
Olhando
para dentro - Marco Aurélio, reputado como o maior dos filósofos
pagãos, afirmou: "Olhem para dentro. No interior está a fonte do bem, e
dali brotará sempre o que procuram."
Isso expressa a essencia de todo paganismo. O eu era supremo. Mas esse espírito não é exclusivo daquilo que é
conhecido por paganismo, algo muito comum em nossos dias; portanto, não é em
realidade outra coisa que o espírito do paganismo. É uma parte da adoração da
criatura em lugar do Criador. Para eles
é natural por-se em lugar dEle; e uma vez feito isso, é consequencia necessária
olharem para si mesmos como fonte da bondade, em vez de a Deus.
Quando os olhares de
homem convergem para si, qual é a única coisa que pode ver? "Porque de dentro, do coração dos
homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os
homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a
inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura." (Mar. 7:21 e 22). Disse
Paulo: "Porque eu sei que
em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum..." (Rom.
7:18). Agora, quando o homem olha para todo esse mal que está por natureza em
si, e pensa que é bom e que pode obter o bem a partir de si mesmo, o resultado
não pode ser outro senão a mais degradante maldade. Está virtualmente dizendo:
"Mal, sê tu o meu bem."
A
sabedoria deste mundo - "O mundo, em sua sabedoria, não
conheceu a Deus em Sua divina sabedoria." A agudeza de intelecto não é fé,
nem a pode substituir. Um brilhante
erudito pode abrigar a maior baixeza humana. Há alguns anos foi enforcado um
homem acusado de mais de dez crimes
brutais, o qual era ilustrado cientista e tinha ocupado alta posição na
sociedade. Instrução não é equivalente a cristianismo, embora o cristão possa
ser um homem instruído. As invenções modernas nunca salvarão o homem da
perdição. Certo filósofo moderno disse que "a idolatria não pode encontrar
seu lugar junto à arte e à cultura mais refinadas que o mundo conheceu."
Porém, os homens estavam se afundando na
maldade, tal como descreve o apóstolo na última parte do primeiro capítulo de
Romanos (Nota: O autor, escrevendo em 1895, dificilmente
poderia haver imaginado os horrores da Primeira e Segunda Guerras Mundiais,
provocadas pelos homens mais educados e cultos que o mundo havia conhecido). Até
mesmo os homens reputados como sábios eram tais como estão ali descritos. Foi o
resultado natural de buscar a justiça em si mesmos.
Nos
últimos dias - Se quisermos ver uma descrição do mundo nos últimos
dias, devemos ler os últimos versículos do primeiro capítulo de Romanos. Os que
creem num milenio de paz e justiça antes da vinda do Senhor, acha-los-ão muito chocantes; e oxalá seja isso para seu
próprio bem. Leia cuidadosamente a lista de pecados e logo verá como ela
corresponde exatamente ao seguinte: "Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os
homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores,
desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis,
caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos
dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe,
entretanto, o poder." Tudo isso provêm do eu, a autêntica fonte do mal que
Paulo atribuiu aos pagãos. Essas são as obras da carne (Gál. 5:19-21). São o
resultado natural de confiar no eu.
Apesar da declaração do apóstolo, são bem poucos os que crêem que esse
estado de coisas chegará a ser geral, especialmente entre aqueles que fazem
profissão de piedade. Porém a semente que produz essa colheita está já semeada
em todo lugar. O papado, o "homem do pecado, o filho da perdição,
opondo-se e levantando-se contra tudo o que se chama Deus, ou que se
adora", é a força mais poderosa no professo cristianismo; seu poder
aumenta dia a dia. Como progride dessa maneira? Nem tanto por méritos próprios
como pela cega aceitação de seus princípios por parte dos professos
protestantes. O papado se exaltou acima de Deus ao tentar mudar Sua lei (Dan. 7:25).
Ousadamente aceitou o dia de festa pagão de adoração ao Sol – o domingo [sunday ou dia do Sol, em inglês] – em
lugar do sábado do Senhor, o memorial da criação. Ele assinala desafiadoramente
essa mudança como selo de sua autoridade. A maioria dos protestantes segue viajando
nesse trem, aceitando uma instituição que coloca o homem acima de Deus; o
símbolo da justificação pelas obras em lugar da justificação pela fé. Quando os
professos cristãos aceitam ordenanças humanas apesar do expresso mandamento do
Senhor, e sustentam sua instituição evocando os Pais – homens educados na
filosofia do paganismo – a execução de todo mal que seus corações possam
imaginar não é mais que o passo seguinte no caminho descendente. "Quem tem
ouvidos ouça."
Capítulo 2
O
Pecado de Outros,Também é Nosso
"Bem-aventurado o homem que não anda no
conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na
roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua
lei medita de dia e de noite." (Sal. 1:1 e 2)
"Filho meu, se aceitares as minhas
palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à
sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e, se
clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria
como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o
temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da Sua boca
vem a inteligência e o entendimento." (Prov. 2:1-6).
Aqui encontramos o segredo para entender a Bíblia: estudo e meditação
aliados a um fervente desejo de conhecer a vontade de Deus com o propósito de
cumpri-la. "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, conhecerá a respeito da
doutrina..." (João 7:17). A revisão e o repasse são primordiais para se
conhecer a Bíblia. Não é que haja um volume de estudo suficiente que possa
prescindir da guia do Espírito Santo, mas que o Espírito Santo testifica
precisamente através da Palavra.
Uma Olhada Retroativa
Neste estudo do livro de Romanos queremos
assimilar tanto quanto seja possível daquilo que já aprendemos. Daremos, pois,
uma vista geral do primeiro capítulo como um todo. Já vimos que é possível
reconhecer o seguinte esquema:
·
versículos 1 a 7; saudações e exposição sumária de todo o
evangelho.
·
versículos 8 a 15:
interesse pessoal de Paulo nos romanos e seu senso de obrigação para com eles e
todos os homens.
·
versículos 16 e 17: o que
é e o que comporta o evangelho.
·
versículos 21 a 23:
corrupção da sabedoria.
·
versículos 24 a 32: resultado
da ingratidão humana e do esquecimento de Deus.
Uma
cuidadosa leitura do capítulo exibe-nos a idéia principal: Deus, mediante a
criação, deu-Se a conhecer a toda alma, e até o mais degradado pagão se sente
culpado e digno de morte por sua maldade. "Ora,
conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais
coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim
procedem." (verso 32). "Portanto, és inescusável, ó homem..." Essa idéia diretriz contida no primeiro
capítulo deveria estar bem presente na mente antes de se iniciar o estudo do
segundo capítulo, porquanto esse é uma continuação do primeiro e depende dele.
Uma Visão Mais
Abarcante
1
Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?
2
Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram
confiados os oráculos de Deus.
3 E
daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de
Deus?
4 De
maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem, segundo está
escrito: Para seres justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando
fores julgado.
5
Mas, se a nossa injustiça traz a lume a justiça de Deus, que diremos?
Porventura, será Deus injusto por aplicar a sua ira? (Falo como homem.)
6
Certo que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo?
7 E,
se por causa da minha mentira, fica em relevo a verdade de Deus para a sua
glória, por que sou eu ainda condenado como pecador?
8 E
por que não dizemos, como alguns, caluniosamente, afirmam que o fazemos:
Pratiquemos males para que venham bens? A condenação destes é justa.
9 Que
se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos
demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado;
10
como está escrito: Não há justo, nem um sequer,
11
não há quem entenda, não há quem busque a Deus;
Romanos
2:1 a 11
Reconhecendo a culpa – A
veracidade da afirmação do apóstolo é facilmente verificável no que diz respeito
aos pagãos e suas obras, no sentido de que eles sabem que seus atos são dignos
de morte. Quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, tiveram medo de
encontrar-se com Deus e se esconderam. O temor é uma conseqüência essencial da
culpa e a prova de sua existência. "Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no
amor." (I João 4:18). "Fogem os perversos, sem que ninguém os
persiga; mas o justo é intrépido como o leão." (Prov. 28:1). Se os pagãos
não soubessem de sua culpa, não esperariam castigo por roubar ou matar, nem se
armariam para defender-se.
Uma acusação demolidora – É incrivelmente engenhosa a maneira pela
qual o apóstolo esboça a acusação do primeiro versículo. O primeiro capítulo é
dedicado aos pagãos. Todos concordarão com a afirmação apostólica de que eles
são culpados da mais abominável maldade. A exclamação quase involuntária que
nos vem à mente é: "Que pena que não tenham maior conhecimento!"
Porém, o apóstolo replica: "Têm eles tal conhecimento", ou ao menos,
têm a oportunidade de obtê-lo e sabem que não estão agindo bem; assim, são
imperdoáveis. À parte do que cada um pensa sobre a responsabilidade dos pagãos,
todos estão de acordo em que suas práticas são condenáveis.
Então vem a esmagadora
réplica: " Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer
que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas..." Aí
fomos apanhados; não temos escapatória. Se temos a sabedoria necessária para
condenar as ações ímpias dos pagãos, então, por esse mesmo juízo, reconhecemo-nos
sem desculpas por nossas más ações.
Todos igualmente culpados – "Praticas as próprias coisas que
condenas." Está muito claro que
todo aquele que sabe o bastante para condenar o mal em outro, fica sem desculpa
para seus próprios pecados, porém, nem todos se dão conta imediata de que
aquele que julga a outro faz as mesmas coisas. Leia, pois, uma vez mais, os
últimos versos do primeiro capítulo e compare os pecados dessa lista com os
enumerados em Gálatas 5:19 a 21. É evidente que as coisas que os pagãos praticam
e mediante as quais podemos prontamente ver que são culpáveis, não são outras
que as obras da carne. São pecados que vêm "de dentro, do coração dos
homens" (Marcos 7:21 a 23). Todo aquele que esteja incluso na palavra
"homem", é sujeito às mesmas coisas. "O Senhor olha dos céus; vê
todos os filhos dos homens; do lugar de Sua morada, observa todos os moradores
da Terra, Ele, que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas
obras." (Sal. 33:13 a 15)
Todos estão condenados – Posto que todos os homens sejam participantes de uma
mesma natureza, é evidente que qualquer um que condene outro por má ação
sentencia-se, uma vez que a verdade é que todos têm o mesmo mal em si mesmos,
mais ou menos desenvolvido. O fato de saberem o bastante para julgar que uma
coisa é má, testifica que eles próprios merecem o castigo que crêem deva ser
aplicado àquele a quem julgam.
Simpatia, não condenação – O que rouba, mais de uma vez grita: "Peguem o
ladrão!", indicando astutamente outro homem com o fim de alhear a atenção
de si mesmo. Alguns condenam o pecado nos demais a fim de dissipar a suspeita
de que eles mesmos são condenáveis pelas coisas que reprovam. Por outro lado,
freqüentemente o homem tenta desculpar os pecados aos quais se sente mais inclinado,
condenando aqueles para os quais não tem especial disposição. Porém, é
realmente culpado deles em razão de sua natureza humana. Visto que a carne de todo homem é a mesma,
deveríamos agir com humildade e não com desprezo quando ouvimos acerca do
cometimento de um grande pecado, visto ser essa a real imagem do que há em
nossos corações. Em vez de dizer: "Graças Te dou, ó Deus, porque não sou
como os demais homens", deveríamos levar as cargas dos que erram, cuidando
de nós mesmos para que não suceda sermos também tentados. Repetidamente o
homem, cuja debilidade nos sentimos tão inclinados a condenar, não caiu tão
baixo como sucederia conosco se fôssemos tentados da mesma maneira e em grau
semelhante.
Clamor contra o pecado – No livro O Peregrino, quando Loquaz
deixou que Fiel decidisse o tema da conversa, esse propôs a seguinte questão:
"Como se manifesta a graça de Deus no coração do homem?" O autor da obra (John Bunyan) prossegue
nestes termos:
Fiel: Percebo que nosso tema de
conversação deve ter relação com o poder da graça. Bem, esse tema é muito bom.
Vou responder-lhe com grande contentamento.
Em resumo, esta é a minha opinião: Primeiramente, quando a graça de Deus
está no coração, gera ali um clamor contra o pecado. Em segundo lugar, um aborrecimento
do pecado...
Loquaz reage. Como? Que diferença há entre o clamor contra o pecado e seu
aborrecimento?
Fiel: Muita, em verdade! Um homem pode clamar contra o pecado porque assim
exige a situação, mas carecer de um
autêntico aborrecimento do mesmo. Já presenciei grandes demonstrações de clamor
do púlpito contra o pecado; pecado, não obstante, que pode muito bem residir em
seu coração, em sua casa e em sua conversação. A mulher que tentou José bradou
como se houvesse sido um padrão de castidade. Todavia, bem sabemos de sua
disposição para praticar atos impuros com ele.
Um
agudo discernimento entre o bem e o mal e uma enérgica denúncia do pecado
jamais justificarão o homem. Pelo contrário, contribuem para agravar sua
condenação. É um fato lamentável que muitos dos assim chamados reformadores de
nossos dias parecem crer que a obra do evangelho consiste toda ela em denunciar
as más práticas dos outros. Porém, um detetive não é um ministro do evangelho.
Juízo segundo a verdade – "Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra
os que praticam tais coisas." "Alto!", diz alguém, "não
estou certo sobre se 'sabemos' tal coisa." Bem, você pode facilmente
sentir-se seguro de que:
1.
Deus existe.
Sobre isso estamos de acordo.
2.
Ele é a fonte
donde procede todo ser criado.
3.
Toda criatura
é absolutamente dependente dEle. "Nele vivemos, nos movemos e
existimos."
4.
Visto que
toda vida depende dEle, é natural que a continuação da vida do homem dependa de
sua harmonia e união com Deus.
5.
Portanto, o próprio
caráter de Deus deve ser a norma de juízo.
6.
Deus mesmo é
a verdade. "NEle não há injustiça."
7.
Deus Se
revelou – a Si mesmo e à Sua justiça – a todos os homens. "O Senhor fez
notória a Sua salvação; manifestou a Sua justiça perante os olhos das nações."
(Sal. 98:2)
8.
Logo, todo
homem, grande ou pequeno, fica sem desculpas para o seu pecado.
9.
Conseguintemente,
quando Deus julga a todos os homens, sem exceção, Seu juízo é de acordo com a
verdade. E a Terra se verá constrangida a unir-se ao Céu no clamor: "Tu és
justo, Tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas."... Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso,
verdadeiros e justos são os Teus juízos." (Apoc. 16: 5 e 7)
Sem escapatória – Ninguém deve pensar que pode escapar ao justo juízo de
Deus. Comumente, são os mais ilustrados que crêem poder safar-se. É-nos tão
fácil pensar que nosso grande conhecimento do bem e do mal nos será contado por
justiça; tão fácil convencer-nos de que em virtude de nossa condenação dos
pecados alheios, o Senhor achará que jamais poderíamos ser culpados desses
pecados... Porém, em realidade, isso não faz mais do que aumentar nossa
condenação.
O primeiro capítulo de Romanos solapa desde as bases todos os apoios
sobre os quais o homem tenta sustentar-se. Se a "classe baixa" é tida
justamente por culpável, não há escape para a "classe superior".
"Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão
escondidas, quer sejam boas, quer sejam más." (Ecles. 12:14).
A bondade de Deus conduz ao arrependimento –
"Ou desprezas a riqueza da sua bondade,
e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz
ao arrependimento?" Deus é a perfeição da pureza e da santidade; o homem é
completa-mente pecaminoso. Deus tem conhecimento de todo pecado, mas não despreza
o pecador. "Porquanto Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que
julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele." (João 3:17).
Cristo disse: "Se alguém ouvir as Minhas palavras e não as guardar, Eu não
o julgo." (João 12:47)
Em tudo quanto o Salvador disse e fez, não fez nada mais do que
representar o Pai. Deus "é longânimo para conosco", "e tende por
salvação a longanimidade de nosso Senhor (II Ped. 3:9 e 15), É impossível que
alguém considere a bondade e a paciência de Deus sem humilhar-se e ser levado
ao arrependimento. Quando consideramos a ternura com que Deus nos trata, é-nos
impossível manifestar aspereza para com nossos semelhantes. Se não julgarmos,
não seremos julgados (Luc. 6:37).
O arrependimento é um dom – "Porque
pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de
Deus." (Efés. 2:8). "O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a
quem vós matastes, pendurando-O num madeiro. Deus, porém, com a Sua destra, O
exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a
remissão de pecados." (Atos 5:30 e 31). Porém, não foi somente a Israel que Deus deu arrependimento mediante Cristo.
"DEle todos os profetas dão testemunho de que, por meio de Seu nome, todo
aquele que nEle crê recebe remissão de pecados." (Atos 10:43). Tão
claramen-te Deus fez conhecer isso que até os judeus exclusivistas se viram
obrigados a exclamar: "Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o
arrependimento para vida." (Atos 11;18).
Estímulos ao arrependimento – A bondade de Deus leva o homem ao arrependimento. Portanto, toda a Terra
está cheia de estímulos para que o pecador se arrependa, já que "a Terra
está cheia da bondade do Senhor" (Sal. 33:5). "A Terra, Senhor, está cheia da Tua bondade..." (Sal.
119:64) Pode-se conhecer a Deus mediante
Suas obras. Deus é amor. Toda a criação revela o amor e a misericórdia de Deus.
Não devemos tentar corrigir as Escrituras e dizer que a bondade de Deus tenda a levar o homem ao arrependimento.
A Bíblia diz que ela o faz, que guia
ao arrependimento tão seguramente quanto o fato de que Deus é bom. Porém, nem
todos se arrependem. Por quê? Porque desprezam as riquezas da benignidade,
paciência e benevolência divinas, e escapam da misericordiosa guia do Senhor. Entretanto,
todo aquele que não resistir ao Senhor será guiado com segurança ao
arrependimento e salvação.
Acumulando ira sobre si – Vimos no primeiro capítulo que "a ira de Deus se
revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens..." Portanto,
todos os que pecam estão acumulando ira sobre si mesmos. Deus é verdadeiro no
juízo. O homem recebe tão-somente por aquilo que cometeu. Deus não é
arbitrário. Não baixou decretos caprichosos de forma que todo o que os viole
seja objeto de Sua vingança. Não! O castigo dos ímpios será o resultado de sua
própria escolha. Deus é a única fonte de vida. Sua vida é paz. Quando o
homem a rechaça, a única alternativa é
ira e morte. "Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o
temor do Senhor; não quiseram o Meu conselho e desprezaram toda a Minha
repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios
conselhos se fartarão. Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua
impressão de bem-estar os leva à perdição." (Prov. 1:29-32) A aflição e a
morte estão ligadas ao pecado; quando o homem repudia a Deus, é isso o que ele
escolhe.
"Conforme suas obras" – Os incrédulos
costumam afirmar que não é justo que Deus condene o homem simplesmente porque
esse não crê em certas coisas. Porém, Deus não faz isso. Não é possível
encontrar em toda a Bíblia nem uma só palavra portando o propósito de julgar um
homem de acordo com sua crença. Encontramos em muitos lugares da Bíblia a
afirmação de que todos serão julgados de acordo com suas obras. "Porque o
Filho do Homem há de vir na glória de Seu Pai, com os Seus anjos, e, então,
retribuirá a cada um conforme as suas obras." (Mat. 16:27) "E eis que
venho sem demora, e Comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um
segundo as suas obras." (Apoc. 22:12). Ele "julga segundo as obras de
cada um" (I Ped. 1:17).
O homem que diz que sua obra é justa, coloca-se a si mesmo como juiz em
lugar de Deus, que diz que todo o homem está errado. Apenas Deus é juiz e Ele
julga em estrito acordo com a obra do homem; então, a obra do homem é
determinada por sua fé. " A obra de Deus é esta: que creiais nAquele que
por Ele foi enviado." (João 6:29).
Não é prerrogativa do homem julgar-se a si mesmo e concluir que sua obra é
justa. O que lhe toca, por outro lado, é confiar unicamente na bondade e
misericórdia do Senhor, a fim de que Sua obra seja feita em Deus.
Imortalidade e vida eterna – Deus
concederá a vida eterna àqueles que buscam glória, honra e imortalidade.
"... Nosso Salvador Cristo Jesus... trouxe à luz a vida e a imortalidade,
mediante o evangelho." (II Tim. 1:10). A vida e a imortalidade são duas
coisas diferentes. Todo aquele que crê no Filho tem a vida eterna. "E a
vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste." (João 17:3)
Temos vida eterna tão logo conhecemos ao Senhor, porém, não podemos ter a
imortalidade até que o Senhor regresse, no dia final. "Eis que vos digo um
mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento,
num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará,
os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é
necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o
corpo mortal se revista da imortalidade." (I Cor. 15:51 a 53)
Devemos buscar a imortalidade; isso é em si mesmo uma prova de que
ninguém a possui agora. Posto que Deus a trouxe à luz pelo evangelho, é
evidente que só e exclusivamente mediante o evangelho pode-se possuir imortalidade,
de maneira que nunca a terão os que não o aceitam.
Tribulação e angústia - Os que pecam são filhos da ira (Efésios 2:3). O pesar e
a ira, a tribulação e a angústia, alcançarão com certeza os que fazem o mal.
Porém a tribulação e a angústia terão um final. O fato de que somente os que
são de Cristo recebem – em Sua vinda – a imortalidade, demonstra que todos os
demais deixarão finalmente de existir. Haverá tormento em relação ao castigo
dos ímpios, porém esse, dure quanto durar, chegará ao fim com a destruição dos
malfeitores. A indignação divina terá um final. "... Porque daqui a bem
pouco se cumprirá a Minha indignação e a Minha ira, para a consumir."
(Isaías 10:25) "Vai, pois, povo Meu, entra nos teus quartos e fecha as
tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Pois eis que o Senhor sai do Seu lugar, para
castigar a iniqüidade dos moradores da terra; a terra descobrirá o sangue que
embebeu e já não encobrirá aqueles que foram mortos." (Isaías 26:20 e 21) "Não
repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a Sua ira." (Salmo
103:9) Sua ira cessará, não por que Ele
Se tenha reconciliado com a iniqüidade, mas porque a iniqüidade, junto com seus
praticantes, chegará ao fim.
A todos – A tribulação e a angústia virão "sobre todos os que praticam o
mal", e glória, honra e paz a "qualquer que faça o bem". Ninguém
é esquecido. Não existe uma alma tão pobre e ignorante que seja passada por
alto, nem tampouco ninguém tão poderoso
e instruído que escape. A riqueza e a posição carecerão de influência naquele
tribunal. Deus Se revelou tão claramente que toda alma teve a oportunidade de
conhecê-Lo. "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que
detêm a verdade pela injustiça." Observe que Sua ira é dirigida contra o
pecado. Somente aqueles que se apegaram ao pecado a sofrerão; somente os que
não permitiram que Deus lhes expiasse os pecados. Assim fazendo, na eliminação
final do pecado, serão inevitavelmente extirpados com ele.
Primeiramente do judeu – A afirmação é bastante para ilustrar que Deus não faz
acepção de pessoas. Com efeito, o apóstolo declara, como conclusão necessária,
que "Deus não faz acepção de pessoas". A expressão
"primeiramente" nem sempre se refere ao tempo. Falamos do 'primeiro-ministro'
de um país não por que não houvesse outros ministros antes dele, mas porque ele
é o principal. O "primeiro da classe" significa o melhor aluno. Os
judeus foram os que tiveram a maior revelação, portanto, é justo que sejam os
primeiros no juízo.
O texto, não obstante, mostra que Deus não confere trato especial aos
judeus em relação a outros homens. Se a glória, a honra e a paz chegam
primeiramente para o judeu, o mesmo acontece com a ira, a tribulação e a
angústia. A questão não é: "De que nacionalidade é?", mas "o que
fez?" Deus julgará a cada um segundo as suas obras, já que não há
"acepção de pessoas para com Ele".
Umas poucas palavras bastarão para relembrar o que temos estudado até
aqui. O primeiro capítulo de Romanos pode resumir-se como o conhecimento da
condição de quem não conhece a Deus e de como perderam esse conhecimento,
aliado ao fato de que carecem totalmente de desculpa. Então, quando estamos
dispostos a levar, horrorizados, as mãos à cabeça e condená-los por sua maldade,
o apóstolo se volta para nós e fecha nossa boca com a cortante afirmação:
"Portanto, és indesculpável, ó homem, quando
julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te
condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas."
O
segundo capítulo mostra que todos terão que se ver com o justo juízo de Deus,
porque "não há acepção de pessoas para com Deus". Assim vemos a
confirmação do fato da imparcialidade de Deus, mediante a comparação de ambas
as classes no juízo.
12
Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e
todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados.
13
Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os
que praticam a lei hão de ser justificados.
14
Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de
conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.
15
Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes
também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou
defendendo-se,
16 No
dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de
conformidade com o meu evangelho.
Romanos 2: 12 a16.
"Sem lei" e "na lei"– Embora seja correto que quando vier o Senhor pela segunda vez, não haverá
ninguém sobre a Terra que não tenha ouvido a pregação da palavra, é um fato que
milhões e milhões morrerão sem saber nada da Bíblia. Trata-se daqueles aos quais
o apóstolo como estando "sem lei". Porém, fica claro que de nenhuma
forma estão sem lei, mas somente sem a lei escrita. Nos versículos seguintes é
afirmado que eles têm certo conhecimento da lei, como prova também o fato de
que são tidos por pecadores; sabemos que o "mas o pecado não é levado em
conta quando não há lei". (Romanos
5:13)
Todo pecado é castigado –
Tenham eles a lei escrita ou não, todos são considerados pecadores. "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e
perversão dos homens..." (Romanos 1:18)
É dito que os pagãos não têm desculpas; e se aqueles que não possuem a lei
escrita são indesculpáveis, os que a têm ao alcance das mãos, desde logo, são
mais inescusáveis. Deus é justo. "Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam
tais coisas." (Romanos 2:2) Assim, todo o que peca, seja com a lei ou sem
ela, deve ser castigado.
Ficou
demonstrado que "sem lei" não significa sem nenhum conhecimento de
Deus. O primeiro capítulo estabelece essa verdade. O problema de muitos que
lêem essa afirmação, segundo a qual os homens serão castigados igualmente - o
que não lhes parece justo -, é que se esquecem, ou ignoram, o conteúdo do
primeiro capítulo. É um grande erro tomar isoladamente um versículo da Bíblia,
separando-o de seu contexto.
Perecerão – Essa
será a sorte dos ímpios. O apóstolo Pedro nos diz que os céus e a Terra estão
"entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e
destruição dos homens ímpios" (II Pedro 3:7). O que significa
"perecerão"? Exatamente o contrário de existir para sempre. Em certa
ocasião, alguns homens falaram a Jesus sobre os galileus cujo sangue Pilatos
mesclara com seus sacrifícios. A resposta de Cristo foi: "Se, porém, não
vos arrependerdes, todos igualmente perecereis." (Lucas 13:1-3) "Os
ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do Senhor serão como o viço das
pastagens; serão aniquilados e se desfarão em fumaça." (Salmo 37:20).
Assim, a afirmação de que aquele que peca perecerá significa que morrerá, que
será totalmente extinto; "serão como se nunca tivessem sido."
(Obadias 16)
Estrita imparcialidade – Implica
em estrita justiça. Os pecadores serão castigados, vivam eles em terras pagãs
ou nas chamadas cristãs. Porém, ninguém será julgado por aquilo que não
conheceu. Deus não castiga a ninguém pela violação de uma lei da qual esse não
tenha tido conhecimento, nem o tem por responsável pela luz que não brilhou
sobre ele. É evidente que os que têm a lei devem possuir conhecimento de muitas
coisas que não estão ao alcance de quem não a desfruta em forma escrita. Todo
homem tem luz suficiente para saber que é um pecador; todavia, a lei escrita
oferece a quem tem o conhecimento muitos pormenores que escapam à percepção de
quem não a tem.
Portanto,
Deus, em Sua justiça, não considera esses últimos responsáveis pelas muitas
coisas pelas quais serão julgados os primeiros. "Assim, pois, todos os que
pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram
mediante lei serão julgados." (Romanos 2:12)
Quem repeliu a luz, seja em que medida for, é naturalmente culpado.
A raiz do pecado – Parece injusto a alguns que aqueles que desfrutaram de
uma luz comparativamente pequena tenham de sofrer a morte por seus pecados, da
mesma forma que a merecerão aqueles que pecarão contra uma luz maior. A
dificuldade ocorre porque não consideram apropriadamente o que é, em realidade,
o pecado. Somente Deus é bom (Lucas 18:19). Ele é a fonte da bondade. Quando a
bondade aparece no homem, seja de que forma for, trata-se unicamente da obra de
Deus nele.
Porém, Ele é também fonte de vida. Toda vida tem nEle sua origem (Sal.
36:9). A vida de Deus é justiça, de maneira que não pode existir qualquer
justiça à margem da vida de Deus. Fica então evidente que se alguém rejeita a Deus, aliena-se
totalmente da vida. Não importa que tenha tido relativamente pouco conhecimento
de Deus; se repele a luz, rechaça a Deus e a vida com Ele. Ao repudiar o pouco
que conhece de Deus, demonstra que em qualquer caso se contraporia a Ele.
"Tu
és homem" -
17 Se, porém, tu, que tens por sobrenome
judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;
18 que
conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei;
19
que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram
em trevas,
20
instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria
e da verdade;
21
tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que
pregas que não se deve furtar, furtas?
22
Dizes que não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos
e lhes roubas os templos?
23 Tu,
que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
24
Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios
por vossa causa.
Romanos
2:17-24
Um
pretenso judeu – Descartarão os assim declarados cristãos esta
parte da carta aos Romanos, tendo-a como inaplicável a eles pelo fato de ser
dirigida aos professos judeus? De
maneira alguma. É precisamente aos cristãos professos que o apóstolo se refere.
Leia a descrição: "... repousas na lei, e te glorias em
Deus; que conheces a Sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo
instruído na lei; que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se
encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei
a forma da sabedoria e da verdade."
A quem se dirige Paulo? A todo aquele que se sente qualificado para
ensinar outros no caminho do Senhor.
"Sobrenome judeu" – É preciso prestar-se atenção ao fato de que o apóstolo
não diz "tu que és judeu", mas "tu que te chamas
judeu". As pessoas nem sempre são
como chamadas e nem o que dizem ser. Começando pelo verso 17, o apóstolo
estabelece a questão de quem é judeu. Antes de chegar ao final do capítulo,
ver-se-á que o emprego da palavra "sobrenome" ou "chamado",
significa que aquele a quem se dirige nos versículos seguintes não é realmente um
judeu, e o Senhor não o considera como tal.
Pretensão de ser judeus – Lemos em Apocalipse 2:9: "Conheço... a blasfêmia
dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de
Satanás." E, "farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás,
desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os
farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que Eu te amei." O verso
anterior nos mostra que ser realmente judeu representa uma honra tão grande, que
muitos iriam pretendê-la falsamente. Entretanto, os que hoje conhecemos como
judeus têm sofrido o desprezo da maior parte do mundo durante centenas de anos.
Desde que se escreveu o Novo Testamento, em nenhum momento nem lugar
teve-se como algo desejável ser chamado judeu, na acepção atual do termo. Os
judeus nunca usufruíram tal honra, de
forma a suprir as expectativas de alguém ao ser ele chamado assim.
Amiudadamente há e tem havido grandes vantagens em ser chamado cristão, e
muitíssimas pessoas têm sustentado essa falsa pretensão a par dos benefícios
sociais ou financeiros que traz.
Judeu e cristão – Não
forçamos, em absoluto, o texto se considerarmos que ao dizer "judeu"
significa o que hoje entendemos por "cristão". Isso se torna evidente
ao compreendermos em que consiste realmente o ser judeu. Há evidência mais que
abundante de que desde o princípio era aquele que cria em Cristo. Disse o
Senhor Jesus acerca do cabeça dessa raça: "Abraão, vosso pai, alegrou-se
por ver o Meu dia, viu-o e regozijou-se." (João 8:56) Creu no Senhor e
isso lhe foi contado por justiça. Porém, a justiça vem somente pelo Senhor
Jesus. Moisés, o grande dirigente judeu, "considerou o opróbrio de Cristo
por maiores riquezas do que os tesouros do Egito..." (Heb. 11:26). Os judeus
rebeldes, no deserto, tentaram e rejeitaram a Cristo (I Cor. 10:9). Quando
Cristo veio em carne, foram "os Seus" aqueles que não O receberam
(João 1:11). E, finalmente, Cristo disse que ninguém podia crer nos escritos de
Moisés a menos que cresse nEle (João 5:46 e 47). Portanto, salta à vista o fato
de que ninguém é ou foi jamais um verdadeiro judeu, exceto se crer em Cristo.
Aquele que não é judeu, certamente pertence "à sinagoga de Satanás".
"A salvação vem dos judeus" – Jesus disse à mulher samaritana, junto ao poço de Jacó: "Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus." (João 4:22) O próprio Cristo "segundo a carne, veio
da descendência de Davi" (Rom. 1:3) e era, por conseguinte, judeu;
"... Não existe nenhum outro nome... pelo qual importa que sejamos salvos."
(Rom. 1:3) Nenhuma outra nação na Terra teve um nome tão exaltado. Ninguém foi
tão favorecido por Deus como o povo judeu. "Pois
que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso
Deus, todas as vezes que O invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos
e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?" (Deut.
4:7 e 8)
Repousando na lei – Como afirma o último verso, aos judeus foi confiada a
lei mais perfeita que o Universo podia conhecer: a Lei de Deus. Ela era chamada
de "o testemunho", já que dava testemunho contra eles. Não lhes foi
ensinado que podiam obter justiça a partir dela, por mais completa que a lei
fosse, mas o contrário. Devido a ser tão perfeita e eles pecadores, nada lhes
podia trazer diferente de condenação. Estava prevista para levá-los a Cristo, o
único em quem poderiam achar a perfeita justiça que a lei requer. "A lei
suscita a ira" (Rom. 4:15) e somente Cristo salva da ira. Porém, o judeu "repousava
na lei" e por ela, descansava no pecado. "Consideravam-se
justos" (Lucas 18:9). Não encontraram a justiça "... porque [essa]
não decorreu da fé, e sim como que das obras." (Rom. 9:31 e 32)
"... Te glorias em Deus" – Há formas muito distintas de se gloriar em Deus (Sal. 34:2). Em lugar de
gloriar-se na salvação do Senhor, os judeus se gloriavam de seu conhecimento
superior de Deus. Tinham-no, verdadeiramente, mais que os outros, porém nada
possuíam que não houvessem recebido e, não obstante, gloriavam-se como se esse
não fosse o caso. Louvavam a si mesmos em vez de glorificar a Deus pelo
conhecimento que possuíam e se colocavam assim na mesma posição que os pagãos,
os quais "tendo conhecimento de Deus, não O
glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças;
antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios..." (Rom. 12:1) Quando você se sentir inclinado a
censurar os judeus pela vaidade de se gloriarem, lembre-se de como se tem
sentido amiudadamente, comparando-se com os habitantes das terras pagãs e com
as classes mais "baixas" de sua própria terra.
A vontade de Deus – Sua Lei – O apóstolo diz que o judeu conhece a vontade de Deus
porque está instruído na lei. Com isso vemos que a lei de Deus é Sua vontade.
Não é preciso insistir nesse ponto. A vontade de um governante se expressa em
suas leis. Quando ele é absoluto, sua vontade é lei. Deus é um governante
absoluto, embora não arbitrário, e visto que Sua vontade é a única regra de
direito, deduz-se que ela é Sua lei. Porém, Sua lei está resumida nos Dez
Mandamentos; portanto, esses contêm uma declaração sumária de Lei de Deus.
A forma da ciência e da verdade - Embora os Dez Mandamen-tos contenham uma declaração da
vontade de Deus, que é a perfeição da sabedoria e a verdade, são apenas uma
declaração e não a própria substância, assim como a fotografia de uma casa não
é a casa, embora possa ser uma perfeita reprodução dela. As meras palavras
escritas num livro ou gravadas em tábuas de pedra carecem de vida; porém,
sabemos que a Lei de Deus é vida eterna. Somente em Cristo podemos encontrar a
lei viva, posto que Ele é a única manifestação da Divindade.
Qualquer um que possua a vida de Cristo atuando nele, tem a perfeita lei
de Deus manifestada em sua vida. Contudo, aquele que possui apenas a letra da
lei e não a Cristo, detém simplesmente "a forma da ciência e da
verdade". Desse modo, se diz freqüentemente e com legitimidade que a lei é
uma fotografia do caráter de Deus. Todavia, uma foto ou um desejo é apenas a
sombra da realidade e não sua essência ou substância. Quem tem a Cristo possui
ambas as coisas, a forma e a substância, posto que algo não pode ter o objeto
sem lhe ter a forma. Porém, aquele que tem apenas a declaração da verdade sem
Cristo – que unicamente é a verdade – tem a aparência de piedade sem o seu poder.
Perguntas comprometedoras - Nos versículos 21 até 23, o apóstolo faz certas
perguntas delicadas. Que toda alma que se orgulhou de sua retidão de vida
responda por si mesma a essas indagações. É fácil e natural ao homem ensoberbecer-se
por causa de sua "moralidade". Os não-cristãos se tranqüilizam com o
pensamento de que seguem uma conduta "moral" e que, portanto, agem
tão bem quanto se fossem cristãos. Saibam esses, porém, que não existe
moralidade exceto na conformidade com a lei de Deus. Tudo o que esteja, de
alguma forma, fora da norma dessa lei é imoralidade. Sabendo isso, analisem se
a guardam perfeitamente.
"Furtas?" – Quase todos dirão: "Não! Sou um homem honrado em
tudo quanto faço." Pois bem, antes de decidirmos precipitadamente sobre a
questão, examinemos as Escrituras. Lemos que "a lei é
espiritual". (Rom. 7:14).
"Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que
qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos
do coração." (Heb. 4:12) Não importa quão corretos sejamos em nossos atos
exteriores; se transgredimos em pensamento ou espírito, somos culpados. O
Senhor olha para o coração e não à aparência exterior (I Sam. 16:7) .
Além disso, é mau tanto roubar a Deus como roubar ao homem. Você tem dado
a Deus o que Lhe deve? Você se comporta de maneira totalmente honesta com Ele?
Ouça o que Ele diz: "Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e
dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois
amaldiçoados, porque a Mim Me roubais, vós, a nação toda." (Mal. 3:8 e 9)
Será que essas palavras são dirigidas a você? Você tem devolvido a Deus os
dízimos e as ofertas que Lhe deve? Se não é assim, o que vai responder quando a
Palavra Inspirada lhe pergunta: "Tu, que pregas que
não se deve furtar, furtas?"
"A Lei é espiritual" – No capítulo 5 de Mateus, o Salvador estabeleceu a espiritualidade da Lei.
Disse que a menos que nossa justiça fosse maior do que a dos escribas e
fariseus, não poderíamos entrar no reino dos céus. Qual era a justiça deles?
Jesus lhes disse: "Assim também vós
exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de
hipocrisia e de iniqüidade." (Mat. 23:38)
Portanto, a menos que sejamos justos interiormente, não o somos em
absoluto. "Eis que Te comprazes na verdade no íntimo..." (Sal. 51:6)
Mas adiante, no capítulo já citado, o Salvador explica que alguém pode
transgredir o sexto mandamento, que diz "não matarás, mediante a pronúncia
de uma só palavra. Esclarece também que podemos violar o sétimo mandamento, que
diz "não adulterarás, com um olhar ou pensamento. De fato, o mesmo
princípio rege os demais mandamentos. Sendo assim, o indivíduo precisa ser muito
cuidadoso antes de afirmar guarda perfeitamente a lei.
Alguns têm dito que os Dez mandamentos são uma norma muito inferior, que
um homem pode guardá-los todos e ainda
ser considerado indigno de admissão numa sociedade respeitável. Esses tais ignoram
tudo sobre a lei. De fato, o certo é exatamente o contrário. Um homem pode
transgredir os Dez Mandamentos e ainda aparecer como um grande luminar na
"alta sociedade".
O nome de Deus é blasfemado – "Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa." Quem é
o responsável? Aquele que ensina a lei, que diz que não se deve tomar o nome do
Senhor em vão. Quando Davi pecou na transgressão com a mulher de Urias, Deus
lhe disse: "Mas, posto que com isto deste motivo
a que blasfemassem os inimigos do Senhor..." (II Sam. 12:14)
Isto é, Davi era um professo seguidor do Senhor e por sua violação da lei
de Deus havia dado ocasião para que os incrédulos pudessem dizer: "Vejam,
isso é que é ser cristão!" Quem
pode dizer que na qualidade de professo seguidor do Senhor, sempre representou
corretamente a verdade? Será que há alguém que não admite perante si mesmo e
perante Deus, que por suas palavras ou atos tem deixado de representar
freqüente e fielmente a verdade que professa? Há alguém que, por suas faltas,
tanto no ensino como na atuação, nãotenha dado às pessoas uma idéia
miseravelmente inadequada do que é a verdadeira bondade?
Em
resumo, há alguém que não tenha de responder "sim" à pergunta do
apóstolo: "Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da
lei?" (Rom. 2:23) E visto que assim
é blasfemado o nome de Deus por parte de cristãos professos, quem há que possa
declarar-se sem culpa diante da lei de Deus?
Nesses versículos temos abordado certas perguntas delicadas dirigidas
aos que têm "o sobrenome de judeu", isto é, aos que professam seguir
ao Senhor. A simples forma e a profissão de fé não tornam a pessoa um fiel
mestre da verdade de Deus. Aquele que não revela em sua vida o poder daquilo
que professa, é tão-somente uma ruína à causa de Deus. Nos versículos seguintes
encontramos uma breve, porém explícita afirmação com respeito a:
Circuncisão e
Incircuncisão
25
Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei; se és, porém, transgressor
da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão.
26
Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei, não será ela,
porventura, considerada como circuncisão?
27 E,
se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará
a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei.
28
Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a
que é somente na carne.
29 Porém judeu é aquele que o é
interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a
letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.
Romanos
2:25-29
Definição do termos – Os
termos "circuncisão" e "incircuncisão" são aqui empregados
não meramente para significar o rito ou sua ausência, mas para referir-se a duas
classes de pessoas. "A incircuncisão" se refere, sem dúvida, aos que
eram chamados gentios, os que adoravam outros deuses. Assim podemos ver que a
passagem de Gálatas 2:7-8: "Antes, pelo
contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me fora confiado, como
a Pedro o da circuncisão (pois Aquele
que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão também operou
eficazmente em mim para com os gentios). Os termos "gentios",
"pagãos", e "incircuncisão" são equivalentes.
Nesse capítulo, não nos é informado para que serve a circuncisão. Neste
ponto é suficiente o simples reconhecimento do fato, já que a intenção do
escritor não era outra senão mostrar o que é a circuncisão, e quem está
verdadeiramente circuncidado. Desses poucos versículos dependem grandes coisas.
Estude-os cuidadosamente, já que ao seu redor gravita a correta compreensão de
uma grande parte das profecias do Antigo Testamento.
Se esses versos houvessem recebido a consideração que merecem por parte
dos professos estudantes da Bíblia, nunca teria existido a "teoria
anglo-israelita", nem as suposições vãs e enganosas sobre um pretenso
retorno dos judeus a Jerusalém, antes da vinda do Senhor.
O que é a circuncisão? – Encontramos a
resposta direta em Romanos 4:11, onde o
apóstolo, referindo-se a Abraão – o primeiro a ser circuncidado – disse:
"E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve
quando ainda incircunciso..." À pergunta: "O que é a
circuncisão?", a resposta não pode ser outra senão: o sinal da circuncisão
é o selo da justiça pela fé.
Quando a circuncisão resulta em
incircuncisão – Em vista do que foi dito,
está claro que onde não há justiça, o sinal da circuncisão é algo carente de
valor. Assim, diz o apóstolo: "Se és, porém, transgres-sor da lei, a tua
circuncisão já se tornou incircuncisão."
(Rom. 2:25) Do mesmo modo que vimos nos versículos precedentes que a forma, na
ausência do fato, carece de todo valor, assim também nos é dito que o sinal sem
a substância nada vale. Para um homem pobre é fácil colocar um painel anunciando
a venda de relógios e jóias, porém, encher a vitrina desses objetos já é outra
coisa. Se possui um cartaz mas carece do material, é pior do que se não
houvesse posto o anúncio.
O erro dos judeus – Os
judeus cometeram o equívoco de pensar que era suficiente ter o sinal. Chegaram
finalmente a dar guarida à idéia de que a posse do sinal traria a realidade,
precisamente do mesmo jeito que muitos professos cristãos de nossos dias supõem
que o cumprimento de certas ordenanças os fará membros do corpo de Cristo.
Porém, a circuncisão da carne somente
não pode representar a justiça, mas o pecado. Leia Gálatas 5:19-21. De fato,
muitos dos que eles desprezavam como "incircuncisos" eram realmente
"circuncisos", enquanto que eles mesmos não o eram.
A circuncisão do coração – A
autêntica circuncisão é um assunto do coração, isto é, da vida interior e
jamais da carne. O apóstolo afirma com clareza que a circuncisão, que é
exterior, da carne, não é circuncisão, mas consiste meramente numa forma
externa. Porém, a "circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a
letra..." (Rom. 2:29) Isso fica estabelecido como verdade fundamental.
Esse não era um caminho novo nos dias de Paulo, mas fora assim desde o
princípio. Em Deuteronômio 30:6 lemos as palavras de Moisés aos filhos de
Israel: "O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua
descendência, para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua
alma, para que vivas." Todo verdadeiro judeu reconhecia que a verdadeira
circuncisão era a do coração, já que Estevão se dirigiu àqueles que recusavam a
verdade como "de dura cerviz e incircuncisos de coração e de
ouvidos..." (Atos 7:51)
Justiça do coração – Diz o salmista: "Eis que Te comprazes na verdade no
íntimo..." (Sal. 51:6) A mera justiça exterior nada significa. Leia
Mateus 5:20; 23:27 e 28. É com o coração que se crê para justiça (Rom. 10:10).
Quando Moisés, por mandado do Senhor, repetiu a lei a Israel, disse-lhes:
"Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu
coração." (Deut. 6:5 e 6). Não pode existir justiça que não implique numa
vida autêntica. Por conseguinte, visto que a circuncisão não é mais que um
sinal da justiça, salta à vista o fato de não poder haver autêntica circuncisão
que não seja a do coração.
Circuncidados pelo Espírito – "Sabemos que a lei é espiritual" (Rom. 14:7).
Isto é, é a natureza do Espírito Santo, uma vez que a Palavra de Deus é a
espada do Espírito de Deus, que é capaz de implantar a lei de Deus no coração
do homem. Assim, a circuncisão é obra do Espírito Santo. Estêvão chamou de
incircuncisos os malvados judeus dizendo: "Vós sempre resistis ao Espírito
Santo..." (Atos 7:51). Está, pois, evidente que, embora em Romanos 2:29,
em algumas versões da Bíblia apareça a palavra "espírito" escrita em caracteres minúsculos, refere-se
de fato ao Espírito Santo e não ao espírito do homem (no original grego não há
distinção entre maiúsculas e minúsculas). A versão Reina-Valera de 1890 traduz
corretamente: "Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão,
a que é do coração, no Espírito, não segundo a letra..."
Se nos lembrarmos de que a circuncisão foi dada como sinal da justiça
pela fé, e que a herança prometida a Abraão e sua semente foi segundo a justiça
da fé (Rom. 4:11 e 13), compreenderemos que a circuncisão era a garantia (ou
hipoteca) dessa herança. O apóstolo declara também que obtemos a herança em
Cristo, "tendo nEle também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua
propriedade..." (Efés. 1:10-14). A possessão prometida a Abraão e à sua
semente foi assegurada tão-somente mediante o Espírito de justiça; portanto,
desde o princípio não existiu circuncisão autêntica que não fosse a do
Espírito.
Circuncidados em Cristo - "Também,
nEle, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade.
Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento
do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo." (Col. 2:8-11). A
circuncisão deveria ter o mesmo significado tanto ao ser dada quanto em
qualquer momento subseqüente. Logo, desde o princípio, significou justiça somente
mediante Cristo. Assim demonstra o fato de a circuncisão ter sido dada a Abraão
como sinal da justiça da fé: "Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para
justiça." (Gên. 15:6)
Quem é a "circuncisão"? – Filipenses
3:3 responde a essa pergunta: "Porque nós é que
somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em
Cristo Jesus, e não confiamos na carne." Isso não é mais do que dizer em
outras palavras que a "circuncisão, a que é do coração, no espírito, não
segundo a letra, e cujo louvor não procede dos
homens, mas de Deus". (Rom. 2:29) Portanto, jamais alguém que não cresse
foi circuncidado e se alegrou em Cristo Jesus. Essa é a razão por que Estêvão
chamou os judeus incrédulos de "incircuncisos".
O significado da circuncisão – Não dispomos aqui de espaço para entrar em detalhes
sobre essa questão, porém, os textos já citados nos colocam na pista. Um estudo
cuidadoso dos capítulos do Gênesis, os quais nos falam do pacto que Deus fez
com Abraão, servirá também para esclarecer o tema.
Em Gênesis 15 vemos que Deus fez um pacto com Abraão na base de sua fé. O capítulo 16 explica como
Abraão deu ouvidos à voz de sua esposa, em lugar de ouvir a voz do Senhor, e se
esforçou para cumprir a promessa de Deus mediante a carne, o que o levou ao
fracasso. Seu filho tinha de nascer segundo o Espírito e não segundo a carne.
Ver Gálatas 4:22, 23, 28 e 29.
No capítulo 17, observamos o reavivamento da fé de Abraão, assim como a
renovação do pacto. Então aconteceu a
circuncisão como selo. Foi-lhe secionada uma parte da carne como indicativo de
que não devia pôr sua confiança na carne, mas devia esperar a justiça e a
herança somente mediante o Espírito de Deus. Os descendentes de Abraão teriam
assim um contínuo memorial de seu erro, e uma admoestação para confiar no Senhor
e não neles mesmos.
Porém, eles perverteram o sinal. Conceberam-no como um indicativo de que
eram melhores que os demais povos, em lugar de considerá-lo como uma evidência de que "a carne nada
aproveita". Contudo, o fato de os judeus terem pervertido e
malinterpretado o sinal não destrói seu significado original.
Quem são judeus? – Vimos numa citação do segundo capítulo de Gálatas, que o termo
"incircunciso" se refere àqueles que não conhecem ao Senhor, aos que
estão "sem Deus no mundo". Ver Efésios 2:11 e 12. Os judeus são
"a circuncisão". Porém, somente aqueles que tem seu prazer em Cristo
Jesus são a circuncisão, aqueles cuja confiança não está na carne. Portanto, os
autênticos judeus não são outros que não os [crentes] cristãos. "É judeu o
que o é no interior." Nunca houve um autêntico judeu aos olhos de Deus que
não fosse um crente em Cristo. E todo verdadeiro crente em Cristo e um judeu no
sentido bíblico do termo. Abraão, o pai da nação judaica, alegrou-se em Cristo
(João 8:56).
Uma marca distintiva - Muitos têm abrigado a idéia de que a circuncisão foi
dada como uma marca distintiva entre os judeus e os gentios. O estudo da origem
da circuncisão, assim como a própria declaração de Paulo, põem em relevo a falácia
dessa suposição. Outros pensam que foi
dada para manter os judeus separados, de maneira que a genealogia de Jesus
pudesse ser mantida. Tampouco isso deixa de ser uma mera suposição. Cristo
tinha de proceder da tribo de Judá; uma vez que todas as tribos praticavam a
circuncisão, é evidente que essa não poderia ser o meio de preservação de sua
genealogia. Ademais, a circuncisão da carne jamais vez separação alguma entre
judeus e gentios.
Ela não evitou que Israel caísse na idolatria nem que se mesclasse com os
pagãos em suas práticas idolátricas. Quando os judeus se esqueciam de Deus,
misturavam-se com os pagãos e deixava de existir a diferença entre eles e os
gentios. A circuncisão não os mantinha separados. E ainda mais: Deus não queria
que os judeus se separassem dos gentios no sentido de não tratarem com eles. O
objetivo do chamamento dos judeus para a saída do Egito tinha por fim levar o
evangelho aos pagãos. Era seu desígnio que se mantivessem separados deles em
caráter, coisa que a circuncisão externa jamais poderia realizar.
Moisés disse ao Senhor: "Pois como se há de saber que achamos graça
aos Teus olhos, eu e o Teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de
maneira que somos separados, eu e o Teu povo, de todos os povos da terra?"
(Êxo. 33:16) A presença de Deus no coração do homem o manterá separado dos
outros, mesmo que viva na mesma casa e coma na mesma mesa. Porém, se Cristo não
habita no coração do homem, esse não se separará do mundo, mesmo que esteja
circuncidado e viva no ermo.
A semente literal e a espiritual – A compreensão incorreta desses termos é responsável por
grande parte da confusão que tem ocorrido com relação a Israel. As pessoas
supõem que afirmar que apenas são judeus autênticos os que o são espiritualmente,
é negar a literalidade da semente e da promessa. O espiritual é literal, é
real. Cristo é espiritual; portanto, é a semente real, a semente literal. Deus
é espiritual e é espírito; portanto, não é um Ser figurativo, mas um Deus
literal, real. Assim, a herança que nos cabe em Cristo é espiritual e real.
Afirmar que somente o Israel espiritual é o verdadeiro Israel não é
contradizer ou negar as Escrituras, nem debilitar de alguma maneira a força e a
realidade da promessa, já que a promessa de Deus somente é feita a quem possui
fé em Cristo. "Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua
descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a
justiça da fé." (Rom. 4:13) "E, se sois de Cristo, também sois
descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa."
Capítulo 3
A
Graça de Deus: Dom Gratuito
Introdução
Não nos cabe realmente
dizer que completamos o estudo dos dois primeiros capítulos, posto que nunca
poderemos concluir o estudo de
nenhuma porção da Bíblia. Depois de termos nos dedicado à mais profunda
investigação de alguma parte da Escritura, não fizemos, em realidade, nada mais
que começar. Se Newton, depois de haver dedicado sua longa vida ao estudo das
ciências naturais, pôde dizer que se sentia como um menino brincando na areia
da praia, com todo o vasto oceano ante si para descobrir, o que nos caberá
dizer do mais aplicado estudante da Bíblia?
Portanto, nunca pense
que de alguma maneira haja esgotado essa parte do estudo. Quando tiver o texto bem gravado em sua
mente, de modo que possa recordar com facilidade qualquer das passagens e
localizar-se com referência ao seu contexto, você terá chegado justamente ao
ponto de partida, desde o qual poderá
começar a estudar com verdadeiro proveito.
Conseguintemente, você que está ansioso por adquirir um conhecimento
pessoal das Escrituras, centralize-se nas palavras como se estivesse cavando
num lugar em que tivesse a certeza de encontrar um tesouro, já que uma riqueza
autenticamente inesgotável o aguarda em sua busca.
O primeiro versículo é um
resumo de todo o segundo capítulo. "Portanto,
és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que
julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que
condenas." (Rom. 2:1) Os versículos que se
seguem são um desenvolvimento de tal afirmação. Assim vemos que não há exceção
ao fato da manifestação da ira de Deus, desde o Céu, contra toda injustiça e
impiedade dos homens. Ouvir e conhecer a verdade não substitui sua prática. Deus
não faz acepção de pessoas, mas castigará o pecado onde esse existir.
Aceitos perante Deus – Pedro fez essa afirmação na casa de Cornélio:
"Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo
contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável."
(Atos 10:34 e 35). Há pessoas em terras pagãs que podem não ter ouvido jamais o
nome de Deus, nem ter visto uma única linha de Sua palavra escrita, e serão
salvas. Deus Se revela nas obras da criação e aqueles que aceitam o que sabem
dEle, são tão aprovados pelo Senhor como os que O conhecem em muito maior
profundeza.
Perguntas
respondidas – A primeira parte do terceiro capítulo de Romanos consiste
em perguntas e respostas. Se você ler com atenção as epístolas de Paulo,
observará a freqüente inclusão de perguntas em meio à argumentação. São
providas respostas para toda objeção possível. O apóstolo faz a pergunta que o
oponente eventualmente esboçaria, para respondê-la em seguida, reforçando desse
modo a argumentação. Assim, nos versos seguintes, faz-se mui evidente que as
verdades expostas no segundo capítulo não deveriam ser nada agradáveis para os
fariseus, e que esses as combateriam com todas as suas forças. As perguntas
colocadas pelo apóstolo não são a expressão de qualquer perplexidade em sua
própria mente, como bem mostra a disposição estabelecida no verso 5: "Falo
como homem." Com isso em mente, leiamos:
1
Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?
2 Muita,
sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os
oráculos de Deus.
3 E
daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de
Deus?
4 De
maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem, segundo está
escrito: Para seres justificado nas Tuas palavras e venhas a vencer quando
fores julgado.
5
Mas, se a nossa injustiça traz a lume a justiça de Deus, que diremos?
Porventura, será Deus injusto por aplicar a sua ira? (Falo como homem.)
6 Certo
que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo?
7 E,
se por causa da minha mentira, fica em relevo a verdade de Deus para a sua
glória, por que sou eu ainda condenado como pecador?
8 E
por que não dizemos, como alguns, caluniosamente, afirmam que o fazemos:
Pratiquemos males para que venham bens? A condenação destes é justa.
9 Que
se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos
demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado;
10
como está escrito: Não há justo, nem um sequer,
11
não há quem entenda, não há quem busque a Deus;
12
todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem,
não há nem um sequer.
13 A
garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora
está nos seus lábios,
14 a
boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura;
15
são os seus pés velozes para derramar sangue,
16
nos seus caminhos, há destruição e miséria;
17 desconheceram
o caminho da paz.
18 Não há temor de Deus diante de seus olhos.
Romanos 3:1 a 18:
A Palavra de Deus – Uma palavra é algo que se pronuncia. Acima de tudo, o
que proclamou ou pronunciou a boca de Deus, são os Dez Mandamentos (Deut.
5:22). Estêvão, referindo-se ao momento em que Moisés recebeu a lei, disse:
"É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe
falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para
no-las transmitir." (Atos 7:38) Os
Dez Mandamentos são primariamente a Palavra de Deus, já que Sua própria voz os
pronunciou aos ouvidos do povo.
Porém, as Sagradas Escrituras, como um todo, constituem a Palavra de Deus
falada "muitas vezes e de muitas maneiras" (Heb. 1:1), já que ela não
é senão o desenvolvimento dos Dez Mandamentos. Os cristãos devem amoldar sua
vida somente de acordo com a Bíblia. Assim atestam as palavras do apóstolo Pedro:
" Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus." (I Ped.
4:11)
A Lei, uma vantagem – Muitos pensam que a Lei de Deus é uma carga e imaginam
que a vantagem dos cristãos é que não têm nada a ver com ela. Porém, contrariamente, João disse: "Porque
este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; ora, os Seus
mandamentos não são penosos." (I João 5:3)
E Paulo diz que a posse da Lei era uma grande vantagem para os judeus.
Disse também Moisés: "E que grande nação há que tenha estatutos e juízos
tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?" Todos os que amam
verdadeiramente o Senhor consideram grande bênção dispor da plena revelação da
Santa Lei de Deus.
"Confiada" – A vantagem dos judeus não se fundamentava simplesmente
no fato de a Palavra de Deus lhes ter sido revelada, mas que ela "lhes foi
confiada". Isto é, foi-lhes dada a Lei a fim de garanti-la aos demais e
não somente em seu próprio benefício. Teriam eles de ser missionários ao mundo
inteiro. A vantagem e a honra concedida à nação judaica ao lhe ser confiada a
Lei de Deus a fim de que fosse conhecida no mundo, é um privilégio
incalculável.
Conte-o aos outros – Quando
Pedro e João foram presos e ameaçados por pregar a Cristo (que era a Lei vivida
em sua perfeição), disseram: "Pois nós não podemos deixar de falar das
coisas que vimos e ouvimos." (Atos 4:20) Aquele que aprecia o dom que Deus
lhe concedeu não pode deixar de contar aos outros. Alguns acham que é inútil
levar o evangelho aos pagãos, por saberem que Deus os justifica se andarem de
acordo com a pequena luz que brilha sobre eles, tanto como a pessoa que caminha
de acordo com a luz mais ampla da palavra escrita. Pensam que os ímpios pagãos
não estão numa situação pior que a dos professos cristãos que são infiéis.
Porém, ninguém que preze as bênçãos do Senhor pode pensar assim. A luz é uma
bênção. O homem, quanto mais conhece a Senhor, mais pode regozijar-se nEle; e
todo aquele que conhece verdadeiramente o Senhor estará desejoso de espalhar as
"nova de grande alegria" a todos aqueles a quem são dirigidas.
A fidelidade de Deus –
"E daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá
desfazer a fidelidade de Deus?" (verso 3) Uma pergunta muito pertinente.
Convida-nos ela a considerar a fidelidade de Deus. Desfaz o Senhor Sua promessa
devido à nossa falta de fé? Será Deus infiel por causa da infidelidade do
homem? Nossa vacilação fará com que Deus oscile? De maneira nenhuma! Deus será
sempre verdadeiro, mesmo que todo homem seja mentiroso. "Se somos infiéis,
Ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-Se a Si mesmo." (II
Tim. 2:13) "A Tua benignidade, Senhor, chega até aos céus, até às nuvens,
a Tua fidelidade." (Sal. 36:5)
Poder e fidelidade – Alguém poderá concluir precipitadamente que o que foi dito agora anule a
afirmação precedente, a qual da conta de que apenas aqueles que têm fé são
herdeiros da promessa, já que "como pode ser apenas semente – e portanto
herdeiros – de Abraão os que crêem, como Deus vai cumprir sua promessa apesar
de todo homem ser incrédulo?' Facilmente! Devido às Escrituras e ao poder de
Deus. Preste atenção às palavras que João Batista dirigiu aos perversos judeus,
a quem somente caberia descrever como raça de víboras. “E não comeceis a dizer
entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas
pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Rom. 3:9) Deus concederá a herança
apenas aos fiéis, porém, se todo homem for infiel, Aquele que fez o homem do pó
da terra pode, a partir das pedras, levantar outro povo que seja crente.
Deus será justificado – “Para seres justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando fores
julgado.” (Rom. 3:4) Satanás acusa a Deus de injustiça e indiferença, e também
de crueldade. Milhares fazem eco a essa acusação. Porém, o juízo declarará a justiça de Deus.
Seu caráter, tanto quanto o do homem, será submetido à prova. No juízo, todo
ato realizado desde a Criação, tanto de Deus como do homem, será visto por todos
em seu pleno significado. E quando tudo for examinado sob essa luz perfeita,
Deus será absolvido de toda acusação, inclusive por Seus inimigos.
Pondo em relevo a justiça de Deus – Os versículos 5 e 7 não
são mais que duas formas de expressar a mesma idéia. Dá-se destaque à justiça
de Deus em contraste com a justiça do homem. Assim, o amante de complicações
supõe que Deus não deveria condenar a injustiça humana que, por contraste, exalta a Sua justiça. Porém,
isso significa destruir a justiça divina; então, “como julgaria Deus o
mundo?” Se Deus fosse o que os incrédulos
afirmam ser, o Senhor perderia até o seu respeito. Eles O condenariam ainda
mais abertamente do que o fazem hoje.
“Falo como homem” – (ou “em termos humanos”, conf. RV 90) Não era Paulo, por acaso, um homem?
Por que emprega a expressão “falo como homem”? Porque os escritos de Paulo,
como os dos antigos profetas, foram dados sob inspiração divina. O Espírito
Santo falou através dele. Não estamos lendo a opinião de Paulo sobre o evangelho,
mas a declaração do próprio Espírito Santo. Porém, nessas ocasiões, o Espírito
se expressa em termos humanos, isto é, Ele cita as palavras dos incrédulos a
fim de mostrar a insensatez de sua incredulidade.
Perguntas incrédulas – Há perguntas com diferentes significados. Algumas delas são formuladas
com o objetivo de adquirir instrução, outras, todavia, com a única finalidade
de opor-se à verdade. Não é possível responder a ambas da mesma maneira. Certas
questões não merecem maior atenção do que se houvessem sido feitas em positivas
afirmações de incredulidade. Quando Maria disse ao anjo: “Como se fará isto?”
(Luc. 1:34), com o desejo de saber mais, foi-lhe explicado como aconteceria.
Porém, quando Zacarias perguntou: “Como terei certeza disso?” (Luc. 1:18), expressando
assim sua descrença ante as palavras do
anjo, foi castigado.
Maldade desmascarada – Quando o oponente diz: “Se minha mentira, posta em contraste com a
verdade de Deus, aumenta Sua glória, por que mesmo assim sou condenado como
pecador?” Paulo expõe o que essa retórica acoberta. Na verdade, o que ela quer
dizer é: “Por que não praticar o mal para que venha o bem?” A intenção real
dessas perguntas é pretender que o mal seja, em realidade, bom; que as pessoas
são boas, a despeito do que possam fazer, já que o bem procederá do mal. Essa é
a essência do espiritismo moderno bem como do universalismo, que ensinam que
todos os homens serão salvos.
O mal não é o bem – Espiritualistas à parte, há muitos que dizem virtualmente: “Façamos o mal
para que venha o bem.” Quem são eles? Todos os que acham que o homem é capaz de
fazer o bem por si mesmo. O Senhor declara que somente Deus é bom e que o bem
só pode proceder de Deus (ver Lucas 18:19 e 6:43-45). Do homem apenas provém o
mal (Mar. 7:21-23). Portanto, aquele que pensa que pode por seus próprios
esforços praticar o bem, está factualmente dizendo que o bem procede do mal.
O
mesmo diz quem recusa confessar-se pecador. Ele está se colocando acima de
Deus, já que nem mesmo Deus transforma o mal em bem. Deus torna bom o homem
mau, porém, tão-somente colocando Sua própria bondade no lugar da maldade
humana.
Todos sob pecado – O oponente é silenciado diante de seus sentimentos de infidelidade. É
justa a condenação de quem sustenta semelhante postura, e assim fica firmemente
estabelecida a conclusão: todos os homens, judeus e gentios, estão sob pecado.
Assim
está preparado o caminho para a seguinte inferência: há somente um caminho para
a salvação de todos os homens. Aquele que cresceu ouvindo o bimbalhar dos sinos
da igreja e que lê as Escrituras todos os dias, tem a mesma natureza pecaminosa
e igual necessidade de um Salvador que um selvagem incivilizado. Absolutamente
ninguém está em situação de poder depreciar os outros.
Todos se desgarraram – Quando o apóstolo disse que judeus e gentios “todos se extraviaram, à
uma se fizeram inúteis”, não fez outra coisa senão repetir o que Isaías
escreveu centenas de anos atrás: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas;
cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de
nós todos.” (Isa. 53:6)
“Caminho de paz” – “Caminho de paz não
conheceram” porque se recusaram conhecer o Deus da paz. Por isso Ele disse:
“Ah! se tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos! Então, seria a tua paz como
um rio, e a tua justiça, como as ondas do mar.” (Isa. 48:18). “Grande paz têm
os que amam a Tua lei; para eles não há tropeço.” (Sal. 119:165) Aquele que
prepara o caminho do Senhor, fazendo conhecer a remissão de pecados, conduz
nossos pés ao caminho da paz (Lucas 1:76-79), já que nos dirige à justiça da
Lei de Deus.
O que estudamos até
aqui com respeito à epístola aos Romanos, mostrou-nos que tanto judeus como
gentios compartilham a mesma condição pecaminosa. Ninguém tem nada de que se
gabar em relação aos outros. Aquele que, dentro ou fora da igreja, se inclina a
julgar e condenar outro, não importa quão malvado esse possa ser, mostra com
isso que ele mesmo é culpado das mesmas coisas que condena no semelhante. O
juízo pertence somente a Deus e aquele que ousa tomar o lugar do Senhor demonstra
o mais ousado espírito de usurpação. Aqueles a quem foi confiada a Lei têm um
maravilhoso privilégio do qual carecem os pagãos; não obstante, devem dizer:
“Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado
que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado.” (Rom. 3:9)
A Grande Conclusão –
19 Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos
que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável
perante Deus,
20 visto
que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela
lei vem o pleno conhecimento do pecado.
21 Mas
agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos
profetas;
22 A justiça de Deus mediante a fé em Jesus
Cristo, para todos e sobre todos os que crêem; porque não há distinção,
Romanos 3:19-22
“Na Lei” – Este não é o momento de
considerarmos a força da expressão “debaixo da lei”, como algumas versões
traduzem, pois não é essa, realmente, a tradução correta. O mesmo acontece em Romanos
2:12; a tradução correta é “na lei”. A expressão “debaixo da lei” é totalmente
diferente em grego. É impossível saber por que em algumas versões foi traduzida
“debaixo da lei”, quando nos textos citados – o mesmo que sucede em I Coríntios
9:21 – o original reza “na lei”. O texto diz: “Sabemos que o que a lei diz, o
diz aos que estão na lei”, ou melhor, “na esfera ou jurisdição da lei”.
Trata-se de um ato divino, porém, em vista do que se segue imediatamente. É muito importante ter isso presente.
“O que a lei diz...” – A voz da Lei
é a voz de Deus. A Lei é a verdade, uma vez que foi pronunciada pela própria
voz divina. No pacto que Deus fez com os judeus, com respeito aos Dez Mandamentos,
disse da Lei: “... Se diligentemente ouvirdes a Minha voz...” (Êxo. 19:5)
“Estas palavras falou o Senhor a toda a vossa congregação no monte, do meio do
fogo, da nuvem e da escuridade, com grande voz...” Por conseguinte, quando a
Lei de Deus fala ao homem, é Deus mesmo quem Se pronuncia. Satanás inventou um
provérbio, induzindo a muitos a crê-lo. Esse é: “A voz do povo é a voz de
Deus.” Ele constitui uma parte de sua grande mentira, através da qual faz com
que muitos tripudiem sobre a Lei divina. Que todo aquele que ama a verdade
substitua essa falsificação de Satanás pelo fato de que “a voz da Lei divina é
a voz de Deus”.
“Toda boca se cale” – A Lei fala
para que toda boca se feche. Isso faria toda boca, tão-somente se apercebesse o
homem de que é Deus em fala. Se ele se desse conta de que o próprio Senhor é
quem fala mediante a lei, não estaria tão pronto a questionar Suas palavras nem
inventaria tantas escusas para deixar de obedecê-la.
Quando um servo do
Senhor lê a lei para as pessoas, estas parecem freqüentemente pensar que são
somente palavras de homem que ouvem, e sentem ser seu privilégio opinar,
debater e objetar. Se dizem que embora tudo esteja certo, não se sentem na
obrigação de obedecer o que não lhes parece aconselhável. Jamais lhes ocorreria
proceder dessa maneira se ouvissem a voz de Deus a lhes falar.
Porém, quando hoje se
lê a Lei, trata-se tão certamente da voz de Deus como em sua proclamação aos
israelitas postados ao pé do Monte Sinai. As pessoas se colocam hoje contra
ela, porém logo chegará o momento em que toda boca se fechará, porque: “Vem o nosso Deus e não guarda silêncio...”
(Sal. 50:3)
A jurisdição da Lei – O que a Lei
diz, di-lo aos que estão em sua esfera jurisdicional. Para quê? “Para que se
cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus.” (Rom. 3:19) Até
onde vai, pois, a jurisdição da Lei. Alcança toda alma no mundo. Ninguém está
isento de obedecê-la. Nem uma só alma deixa de ser tida por culpável. A Lei é a
norma de justiça, e “não há justo, nem um sequer”.
A Lei não justifica – “Visto que ninguém será justificado diante dEle por obras da lei,
em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” (Rom. 3:20) Se o
homem fosse justificado pela Lei, teria de acontecer uma destas duas coisas: ou
que ele não fosse culpado ou que a Lei fosse má. Porém, não acontece nenhuma
delas. A Lei de Deus é perfeitamente reta e todo homem pecador. “Pela Lei vem o
conhecimento do pecado.” É evidente que a própria Lei que declara o homem
culpado não pode dizer que ele é justo. Portanto, a verdade de que pelas obras
da Lei nenhuma carne se justificará, explica-se por si mesma.
Uma dupla razão – Há duas razões pelas
quais ninguém pode ser justificado pela Lei. A primeira é que todos pecaram;
por conseguinte, a Lei deve continuar declarando-os culpados a despeito do que
seja sua vida. Ninguém pode fazer mais do que sua dívida com Deus, e não existe
nenhuma quantidade suficiente de boas ações que possa cancelar uma má ação.
Porém, mais ainda: os
homens não somente pecaram, mas também são pecaminosos. “O pendor da carne é
inimizade contra Deus, pois não está sujeito à Lei de Deus, nem mesmo pode
estar.” (Rom. 8:7) “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito,
contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura,
seja do vosso querer”. (Gál. 5:17) Logo, não importando o quanto um homem se
esforce por cumprir a justiça da Lei, nunca encontrará a justificação por seu
intermédio.
Justificação própria – Se alguém
fosse justificado pelas obras da Lei,
seria porque sempre fez o que a Lei requereu. Veja que nesse caso é ele quem faz
e não a Lei. Não seria que a Lei fizesse algo para justificar o homem, senão
que ele mesmo executaria as boas obras exigidas. Aquele que supõe poder cumprir
a justiça da Lei demonstra com isso que crê ser tão bom quanto Deus, posto que
a Lei requer a justiça de Deus e é uma declaração dela.
Deduz-se, pois, que o
indivíduo que pensa poder justificar-se pela Lei, acha-se tão bom que não
necessita de um Salvador. Todo o que se sente justo, pouco importando sua
profissão, está-se exaltando acima da Lei de Deus e, conseguintemente,
identifica-se em essência com o papado.
Justiça sem a Lei – Visto que na
débil condição humana e em estado decaído ninguém pode obter a justiça a partir
da Lei, a justiça terá de ser conseguida a partir de outra fonte que não seja a
Lei. Abandonado a si mesmo e à Lei, o homem estaria realmente numa condição
deplorável. Entretanto, há esperança.
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus...” (Rom. 3:21) Isso
revela ao homem o meio de salvação.
A
justiça manifestada – Onde?
Precisamente onde mais falta fazia – no homem. Isto é, numa certa classe
descrita pelo versículo seguinte. Porém, não tem origem nele. As Escrituras já nos
mostraram que do homem não pode provir nenhuma justiça. A justiça de Deus se
manifesta em Jesus Cristo. Ele mesmo disse, através de Davi: “Agrada-Me fazer a
Tua vontade, ó Deus Meu; dentro do Meu coração está a Tua lei.” Proclamei as boas-novas de justiça na grande
congregação; jamais cerrei os lábios, Tu o sabes, Senhor.” (Sal. 40:8 e 9)
“Testemunhada pela Lei” – Nunca
suponha que, com base no evangelho, você pode ignorar a Lei de Deus. A justiça
de Deus que se manifesta sem a Lei, é testemunhada
pela Lei. É desse tipo de justiça que a Lei dá testemunho e aprova. Tem de
ser assim, já que é a justiça que Cristo manifestou, e essa provinha da Lei que
estava “em Seu coração”. Assim, embora a Lei divina não possa imputar justiça a
nenhum homem, não deixa de ser a norma de justiça. Não pode haver justiça
alguma que resista à prova da Lei. A Lei de Deus deve pôr seu selo de aprovação
sobre todo aquele que entrar no Céu.
Testemunhada pelos profetas – Quando Pedro
pregou a Cornélio e sua família sobre
Cristo, disse: “DEle todos os profetas dão testemunho de que, por meio de Seu nome,
todo aquele que nEle crê recebe remissão de pecados.” (Atos 10:43) Os profetas
pregaram o mesmo evangelho que os apóstolos (ver I Ped. 1:12). Há somente um
fundamento, o qual é “o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo,
Cristo Jesus, a pedra angular”. (Efés. 2:20) Esse pensamento nos leva a outro
conceito em relação à expressão “testemunhada pela Lei”. Não é que a Lei
somente aprove a justiça que se
manifesta em Cristo, senão que, além disso, ela a proclama. A parte das Escrituras genericamente conhecida como “a lei”,
isto é, os escritos de Moisés, prega a Cristo. Moisés foi profeta; assim sendo,
testemunhou de Cristo.
“Ele escreveu a Meu
respeito.” (João 5:46) O próprio ato de dar a Lei foi em si mesmo uma promessa
e uma segurança de Cristo. Analisaremos esse fato no quinto capítulo.
A justiça de Deus – Embora seja certo que ninguém pode
encontrar pretexto para desprezar a Lei de Deus na frase “sem lei, se manifestou
a justiça de Deus”, também é certo que aquele que ama essa Lei não deve ter
qualquer temor de que a pregação da justiça pela fé possa levar a uma falsa
justiça. Há uma salvaguarda contra isso na afirmação de que essa justiça deve
ser testemunhada pela Lei, e,
sobretudo, pela declaração de que a justiça que se manifesta à parte da Lei é a
justiça divina. Ninguém que tenha essa justiça deve temer estar em erro! Buscar
o reino de Deus e sua justiça é tudo quanto se requer de nós nesta vida. (Mat.
6:33)
“Pela fé em Jesus Cristo” – Noutro lugar, Paulo expressa seu desejo
de que, ao retornar o Senhor, seja ele achado “nEle, não tendo justiça própria,
que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que
procede de Deus, baseada na fé” (Filip. 3:9). Encontramos aqui, uma vez mais,
“a fé de Cristo”. Mas também é dito acerca dos santos: “Aqui está a perseverança dos santos, os que
guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.” (Apoc. 14:12). Deus é fiel (I
Cor. 1:9) e Cristo é fiel; “Ele permanece fiel” (II Tim. 2:13). Deus dá a cada
um uma medida de fé (Rom. 12:3; Efés. 2:8).
Ele nos comunica Sua
própria fidelidade, e o faz dando-Se a nós. Assim, não temos de obter a justiça
fabricada por nós, mas antes, para fazer o assunto duplamente seguro, o Senhor
nos transmite a Si mesmo pela fé, por meio da qual nos apropriamos de Sua
justiça. Assim, a fé de Cristo traz a justiça de Deus, porque a posse dessa fé
é a retenção de Senhor mesmo. Essa fé é
dada a todo homem da mesma forma que Cristo Se deu a Si mesmo por todo homem.
Você se pergunta: “Quem sabe o que
impede que todo homem seja salvo?” Nada, exceto o fato de que nem todos os
homens guardarão a fé. Se cada um guardasse tudo o que Deus lhe concede, todos
seriam salvos (“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.” – II Tim. 4:7).
Interior e exterior – A justiça de
Deus que é pela fé de Jesus Cristo, é literalmente posta em e sobre todo aquele que crê. A justiça própria do homem, que é
pela lei, está somente no exterior (Mat. 23:27 e 28). Porém, Deus quer a
verdade no interior (Sal. 51:6). “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão
no teu coração.” (Deut. 6:6) Dessa forma, a promessa do novo pacto é: “Na
mente, lhes imprimirei as Minhas leis, também no coração lhas inscreverei.”
(Jer. 31:33) Deus faz porque é impossível ao homem fazê-lo. O máximo que pode
fazer o homem é uma exibição falaz da carne para ganhar o aplauso de seus
semelhantes. Deus, contrariamente, põe Sua gloriosa justiça no coração.
Porém, Ele faz mais que
isso: cobre o homem com ela. “Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra
no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação e me envolveu com o manto
de justiça...” (Isa. 61:10) “Porque o Senhor Se agrada do Seu povo e de
salvação adorna os humildes.” (Sal. 149:4)
Trajados com essa gloriosa veste, que não é meramente uma fachada
externa, senão a manifestação do que há no interior, a igreja de Deus pode
avançar “formosa como a Lua, pura como o Sol, formidável como um exército com
bandeiras...” (Cant. 6:10)
A Justiça da Misericórdia
22 justiça
de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que crêem;
porque não há distinção,
23 pois
todos pecaram e carecem da glória de Deus,
24 sendo
justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus,
25 a
quem Deus propôs, no Seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para
manifestar a Sua justiça, por ter Deus, na Sua tolerância, deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos;
26 tendo em vista a manifestação da Sua justiça
no tempo presente, para Ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé
em Jesus.
Romanos 3:22-26
“Não há diferença” – Em que não
há diferença? Na maneira como os homens recebem justiça. E por que não há
diferença na forma de justificar o homem? Porque “todos pecaram”. Quando Pedro
referiu aos judeus sua experiência em relação à primeira pregação do evangelho
aos gentios, disse: “Ora, Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho,
concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós
e eles, purificando-lhes pela fé o coração.” (Atos 15:8 e 9) “Porque de dentro
do coração do homem”, e não somente de uma determinada classe de homens, mas
deles todos. “Porque de dentro do coração dos homens é que procedem os maus
desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza,
as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a
loucura. Ora, todos estes males vêm de
dentro e contaminam o homem.” (Mar. 7:21-23)
Deus conhece os corações dos homens e sabe que são pecadores por igual,
portanto, não faz nenhuma diferença entre uns e outros no que diz respeito ao
evangelho.
“De um só...” – Essa é uma das lições
mais importantes que o missionário tem de aprender, seja trabalhando em sua
região ou distante dela. Posto que o evangelho se baseia no princípio de que
não existe diferença entre os homens, é absolutamente essencial que o obreiro evangélico reconheça o fato e o
tenha sempre presente. “De um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda
a face da Terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os
limites da sua habitação.” (Atos 17: 26) Não é somente a questão de todos os
homens procederem de uma só linhagem, senão que são também uma só carne (I Cor.
15:39). O objetivo principal da carta aos Romanos, pelo que foi considerado até
aqui, é mostrar que no que se refere ao pecado e à salvação, não há
absolutamente diferença alguma entre os homens de qualquer raça ou condição. O
mesmo evangelho deve ser pregado ao judeu e ao gentio, ao escravo e ao livre,
ao príncipe e ao mendigo.
Destituídos – Literalmente, “carentes
da glória de Deus”. Muitos supõem que as faltas não são tão graves quanto os
pecados. Dessa maneira, é mais fácil confessar que cometeram faltas do que
declarar que pecaram e agiram impiamente. Porém, visto que Deus requer
perfeição, é evidente que as “faltas” são pecados. Resulta mais apresentável
dizer a um contador que foram encontradas falhas
em suas contas, porém entendemos que isso significa que o profissional se
apropriou daquilo que não é seu, isto é, andou roubando. Quando a norma é a
perfeição, pouco importa que se tenha faltado pouco ou muito, contanto que
tenha havido falta. O significado primário de pecado é “errar o alvo”. E numa
competição de tiro ao alvo, aquele que
não teve habilidade de acertar na “mosca”, embora sua intenção fosse correta, é
um perdedor tão certamente como o que faz um lançamento com bastante desvio.
“A glória de Deus” – O texto nos mostra que a glória de Deus é Sua
justiça. Veja que a razão por que todos estão destituídos da glória de Deus é
todos terem pecado. Está claro que, se não houvessem pecado, não teriam sido
dela privados. Estar faltos da glória de Deus consiste no mesmo que estar em
pecado. No princípio, o homem fora coroado de “glória e de honra” (Heb. 2:7),
porque era reto. Ao cair, perdeu a glória; portanto, deve agora buscar “glória,
honra e imortalidade”. Cristo pôde dizer ao Pai: “Eu lhes tenho transmitido a glória
que me tens dado...” (João 17:22), uma vez que nEle está a justiça de Deus
concedida ao homem como um dom gratuito. Receber a justiça é coisa de sábios, e
“os
que forem sábios, pois, resplandecerão como o
fulgor do firmamento” (Dan. 12:3)
“Sendo justificados” – Em
outras palavras, feitos justos. Justificar significa tornar justo. Deus provê
precisamente aquilo de que o pecador necessita. Nunca se esqueça o que a
justificação simplesmente significa. Alguns supõem que o cristão pode ocupar
uma posição muito mais elevada que a de ser justificado. Isto é, que alguém
pode estar numa condição superior à de trajar a veste interior e exterior da
justiça de Deus. Porém, isso não é possível.
“Gratuitamente”
– “E quem quiser receba de graça a água da vida.” Ou,
tome-a como um dom. Assim, em Isaías 55:1, lemos: “Ah!
Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes
dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem
preço, vinho e leite.”
Foi a carta aos Romanos que propiciou a reforma
na Alemanha. Ensinava-se, então, as pessoas a crerem que a forma de obter justiça
era comprá-la, seja mediante trabalho duro ou pagamento em dinheiro. A idéia de
que a justiça poderia ser adquirida por dinheiro não é hoje tão popular como na
época, porém muitos não católicos crêem mesmo ser necessário produzir alguma
obra a fim de obtê-la.
Quando
a oração se torna uma obra – Certo dia eu estava conversando com
um homem com respeito à justiça como dom gratuito de Deus. Meu interlocutor
defendia a idéia de que não podemos obter nada do Senhor sem fazer algo em
troca. Quando lhe perguntei o que ele achava devíamos fazer para ganhar o
perdão dos pecados, respondeu que temos de orar por ele.
Com esse conceito de oração que os [católicos]
romanos e os hindus devotos “pronunciam”
tantas orações diariamente, acrescentando algumas extras de vez em quando, para
ficar cobertos ante possíveis omissões. Porém, aquele que profere uma oração,
não ora em realidade. A oração pagã, tal como ilustra o episódio dos profetas
de Baal dando saltos e se ferindo (I Reis 18:26-28), é uma obra; embora a verdadeira
oração não o seja. Se alguém vem a mim e
me diz que está morrendo de fome, e eu lhe dou algum alimento, o que lhe parece
se ao referir posteriormente esse ato, diz-se que eu o mandei fazer algo para
obter a comida? Qual foi sua obra? Pedi-la? Será que alguém poderia pensar que
realmente ele obteve o alimento pelo trabalho de pedi-lo? A verdadeira oração é a aceitação agradecida
dos dons gratuitos de Deus.
Redenção
em Jesus Cristo – Tornamo-nos justos “pela redenção
que há em Cristo Jesus”, vale dizer, pelo poder de resgate que há em Jesus
Cristo. Ou, como diz Efésios 3:8, pelas
“insondáveis riquezas de Cristo”. Essa é a razão pela qual a recebemos como um dom.
Alguém poderá dizer que a vida eterna no reino
de Deus é algo demasiado grande para nos ser dada assim. Mas é assim, com
efeito, e como conseqüência, devemos comprá-la, porém visto que não temos como
pagá-la, Cristo a adquiriu para nós e no-la dá gratuitamente em Si mesmo. No
entanto, tivéssemos nós que comprá-la dEle, então seria o mesmo de a
adquirirmos diretamente por nós mesmos, prescindindo dEle (poupando-Lhe o
trabalho). “... Se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em
vão.” (Gál. 2:21) “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata
ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos
legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o
sangue de Cristo.” (I Ped. 1:18 e 19) O sangue é a vida (Lev. 17:11-17),
Portanto, a redenção que há em Cristo Jesus é Sua própria vida.
Proposto
por Deus – A propiciação é um sacrifício. Declara-se com a
maior clareza que Cristo foi estabelecido como sacrifício para a remissão de
nossos pecados. “... Se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo
sacrifício de Si mesmo, o pecado.” (Heb. 9:26) Desde logo, a noção de
sacrifício ou propiciação implica na necessidade de apaziguar uma ira ou
inimizade existente. Nós é que necessitamos do sacrifício e não Deus. Ele o
provê. A noção de que é preciso propiciar a ira de Deus a fim de sermos
perdoados, não tem cabimento na Bíblia.
Constitui-se o cúmulo do absurdo supor que Deus
está tão irado com os homens, que não os perdoará a menos que se proveja algo
que apazigúe Sua ira, e então oferece o
dom de Si mesmo (!) para atingir essa finalidade. “E a vós outros também que,
outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras
malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da Sua carne, mediante a Sua
morte...” (Col. 1:21, 22)
Propiciação
pagã e propiciação cristã – A idéia cristã de propiciação é a
que já temos expressado. A noção pagã, demasiado amiúde também mantida por
cristãos professos, consiste fundamentalmente numa chantagem a seus
deuses, com a finalidade de lograr seu
favor. Se os pagãos pensavam que seus deuses estavam muito enfadados deles,
então ofereciam maiores sacrifícios até chegar ao extremos de imolações
humanas. Pensavam o mesmo que os adoradores de Siva, na Índia, cogitam hoje,
que seu deus se agradava com visões de sangue. A perseguição que teve lugar em
tempos passados – e até certo ponto hoje também – em países considerados
cristãos, não é mais que o fruto dessa noção pagã de propiciação. Os dirigentes
eclesiásticos supõem que a salvação é pelas obras, e que mediante elas pode o
homem expiar o pecado, de forma que oferecem a pessoa, que eles crêem estar em
rebeldia, a seu deus. Não ao verdadeiro Deus, a quem esses sacrifícios não
satisfazem.
A
justiça manifestada – Manifestar ou declarar a justiça é
pronunciá-la. Deus fala justiça ao homem e esse é justo. É o mesmo método
empregado na criação. “Ele falou e tudo se fez.” “Pois somos feitura dEle, criados em Cristo
Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos
nelas.” (Efés. 2:10)
A
justiça de Deus na redenção – Cristo ficou estabelecido
para declarar a justiça de Deus para remissão dos pecados, a fim de poder ser
justo e ao mesmo tempo justificador daquele que crê em Jesus. Deus justifica
pecadores, já que são os únicos necessitados de justificação. A justiça de
declarar justo a alguém que é pecador jaz no fato de que ele é realmente feito
justo. Quando Deus declara algo, assim é. É feito justo pela vida de Deus a ele
é dada em Cristo.
O pecado é contrário a
Deus e se Ele está disposto a perdoá-lo, tem todo o direito de fazê-lo. Nenhum
incrédulo negaria a alguém o direito de não ter em conta a ofensa que um outro
lhe haja dirigido. Porém Deus não passa
simplesmente a ofensa por alto, senão que dá a Sua própria vida como penhor. Desse
modo, exalta a majestade da Lei e fica justificado ao declarar justo ao homem
que antes era um pecador. Remite-se, quita-se o pecado do ofensor, já que
pecado e justiça não podem coexistir, e
Deus põe Sua própria vida justa no crente. Deus é, pois, misericordioso em Sua
justiça, e justo em Sua misericórdia.
Salmos 97:2: “Nuvens e escuridão
O rodeiam, justiça e juízo são a base do Seu trono”
Chegamos agora ao final do terceiro capítulo de
Romanos. Vemos que a justiça é um dom gratuito de Deus a todo aquele que crê.
Não é que Deus confira justiça ao homem como recompensa por crer ele em certos
dogmas; O evangelho é algo absolutamente distinto disso. Sucede que a
verdadeira fé tem a Cristo como seu único objeto, e traz realmente a vida de
Cristo ao coração; portanto, também tem de trazer Sua justiça.
Esse ato de misericórdia da parte de Deus é
eminentemente justo, já que o pecado é, em primeiro lugar, dirigido contra
Deus, que está em Seu pleno direito de não ter em conta as ofensas contra Si.
Ademais, é justo, visto que dá Sua própria vida como expiação pelo pecado, de
maneira que a majestade da Lei não é simplesmente mantida, senão magnificada.
“Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.” (Sal.
85:10). Deus é justo e justificador daquele que crê em Cristo. Toda justiça
procede somente dEle.
Estabelecendo a Lei –
27 Onde, pois, a
jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário,
pela lei da fé.
28 Concluímos, pois, que o homem é justificado
pela fé, independentemente das obras da lei.
29 É, porventura, Deus somente dos judeus? Não o
é também dos gentios? Sim, também dos gentios,
30 Visto que Deus é um só, o qual justificará,
por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso.
31 Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de
maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei.
Romanos 3:27-31
A
jactancia é excluída – Visto que a justiça é um dom gratuito de Deus
mediante Jesus Cristo, é evidente que ninguém sensato pode vangloriar-se de
qualquer justiça em si mesmo. “Porque pela graça sois
salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para
que ninguém se glorie.” (Efés. 2:8 e 9) “Pois quem é que te faz sobressair? E
que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias,
como se o não tiveras recebido?” (I Cor. 4:7)
A que a jactancia demonstra – “Eis o
soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.” (Hab. 2:4)
Como se vê, o orgulho é evidência de um coração pecaminoso. Suponhamos, não
obstante, que alguém se orgulha de sua justiça, como por exemplo, quando diz
que viveu tantos anos sem pecar. O que diz a Bíblia? “Se dissermos que não
temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.”
(I João 1:8)
Ora, acaso a
graça e o poder de Deus manifestados em Cristo não nos limpam do pecado e dele
nos guardam? Efetivamente sim. Porém, somente quando em humildade nos
reconhecemos pecadores. “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (I João 1:9) Se
dissermos que não temos pecado, a própria declaração mostra que o temos; porém,
quando com fé na palavra do Senhor reconhecemos que somos pecadores, então o
sangue de Cristo nos purifica de todo pecado. No plano da salvação não há lugar
para o orgulho e a bazófia humana.
No Céu não há jactancia – O resultado da jactância no Céu é vista no
caso de Satanás. Ele foi, em seus dias, um dos querubins cobridores do trono de
Deus. Porém, começou a fixar sua atenção na própria glória e bondade, tendo
como conseqüência a própria queda. “
Na multiplicação do teu
comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te
lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da
guarda, em meio ao brilho das pedras. Elevou-se o teu coração por causa da tua
formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor.” (Eze. 28:16 e 17) Se os santos, após sua transladação, começassem a
orgulhar-se de sua impecabilidade, tornar-se-iam tão ímpios como anteriormente.
Entretanto, isso jamais sucederá. Todos quantos forem admitidos no Céu terão
aprendido plenamente a lição de que Deus é tudo em todos. Nem uma só voz, nem
um coração, guardarão silencia no cântico de louvor: “Àquele que nos ama, e,
pelo Seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino,
sacerdotes para o Seu Deus e Pai, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos
séculos. Amém!.” (Apoc. 1:5 e 6)
A lei das obras – A lei das obras não exclui a
vanglória. Se o homem fosse justificado pelas obras, teria de orgulhar-se sobre
outro que, tendo idêntico privilégio, não o exercesse. Nesse caso, o justo
poderia gabar-se sobre o ímpio, e as pessoas estariam continuamente se
comparando umas com as outras para ver quem fez melhor. A lei das obras é
somente a forma dos Dez Mandamentos. A conformidade com a lei das obras permite
a alguém parecer exteriormente um justo, enquanto que o interior está cheio de
corrupção. Porém, aquele que se apega à lei das obras não é sempre, necessariamente,
um hipócrita. Pode ele possuir o ardente desejo de guardar os mandamentos,
enquanto se engana ao pensar que os pode obedecer por si mesmo.
A lei da fé – Essa tem o mesmo objetivo da lei
das obras, isto é, a obediência aos mandamentos de Deus, contudo o resultado é
diferente. A lei das obras engana o homem com uma forma; a lei da fé
proporciona-lhe a substância. A lei da fé é a lei “tal qual é em Jesus”. A lei das obras pode ser gerada pelo sincero
desejo de guardar a lei; a lei da fé é o cumprimento real de tal anelo,
mediante a redenção que há em Cristo Jesus.
Os Dez
Mandamentos, tais como o Senhor os dá, são uma lei de fé, posto que nunca foi
Seu desejo que fossem vistos de outro modo. Deus nunca esperou que alguém
pudesse obter justiça a partir deles, de outro modo que não fosse pela fé. A
lei das obras é a perversão humana da lei de Deus.
Fé sem obras – “Concluímos que o homem é justificado
pela fé, sem as obras da lei.” Não há outra maneira de o homem ser justificado!
Já vimos como todos os homens são pecadores e que ninguém tem em si mesmo poder
para obedecer à lei, por mais ardentes que sejam seus desejos. “Porque os
simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a
lei hão de ser justificados.” (Rom. 2:13)
Porém, “... ninguém será
justificado diante dEle por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado” (Rom. 3:20).
Portanto, todo o que é justificado ou feito justo, há de sê-lo somente
pela fé, totalmente à parte das obras da
lei. E isso é de aplicação universal. Significa que a justificação, no
princípio e no final e durante todo o processo, é somente pela fé. O cristão
não pode ser mais justificado das obras más do que o pecador. Nenhum homem há
que possa chegar a ser tão bom e tão forte que suas próprias obras o
justifiquem.
Fé
e obras – Porém,
isso não é o mesmo que dizer que as obras nada têm a ver com a fé. Justificar
significar tornar justo ou reto. A justiça é a prática do bem. A fé que
justifica, por conseguinte, é a fé que torna o homem um guardador da lei, ou
melhor, que coloca nele o ser um observador da lei. “Pois somos feitura
dEle, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas.” (Efés. 2:10) “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade.” (Fil. 2:13). “Fiel é esta
palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente,
para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras.”
(Tito 3:8) O homem não é justificado pela fé e pelas obras, senão somente pela
fé. Pela fé que opera.
Um Deus para todos – “... Um só Deus e Pai de todos” (Efés.
4:6). “D um só fez toda a raça humana...” (Atos 17:26). “Porque para com Deus não há acepção de pessoas.” (Rom. 2:11)
“Pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo lhe é
aceitável.” (Atos 10:35) “Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nEle crê
não será confundido. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o
mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que O invocam.” (Rom. 10:11 e
12)
Um
meio de justificação para todos – O fato de a justificação ser somente pela
fé, e de que Deus agora “notifica aos homens que todos, em toda parte, se
arrependam.” (Atos 17:30), mostra que
Ele considera iguais judeus e gentios. Não há qualquer evidência de que jamais
houvesse feito diferença entre eles. Um crente gentio foi sempre contado como
justo, e um judeu descrente nunca foi tido pelo Senhor como nada melhor que
qualquer outro incréu. Lembre-se de que Abraão, o pai da nação judaica, era
caldeu. Os judeus eram aparentados com os caldeus que permaneceram em sua terra
natal, tão certamente como com aqueles que estavam em Canaã com eles.
Infelizmente o esqueceram. Porém, os judeus não são os únicos no mundo que se
esqueceram de que todos os homens são seus irmãos.
Em Rom. 3:30, lemos:
“...Deus é um só, o qual justificará, por fé, o
circunciso e, mediante a fé, o incircunciso.” A palavra-chave é “fé”. Por meio
ou através dela, são justificados uns e outros.
Anulando a lei – Anular ou “desfazer” a lei
não significa aboli-la. Nunca que se questiona a perpetuidade da lei. É ela tão
evidentemente eterna que o apóstolo Paulo jamais gasta tempo em argüir a esse respeito.
A questão jaz unicamente na maneira de cumprir suas exigências. O Salvador
disse que os judeus invalidavam o mandamento de Deus por causa de suas
tradições. No que se referia a eles, anulavam a lei. Não há homem algum que
possa, mediação qualquer ação, ou falta dela, abolir ou afetar no mínimo que
seja a lei de Deus. A pergunta, por conseguinte, é: Deixamos sem efeito a lei
de Deus devido à nossa fé? Ou, de outra maneira: A fé leva à transgressão da
Lei? A resposta é: “De modo algum.”
Estabelecendo a lei – Aqui se
aplica o que foi dito a propósito de anular a lei de Deus. Isto é, o homem nada
pode fazer por converter a lei em algo diferente do que ela realmente é. Ela é
o fundamento do trono de Deus e, como tal, subsistirá para sempre, apesar dos demonios
e dos homens.
Porém a
nós cabe decidir se será rejeitada em
nossos corações ou neles se estabelecerá. Se escolhermos a segunda opção. Basta
aceitarmos a Cristo pela fé. A fé traz Jesus para morar no coração (Efés.
3:17). A lei de Deus está no coração de Cristo (Sal. 40:8), portanto, a fé que
traz a Cristo ao coração também a estabelece aí. E uma vez que a lei de Deus é
o fundamente de Seu trono, a fé que a coloca no coração firma nele o trono de
Deus. Eis como Deus trabalha no homem. “... Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade.”
Capítulo 4
Crendo
na Maravilhosa, Promessa de Deus
O objetivo precípuo de
estudar pormenorizadamente qualquer livro da Bíblia é captar em seu conjunto a
idéia principal que contém. O segundo capítulo de Romanos e a primeira parte do
terceiro nos permitiram entender que todos os homens estão na mesma deplorável
condição. Contemplamos o aspecto luminoso na última parte do terceiro capítulo.
Aí se estabelece a gratuidade da graça de Deus em Cristo, como Salvador dos
pecadores. E agora, no quarto capítulo, encontramos o argumento central em
relação à justificação pela fé.
A Bênção de Abraão
1
Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne?
2 Porque, se Abraão foi justificado por obras,
tem de que se gloriar, porém não diante de Deus.
3 Pois que diz a Escritura? Abraão creu em
Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.
4 Ora, ao que trabalha, o salário não é
considerado como favor, e sim como dívida.
5 Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele
que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.
6 E é assim também que Davi declara ser
bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras:
7 Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são
perdoadas, e cujos pecados são cobertos;
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais
imputará pecado.
9 Vem, pois, esta bem-aventurança
exclusivamente sobre os circuncisos ou também sobre os incircuncisos? Visto que
dizemos: a fé foi imputada a Abraão para justiça.
10 Como, pois, lhe foi atribuída? Estando ele já
circuncidado ou ainda incircunciso? Não no regime da circuncisão, e sim quando
incircunciso.
11 E recebeu o sinal da circuncisão como selo da
justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos
os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça,
12
E
pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também
andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado.
Romanos 4:1-12
“Segundo
a carne” – Abraão não era o pai ou antecessor, segundo a
carne, de todos aqueles a quem Paulo dirigia sua epístola. O tema proposto é a
justificação pela fé. Agora se pode demonstrar que o próprio Abraão não recebeu a justiça segundo a carne, senão
somente pela fé. Daí tudo fica mais claro.
Ninguém
se glorie – Se no plano da salvação houvesse lugar para coisa tal como
a justiça pelas obras, então haveria terreno propício para a vanglória. Se
alguém pudesse ser salvo pelas obras, então poderiam assim ser salvos todos os
homens; nesse caso, os que fossem salvos poderiam orgulhar-se de sua superioridade
sobre o restante que se encontra em circunstâncias similares. Porém, temos
visto que a vanglória está excluída. “Deus escolheu as coisas loucas do mundo
para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para
envergonhar as fortes; e Deus escolheu
as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para
reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de
Deus.” (I Cor. 1:27-29)
Gloriar-se
“em” ou gloriar-se “perante” – Se Abraão houvesse sido justificado
pelas obras, teria motivos para gloriar-se, porém, o fato é que não pôde
jactar-se diante de Deus, como provam as palavras “Abraão creu em Deus e isso
foi-lhe imputado por justiça”. Para que o homem pudesse ser justificado pelas
obras, seria preciso demonstrar que não havia cometido nenhum mal. Nessa
condição não haveria necessidade de fé; as obras falariam por si mesmas. Porém
Abraão foi justificado pela fé e está claro que não foi por obra alguma. Aquele
que é justificado tão-somente pelas obras de Deus se gloriará unicamente nas
obras dEle. Isso é gloriar-se em Deus, o que é oposto a gloriar-se perante
Deus.
Paulo
e Tiago – É
neste ponto que quase todos citam as palavras de Tiago: “Não foi por obras que
Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio
filho, Isaque?” (Tia. 2:21) Desgraçadamente, o texto é costumeiramente
empregado como se pudesse desvalorizar as palavras de Paulo. Parece dar-se como
definitivo que existe contradição entre Paulo e Tiago, e a simpatia se inclina
de forma natural para o que Tiago ensina. Alguns crêem que Tiago escreveu com o
propósito de corrigir “posições extremistas” de Paulo sobre a justificação pela
fé.
Faremos bem em
descartar todas essas idéias tolas e ímpias. Ninguém pode chegar a uma
compreensão proveitosa das Escrituras, a menos que se empenhe em seu estudo com
a convicção de que “toda Escritura é inspirada por Deus”. O Espírito Santo não
inspira, em nenhum caso, palavras que necessitem ser posteriormente corrigidas.
A
fé que opera – O problema de quem lê desse modo as palavras de Tiago é que
supõe que o apóstolo pretende dizer que Abraão foi justificado por suas
próprias obras de fé. “Vês como a fé operava
juntamente com as suas obras?” Esse é o selo perene da fé viva, tal como mostra
o apóstolo, em perfeita concordância com a declaração de Paulo. O último
versículo do terceiro capítulo de Romanos nos diz que mediante a fé
estabelecemos a lei.
O mesmo
termo “justificação” mostra que essa fé cumpre os reclamos da lei. A fé faz do
homem um cumpridor da lei, já que esse é o significado da expressão
“justificação pela fé”. Assim, em sua epístola, Tiago nos informa que as obras
de Abraão demonstraram a perfeição de sua fé. “Pois que diz a Escritura? Abraão
creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.”
(Rom. 4:3) O apóstolo Tiago ensina, portanto, o mesmo tipo de justificação de
Paulo. Caso contrário, um ou outro, se não ambos, ficariam desacreditados como
apóstolos. A única classe de justificação que a Bíblia reconhece é a
justificação pela fé que opera.
Dívida
e favor – “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado
como favor, e sim como dívida.” É importante ter-se presente o propósito do
quanto aqui escrito por Paulo. O tema é a maneira pela qual o homem é justificado
Se alguém pudesse operar sua própria justificação, a recompensa – a justiça –
não seria um dom ou favor, mas o pagamento de uma dívida. Isso supondo que
pudesse existir alguma justiça pelas obras. Em tal caso, o homem iria a Deus
para reclamar o que lhe é devido.
Porém, nenhum homem
pode impor a Deus essa obrigação. “Ou quem primeiro deu a Ele para que lhe
venha a ser restituído” (Rom. 11:35). Se alguém pudesse fazer algo pelo Senhor,
de maneira que Ele Se obrigasse perante o homem, então todas as coisas não
procederiam dEle. Dito de outra maneira, a justificação pelas obras se opõe ao
fato de que Deus e o Criador de todas as coisas. E vice-versa, o reconhecimento
de Deus como Criador é a consideração de que somente dEle procede a justiça.
Justificando
o ímpio – Deus
justifica o ímpio. Somente o ímpio está necessitado de justificação. Porém,
veja bem que Deus não justifica a impiedade.
Isso seria chamar bom ao que é mau e negar-Se a Si mesmo. Pelo
contrário, o que Ele faz é justificar ou
tornar justo ao ímpio, que é precisamente o que esse necessita. Deus justifica
o pecador que crê, tornando-o um novo homem em Jesus Cristo; pode fazer isso e
continuar sendo justo. O homem não é justificado pelas obras, porém o homem justo
age, embora sempre o faça pela fé. “O justo viverá da fé.” É a fé que o faz continuar vivendo em
justiça. A realidade das obras da fé é mais manifesta na última parte deste
capítulo.
Descrição
da bem-aventurança – A bem-aventurança do homem a quem Deus imputa
justiça sem as obras, é a do perdão dos pecados e da libertação do poder do
pecado. Deus não imputará pecado a quem vive pela fé em Cristo, de modo que as
obras de Jesus sejam suas próprias. “Ora, como
recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle... porquanto, nEle, habita,
corporalmente, toda a plenitude da Divindade... Também, nEle, estais
aperfeiçoados.” (Col. 2:6-10)
Bençãos para o judeu e o gentio – A benção
alcança por igual à circuncisão e a incircuncisão. Encontramos aqui a repetição
da verdade estabelecida no terceiro capítulo, referente ao fato de que não há
diferença no que tange à justificação. Abraão é o pai da nação judaica segundo
a carne, porém a bênção que recebeu foi quando ainda era incircunciso como
qualquer outro gentio. Por isso, pode ser pai de ambos, judeus e gentios.
Recebeu sua bênção pela fé, de forma que “os que são da fé são benditos como o
crente Abraão” (Gál. 3:9)
Como recebemos a bênção –Já vimos anteriormente
que a bênção veio a Abraão mediante Cristo. O apóstolo Paulo nos diz que “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se Ele
próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que
for pendurado em madeiro) para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em
Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.” (Gál.
3:13 e 14) Tudo quando foi prometido a Abraão estava contido na bênção descrita
por Davi. Deus enviou Seu Filho para nos abençoar, fazendo com que nos
convertamos de nossa maldade (Atos 3:26). É a cruz de Cristo que transfere as
bênçãos de Abraão para nós. As bênçãos são, pois, espirituais. Nenhuma das
bênçãos prometidas a Abraão era meramente temporal. Isso da evidência de que a
herança prometida a Abraão e sua semente refere-se unicamente aos que são
filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo.
A circuncisão nada é – A vantagem dos que são da circuncisão é que a
eles foram confiados os oráculos de Deus; porém isso não lhes adveio mediante a
circuncisão. A circuncisão era somente um sinal, e não meritória em si mesma. Foi
dada a Abraão como uma prova da justiça pela fé que ele já possuía. E tampouco
pode significar coisa alguma para nenhum
outro. Se alguém dos que estavam circuncidados não possuía a justiça, então sua
circuncisão nada significava. “A circuncisão, em si, não é nada; a
incircuncisão também nada é, mas o que vale é guardar as ordenanças de Deus.”
(I Cor. 7:19). Assim Abraão era o pai dos circuncidados sob condição de que não
tivessem apenas um mero sinal exterior, mas a justiça pela fé, que é
verdadeiramente necessária.
Tudo em Cristo – Referindo-se a Jesus, disse o apóstolo:
“Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nEle o sim; porquanto
também por Ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio.” (II Cor.
1:20) Não há promessa divina a homem algum que não seja em Cristo.”
A Herança e os Herdeiros
“13 Não foi por
intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser
herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé.
14 Pois,
se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa,
15 Porque a lei suscita a ira; mas onde não há
lei, também não há transgressão.”
Romanos 4:13 a 14
Onde
está a promessa? – Uma pergunta
bastante natural ao lermos o décimo
terceiro versículo seria. Onde vemos uma promessa de que Abraão e sua semente
deveriam ser herdeiros do mundo?
Muitos crêem que o Antigo Testamento não contém tal promessa. Porém, não pode
existir qualquer dúvida quanto a isso, já que o apóstolo diz que ela existe. Se
não a achamos é por havermos lido demasiado superficialmente o Antigo
Testamento, ou com mentes condicionadas por opiniões preconcebidas. Se prestarmos
atenção nas relações estabelecidas por Paulo, não teremos dificuldade em
localizar a promessa.
Sobre que temas relacionados
está aqui falando o apóstolo? De uma herança mediante a justiça pela fé, e
também do fato de que a circuncisão foi dada a Abraão como sinal da justiça que
tinha pela fé; portanto, como sinal da herança que receberia mediante ela.
Em que lugar do Antigo
Testamos encontramos o relato da introdução da circuncisão, e de uma promessa
dada em relação a ela? No capítulo 17 de Génesis. Esse é um bom lugar para
buscar a promessa segundo a qual Abraão seria herdeiro do mundo. Leiamo-la:
“Estabelecerei
a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas
gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das
tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu
Deus. Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua
descendência no decurso das suas gerações.
Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua
descendência: todo macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do
vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós.” (Gên. 17:7-11)
Quem sabe voce diga a
si mesmo: “Sim, é claro que aí existe uma promessa, porém o que estamos
procurando é a promessa de que Abraão e sua semente herdariam a Terra, e não encontro tal passagem. Todo
o que vejo é uma promessa de que herdariam a terra de Canaã.”
Porém, vamos por outro
caminho e logo veremos que essa é realmente a promessa de que Abraão e sua
semente seriam herdeiros do mundo. Temos que analisar os detalhes da promessa.
E primeiramente devemos notar o fato de que a herança prometida é eterna.
Abraão mesmo deveria
recebê-la como uma possessão eterna. Porém, a única forma em que ambos – Abraão
e sua semente – poderiam ter a posse eterna de uma herança é recebendo eles mesmo
a vida eterna. Vemos, por conseguinte, que nessa promessa feita a Abraão temos
a segurança da vida eterna com a qual fruiremos a possessão. Todavia, isso se
faz mais evidente ao considerarmos que a herança é de justiça. “Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua
descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a
justiça da fé.” (Rom. 4:13) Isso coincide precisamente com a promessa do
capítulo dezessete de Gênesis, uma vez que esse pacto foi selado mediante a
circuncisão (versículo 11 de Gênesis 17), e segundo Romanos 4:11, a circuncisão
era o selo da justificação pela fé.
Alguém pode
dizer que isso não é algo evidente no Antigo Testamento, de modo que não se
pode supor que os judeus assim o entendessem. Hoje dispomos do Novo Testamento,
que lança mais luz sobre o fato. É certo que no estudo do Antigo Testamento
devemos muito ao Novo, porém, não há nesse nenhuma revelação nova. Somente a
partir do Antigo Testamento é possível compreender que a herança prometida a
Abraão e sua semente, o foi somente sob a condição da justiça pela fé.
Essa é a
conclusão lógica a partir do fato de que a herança constituía uma posse eterna.
Os judeus sabiam muito bem que a vida eterna pertence somente aos justos. “O
justo jamais será abalado, mas os perversos não habitarão a Terra.” (Prov.
10:30) “Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no Senhor
possuirão a Terra.” (Sal. 37:9).
“Aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles
a quem amaldiçoa.” (verso 22)
O quinto
mandamento diz: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias
na terra que o Senhor, teu Deus, te dá.” A observância dos mandamentos nunca
significou uma diferença entre no prolongamento da vida do homem neste mundo (Nota: Exceção feita ao incremento da
longevidade por parte de quem obedece às leis naturais sobre saúde). Contudo,
a herança que Deus prometeu a Abraão será eterna em função da justiça de seus
possuidores.
A promessa e a ressurreição – Se lermos atentamente,
veremos outro detalhe na promessa registrada em Gênesis. A promessa foi feita a
Abraão e à sua semente. Estevão citou como fato bem conhecido que Abraão não
recebeu sequer a porção de terra prometida que lhe permitisse assentar um dos
pés (Atos 7:5). Podemos encontrar isso no Antigo Testamento, já que nos é dito
ali que teve ele de comprar o terreno dos cananeus, que haveriam de ser
expulsos, segundo a promessa de Deus – um lote de terra onde pudesse sepultar
sua esposa. E quanto a seus descendentes, sabemos que tiveram de morar em tendas, errantes de um
lugar a outro. O próprio Jacó morreu na terra do Egito. E ainda mais. Lemos as
palavras de Davi, cujo reino se encontrava na hora de maior prosperidade para
os filhos de Israel na terra de Canaã: “Ouve, Senhor, a minha oração, escuta-me
quando grito por socorro; não Te emudeças à vista de minhas lágrimas, porque
sou forasteiro à Tua presença, peregrino como todos os meus pais o foram.”
(Sal. 39:12). Na oração de consagração dos dons do templo, por ocasião da coroação de Salomão,
vemo-lo expressando-se em termos similares (I Crôn. 29:15).
Ademais, e
mesmo mais importante, temos as palavras de Deus a Abraão ao fazer-lhe a
promessa. Depois de haver assegurado que daria a terra de Canaã a ele e sua semente,
o Senhor lhe disse que sua semente haveria de ser, primeiramente, escrava em
terra estrangeira. “E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em
ditosa velhice.
Na quarta geração, tornarão para aqui...” (Gên.
15:15 e 16). Sabemos, pois, que foi dito claramente a Abraão que ele morreria
antes de receber qualquer herança na Terra, e que se passariam pelo menos
quatrocentos anos antes que sua semente pudesse herdá-la.
Porém, Abraão morreu na fé e também sua
semente. Diz Hebreus 11:13: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as
promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a Terra.” Morreram na fé, posto que sabiam que
Deus não pode mentir. Contudo, visto que a promessa de Deus deve cumprir-se e
que eles não receberam nesta vida a herdade prometida, a conclusão
inquestionável é que somente se pode obter mediante a ressurreição dos mortos.
Essa era a esperança que susteve os israelitas
fiéis. Abraão foi fiel em oferecer Isaque sobre o altar, devido à sua fé no
poder de Deus de ressuscitar mortos. Quando Paulo estava preso em razão da
“esperança e a ressurreição dos mortos” (Atos 23:6), disse: “E, agora, estou sendo julgado por
causa da esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais, a qual as
nossas doze tribos, servindo a Deus fervorosamente de noite e de dia, almejam
alcançar...” E então, para mostrar a
razoabilidade dessa esperança, perguntou ao rei Agripa: “Por que se julga
incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?” (Atos 26:6-8)
A ressurreição de Jesus Cristo é o compromisso e a garantia
da ressurreição daqueles que crêem nEle (ver I Cor. 15:13-20). Os apóstolos
anunciaram “em Jesus, a ressurreição dentre os
mortos” (Atos 4:2). E um deles disse, para nosso benefício: “Bendito o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos
regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada
nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé,
para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.” (I Ped. 1:3-5)
Logo acrescenta que
essa fé se submete à prova, a fim de que “redunde em louvor, glória e honra na
revelação de Jesus Cristo”. E isso nos
leva à conclusão do assunto, de que a promessa feita a Abraão e à sua semente de que seriam
herdeiros do mundo, é a promessa da vinda de Cristo.
O apóstolo Pedro diz
que é necessário recordarmos as palavras dos santos profetas, porque “nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus
escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa
da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem
como desde o princípio da criação.” (II Ped. 3:3 e 4) Isto é, não crêem na promessa.
Porém, eles
não raciocinam corretamente, já que “... delibera-damente, se esquecem que, de
longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água
pela palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado
em água. Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido
entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos
homens ímpios” (II Ped. 3:5-7).
Veja que a
promessa não somente tem algo a ver com os pais, mas que também afeta toda a
Terra. Os escarnecedores afirmam que desde que os pais dormiram, todas as
coisas continuam como eram desde o princípio da criação. Porém, o apóstolo
replica que ao pretenderem tal coisa,
estão fechando os olhos ao fato de que a mesma palavra que no princípio
fez os céus e a Terra, destruiu também a Terra através do dilúvio. De igual
maneira, a Terra está agora preservada pela mesma palavra, até o dia do juízo e
da perdição dos ímpios, quando será destruída pelo fogo. Todavia nós, “segundo
a Sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”
(II Ped. 3:13).
Segundo que promessa? – A promessa
feita aos pais, de que Abraão e sua semente herdariam a Terra. De acordo com os
cômputos humanos, já passou muito tempo desde que a promessa foi feita, porém,
“não
retarda o Senhor a Sua promessa...” Não se passou tanto
tempo desde que Ele a fez, como se a houvesse esquecido, já que para o
Senhor “um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia.” A razão por que é
esperada por tanto tempo é que Ele não quer que ninguém se perca, mas que todos
cheguem ao arrependimento.
Assim vemos que temos nessa promessa um interesse tão
grande como o que o próprio Abraão teria. Ela ainda está em vigência, aberta à
aceitação de todos. Abarca toda a vida eterna de justiça na Terra renovada, tal
como era no princípio. A esperança da promessa de Deus aos pais era a esperança
da vinda do Senhor para ressuscitar os mortos, concedendo assim a herança.
Cristo esteve aqui na Terra. Naquela ocasião Ele não tinha
mais herança do que Abraão possuiu. Não tinha nem mesmo onde recostar a cabeça.
Deus está agora enviando Seu Espírito Santo a fim de selar os crentes para a
herança, o mesmo que fez com Abraão. Quando todos os fiéis forem selados assim,
enviará Ele “o Cristo, que já vos foi designado,
Jesus, ao qual é necessário que o Céu receba até aos tempos da restauração de
todas as coisas, de que Deus falou por boca dos Seus santos profetas desde a
antiguidade”. (Atos 3:20 e 21)
Vimos o que Abraão descobriu e de que maneira o
descobriu. Vimos também o que Deus nos prometeu, como o fez a Abraão, se
crermos em Sua Palavra. Deus prometeu a todo aquele que nEle crê nada menos que
libertação do mundo. Não se trata de algo arbitrário. Não é que Deus nos disse
que se crermos em certas declarações e dogmas, Ele nos concederá em troca a
herança eterna. Essa herança é um legado de justiça, e posto que a fé significa
receber a vida de Cristo no coração, juntamente com Sua justiça, é evidente que
não há outra maneira de receber a herança. Isso se faz mais evidente ao
prestarmos atenção a certa expressão do verso 15, que antes não havíamos
considerado: “a lei opera a ira.”
Aquele que crê poder obter a justiça a partir
da lei está pondo sua confiança naquilo que o destruirá. Deus prometeu uma
terra em herança a todo o que a aceite em suas devidas condições, isto é, que
aceita a justiça que vem com ela, uma vez que dita justiça é precisamente a característica
da terra. “... Novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.” Porém,
essa justiça pode ser encontrada unicamente na vida de Deus manifestada em
Cristo.
Aquele que pensa que pode, por si mesmo, obter justiça a
partir da lei, em realidade está tentando substituir a justiça de Deus pela sua
própria. Está tratando de conseguir a terra de forma fraudulenta. Portanto,
quando comparecer ante o tribunal do juízo para reclamar seus direitos de
propriedade sobre a terra, descobre que há uma acusação criminal contra ele e
encontra “ira” em lugar de bênção. “Onde não há lei, também não há
transgressão.” Porém, a lei está em todo lugar e também a transgressão. Todos
pecaram; assim, a herança não pode ser obtida pela lei.
A Grande Satisfação de
Crer na Promessa.
16 Essa é a razão por que provém da fé, para que
seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a
descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da
fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós,
17
Como está escrito: Por pai de muitas
nações te constituí.), perante aquele no qual creu, o Deus que vivifica os
mortos e chama à existência as coisas que não existem.
18 Abraão, esperando contra a esperança, creu,
para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua
descendência.
19 E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em
conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada
de Sara,
20 Não duvidou, por incredulidade, da promessa
de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus,
21 Estando plenamente convicto de que ele era
poderoso para cumprir o que prometera.
22 Pelo que isso lhe foi também imputado para
justiça.
23
E não somente por causa dele está
escrito que lhe foi levado em conta,
24 Mas também por nossa causa, posto que a nós
igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou
dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor,
25 O qual foi entregue por causa das nossas
transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.
Rom. 4:16-25
“Seja
firme a promessa para toda a descendência” – Visto que a herança é mediante
a justiça pela fé, resulta igualmente segura para toda a semente e ao alcance
de todos. A fé concede a todos a mesma oportunidade, uma vez que ela é tão
fácil para uma pessoa como para outra qualquer. Deus repartiu a cada um “a
medida de fé”, a mesma medida para todos, já que a medida da graça é a medida
da fé, “e a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de
Cristo”. (Efés. 4:7). Cristo entregou-Se sem reservas a todo homem (Heb. 2:9).
Por que foi dada a mesma medida de fé e de graça a todo homem, todos têm a
mesma oportunidade de entrar na herança.
Jesus
é a garantia – A fé garante a promessa a toda a semente porque
tem a Cristo como único centro, e Ele é a garantia das promessas de Deus (II
Cor. 1:20). Lemos ainda sobre o juramento feito por Deus através do qual Jesus
foi constituído Sumo Sacerdote. “Por isso mesmo, Jesus Se tem tornado fiador de
superior aliança.” (Heb. 7:22). Jesus não Se deu somente a certa classe, mas a
todos sem distinção. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu
Filho Unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida
eterna.” (João 3:16). Lemos em Hebreus 2:9 que Jesus, pela graça de Deus,
experimentou a morte por todos. Nosso Senhor disse: “O que vem a Mim, de modo
nenhum o lançarei fora.” (João 6:37) Cristo habita no coração pela fé (Efés.
3:17). Já que Cristo é o fiador da promessa, ela é garantida a todo aquele que
crê.
O
juramento de Deus – Talvez lhe possa parecer algo
atrevido dizer que o juramente pelo qual Jesus foi constituído Sumo Sacerdote
seja a garantia da promessa feita a Abraão. Porém, um pouco de reflexão irá
convencê-lo de que não pode ser de outra maneira. No sexto capítulo de Hebreus,
versos 17 a 20, lemos: “Por isso, Deus,
quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade
do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas
imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que
já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos
por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como
precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo
a ordem de Melquisedeque.”
Tudo
foi feito por nós – Por que Deus confirmou a promessa a
Abraão mediante juramento? Para que tenhamos grande animação e coragem. Não foi
por causa de Abraão, visto que ele creu plenamente sem necessidade de
juramente. Sua fé mostrou-se perfeita antes que se fizesse o juramento. Foi por
nós.
Quando esse juramento nos transmite “forte alento”?
Quando corremos e nos refugiamos em Cristo como sacerdote no Lugar Santíssimo.
Ministro como Sumo Sacerdote além do véu, e é o juramento de Deus que nos anima
a crer que Seu sacerdócio nos salvará.
De forma que nosso consolo vem do sacerdócio de Cristo e, portanto, do
juramento que O constituiu sacerdote.
O juramento de Deus a
Abraão foi idêntico àquele que constituiu Cristo como Sumo Sacerdote. Isso
mostra plenamente que a promessa de Deus a Abraão é tão abarcante quanto o evangelho
de Cristo. E é assim que nosso texto diz com referência à justiça que foi imputada
a Abraão: “E não somente por causa dele está escrito que lhe foi levado em conta,
mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será
imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a
Jesus, nosso Senhor...”
O poder da Palavra de Deus – Deus “chama as coisas que não são, como se fossem”. Algumas vezes o
homem faz isso mesmo, e então perdemos rapidamente a confiança nele. Quando o
homem chama as coisas que não são como se fossem, há uma só palavra para definir
o que faz – mentira. Porém Deus chama as coisas que não são como se fosse, e
isso é verdade. Onde está a diferença? Simplesmente nisto: a palavra do homem
não tem o poder de trazer à existência algo que não havia antes. Pode o homem
insistir que seja assim, mas isso não converte o irreal em real. Porém, quando
Deus nomeia algo, isso está na própria palavra pronunciada. Ele fala e o fato
ocorre. Por esse poder divino Abraão foi feito o pai de muitas nações; nosso
pai, se crermos que Jesus morreu e ressuscitou.
Dando vida aos mortos – É graças ao poder da palavra de Deus, que chama as coisas que não são
como se fossem, trazendo-as à existência, que os mortos são ressuscitados. Sua
palavra os faz viver. Foi a fé de Abraão na ressurreição dos mortos que o fez
pai de muitas nações. O juramento de Deus a Abraão teve lugar por ocasião do
oferecimento de Isaque (Gên. 22:15-18). “Pela fé, Abraão, quando posto à prova,
ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que
acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada
a tua descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para
ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou.”
(Heb. 11:17-19)
A justiça e a ressurreição de Jesus – A justiça imputada a Abraão também será concedida a nós
outros, se crermos nAquele que ressuscitou nosso Senhor dentre os mortos. Disso
se deduz que essa justiça foi imputada a Abraão em razão de sua fé na
ressurreição dos mortos, que vem somente por meio de Cristo (Atos 4:2) . Essa
foi a pregação dos apóstolos: as promessas feitas aos pais. O poder pelo qual o
homem se torna justo é o da ressurreição (Ver Filip. 3:9-11). Esse poder da
ressurreição, que opera justiça no homem é a segurança da ressurreição final
para a imortalidade, no dia final, no
momento em que ele entra em sua herança.
Sua fé não fraquejou – “E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem
anos, e a idade avançada de Sara.” Vale dizer que, depois que Deus lhe fizera a
promessa, a plena consciência de sua debilidade e de todas as dificuldades e
impossibilidades aparentes não conseguiram debilitar sua fé. Para Deus não há
nada impossível; nada é difícil para Ele. Se alguma vez você se sentiu
inclinado a duvidar da possibilidade de sua própria salvação, pare e considere
que Deus fez o mundo através de Sua palavra e que Ele ressuscita os mortos,
e tudo isso pelo mesmo poder que salvará
você, se assim o desejar. Duvidar do poder de Deus para livrar-nos de toda
maldade é descrer que Ele criou todas as coisas por Sua palavra, e que é capaz
de ressuscitar os mortos.
Capítulo 5
Graça
Abundante
No capítulo precedente vimos Abraão como
ilustração da justiça pela fé. A fé que lhe foi imputada, fé na morte e ressurreição
de Cristo, trar-nos-á a mesma justiça e nos tornará herdeiros com ela da mesma
promessa. Porém, o capítulo quarto é, em realidade, um parêntese a propósito
dessa ilustração, de forma que o quinto começa justamente onde o terceiro
terminou.
1
Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor
Jesus Cristo;
2 Por intermédio de quem obtivemos igualmente
acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na
esperança da glória de Deus.
3 E não somente isto, mas também nos gloriamos
nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança;
4 E a perseverança, experiência; e a
experiência, esperança.
5 Ora, a esperança não confunde, porque o amor
de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi
outorgado.
6
¶ Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos
ímpios.
7 Dificilmente, alguém morreria por um justo;
pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer.
8 Mas Deus prova o seu próprio amor para
conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
9 Logo, muito mais agora, sendo justificados
pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
10
Porque,
se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu
Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
Romanos
5:1 a 10
A
fé opera justiça real – “Justificados, pois.” O “pois”
indica que se chega a uma conclusão que deriva de algo que a precede. O que é?
O relato do que Abraão obteve pela fé. Obteve justiça. Foi em razão de sua fé
na promessa de que teria um filho – o filho da fé. A mesma fé que propiciou o
nascimento de Isaque trouxe justiça a Abraão. Trata-se da mesma justiça que nos
será imputada se tivermos a fé que ele possuiu. Somos ensinados, portanto, que
a justiça da fé é algo tão real como o filho que nasceu, pela fé, a Abraão. A
justiça pela fé não é nenhum mito.
O que é paz?
– Muitos
abrigam a idéia de que se trata de algum tipo de êxtase. Pensam que a paz com
Deus deve consistir em algum tipo de sentimento celestial indescritível, de
forma que estão sempre em busca dessa excitação sentimental como evidência de que
são aceitos por Deus.
Porém, a paz com Deus significa o mesmo que a
paz com o homem – é simplesmente ausência de guerra. Como pecadores, somos
inimigos de Deus. Ele não é nosso opositor, mas nós somos Seus inimigos. Ele
não luta contra nós, todavia, nós pelejamos contra Ele. Como podemos chegar a
ter paz com Deus? Simplesmente deixando de lutar, depondo nossas armas. Podemos
achar a paz no momento em que estivermos dispostos a deixar de combater contra
Ele.
“Paz com
Deus” – Veja
que quando temos paz com Deus, não quer dizer somente que nós estamos em paz
com Ele, mas que temos Sua paz. Essa paz foi posta na Terra em benefício do
homem, porque o Senhor disse: “Deixo-vos a Minha paz, a Minha paz vos dou.”
(João 14:27) Já que Ele no-la deu, ela é nossa. Sempre foi nossa. O único
problema é que não temos crido assim. Tão logo creiamos nas palavras de Cristo,
temos verdadeiramente a paz que Ele nos deu. Trata-se da paz com Deus, porque
encontramos a paz de Cristo, “que está no seio do Pai”. (João 1:18)
Paz e
justiça – “Muita
paz têm os que amam a Tua lei.” (Sal. 119:165) “Ah, se tivesses dado ouvidos
aos Meus mandamentos! Então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça como
as ondas do mar.” (Isaías 48:18) A justiça é paz, porque nossa luta contra o
Senhor consistia nos pecados que acariciávamos. A vida de Deus é justiça e Ele
é o Deus da paz. Posto que a inimizade é a mente carnal e suas más obras, a paz
deve ser o oposto, isto é, a justiça. Devido a isso, a afirmação de que ao
sermos justificados pela fé temos paz com Deus, não deixa de ser a constatação
de um fato óbvio. A justiça que nos é outorgada pela fé traz consigo a paz. É
impossível separar ambas as coisas.
Paz versus sentimentos – Pode alguém
fruir paz com Deus sem possuir um sentimento de paz? O que diz a Escritura?
“Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus.” O que traz a paz? A fé. Porém,
a fé não é um sentimento. Se a paz deve vir sempre acompanhada de determinado
sentimento, então podemos saber que não estamos justificados no caso de carecermos
de tal emoção. Dessa maneira, a justificação seria uma questão de sentimentos e
não de fé. Os versículos seguintes indicam que podemos ter paz mesmo em meio às
tribulações, da mesma forma que quando tudo vai bem.
Gloriamo-nos
nas tribulações – A Escritura não
nos diz que devemos procurar o martírio, como deduziram alguns nos primeiros séculos.
O que ela fala é que, em meio às tribulações, nossa paz e gozo continuam
imperturbáveis. Não pode ser de outra maneira com a paz que procede da fé. A
paz que depende de sentimento nos abandonará tão logo venha a tribulação.
Porém, nada pode alterar a paz que vem da fé. “Estas coisas vos tenho dito para
que tenhais paz em Mim. No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, Eu
venci o mundo.” (João 16:33)
A tribulação
produz paciência – O que é paciência? É resistir ao sofrimento. A
palavra “paciência” está etimologicamente relacionada a sofrimento. Quando
alguém está enfermo, dizemos que é um “paciente”. Em outras palavras, é um
sofredor. As pessoas amiudadamente desculpam seu mau gênio dizendo que têm
muito que suportar. Muitos crêem que seriam pacientes no caso de seu sofrimento
ser menos intenso. Não assim! Não o seriam. Não pode haver paciência onde não
há sofrimento. A tribulação não arruína a paciência, mas a desenvolve. Quando a
aflição parece acabar com a paciência de alguém, demonstra-se, em realidade, que
essa pessoa não tinha paciência.
Quando
produz?
– O versículo bíblico diz que a tribulação produz paciência. Porém, muitos se
irritam na proporção direta da dor que padecem. Neles ela não opera a
paciência. Por quê? Simplesmente porque não estão na situação que o apóstolo
descreve. Somente nos que estão justificados pela fé é que a tribulação gera
paciência. Nada que não proceda da fé em Deus pode mantê-los perfeitamente
pacientes sob qualquer circunstância.
Produzirá
sempre? – Sim, invariavelmente. Quem
sabe você esteja dizendo para si mesmo: “Estou certo de que todos seriam impacientes se tivessem de resistir tanto
quanto tenho padecido. Permita-me perguntar-lhe: Será que Cristo ficaria
impaciente se tivesse de agüentar tanto quanto você tem de sofrer? Acaso Ele
não passou por isso e muito mais? Você terá de admitir que sim. Ficou Ele
impaciente? “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca.” (Isa. 53:7)
Portanto, se Ele estivesse em seu lugar, seria paciente? Por que você não
permite que Jesus tome o seu lugar? A fé traz Cristo ao coração, de modo que
Ele Se identifica conosco e leva nossas cargas. “Confia os teus cuidados ao Senhor, e Ele te susterá.”
(Sal. 55:22)
“Toda
paciência”
– Não há limites à paciência que vem pela fé em Cristo. “Para que possais andar
de maneira digna do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda boa
obra e crescendo no conhecimento de Deus, corroborados com toda a fortaleza,
segundo o poder da Sua glória, para toda a perseverança e longanimidade com
gozo...” (Col. 1:10-12). Isto é, podemos ser fortalecidos de tal modo pelo
glorioso poder pelo qual Cristo resistiu ao sofrimento, que manifestamos toda
paciência, inclusive sob o mais atroz padecimento, alegrando-nos nele.
“A paciência
produz um caráter aprovado” – Aprovado em quê? Na paz de Deus mediante
nosso Senhor Jesus Cristo. Muitos confundem experiência cristã com profissão de
cristianismo. Dizem ter vivido tantos anos de “experiência cristã”, enquanto
pode acontecer de não terem experimentado de fato a bênção da vida de Cristo.
Trata-se de uma mera profissão religiosa. A experiência genuína significa a
demonstração do poder da vida de Cristo. Quando alguém possui essa experiência,
esse “caráter aprovado”, não lhe é difícil partilhar algo dela quando uma
ocasião propícia tiver lugar.
“Não há
vergonha” – A esperança não envergonha. Por quê? Porque o amor de Deus
é derramado em nossos corações. “E agora, filhinhos, permanecei nEle; para que,
quando Ele Se manifestar, tenhamos confiança, e não fiquemos confundidos diante
dEle na Sua vinda.” (I João 2:28). “Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para
que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual Ele é, somos também nós
neste mundo.” (I João 4:17) Não pode haver dia de maior prova do que o dia do
juízo. Por isso, os que nessa ocasião não estiverem envergonhados nem
atemorizados, manifestarão confiança. Aquele que está confiante em Deus não tem
nada que temer do homem.
“O amor de
Deus” – A
razão por que a esperança não envergonha é que o amor de Deus está derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo. Observe que não se trata do amor a Deus, mas do amor de Deus. Em que consiste o amor de Deus? “Porque este é o amor de
Deus, que guardemos os Seus mandamentos...” (I João 5:3). O Espírito Santo, por
conseguinte, coloca em nossos corações a obediência à lei de Deus, e isso nos
dá confiança para o dia do juízo e em todos os demais dias. O pecado é que
produz medo no homem. Ao ser removido o pecado, o temor desaparece. “Fogem os
ímpios sem que ninguém os persiga, mas os justo são ousados como o leão.” Prov.
28:1.
Cristo morreu pelos ímpios – “Fiel é a
palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar
os pecadores, dos quais eu sou o principal.” (I Tim. 1:15). “Este recebe
pecadores...” (Luc. 15:2) É estranho que as pessoas permitam que o sentimento
de sua pecaminosidade os mantenha apartados do Senhor, uma vez que Cristo veio
precisamente para recebê-los e salvá-los. Ele pode salvar perfeitamente aos
que, por Seu intermédio, se achegam a Deus (Heb. 7:25), e lhes diz: “O que vem
a Mim nunca o lançarei fora.” (João 6:37).
“Quando nós ainda éramos fracos” – Foi quando éramos
ainda débeis que Cristo morreu pelos ímpios. Assim tinha de ser, pois era Seu
propósito que fôssemos fortalecidos com poder por Seu Espírito no homem
interior. Se Ele houvesse esperado que adquiríssemos certa força antes de Se
entregar por nós, estaríamos perdidos. Quando éramos fracos? Agora,
precisamente, Cristo Se apresenta como crucificado perante nós (Gál. 3:1) Isaías 5:23 e 24, na versão Cantera Iglesias, assim reza:
“Voltai-vos para Mim e sede salvos... de Minha boca saiu a justiça... jurará toda
língua, dizendo: Só em Jeová tenho salvação e força.”
“Justo” e “bom” – “Dificilmente, alguém
morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer.”
Em nosso idioma é difícil a distinção entre os termos. O homem justo é aquele
que é reto, aquele que paga escrupulosamente a cada um aquilo que deve. O bom é
aquele que é benevolente, o que nos faz muitos favores, que faz por nós mais do
que merecemos. Pois bem, por mais justo que um homem possa ser, sua integridade
de caráter dificilmente levará alguém a morrer por ele. Porém, é possível que
alguém estivesse disposto a morrer por um homem conhecido por sua grande
bondade.
O amor maior – Essa é a medida máxima
de amor entre os homens. Alguém pode chegar a dar a vida por seus amigos. “Mas
Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por
nós, sendo nós ainda pecadores”, e, portanto, inimigos.
“Com amor
eterno Eu te amei; por isso, com benignidade te atraí.” (Jer. 31:3)
Reconciliados
por Sua morte – Deus não é nosso inimigo, porém, nós somos, ou fomos,
adversários dEle. Deus não necessita, pois, reconciliar-Se conosco; porém, nós
sim é que necessitamos reconciliar-nos com Ele. Ele mesmo é quem, na infinita
bondade de Seu coração, faz a reconciliação. Temos sido “aproximados pelo sangue de Cristo” (Efés. 2:13) Como? Foi o
pecado que nos separou de Deus e nos tornou Seus inimigos, mas, “o sangue de
Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (I João 1:7). Se nos
purifica de todo pecado, somos naturalmente reconciliados com Deus.
O
dom da vida – “A vida da carne está no sangue.” (Lev. 17:11 e 14) Por ter Cristo derramado
Seu sangue por nós, deu Sua vida em nosso favor. Visto que Seu sangue é
aplicado para nos purificar de todo pecado, Sua vida nos é outorgada. Portanto,
se somos crucificados com Ele, recebemos Sua vida em troca de nossa existência
pecaminosa, a qual Ele toma para Si. Pela fé em Seu sangue são-nos remitidos os
pecados, não como por um gesto arbitrário, mas porque mediante a fé “trocamos”
nossa vida pela Sua, e essa vida que recebemos em troca não tem pecado. Nossa
vida pecaminosa é absorvida em Sua vida infinita, porque Ele tem vida tão
abundante que pôde morrer por nossas transgressões e viver novamente para
conferir-nos vida.
“Salvos por Sua vida” – Cristo não
conheceu em vão os horrores da morte, nem deu Sua vida por nós com a intenção
de retomá-la depois. Ao nos dar Sua vida, fê-lo para que a tivéssemos para
sempre. Como a recebemos? Pela fé. Como a conservamos? Pela mesma fé. “Portanto, assim como
recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim também nEle andai.” (Col. 2:6) Sua vida nunca tem fim, porém, podemos
perdê-la por nossa incredulidade.
Lembremo-nos de que não
temos essa vida em nós mesmos; mas ela “está em Seu Filho”. “Quem tem o Filho
tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida.” (I João 5:11 e 12) Obtemos a vida eterna tendo a Cristo. É
lógico que se fomos reconciliados com Deus pela morte de Cristo, se Sua vida
nos foi dada para remissão de nossos pecados, quanto mais seremos salvos por
Aquele que ressuscitou dos mortos!
Às vezes alguns dizem
que podem crer que Deus lhes perdoa os pecados, porém, encontram dificuldade em
crer que Ele os pode guardar de pecar. Se, porém, há alguma coisa mais fácil
que outra, essa é a última, posto que o perdão dos pecados requer
a morte de Cristo, enquanto que para salvar-nos de nossos pecados, somente a
transmissão contínua de Sua vida.
Qual é a vida pela qual somos salvos? – Pela vida de Cristo,
que é una e única. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente.” (Heb.
13:8) É por Sua vida atual que somos salvos, isto é, por Sua vida em nós dia após
dia. A vida que Ele hoje vive é a mesma que viveu na Judéia há dois mil anos.
Ele retomou a mesma vida que havia deposto. Pense no que havia na vida de
Cristo, tal como nos é apresentada em o Novo Testamento, e aí terá o que deveria
ser hoje nossa vida. Se Lhe permitirmos morar em nós, viverá tal como o fez
então. Se há algo em nossa vida que não estivesse na Sua, podemos estar certos
de que Ele não vive em nós hoje.
Uma Série de Contrastes –
12 Portanto, assim como por
um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.
13 Porque até ao regime da
lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há
lei.
14 Entretanto, reinou a
morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança
da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir.
15 Todavia, não é assim o
dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos,
muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo,
foram abundantes sobre muitos.
16 O dom, entretanto, não é
como no caso em que somente um pecou; porque o julgamento derivou de uma só
ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para a
justificação.
17 Se, pela ofensa de um e
por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da
graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus
Cristo.
18 Pois assim como, por uma
só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também,
por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação
que dá vida.
19
Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores,
assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.
Romanos 5:12-19
O versículo
11 deve ser estudado juntamente com a seção precedente, de cujo esquema faz
parte. “Gloriamo-nos em Deus” pela vida através da qual recebemos a reconciliação
e a salvação. A vida de Cristo é uma existência gratificante. Depois de haver
caído, Davi orou: “
Restitui-me
a alegria da Tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário.” (Sal. 51:12) O brilho do céu, a beleza da infindável
variedade de flores com a qual Deus atapeta a terra, os alegres cantos dos
pássaros, tudo indica que Ele Se deleita na alegria e na beleza. A luz e o
louvor não são mais que expressões naturais de Sua vida. “... Gloriem-se em Ti
os que amam o Teu nome.” (Sal. 5:11)
Possivelmente
não haja em Romanos trecho de mais difícil compreensão do que os versos 12 ao
19. Isso se deve à existência de um extenso parêntese no meio da afirmação
principal, junto à repetição de uma expressão recorrente. Em nosso estudo, não
nos deteremos em cada detalhe, mas prestaremos atenção à idéia principal
presente ao longo do arrazoado. Você pode, depois, fazer uma leitura e um
estudo mais pormenorizados.
Princípios fundamentais – No verso 12,
o apóstolo retrocede até o princípio. “Portanto, assim como por um só homem entrou
o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos
os homens, porquanto todos pecaram.” Não há apresentação legítima do evangelho
que possa ignorar esses fatos.
Morte devida ao pecado – A morte penetrou
o mundo pelo pecado, porque o pecado é a morte. O pecado, quando se desenvolveu
plenamente, gerou a morte (Tiago 1:15). “A inclinação da carne é morte.” (Rom.
8:6) “O aguilhão da morte é o pecado...” (I Cor. 15:56). Se não houvesse
pecado, não poderia existir a morte. O pecado traz [o veneno da] morte em seu
seio. Não foi um ato arbitrário de Deus que a morte viesse como conseqüência do
pecado; não poderia ser diferente.
Justiça e vida – “Mas a inclinação do
Espírito é vida e paz.” “Ninguém é bom, senão Um, que é Deus.” (Mat. 19:17) Ele
é a própria bondade. A bondade é Sua vida. A justiça é simplesmente a maneira
de ser de Deus, portanto, justiça é vida. Não se trata meramente de uma
concepção do que é reto ou justo, mas da própria retidão ou justiça. A justiça
é ativa. Da mesma maneira que o pecado e a morte são inseparáveis, também o são
a justiça e a vida. “Vê que hoje te pus diante de ti a vida e o bem, a morte e
o mal.” (Deut. 30:15)
A morte passou a todos os homens – Observe a
justiça nisto: a morte passou a todos os homens, “porquanto todos pecaram”. “A
alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai
levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a
impiedade do ímpio cairá sobre ele.” (Eze. 18:20). E é também uma conseqüência
do fato de que o pecado, em si mesmo,
conduz à morte, e a morte não pode advir de nenhuma outra maneira que
não através do pecado.
Conclusão – O
verso 12 inicia uma afirmação que não se completa nele. Os versos 13 ao 17
constituem-se um parêntese, devendo avançar até o 18 para chegar a uma
conclusão. Porém, visto haver um espaço
parentético tão grande e ser fácil perder o fio da primeira parte da
declaração, o apóstolo repete sua essência a fim de podermos perceber a força
da inferência. De forma que a primeira parte do verso 18 é paralela ao verso
12. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado,
a morte, assim também a morte passou a todos os homens... para condenação...” a
conclusão é que “por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens
para a justificação que dá vida”.
O reino da morte – “... A morte reinou desde
Adão até Moisés...” Isso não quer dizer
que ela não reinasse de igual maneira a partir de Moisés. Essa expressão dá relevo
ao fato de que Moisés representa a introdução da lei. “A lei foi dada por
intermédio de Moisés...” (João 1:17). Visto que a morte reina pelo pecado e não
se imputa pecado onde não há lei, é evidente que a lei estava no mundo antes do
Sinai, tanto como após ele. “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do
pecado é a lei.” ( I Cor. 15:56) Onde
não há lei, não se pode imputar transgressão; e onde há pecado, reina a morte.
Adão como figura – “Entretanto, reinou a morte
desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da
transgressão de Adão, o qual prefigurava Aquele que havia de vir.” Como pode
Adão ser figura dAquele que havia de vir, isto é, de Cristo? Precisamente da
mesma forma que indicam os versículos seguintes: Adão era uma figura de Cristo porque sua ação
afetou a muitos, além dele próprio. Está claro que Adão não podia passar a
nenhum de seus descendentes uma natureza mais elevada do que aquela que ele mesmo
possuía; portanto, o pecado de Adão tornou inevitável que todos os seus
descendentes nascessem com naturezas pecaminosas. Não obstante, a sentença de
morte não passou a todos por isso, mas porque todos pecaram.
Figura por contraste – Adão é uma
figura de Cristo, porém apenas por contraste. “Não é assim o dom gratuito como
a ofensa.” Pela ofensa de um, muitos são mortos; porém, pela justiça de Outro,
recebem a vida. “Porque o juízo veio, na verdade, de uma só ofensa para
condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação.” “Porque,
se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que
recebem a abundância da graça e do dom da justiça, reinarão em vida por um só,
Jesus Cristo.” Vemos seguidamente o
contraste. Cristo reverte tudo o que nos veio em conseqüência da queda de Adão.
Mais exatamente, tudo o que se perdeu em Adão é restaurado em Cristo.
“Muito mais” – Podemos considerar que essa é a
expressão-chave do capítulo. Não somente fica restaurado em Cristo tudo quanto
se perdeu com Adão, porém “muito mais”. “Porque, se nós, quando inimigos,
fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela
Sua vida.” E não podemos queixar-nos do fato inevitável de sermos herdeiros de
uma natureza pecaminosa através de Adão. Não podemos queixar-nos de um trato
injusto. É certo que não podemos ser culpados de possuir uma natureza
pecaminosa, e o Senhor não nos incrimina por isso. Ele providencia para que, da
mesma maneira que em Adão nos tornamos participantes da natureza pecaminosa,
sejamos em Cristo participantes da natureza divina.
No entanto,
há “muito mais”. “Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito
mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça.” Ou seja, a vida da qual somos feitos participantes
em Cristo é muito mais poderosa para a justiça, do que a vida que havíamos
recebido de Adão o era para a injustiça. Deus não faz as coisas pela metade.
Ele dá “abundância de graça”.
A
condenação – “A morte passou para todos os homens”, ou, como lemos mais
adiante, “veio a condenação sobre todos os homens”. “O salário do pecado é a
morte.” (Rom. 6:23) Todos pecaram e, por isso, todos estão debaixo da
condenação. Nenhum homem viveu na Terra sobre o qual a morte não tenha reinado,
nem viverá até o final deste mundo. Enoque e Elias, da mesma forma que aqueles
que forem transladados quando Cristo vier, não se constituem numa exceção. Não
há exceções, porque a Escritura afirma que “a morte passou a todos os homens”.
O reino da morte é simplesmente o reino do pecado. “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos
sentimentos.” Enoque foi justo somente
pela fé; sua natureza era tão pecaminosa como a de qualquer outro homem. Assim,
a morte reinou sobre eles tanto quanto os demais. Lembre-se de que o atual
descanso no sepulcro, comum a todos os homens, não é o castigo pelo pecado. É,
simplesmente, a evidência de nossa mortalidade. Bons e maus morrem igualmente.
Essa não é a condenação, porque há homens que morrem regozijando-se no Senhor,
e mesmo entoando cânticos de triunfo.
“Justificação e vida” – “... Por um
só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e
vida.” Não há aqui nenhuma exceção. Do
mesmo modo como a condenação veio sobre todos os homens, também a justificação.
Cristo provou a morte por todos. Deu-se a Si mesmo por todos e a cada um. O dom
gratuito veio sobre todos. O fato de ser um dom gratuito é evidência de que não
há exceção alguma. Se houvesse vindo somente sobre aqueles que teriam alguma
qualificação excepcional, não seria um dom gratuito.
Por isso, é
um fato claramente estabelecido na Bíblia que o dom da justiça e a vida em
Cristo vieram sobre todo homem no mundo. Não há a mínima razão para que todo
homem que tenha vivido deixe de ser salvo para a vida eterna, exceto se não
receber esse dom. Quantos desprezam o dom oferecido tão generosamente!
“A obediência de Um” – Pela
obediência de Um, muitos serão feitos justos. O homem não é salvo por sua
própria obediência, mas mediante a obediência de Cristo. Isso é o que cético
procura ironizar, pois lhe parece que a obediência de um homem não pode ser
contada em favor de outro. Porém, aquele que rejeita o conselho do Senhor, nada
sabe de justiça e não está qualificado para julgar o caso.
O
ensino bíblico não é que Deus nos chama de justos simplesmente porque Jesus de
Nazaré foi justo há dois mil anos. Não! O que a Bíblia diz é que por Sua
obediência somos feitos justos. Veja
que o tempo verbal é o presente do indicativo. Trata-se de justiça atual. O problema
daqueles que fazem objeção ao fato de a justiça de Cristo ser imputada ao
crente, é que não levam em conta o fato de que Jesus vive. Vive hoje tão certamente como quando esteve na Judéia. “Ele
vive” e é o “mesmo ontem, hoje e eternamente” . Sua vida está tão perfeitamente
em harmonia com a lei agora como esteve no passado, e vive no coração daqueles
que nEle creem.
Por
conseguinte, é a obediência atual de Cristo no crente que o torna justo. O homem
não pode, por si mesmo, fazer nada; por isso Deus, em Seu amor, o faz por Ele.
Isto é: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver
que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si
mesmo Se entregou por mim.” (Gál. 2:20)
Por que não todos? – Diz o texto
que “pela obediência de um só, muitos se tornaram justos”. Por que não são
todos tornados justos pela obediência de Um?
A razão é que nem todos querem que seja assim. Se os homens fossem
feitos justos simplesmente devido a que Um foi justo há dois mil anos, então
todos deveriam ser justos igualmente. Não haveria nenhuma justiça em contar
como justo alguém e não todos os demais. Porém, já vimos que não ocorre dessa
maneira.
O
homem não é meramente contado como justo, mas ele é realmente tornado justo pela
obediência de Cristo, que é tão justo hoje como sempre o foi, e que vive
naqueles que a Ele se entregam. Sua capacidade para morar em qualquer ser
humano é demonstrada no fato de ter Ele tomado a carne humana há dois mil anos.
O que Deus fez na Pessoa do carpinteiro de Nazaré, também está desejoso de
fazer em todo o que crê. O dom gratuito
é concedido a todos, porém nem todos o aceitam; conseguintemente, nem todos são
tornados justos por Ele. Não obstante, “muitos” serão feitos justos por Sua
obediência.
Para
o estudo dos dois versículos que vêm a seguir bastará, para atender ao nosso
propósito atual, recordar que o pensamento principal que transcorre ao longo de
todo o capítulo é a vida e a justiça. O pecado é morte e a justiça é vida. A
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram; o dom da justiça veio
sobre todos eles na vida de Cristo. Não se imputa pecado onde não há lei,
porém, imputou-se pecado a Adão e a todos os que viveram depois dele, inclusive
antes da lei haver sido promulgada no Sinai, nos dias de Moisés.
Graça e Verdade
20 Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa;
mas onde abundou o pecado, superabundou a graça,
21 a fim de que, como o pecado reinou pela
morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante
Jesus Cristo, nosso Senhor.
Romanos 5:20
e 21
Sobreveio a lei – A
frase indica que antes do tempo especificamente referido como de entrada da
lei, já existia pecado. Se levarmos em consideração os versículos 13 e 14, não
haverá dificuldade de compreensão no que se refere à proclamação da lei no
Sinai. “Até à lei” refere-se evidentemente ao tempo de Moisés e à apresentação
da lei.
“Avultasse a ofensa” – A
lei foi promulgada para que o pecado, que já existia, “avultasse”. “... Mas o
pecado não é levado em conta quando não há lei.” Assim, temos de admitir que a
lei estava no mundo antes do tempo referido como de sua entrada, isto é, antes
que fosse proclamada no Sinai. Comprovam-no os versos 13 e 14. É impossível que
a lei produzisse mais pecado do que o que já existia. O que ela fez foi
identificá-lo e pô-lo em evidência, a saber, mostrar mais plenamente sua
verdadeira natureza.
Como
lemos em Romanos 7:13, foi para que ele “se mostrasse sobremaneira maligno”.
Ninguém teve mais da lei de Deus nem antes nem depois dela ser pronunciada no
Sinai. Não houve ninguém que fosse justo anteriormente e que se convertesse em
pecador pela promulgação da lei, e tampouco houve ato pecaminoso que se
tornasse pior ao vir a lei à luz. Porém,
as circunstâncias sob as quais se pronunciou a lei mostraram o aspecto
espantoso do pecado, e impressionaram muito mais que antes os presentes com o
sentido de sua pecaminosidade.
A graça superabundou – Seria
proveitoso que todos conhecessem esse fato. Ouviríamos falar menos de desânimo
em vista do fato de sermos tão pecadores. Está o coração cheio de pecado? Saiba
você que onde o pecado abundou, superabundou a graça. Isso nos mostra o fato de
que Cristo, que é cheio de graça, está à porta do coração (que é a própria
pecaminosidade do homem), e pede para entrar (Apoc. 3:15-20). “Fiel é a palavra
e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os
pecadores, dos quais eu sou o principal.”
(I Tim. 1:15)
“Vinde, pois, e
arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata,
eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o
carmesim, se tornarão como a lã.” (Isaías 1:18)
A graça no Sinai – A lei veio para que o
pecado abundasse. Em nenhum outro momento havia sido manifesto com maior
energia o horror do pecado. Porém, “onde abundou o pecado, superabundou a
graça”, logo, fica claro que a graça devia transbordar sobremaneira ao ser a
lei dada no Sinai.
É errado supor que o
desígnio de Deus era que o homem obtivesse a justiça mediante suas próprias
obras de obediência. Pelo contrário, a lei foi promulgada para destacar a
superabundante graça de Deus ao perdoar o pecado, e ao operar a justiça no
homem.
A lei e o trono de Deus – Lemos
que “justiça e juízo são a base do Seu trono” (Sal. 97:2). Em Seu trono habita
a justiça. É ela o seu próprio fundamento. A lei de Deus é justiça, Sua própria
justiça. No capítulo 51, versos 6 e 7 de Isaías, Deus diz: “Ouvi-me, vós que
conheceis a justiça, vós, povo em cujo coração está a Minha lei...” Somente
conhecem Suja justiça aqueles em cujo coração está a Sua lei, de maneira que a
lei de Deus é sua justiça. A afirmação de que a justiça é o assento (como dizem
algumas traduções) ou fundamento de Seu trono,
implica que a lei de Deus está em Seu trono. Ele está assentado sobre o
trono da justiça.
Evidência do santuário – O
santuário que Moisés construiu tinha por finalidade ser a morada de Deus. “E Me
farão um santuário para que Eu possa habitar no meio deles.” (Êxo. 25:8) No
lugar santíssimo do santuário estava a arca do concerto. Ela é descrita em Êxo.
25:10 a 22. A cobertura da arca recebia o nome de propiciatório. Sobre ela
estavam dois querubins de ouro. Em seu interior, sob o propiciatório, estavam
as tábuas da lei (ver Êxo. 25:16-21 e Deut. 10:1-5) Entre os dois querubins
sobre o propiciatório e acima das tábuas da lei, manifestava-se a glória de
Deus, e aí estava o lugar onde o Senhor habitava com Seu povo (Êxo. 25:22). Em
II Reis 19:15 e também Salmo 80:1, Deus é descrito como habitando entre os
querubins.
Vemos,
portanto, que a arca do concerto com o propiciatório era uma representação do
trono de Deus. Da mesma forma que os Dez Mandamentos estavam na arca no
interior do santuário terrestre, assim também se constituem o fundamento do
trono de Deus no Céu. Como o santuário terrestre era luma figura do santuário
celestial, o verdadeiro, a lei, como se acha no Céu, no trono de Deus, é
idêntica à lei que foi proclamada no Sinai, a qual Deus escreveu sobre tábuas de
pedra posteriormente postas dentro da arca.
O trono de Deus e o Sinai – Já
verificamos que a lei de Deus é o fundamento de Seu trono. Essa afirmação não
deveria surpreender a ninguém, pois o fundamento de qualquer governo é sua lei,
e o trono representa simplesmente essa lei.
Ao ser dada a constituição do Universo, o monte Sinai foi o assento da
lei de Deus. Representava o terror da lei, porquanto ninguém podia tocar o
monte sem ser fulminado. Ali estava o Senhor com todos os Seus anjos (ver
Deuteronômio 33:2 e Atos 7:53). Portanto, quando a lei foi dada, o monte Sinai
representava o trono de Deus naquela ocasião. Dele procediam “relâmpagos,
trovões e vozes” (Apoc. 4:5), e ao redor do qual reuniam-se miríades de
miríades, milhões e milhões de anjos. Vemos, uma vez mais que a justiça que
habita o trono de Deus é a mesma descrita nos Dez Mandamentos, tais como foram
proclamados no Sinai e registrados em Êxodo 20:3-17.
O trono da graça – Embora
o trono de Deus seja o escrínio de Sua lei – lei que significa morte para os
pecadores – é ele também o trono da graça. Somos exortados a nos achegarmos
confiadamente junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e
acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Heb. 4:16). Veja, amigo
leitor, que devemos nos aproximar para alcançar misericórdia. A cobertura da
arca do concerto era chamada propiciatório, o lugar da misericórdia.
Era o lugar desde o qual Deus falava com Seu povo, porque a arca do santuário
terrestre não apenas representava o trono onde se encontrava a lei, mas também
o trono da graça.
A lei e o mediador – É-nos
dito que a lei foi dada “pela mão de um mediador” (Gál. 3:19) Quem era o
mediador por cuja mão a lei foi outorgada? “Porquanto há um só Deus e um só Mediador
entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a Si mesmo Se deu em
resgate por todos...” (I Tim. 2:5 e 6) A
lei, por conseqüência, foi dada no Sinai pelo próprio Cristo, que é e sempre
foi a manifestação de Deus ao homem. Ele é o mediador, isto é, Aquele mediante
quem as coisas de Deus são transmitidas aos homens. Através de Jesus Cristo confere-se ao homem a
justiça de Deus. A declaração de que a lei foi dada pela mão de um Mediador nos
lembra que onde sobeja o pecado, a graça o excede em muito.
O
fato de que a lei tenha sido dada no Sinai pela mão de um Mediador, indica: 1)
Que Deus tomou providências para que ninguém supusesse que poderia obter a
justiça a partir da lei, por sua própria força, mas somente através de Cristo.
2) Que o evangelho de Cristo foi desdobrado no Sinai, tanto quanto no Calvário.
3) Que a justiça de Deus revelada no evangelho de Cristo, é idêntica à justiça
descrita na lei dada no Sinai. É a mesma justiça que obtemos em Cristo.
O manancial de vida – Lemos
em Salmo 36:7-9: “Como é preciosa, ó Deus, a Tua benignidade! Por isso, os
filhos dos homens se acolhem à sombra das Tuas asas. Fartam-se da abundância da
Tua casa, e na torrente das Tuas delícias lhes dás de beber. Pois em Ti está o
manancial da vida; na Tua luz, vemos a luz.” Deus é o manancial da vida e pode dar
de beber da torrente de suas delícias aos que nEle confiam.
Que
torrente é essa? “Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como
cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro.” (Apoc. 22:1) Pense nisso! Um rio que procede
do trono de Deus, o qual é o manancial da vida. Convida-se a todo aquele que
está sedento a beber copiosamente dessa água. Apocalipse 22:17, João 4:10-14 e
7:37-39 serão de ajuda na compreensão do tema. Bebemos da água da vida ao
recebermos o Espírito Santo.
Bebendo da justiça – O
Salvador disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque
serão fartos.” Quando alguém tem sede, como pode mitigá-la senão bebendo? Nosso
Salvador mostra que podemos beber justiça se estivermos sedentos dela. Se você
se lembrar de que o trono de Deus é um trono de justiça, e que dele sai o rio
da vida, não será difícil ter certeza de poder beber.
Posto
que o trono é o assento da justiça, o rio que nele se origina deve, por assim
dizer, estar cheio da justiça da lei. Aquele que crê, pois, em Cristo, e bebe
de Seu Espírito, ingere certamente a justiça da lei tal como há no trono, ou
tal como foi proclamada no Sinai.
Bebendo no Sinai – Quem lê Êxodo 17:1-6, juntamente com
Deuteronômio 4:10-12 (mostrando que Horebe e Sinai são o mesmo monte), poderá
ver que quando a lei foi proclamada no Sinai, houve um rio de água que corria
desde o seu sopé. Esse rio procedia de Cristo (I Cor. 10:4). Cristo, a Rocha
viva, esteve no deserto naquela rocha da qual fez brotar a água para
dessedentar Seu povo. NEle está a fonte da vida. No Sinai encontramos assim a
semelhança completa do trono de Deus. Tratava-se da personificação da lei de
Deus, de forma que ninguém podia aproximar-se dele sem morrer e, contudo, todos
podiam beber das águas vivas que ali manavam. Nessa figura vemos uma vez mais
que a justiça dada a beber àqueles que aceitam o convite de Cristo, é a justiça
descrita nos Dez Mandamentos.
O coração de Cristo – Por
meio de Davi, Cristo falou acerca de Sua vinda a Terra: “Então, eu disse: eis aqui
estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-Me fazer a Tua
vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a Tua lei.” (Sal. 40:7 e 8). Ele afirmou que havia
guardado os mandamentos de Seu Pai (João 15:10). Tão fielmente os guardou, que
observou o sábado do sétimo dia, freqüentemente estigmatizado pelo cristianismo
popular como “sábado judeu”.
O
cônego Knox-Little diz: “Com toda certeza, nosso Senhor, quando esteve na
Terra, guardou o sábado e não o domingo.” (Sacerdotalism,
pág. 75) Não é por que o cônego Knox-Little disse, é claro, mas porque a
Escritura ensina dessa maneira. É um fato tão claro que não exige maior
discussão. Jamais ouvimos de alguém que tivesse a audácia de afirmar que Jesus
observou outro dia que não o sétimo, assinalado pelo quarto mandamento. Guardar
“o sábado conforme o mandamento” fez parte da justiça que havia no coração de
Cristo. Visto que “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente”, o sétimo
dia continua ainda hoje em Seu coração.
Vida eterna através de Cristo – “Assim
também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo,
nosso Senhor.” A vida de Cristo foi
oferecida por nós e para nós na cruz. É sendo crucificados com Ele que vivemos
com Ele (Gál. 2:20; Rom. 6:8) “Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o
mundo.” (II Cor. 5:19). A lei estava em Seu coração, de maneira que o coração
de Cristo era verdadeiramente o trono de Deus. “Acheguemo-nos, com confiança,
junto ao trono da graça.”
Quando
Cristo pendia na cruz, “... um dos soldados Lhe abriu o lado com uma lança, e
logo saiu sangue e água.” (João 19:34). Aí estava a fonte da vida manando
abundantemente para todos. Vinha do coração de Cristo, onde estava a lei de Deus.
Vemos que o Sinai, o Calvário e o Monte Sião apresentam a mesma verdade – a
lei. O Sinai e o Calvário não se opõem
entre si, mas estão unidos. Apresentam ambos o mesmo evangelho e a mesma lei. A
vida que flui do Calvário traz-nos a
justiça da lei proclamada no Sinai.
A graça reina pela justiça – Vemos
como a graça reina pela justiça para a vida eterna. A vida eterna está em
Cristo, pois Sua vida é a vida do Deus existente por Si mesmo “pelos séculos
dos séculos”. Entretanto, a vida de Deus é a lei. A graça flui do Senhor a nós
por intermédio da vida de Cristo e traz-nos Sua justiça. Dessa maneira,
recebemos a lei em Cristo, segundo o propósito para a qual foi ordenada – dar
vida.
Aceitar
o dom maravilhoso da graça de Deus é simplesmente nos submetermos ou nos
entregarmos a Ele, a fim de que Cristo possa morar em nós e viver em nós a
justiça da lei, tal como foi promulgada no Sinai e entesourada no trono divino.
Desde o flanco ferido de Cristo, flui para você o manancial de águas vivas.
Aceite-O e Ele será em você uma fonte de água que salte para a vida eterna.
Oh,
cantai outra vez, cantai,
Novas
de amor e vida.
Pois
eu nelas encontro paz,
Novas
de amor e vida.
Belas,
sublimadas, puras, inspiradas
Novas
do Céu, bênçãos de Deus,
Novas
de amor e vida.
Novas
do Céu, bênçãos de Deus,
Vida
e poder contêm.
Capítulo 6
O
Jugo de Cristo é Suave e o Seu Fardo é Leve
Ao dar início ao estudo
do sexto capítulo de Romanos, devemos
lembrar-nos de que ele é a continuação do quinto, cujo tema principal é
a graça superabundante, o dom da vida e a justiça pela graça. Como pecadores,
somos inimigos de Deus. Porém, fomos reconciliados, isto é, libertados do
pecado ao recebermos a justiça da vida de Cristo, a qual não conhece limites.
Não importa o quanto o pecado possa transbordar, a graça o suplanta “muito
mais”.
Crucificados,
sepultados e ressuscitados com Cristo –
1
Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais
abundante?
2 De modo nenhum! Como viveremos ainda no
pecado, nós os que para ele morremos?
3 Ou, porventura, ignorais que todos nós que
fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?
4 Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo
batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do
Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.
5 Porque, se fomos unidos com ele na semelhança
da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição,
6 sabendo isto: que foi crucificado com ele o
nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o
pecado como escravos;
7 porquanto quem morreu está justificado do
pecado.
8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que
também com ele viveremos,
9 sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado
dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele.
10
Pois,
quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto
a viver, vive para Deus.
11
Assim
também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo
Jesus.
Romanos 6:1 a 11
Uma pergunta importante
– “Permaneceremos no pecado, para
que seja a graça mais abundante?” É indubitável que em sua mente haja uma
pergunta equivalente à feita nos versículos 5 e 7 do terceiro capítulo, e cuja
resposta é encontrada nos versos 6 e 8.Trata-se de outro modo de dizer: “Pratiquemos
males para que venham bens?” A resposta
é óbvia: “De modo algum!”
Mesmo que a graça
transborde ali onde o pecado abundou, não há razão para acumular pecados voluntariamente.
Isso seria receber a graça de Deus em vão (II Cor. 6:1).
Sua
razão – “Nós,
que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” Isso é
simplesmente impossível. Realmente, não há procedência na pergunta se
deveríamos ou não praticá-lo, visto estarmos mortos para ele, não podemos viver
nele ao mesmo tempo. Um homem não pode estar vivo e morto ao mesmo tempo.
O capítulo anterior
demonstrou o fato de que estamos reconciliados com Deus mediante a morte de
Cristo, e somos salvos pela Sua vida. Reconciliação com Deus significa
libertação do pecado, de maneira que sermos “salvos pela Sua vida” significa
que “passamos da morte para a vida”. A vida de pecado era de inimizade, a qual
a vida de Cristo pôs fim.
“Batizados
em Cristo Jesus” – O
batismo é símbolo de incorporação em Cristo. “Porque todos
quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes.” (Gál. 3:27)
“Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros,
sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois,
em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer
gregos...” (I Cor. 12L12 e 13)
Onde Cristo nos toca – É na morte
que tomamos contato com Cristo. Alcança-nos Ele no ponto mais baixo possível. Isso
garante a nossa salvação. Ela é assegurada a todos, sem exceção. A morte e a
enfermidade são tributárias do pecado. A morte é a soma de todos os males
possíveis ao homem; é a mais baixa profundidade imaginável, e é aí que Cristo
entra em contato conosco. É pela morte que nos unimos a Ele. Em virtude do princípio
universal de que o maior inclui o menor, o fato de Cristo ter-Se humilhado a Si
mesmo até a morte, demonstra que não há mal que nos possa afetar, o qual Ele
não tenha tomado sobre Si.
“Batizados em Sua morte” –“Todos
quantos fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na Sua morte...” O que significa ser batizados em Sua
morte? Verso 10: “Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu
para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.” Morreu para o pecado, não
pelo Seu, pois não tinha nenhum, mas “carregando Ele mesmo em Seu corpo, sobre
o madeiro, os nossos pecados.” (I Ped. 2:24). “Mas Ele foi traspassado pelas
nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades...” (Isa. 53:5). Em Sua
morte, o pecado morreu; por conseguinte, se somos batizados em Sua morte,
também morremos para o pecado.
Uma vida nova – “Tendo Cristo ressurgido dentre os
mortos, já não morre mais...” “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que
também com Ele viveremos.” Foi
impossível que a sepultura retivesse a
Cristo (Atos 2:24). Assim, tão certamente como somos batizados na morte de
Cristo, seremos ressuscitados de uma vida de pecado para uma vida de justiça
nEle. “Se temos sido unidos a Ele na semelhança da Sua morte, certamente também
o seremos na semelhança da Sua ressurreição.”
Crucificados com Ele – Desde que
Cristo foi crucificado, ser batizados em Sua morte significa que somos
crucificados com Ele. Assim, lemos: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo,
não mais eu, mas Cristo vive em mim...” (Gál. 2:20) Crucificado, porém vivo, já
que estou crucificado com Cristo e Cristo vive. Em certa ocasião, nosso
Salvador garantiu: “Porque Eu vivo e vós vivereis.” (João 14:19) Como podemos
viver uma nova vida? Não temos em nós mesmos nenhum poder, porém, Cristo foi
ressuscitado dos mortos pela glória do Pai, e em Sua oração a Deus Ele disse:
“Eu lhes dei a glória que a Mim Me deste...” (João 17:22). Portanto, o poder
que ressuscitou a Jesus dos mortos põe-se em ação para ressuscitar-nos da morte
do pecado. Se estivermos dispostos a permitir que nossa vida anterior seja
crucificada, podemos estar certos da concessão da nova.
Crucificado nosso “velho homem” – Seremos
tornados em semelhança de Sua ressurreição. Se formos crucificados com Cristo,
nossos pecados devem ter sido igualmente crucificados com Ele, posto que fazem
parte de nós. Nossos pecados estiveram sobre Ele quando foi crucificado, de
maneira que estão certamente crucificados se nós estivermos com Ele.
Porém, há
aqui uma diferença entre nós e nossos pecados ao serem crucificados. Somos
crucificados a fim de podermos voltar a viver, enquanto que nossos pecados o
são com o objetivo de extinção. Cristo não é “ministro do pecado” (Gál. 2:17).
Foi a vida de Deus que o ressuscitou dentre os mortos, e nessa vida não existe
pecado.
Separação do pecado – Observe que
a separação do pecado é produzida pela morte. Isso é assim porque a morte está
no pecado. “... O pecado, sendo consumado, gera a morte.” (Tiago 1:15) Assim, nada menos que a morte pode operar
essa separação. Não podemos separar-nos a nos mesmos do pecado, porque ele era
a nossa própria vida. Se nos fosse possível promover a destruição do pecado,
haveria de ser unicamente pela deposição de nossa vida, o que significaria
nosso fim. Essa é a razão pela qual não existe futuro para os ímpios que morrem
em seus pecados. Ao cessar-lhes (ou ser-lhes retirada) a vida, deixam de
existir. Porém, Cristo tinha o poder de depor Sua vida e tornar a tomá-la, por
isso, quando depomos nossa vida nEle, somos ressuscitados em virtude de Sua
vida indestrutível.
Lembre-se,
amigo leitor, que não se trata de devolver nossa vida anterior, mas de que Ele
nos dá Sua própria vida. Nessa vida não houve jamais um só pecado, e assim,
sermos crucificados e ressuscitados com Ele significa nossa separação do
pecado. É preciso manter esse pensamento em mente ao abordarmos o estudo do
próximo capítulo.
Sepultados com Ele no batismo – O batismo,
por conseguinte, é um enterro. Se quiséssemos seguir as claras instruções das Escrituras,
nunca questionaríamos a forma de praticar o batismo. Ninguém que leia a Bíblia
pode conceber uma idéia diferente da de que o batismo efetua-se por imersão.
“... Sepultados, juntamente com Ele, no batismo, no qual igualmente fostes
ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que O ressuscitou dentre os
mortos.” (Col. 2:12) O batismo representa a morte e a ressurreição de Cristo, e
mediante ele demonstramos nossa aceitação de Seu sacrifício. O próprio ato é,
de fato, um sepultamento, a fim de tornar mais destacado o ensino.
Por que a forma de batizar foi mudada? – Como
ocorreu a mudança do batismo bíblico para o rito de aspersão? A resposta é
facílima. O batismo é um memorial da ressurreição de Cristo. Porém, a “igreja”,
entendendo por ela os bispos que amavam mais o louvor dos homens do que o
louvor de Deus, e que buscavam o favor da classe influente entre os pagãos,
adotou a festividade pagã do Sol. A fim de se justificar desse proceder,
declarou que o sol nascente que os pagãos adoravam era um símbolo da ressurreição
do “Sol da Justiça”, isto é, de Cristo, e que observando o domingo celebravam
Sua ressurreição.
Todavia,
agora os prelados se encontravam com dois memoriais da ressurreição, de forma
que abandonaram aquele que Deus havia dado. Para que não parecesse estarem eles
depreciando o batismo, declararam que o costume pagão de aspergir com “água
benta”, própria da festividade do Sol, constituía o batismo sancionado pelas
Escrituras.
O povo
confiava nos padres em lugar de consultar pessoalmente a Bíblia, e assim era
muito fácil fazê-lo crer que estava obedecendo a Deus. É certo que alguns
atendem à Palavra no que se refere ao batismo por imersão, enquanto observam o
domingo, porém, isso é inconsistente. É um contra-senso ignorar a Palavra num
particular (observância do domingo), a fim de prover um memorial para algo que
já se está celebrando de acordo com a Bíblia (o batismo). O batismo bíblico
está caindo em desuso entre muitos observadores do primeiro dia da semana.
Antes ou depois, terão de decidir-se inteiramente por uma das duas opções.
Instrumentos de Justiça
–
12
Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais
às suas paixões;
13 nem ofereçais cada um os membros do seu corpo
ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como
ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de
justiça.
14 Porque o pecado não terá domínio sobre vós;
pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.
15 E daí? Havemos de pecar porque não estamos
debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!
16 Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis
como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do
pecado para a morte ou da obediência para a justiça?
17 Mas graças a Deus porque, outrora, escravos
do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que
fostes entregues;
18 e, uma vez libertados do pecado, fostes
feitos servos da justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa
carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e
da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para
servirem à justiça para a santificação.
20 Porque, quando éreis escravos do pecado,
estáveis isentos {isentos; isto é, no original, forros} em relação à justiça.
21 Naquele tempo, que resultados colhestes?
Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte.
22 Agora, porém, libertados do pecado,
transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e,
por fim, a vida eterna;
23 porque o salário do pecado é a morte, mas o
dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Romanos
6:12-23
O reino do pecado – Aprendemos no quinto capítulo
que o reino do pecado é o reino da morte, posto que a morte vem através do
pecado. Porém, aprendemos também que o dom da vida é oferecido a todos, de tal
maneira que aquele que tem a Cristo tem a vida. Neles não reina a morte, mas
eles mesmos “reinarão em vida por Um só, por Jesus Cristo”. A exortação “não
reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal”, equivale a uma exortação para
morar em Cristo e entesourar Sua vida. Obtemos a vida pela fé e assim é como
temos de mantê-la.
De quem somos servos? – A resposta
é evidente: “sois servos desse mesmo a quem obedeceis”. Se nos submetermos ao
pecado, somos servos do pecado, posto que “todo o que comete pecado é escravo
do pecado”. (João 8:34). Contudo, se nos submetermos à justiça, somos seus
servos. “Ninguém pode servir a dois senhores.” (Mat. 6:24) Não podemos servir
ao pecado e à justiça a um só tempo. Ninguém pode ser pecador e justo de uma
vez (Nota: emprega-se aqui o termo
“pecador” na acepção de Isa. 1:29; 13:9; I Ped. 4:28, etc. A suposição de que
se referisse aqui à extirpação da natureza pecaminosa, é totalmente contrária
ao ensino do autor) Ou bem reina o pecado ou bem reina a justiça.
Instrumentos – Deparamo-nos, neste capítulo, com
dois termos que descrevem as pessoas: servos e instrumentos. O pecado e a
justiça são dois governantes. Não somos mais que instrumentos em suas mãos. O
caráter da obra que um instrumento realiza é inteiramente determinado por
aquele que o usa.
Que tipo de
obra fará um bom lápis? Boa, nas mãos de um escritor competente. Muito
deficiente, se quem o maneja é um tabaréu. Um homem bom escreverá com ele
apenas o que é bom; porém, empregado por um malvado, propiciará uma exibição de
maldade. Agora, o homem não é uma simples ferramenta. Não, seguramente. Os
instrumentos comuns não podem escolher quem os empregará, enquanto que um homem
tem plena liberdade de escolha naquilo que se refere a quem servirá. Tem que se
submeter, não apenas uma vez, mas continuamente. Caso se submeta ao pecado, cometerá
pecado. Se se submeter a Deus para ser um instrumento em Suas mãos, não pode
fazer outra coisa que não seja o bem, por tanto tempo quanto esteja submisso a
Ele.
Um paralelo – No versículo 19, somos exortados a
nos submetermos como servos da justiça, da mesma forma que antes nos submetemos
a ser servos do pecado. Fazendo tal coisa, nos versículos seguintes somos
assegurados de que tão certamente como o fruto antes era pecado e
morte, será agora santidade ao nos tornarmos servos da justiça. Isso é garantido,
eternamente garantido, porque “onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também
reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso
Senhor”. A justiça é mais forte que o pecado, assim como Deus é mais poderoso
que Satanás. Deus pode arrebatar das mãos satânicas a alma que clama por
libertação. Porém, ninguém pode arrebatar os filhos de Deus de Suas mãos.
“Não estais debaixo da
lei” – Muitos se guardam cuidadosamente
de citar essa passagem, pretendendo estarem livres da obediência à lei de Deus.
Por estranho que pareça, empregam-na como uma negação seletiva da observância
do quarto mandamento. Leia o quarto mandamento a alguém que rejeite o sábado do
Senhor – o sétimo dia –, e ele lhe dirá: “Não estamos debaixo da lei.” Todavia,
o mesmo que dá essa resposta, citará o terceiro mandamento a alguém que tome o
nome de Deus em vão, ou o primeiro e o segundo a um pagão idólatra. Reconhecerá
assim também o sexto, o sétimo e o oitavo mandamentos. Parece, pois, que não
crêem realmente que essa declaração de que não estamos debaixo da lei
signifique que temos liberdade de transgredi-la. Estudemos o verso em conjunto e em suas
diferentes partes.
O
que é pecado? – “Todo aquele que pratica o pecado
também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei.” (João 3:4) “
“Toda injustiça é
pecado...” (I João 5:17). Está bem claro. Estabeleçamos isso muito bem em nossa
mente.
O
que é justiça? – O
oposto do pecado, porque “toda injustiça é pecado” (I João 5:17). Porém, “o
pecado é a transgressão da lei”; daí, a justiça é observar a lei. Assim, quando
somos exortados a submeter nossos membros a Deus como instrumentos de justiça,
estamos sendo admoestados a prestarmos obediência à lei.
O
domínio do pecado – O pecado não tem domínio sobre
aqueles que se submetem como servos da justiça ou da obediência à lei – porque
pecado é transgressão da lei. Agora leia o verso 14 integralmente: “Pois o
pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça.” Isto é, a transgressão da lei não acha lugar entre aqueles
que não estão debaixo da lei. Assim, os que não estão debaixo da lei são
precisamente aqueles que a obedecem. Os que a transgridem, sim, estão debaixo
dela. Está muito claro!
Debaixo
da graça – “Não estais debaixo da lei, mas debaixo da
graça.” Constatamos que os que não estão debaixo da lei são os que a observam. Conseguintemente, os que estão
debaixo da lei são os que a violam, estando por isso sob a condenação da lei.
Porém, “onde abundou o pecado, superabundou a graça”. A graça liberta do pecado.
Sentimo-nos quebrantados pelas ameaças da lei
que temos transgredido, e buscamos refúgio correndo para Cristo, que é “cheio
de graça e verdade”. Ali encontramos
libertação do pecado. NEle achamos, não apenas graça para cobrir todos os
nossos pecados, mas a justiça da
lei, visto que Ele está cheio de verdade, e a lei é a verdade (Sal. 119:142). A
graça “reina” pela justiça (ou obediência à lei) para a vida eterna, por Jesus
Cristo nosso Senhor.
O
salário do pecado – Vimos no segundo capítulo que
aqueles que rejeitam a bondade de Deus estão acumulando ira contra si mesmos.
Agora, então, a ira vem somente sobre os filhos da desobediência (Efés. 5:6).
Os que pecam estão decidindo qual será seu próprio salário. “O salário do
pecado é a morte.” O pecado traz em si mesmo a morte – “o pecado, sendo
consumado, gera a morte”. Ele não pode ter um fim diferente que não a morte,
porque ele é a ausência de justiça, e a justiça é a vida e o caráter de Deus.
Desse modo, a eleição persistente e definitiva do pecado significa escolha da
completa separação da vida de Deus e, por isso, de toda vida possível,
porquanto não há outra à parte da que provém dEle. Cristo, que é sabedoria de
Deus, diz: “todos os que me odeiam amam a morte” (Prov. 8:36). Os que
finalmente sofrerem a morte serão somente aqueles que haviam trabalhado para
obtê-la.
O
dom de Deus – Não trabalhamos para a vida eterna. Nenhuma
obra que pudéssemos fazer significaria um pagamento mínimo por ela. Ela é dom
de Deus. É certo que advém unicamente pela justiça, porém a justiça também é um
dom. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é
dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dEle,
criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para
que andássemos nelas.” (Efés. 2:8-10)
“Oh, quão grande é a Tua bondade, que guardaste
para os que Te temem. a qual na presença dos filhos dos homens preparaste para aqueles
que em Ti se refugiam!” (Sal. 31:19) O que peca recebe simplesmente aquilo que
busca. Porém, a quem se entrega como servo da justiça, Deus provê justiça e com
ela outorga-lhe a vida eterna, tudo como dom gratuito. “O caminho dos ímpios
perecerá”, mas o jugo de Cristo é suave e o Seu fardo é leve.
Capítulo 7
Casados Com um Péssimo Marido
Todo o
capítulo sete de Romanos está realmente contido no sexto. Quem entende o
capítulo anterior não terá problemas com este. Somos tornados justos pela obediência
de Cristo. Isso se deve ao fato dEle nos dar Sua vida agora. Ele vive em nós.
Chegamos a
essa união com Cristo ao sermos crucificados com Ele. Nessa morte é destruído o
corpo do pecado, a fim de que, a partir de então, não sirvamos mais ao pecado.
Dito de outro modo, não transgredimos mais a lei. Estamos tão estreitamente
identificados com o pecado, que sendo esse a nossa vida, não pode ser destruído
sem que morramos. Entretanto, em Cristo não há pecado, de forma que quando
somos ressuscitados com Ele, o pecado permanece morto. Sendo, pois,
ressuscitados com Ele, vivemos com Ele, algo que era impossível anteriormente
devido ao pecado; o pecado não pode morar com Ele.
Uma
ilustração surpreendente
1
Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem
domínio sobre o homem toda a sua vida?
2 Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao
marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei
conjugal.
3 De sorte que será considerada adúltera se,
vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido,
estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias.
4 Assim, meus irmãos, também vós morrestes
relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a
saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para
Deus.
5 Porque, quando vivíamos segundo a carne, as
paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim
de frutificarem para a morte.
6 Agora, porém, libertados da lei, estamos
mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade
de espírito e não na caducidade da letra.
7 Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo
nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois
não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.
Romanos 7:1-7
A ilustração
– É
algo simples e que todos podem compreender. A lei de Deus diz acerca do homem e
da mulher: “e serão uma só carne”. Estando vivo o marido, casar-se com outro
significaria adultério para ambos. A lei nunca sancionaria uma união tal.
Devido a razões que serão apresentadas mais adiante, a
ilustração fala somente do caso da mulher que abandonasse a seu marido. A lei
une marido e mulher. Mantém a mulher sujeita ao marido por tanto tempo quanto
ele estiver vivo. Caso ela se unisse em matrimônio com outro homem,
encontrar-se-ia sob a condenação da lei. Porém, se o marido falece, então está
livre para casar-se com outro homem e perfeitamente livre de condenação.
Nesse caso, a mulher “está livre da lei”, embora a lei em
nada haja mudado. Longe de haver sido abolida, essa lei que manteria a mulher
sujeita a seu primeiro marido e que a haveria condenado por casar-se com outro
homem se aquele vivesse, agora a une a outro e a conserva sujeita a ele tão
estreitamente quanto a manteve com o primeiro. Se nos ativermos a essa
ilustração elementar, não encontraremos dificuldade em entender o que se segue.
A aplicação
– De
mesma forma que na ilustração existem quatro personagens, assim também na
aplicação: a lei, a mulher, o primeiro e o segundo maridos.
Somos aí representados pela mulher. Isso está claro na
afirmação “pertencerdes a outro, Àquele que ressurgiu dentre os mortos”, que é
Cristo. Cristo é, portanto, o segundo marido. O primeiro é descrito no verso 5:
“Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei,
operavam em nossos membros para darem
fruto para a morte.” A morte é o fruto do pecado. O primeiro marido, portanto,
era a carne, o “corpo do pecado”.
“Mortos para
a lei” – Essa
é a expressão que preocupa a muitos. Porém, não há motivo algum de preocupação
se tivermos presente a ilustração e a natureza das partes envolvidas no ensino.
Para o que estamos mortos para a lei? Para podermos casar-nos com outro. Como
pode ser que morremos para casar-nos com outro?
Na ilustração, é o primeiro marido quem morre antes que a mulher possa
casar-se com outro. O mesmo tem lugar aqui, como veremos depois.
Uma
carne – A lei matrimonial
consiste em que “serão os dois uma só carne”. O que acontece aqui? O primeiro
marido é a carne, o corpo do pecado. Verdadeiramente éramos uma carne com ele.
Estávamos, por natureza, perfeitamente unidos ao pecado. Era ele a nossa vida.
Ele nos controlava. Fazíamos aquilo que o pecado ditava. Podíamos até fazê-lo
sem nos dar conta disso, porém, seja como for, nós o praticávamos. O pecado
reinava em nossos corpos mortais, de maneira que o obedecíamos em suas
concupiscências. Os desejos do pecado eram lei para nós. Éramos uma carne com
ele.
À procura do
divórcio – Chega então um momento em nossa experiência no qual
queremos libertar-nos do pecado. Isso acontece quando chegamos a vislumbrar
algo da beleza da santidade. Em alguns indivíduos, tal desejo é meramente ocasional;
em outros, mais constante. Reconheçam-no ou não, é Cristo quem os está chamando
a deixar o pecado, a unir-se com Ele a fim de viver com Ele. Então eles se
esforçam por conseguir uma separação. Porém, o pecado não consente. Apesar de
tudo quanto possamos fazer, o pecado segue apegado a nós. Somos “uma carne” e
existe uma união por toda a vida, posto que se trata de um enlace de nossa vida
com o pecado. Nesse matrimônio não cabe o divórcio.
Liberdade na
morte – Não
há esperança alguma de separação do pecado com a utilização de métodos comuns.
Não importa o quanto possamos desejar estar unidos a Cristo, não pode acontecer
tal coisa enquanto permanecermos unidos ao pecado. A lei nunca aprovaria tal
união e Cristo jamais participaria de uma ligação que não fosse lícita.
Se pudéssemos fazer com que o pecado morresse, então
ficaríamos livres, porém o pecado se nega a morrer. Há uma só forma pela qual
podemos ser libertados desse sinistro consórcio: nós próprios morrendo. Se
anelarmos libertação até o ponto de permitir que nosso eu seja crucificado,
então ela ocorrerá. A separação torna-se efetiva na morte, já que é pelo corpo
de Cristo que “nós” morremos. Somos crucificados com Ele. O corpo do pecado
também é crucificado. Porém, embora o corpo do pecado seja destruído, somos
ressuscitados com Cristo. A mesma circunstância que nos livra do primeiro
marido, une-nos ao segundo.
Nova
criatura – Vemos agora em que consiste o ser mortos para a lei. Fomos
mortos em Cristo e ressuscitados com Ele. Assim, “se alguém está em Cristo,
nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. Mas
todas as coisas provêm de Deus...” (II Cor. 5:17 e 18) Podemos agora estar
unidos com Cristo e a lei dará testemunho e aprovação dessa união. Não é
somente porque o primeiro marido morreu, mas nós mesmos o fizemos, de forma que
embora estejamos vivos, não somos a mesma criatura que antes. “Já estou
crucificado com Cristo e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.” (Gál. 2:20)
Somos um. A mesma lei que no princípio nos declarava pecadores, agora nos
mantém unidos a Cristo.
Um serviço
diferente – Após efetuar-se a união com Cristo, servimos em novidade de
espírito e não na velhice da letra. No casamento, a mulher deve estar sujeita
ao marido. Assim, quando estávamos unidos ao pecado, éramos sujeitos a ele em
todos os aspectos. Por um tempo, não se tratava de um serviço voluntário;
contudo, quando vimos o Senhor e sentimos Sua atração, o pecado converteu-se em
tediosa servidão. Tentávamos guardar a lei de Deus, porém estávamos algemados e
não podíamos fazê-lo. Agora, no entanto, fomos libertados. O pecado já não nos
prende mais, e nosso serviço é liberdade. Prestamos alegremente a Cristo todo o
serviço que a lei requer de nós. Fazemo-lo devido à perfeita união existente. Sua
vida é a nossa, uma vez que fomos ressuscitados exclusivamente pelo poder de
Sua vida. Portanto, nossa obediência é simplesmente Sua lealdade e fidelidade
em nós.
O pecado
pela lei – O apóstolo disse que “quando
vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei
operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte”. Que diremos,
pois? É a lei pecado? De forma nenhuma! A lei é justiça. Porém, é somente
através da lei que se conhece o pecado. “Não se imputa pecado não havendo
lei” “O aguilhão da morte é o pecado, e
a força do pecado é a lei.” Assim, não pode haver pecado se não existir lei.
Entretanto, a lei não é pecado; se assim fosse, não poderia reprovar o pecado.
Convencer do pecado é a obra do Espírito Santo e não de Satanás. O arquiinimigo
quer fazer-nos crer que o pecado é bom.
“Não
cobiçarás” – Poderia parecer estranho que o apóstolo citasse
apenas esse mandamento ao expor como ficou convencido do pecado. A razão é
clara: esse mandamento inclui todos os demais. Sabemos (Col. 3:5) que a cobiça
é idolatria. Desse modo, a lei termina da mesma forma que começa. Traça um
círculo completo que inclui todo dever de cada pessoa no Universo. “Porque eu
não conheceria a concupiscência” – o desejo ilícito – “se a lei não dissesse:
não cobiçarás”. À vista disso, a concupiscência é o princípio de todo pecado,
porque ela “tendo concebido, dá à luz o pecado” (Tiago 1:15). E o pecado é a
transgressão da lei.
Porém, o décimo mandamento é aquele que proíbe a
concupiscência ou desejo ilícito. Conseguintemente, se esse mandamento for
guardado perfeitamente, os outros também o serão. Se não, então nenhum outro
mandamento da lei é observado. Vemos pois que, ao citar o décimo mandamento
como aquele que o convenceu do pecado, o apóstolo inclui de fato toda a lei.
Vivendo
com Ele – Antes de concluir esta seção, temos de prestar atenção à força do
quanto expresso no oitavo versículo do capítulo sexto: “Ora, se já morremos com
Cristo, cremos que também com Ele viveremos.”
Podemos ver quão apropriado é isso, ao compreendermos que é nossa morte
com Cristo o que nos livra da união com o monstro do pecado, e nos une em
matrimônio com Ele. As pessoas se casam com o propósito de viver juntas. Desse
modo, unimo-nos com Cristo a fim de podermos viver com Ele aqui e no mundo por
vir. Se quisermos viver com Ele na eternidade, temos de viver com Ele aqui
neste mundo.
Nos primeiros sete versículos do capítulo 7 de
Romanos, vimos a relação que por natureza mantemos com o pecado, e a que –
mediante a graça – realizamos depois com Cristo, representadas sob a figura do
casamento com o primeiro e o segundo maridos. A união com o segundo marido não
pode ter lugar enquanto vive o primeiro.
O matrimônio é tão perfeito, sendo ambas as partes literalmente uma carne
e um sangue, que um não pode morrer sem o outro. Temos de morrer com o pecado
antes de podermos separar-nos dele.
Todavia, morremos em Cristo, e visto que Ele vive, embora tenha sido morto, nós
também vivemos com Ele. Porém, em Sua
vida não há pecado, de forma que o corpo do pecado foi desfeito, enquanto que nós somos ressuscitados. Desse modo,
somos na morte separados do primeiro marido, o pecado, e unidos ao segundo,
Cristo.
Nos versículos seguintes, o apóstolo descreve a
luta com o pecado, porque esse se converteu em algo aborrecível. Eles são, em
realidade, um desenvolvimento daquilo que foi apresentado nos primeiros
versículos.
A luta pela libertação
8 Mas o pecado, tomando ocasião pelo
mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei,
está morto o pecado.
9 Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo
o preceito, reviveu o pecado, e eu morri.
10 E o mandamento que me fora para vida,
verifiquei que este mesmo se me tornou para morte.
11 Porque o pecado, prevalecendo-se do
mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou.
12 Por conseguinte, a lei é santa; e o
mandamento, santo, e justo, e bom.
13 Acaso o bom se me tornou em morte? De modo
nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma
coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse
sobremaneira maligno.
14
Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à
escravidão do pecado.
15
Porque nem mesmo compreendo o meu
próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a
lei, que é boa.
17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas
o pecado que habita em mim.
18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha
carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o
efetuá-lo.
19 Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal
que não quero, esse faço.
20 Mas, se eu faço o que não quero, já não sou
eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.
21 Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei
de que o mal reside em mim.
22 Porque, no tocante ao homem interior, tenho
prazer na lei de Deus;
23 mas vejo, nos meus membros, outra lei que,
guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que
está nos meus membros.
24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará
do corpo desta morte?
25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.
De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas,
segundo a carne, da lei do pecado.
Romanos 7:8-25
Uma
personificação do pecado – É preciso observar que ao longo de
todo o capítulo o pecado é representado como uma pessoa – o primeiro marido a
que estávamos unidos. Porém, a união se tornou insuportável, porquanto depois
de havermos visto a Jesus e sido atraídos a Ele por Seu amor, demo-nos conta de
que estávamos unidos a um espectro. A união matrimonial converteu-se num jugo
amargo e nosso único pensamento era como nos livrarmos do monstro com o qual
nos consorciamos, e que nos estava arrastando à morte certa. A cena descrita
por este capítulo é uma das mais vívidas de toda a Bíblia.
A
força do pecado – “O aguilhão da morte é o pecado, e
a força do pecado é a lei.” (I Cor. 15:56). “Sem a lei, está morto o pecado.” “O
pecado não é imputado não havendo lei.” “Onde não há lei não há transgressão.”
“Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento,
despertou em mim toda sorte de concupiscência.”
O pecado não tem força alguma, salvo aquela que a lei lhe concede. A lei
não é pecado, porém, mantém-nos unidos ao pecado, isto é, testifica do pecado e
não nos provê qualquer escapatória, pela simples razão de que não pode dar
falso testemunho.
A
lei da vida e a lei da morte – “O mandamento que era para a
vida, esse achei que me era para a morte.” A lei de Deus é a vida de Deus.
“Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.” (Mat. 5:48)
Sua vida é a norma para todas as criaturas. Aqueles em quem se torna
perfeitamente manifesta a vida de Deus, guardam Sua lei. É, portanto, muito
evidente que o desígnio da lei é a vida, posto que ela própria é vida. Porém, o
oposto da vida é a morte. Assim, a transgressão da lei significa morte ao
transgressor.
Um
inimigo mortal – “Porque o pecado, tomando ocasião
pelo mandamento, me enganou e por ele me matou.” O inimigo não é a lei, mas o
pecado. É o pecado quem mata, porque “o aguilhão da morte é o pecado”. O pecado
leva em si mesmo a peçonha da morte. O pecado nos enganou de tal maneira que
por um tempo nos fez crer que era nosso amigo, e nós nos apegamos a ele,
deleitando-nos nessa união. Porém, quando a lei nos iluminou, descobrimos que o
abraço do pecado é o amplexo da morte.
A
absolvição da lei – A lei assinalou o fato de que o
pecado nos estava matando. “De modo que a lei é santa, e o mandamento santo,
justo e bom.” Não temos mais motivos para afrontar a lei, do que teríamos para
odiar a pessoa que nos informasse de que o que estávamos comendo tranqüilamente
era, em realidade, um veneno. Ela é nossa amiga. Não o seria se nos ocultasse o
perigo. O fato de que não é capaz de curar os males que o veneno ingerido
produz, não a faz menos amiga. Advertiu-nos do perigo e podemos agora solicitar
assistência médica. Assim, no final, a própria lei não nos foi mortal, mas sua
função é que fazer com que o “pecado se mostrasse excessivamen-te maligno”.
“A lei é espiritual” – “Porque sabemos
que a lei é espiritual.” Se esse fato fosse mais cabalmente reconhecido,
existiria muito menos legislação religiosa entre as chamadas nações cristãs.
Ninguém trataria de impor pela força os mandamentos de Deus. Posto ser a lei
espiritual, somente pode ser obedecida pelo poder do Espírito de Deus. “Deus é
Espírito” (João 4:24), portanto, a lei é a natureza de Deus. Espiritual é o
oposto de carnal, ou da carne. Por isso os que estão na carne não podem agradar
a Deus.
Um
escravo – “Mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” O que foi vendido é um
escravo, e a evidência da escravidão é muito clara nessa expressão. Os homens
livres fazem aquilo que desejam. Somente os escravos fazem o que não querem, e
são continuamente impedidos de consumarem o que desejam. “Pois o que faço, não
o entendo; porque o que eu quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso
faço.” É impossível imaginar uma situação mais desgraçada do que essa. A vida,
nesse estado, não pode ser outra coisa mais que um fardo.
Convicção,
mas não conversão – “E, se faço o que não quero,
consinto com a lei, que é boa.” O fato de não querermos praticar os pecados que
cometemos mostra que reconhecemos a justiça daquilo que a lei nos proíbe.
Porém, estar convencido não é o mesmo que estar convertido, embora seja um
passo imperioso para a conversão. Não basta querer fazer o que é certo. A
bênção é pronunciada sobre aqueles que cumprem seus mandamentos, e não sobre os
que pretendem guardá-los, e tampouco sobre os que tencionam cumpri-los.
Verdadeiramente, se não fosse possível ao professo seguidor de Deus uma posição
mais elevada do que a descrita nesse versículo, esse ficaria numa situação muito
pior do que o pecador empedernido. Ambos são escravos, só que o último está tão
endurecido que encontra prazer em sua escravidão.
Se é que alguém deve ser escravo por toda a
vida, é preferível que esteja inconsciente de sua escravidão, a passar toda a vida consumindo-se continuamente com o
conhecimento do fato inevitável. Porém, há algo melhor. É uma bênção que
estejamos convencidos do pecado, e que nossa escravidão venha a resultar tão
desagradável quanto possível.
Duas
“leis” – “Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o
mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu
entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.”
Considere isso juntamente com o versículo 5.
Lembre-se de que tudo o que lemos anteriormente
foi escrito para os que conhecem a lei. Não foi dirigido aos pagãos, que a
ignoram, mas aos que professam conhecer a Deus. Havendo conhecido a lei,
estamos unidos em casamento com o pecado. O pecado está em nossa carne, posto
que os que são casados se tornam uma só carne. É a lei que dá testemunho de que
somos pecadores, e isso não nos permite escapar ao fato. Somos escravos. Quem
quer que cometa pecado é servo do pecado (João 8:34). A lei, pois, nessa
situação, não nos permite ser outra coisa que aquilo que somos, mantendo-nos
nessa servidão. Enquanto permanecermos nessa condição, ela não é para nós uma
lei de liberdade.
O
corpo da morte – Estamos unidos em matrimônio com o
pecado. Porém, o pecado traz em si mesmo a morte, porque “o aguilhão da morte é
o pecado”. O pecado é aquilo com que a morte nos extermina. Portanto, o corpo
do pecado a que estamos unidos, enquanto na carne, é, não mais nem menos, um
corpo de morte. Terrível condição! Estamos juntos nessa união estreita e somos
uma só carne com aquilo que é a própria morte – uma morte em vida.
“A força do pecado é a lei.” A lei dá
testemunho de nossa união com o pecado e nos mantém assim na escravidão mortal.
Se não houvesse esperança de escape, bem poderíamos maldizer a lei por não
permitir que morrêssemos na ignorância. Contudo, embora poderia parecer que a
lei estivesse desprovida de piedade, não obstante, é nossa melhor amiga. Leva-nos
a sentir o caráter mortífero de nossa escravidão, até que clamemos angustiados:
“Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Se alguém não
nos livrar, pereceremos.
Há
um Libertador – Diz um provérbio popular que Deus ajuda aos que
se ajudam a si mesmos. Porém, a verdade é que Deus ajuda a quem não pode
ajudar-se. Ninguém que clame por socorro o fará em vão. Se suplicarmos auxílio,
aí estará o Libertador, próximo, à mão. Embora o pecado opere a morte em nós
pelo poder da lei, podemos exclamar: “Mas graças a Deus que nos dá a vitória
por nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Cor. 15:57) “Virá de Sião o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades.” (Rom.
11:26)
“Deus suscitou a Seu Servo, e a vós
primeiramente vo-Lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos a cada um das
vossas maldades.” (Atos 3:26) “Graças a
Deus por Seu dom inefável.”
Um
homem dividido – “... Com o entendimento sirvo à lei
de Deus, mas com a carne à lei do pecado.” Isso diz respeito, é claro, enquanto
se está na condição dos versos precedentes. Em propósito, serve à lei de Deus,
porém, na prática, serve à lei do pecado. Como lemos em outro lugar: “A carne
luta contra o Espírito e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao
outro, para que não façais o que quereis.” (Gál. 5:17). Não é um estado de
serviço real a Deus, pois lemos no capítulo seguinte que “os que estão na carne
não podem agradar a Deus”. Trata-se de um estado no qual a pessoa pode suplicar
para ser libertado, de tal forma que tenha condições de servir ao Senhor não
apenas com a mente, mas com o ser integral. “E o próprio Deus de paz vos
santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o
que vos chama, e Ele também o fará.” (I Tess. 5:23 e 24).
Capítulo 8
A Gloriosa Libertação de um Matrimônio Insuportável
Chegamos aqui ao
desenlace do motivo principal. A epístola atinge seu ponto culminante neste
capítulo. O sétimo apresentava o deplorável estado do homem que foi despertado
pela lei para sua verdadeira condição: ligado ao pecado com cordas que só a
morte pode romper. Conclui ele com um vislumbre do Senhor Jesus Cristo como o
único que pode libertar-nos do corpo da morte.
Libertados da condenação
1 Agora, pois, já nenhuma condenação há para os
que estão em Cristo Jesus.
2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo
Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que
estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o Seu próprio Filho em
semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou
Deus, na carne, o pecado,
4 A fim de que o preceito da lei se cumprisse
em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
5 Porque os que se inclinam para a carne
cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas
do Espírito.
6 Porque o pendor da carne dá para a morte, mas
o do Espírito, para a vida e paz.
7
Por isso, o pendor da carne é inimizade
contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.
8 Portanto, os que estão na carne não podem
agradar a Deus.
9 Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dEle.
Romanos 8:1-9
“Nenhuma
condenação” – Não há condenação para os que estão em Cristo.
Por quê? Porque Ele recebeu a condenação da lei a fim de que a bênção pudesse
chegar até nós. Enquanto estivermos nEle, nada nos pode acontecer que não Lhe
tenha ocorrido antes; nEle, porém, toda maldição fica convertida em bênção e a
justiça substitui o pecado. Sua vida infinita triunfa sobre tudo aquilo que se
opõe a Ele. Estamos “completos nEle”.
Olhos
postos em Jesus – Alguém poderá dizer: “Não vejo como
essa Escritura possa cumprir-se no meu caso, visto que cada vez que me olho,
encontro algo que me condena.” Assim deve ser, já que a libertação da
condenação não se encontra em nós mesmos, mas em Cristo Jesus. É a Ele que devemos
contemplar e não a nós mesmos. Se obedecermos às Suas ordens e Lhe hipotecarmos
nossa confiança, Ele se encarregará de aprovar-nos perante a lei. Nunca haverá
um tempo em que alguém não ache condenação ao olhar para si mesmo.
A queda de Satanás deveu-se ao fato dele ter
olhado muito para si mesmo. A restauração daqueles a quem derrubou repousa em
olhar apenas a Jesus. “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do homem seja levantado...” (João 3:14). A serpente foi erguida para que os homens a
contemplassem. Os que assim faziam, eram curados. Assim ocorre igualmente com
Cristo. No mundo vindouro, os servos do Senhor “verão Seu rosto”; não mais
serão atraídos para si mesmos. A luz procedente da face de Cristo será a sua
glória, e ela própria nos haverá de levar a esse glorioso estado.
Convicção,
não condenação – O texto não diz que os que estão em
Cristo jamais serão reprovados. O salmo 139:23 e 24 diz: “Sonda-me, ó Deus, e
conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me
pelo caminho eterno.”
Ir a Cristo é só o
princípio e não o fim da vida cristã. É a admissão à escola onde vamos aprender
dEle. Cristo toma o ímpio com todos os seus maus hábitos e perdoa todos os seus
pecados. Considera-o como se nunca houvesse pecado. Então, Jesus continua
dando-lhe a própria vida por meio da qual pode vencer seus maus hábitos.
A associação com Cristo
nos revelará mais e mais nossos defeitos, assim como o relacionamento com um
homem instruído torna patente nossa ignorância. Como uma testemunha fiel,
aponta-nos nossos traços débeis. Porém, não o faz com o objetivo de
condenar-nos. DEle recebemos simpatia e não condenação. É Sua estima que nos
infunde ânimo e nos capacita a vencer.
Quando o Senhor mostra
um defeito em nosso caráter, é como se nos dissesse: “Você está precisando de
algo que Eu tenho para lhe dar.” Quando aprendemos a ver as reprovações sob
esse ângulo, ser-nos-á isso motivo de alegria e não de desânimo.
A lei da vida em Cristo – A lei sem Cristo
significa morte. A lei em Cristo significa vida. Sua vida é a lei de Deus,
porque do coração procedem as saídas da vida, e a lei estava no coração de
Cristo. A lei do pecado e da morte opera em nossos membros. Porém, a lei do Espírito
de vida em Cristo nos livra dela. Veja que é a vida de Cristo que faz isso. Ela
não nos livra da obediência à lei, porque esse era nosso estado anterior e isso
era escravidão e não liberdade. Ela nos liberta da transgressão da lei.
A obra de Cristo – Está claramente exposta
nos versículos 3 e 4. Deus enviou Seu Filho em semelhança da carne do pecado e
por causa do pecado, “para que a justiça da lei se cumprisse em nós”. “A lei é
santa e o mandamento santo, justo e bom.” Não há na lei defeito algum; o
problema está em nós por causa da sua transgressão. A obra de Cristo não
consiste em mudar a lei nem mesmo no mínimo particular, mas em transformar-nos
em todos os particulares. Consiste em colocar a lei em nossos corações em sua
perfeição, em lugar do malogrado e quebrantado arremedo dela.
A impossibilidade da lei – A lei é
poderosa para condenar. No entanto, é débil e mesmo incapaz no que respeita à
maior necessidade do homem: a salvação.
Estava e está “enferma pela carne”. A lei é boa, santa e justa, porém o
homem não tem poder para obedecê-la. Ela é como um machado bem afiado e
produzido do melhor aço, porém, incapaz de cortar a árvore devido a que os
braços que o movimentam carecerem de força necessária. Assim a lei de Deus não
pode por si mesma operar. Ela assinala o dever do homem e o obriga a cumpri-lo.
Porém, esse não pode fazer isso, motivo pelo qual Cristo veio para realizá-lo
no homem. O que a lei não podia fazer, Deus o fez mediante Seu Filho.
Semelhança da carne do pecado – É muito comum
a idéia de que isso significa que Cristo simulou possuir carne de pecado, que
não tomou realmente sobre Si a carne de pecado, mas somente uma aparência dela.
Porém, as Escrituras não ensinam tal coisa. “Pelo que convinha que em tudo
fosse feito semelhante a Seus irmãos, para Se tornar um sumo sacerdote
misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de fazer
propiciação pelos pecados do povo.” (Heb. 2:17) O Filho de Deus foi “nascido de
mulher, nascido debaixo da lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei.”
(Gál. 4:4 e 5)
Assumiu a mesma carne
que têm todos os que são nascidos de mulher. Na segunda epístola aos Coríntios,
capítulo cinco, verso vinte e um, encontramos um texto paralelo a Romanos 8:3 e
4. Diz ele que Cristo foi enviado em semelhança da carne do pecado “para que a
justiça da lei se cumprisse em nós”. “Aquele que não conheceu pecado, Deus O
fez pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus.”
“Rodeado de fraquezas” – Todo ânimo
que possamos obter de Cristo se fundamenta em saber que Ele foi feito em todas
as coisas semelhante a nós. De outra forma, vacilaríamos em contar-Lhe nossas
debilidades e fracassos. O sacerdote que oferece sacrifícios pelos pecados
deveria ser alguém que se compadecesse “devidamente dos ignorantes e errados,
porquanto também ele mesmo está rodeado de fraquezas”. (Heb. 5:2)
Isso se aplica
corretamente a Cristo, porque “não temos um Sumo Sacerdote que não possa
compadecer-se de nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado,
mas sem pecado”. (Heb. 4:15) Essa é a razão pela qual podemos achegar-nos com
firme confiança ao trono da graça para alcançarmos misericórdia. Tão
perfeitamente identificou-Se Cristo conosco, que até o dia de hoje sente nossos
sofrimentos.
A carne e o Espírito – “Pois os que
são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo
o Espírito, para as coisas do Espírito.” Observe que essa afirmação depende da
precedente, “para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não
andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.” As coisas do Espírito são os
mandamentos de Deus, porque a lei é espiritual. A carne serve à lei do pecado
(como vimos na descrição das obras da carne feita no capítulo anterior e também
em Gálatas 5:19-21). Porém, Cristo veio nessa mesma carne para demonstrar o
poder do Espírito sobre ela. “Os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus
habita em vós.”
Ninguém pretenderá que,
depois da conversão, a carne do homem seja diferente da que foi anteriormente.
Menos ainda pretenderá o próprio homem convertido, porque ele possui evidência
contínua de sua perversidade. Contudo, se ele está realmente convertido e o
Espírito de Cristo habita nele, não está mais à mercê do poder da carne. O
próprio Cristo veio na mesma carne pecaminosa, sem pecar jamais, ao ser
dirigido sempre pelo Espírito.
A inimizade – “Porquanto a inclinação
da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade
o pode ser.” A carne nunca se converte. Ela é inimizade contra Deus e tal
inamistosidade consiste na oposição à Sua lei.
Portanto, todo aquele que se opõe à lei de Deus está lutando contra Ele.
Cristo, todavia, é nossa paz e veio pregar a paz. “A vós também, que outrora
éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora,
contudo, vos reconciliou no corpo da Sua carne, pela morte, a fim de perante
Ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis.” (Col. 1:21 e 22).
Aboliu a inimizade em Sua própria carne, de forma que todos os que estão
crucificados com Ele têm paz com Deus, isto é, estão sujeitos à Sua lei a qual
se acha em seu próprio coração.
Vida e paz – “A inclinação da carne
é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.” Possuir mente espiritual é
tê-la controlada pela lei de Deus, “porque sabemos que a lei é espiritual”.
“Muita paz têm os que amam a Tua lei.” (Sal. 119:165) “Justificados [tornados
justos], pois, pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo.”
(Rom. 5:1) A mente carnal é inimizade contra Deus, por conseguinte, ter mente
carnal significa morte. No entanto, Cristo “destruiu a morte , e trouxe à luz a
vida e a imortalidade pelo evangelho.:
(II Tim. 1:10). Aboliu a morte destruindo o poder do pecado em todos
quantos crêem nEle, porque a morte só tem poder através do pecado. “O aguilhão
da morte é o pecado.” (I Cor. 15:56) Portanto, podemos dizer com alegria agora:
“Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.”
O capítulo oitavo de
Romanos está cheio das coisas gloriosas que Deus prometeu àqueles que O amam.
São características nessa divisão epistolar expressões como: liberdade, Espírito de vida em Cristo, filhos
de Deus e herdeiros de Deus juntamente com Cristo.
Filhos de Deus
9 Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dEle.
10
Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado,
mas o espírito é vida, por causa da justiça.
11 Se habita em vós o Espírito dAquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, Esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus
dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do Seu Espírito,
que em vós habita.
12 Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à
carne como se constrangidos a viver segundo a carne.
13 Porque, se viverdes segundo a carne,
caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do
corpo, certamente, vivereis.
14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito
de Deus são filhos de Deus.
15
Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez,
atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos:
Aba, {Aba; no original, Pai} Pai.
16 O próprio Espírito testifica com o
nosso espírito que somos filhos de Deus.
17 Ora, se somos filhos, somos também
herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com Ele sofremos,
também com Ele seremos glorificados.
Romanos 8:9-17
Forças
contrapostas – A carne e o Espírito estão em contínua
oposição. O Espírito não Se submete jamais à carne, e essa nunca se converte. A
carne terá a natureza do pecado até que nossos corpos sejam transformados na
vinda do Senhor. O Espírito contende com o pecador, porém, esse se deixa vencer
pela carne, sendo assim um escravo do pecado.
Tal homem não está sob a direção do Espírito,
se bem que Esse não o abandone. A carne é a mesma no homem convertido e no
pecador, porém, há uma diferença: no primeiro não há poder porque só o homem
convertido se submete ao Espírito, o qual controla a carne. Embora seja essa
exatamente a mesma que antes da conversão, é dito dele que não está “na carne”,
mas “no Espírito”, posto que pelo Espírito são mortificadas as obras da carne.
Vida
na morte – “Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na
verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da
justiça.” Encontramos aqui os dois homens sobre os quais o apóstolo fala em II
Coríntios 4:7-16. “Pois nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por
amor de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne
mortal.” Mais adiante ele acrescenta: “Mas ainda que nosso homem exterior se
esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” Ainda que nosso corpo se enfraqueça e
envelheça, o homem interior – Cristo Jesus – está sempre novo. Ele é nossa vida
real. “Porque morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.”
(Col. 3:3)
Essa é a razão pela qual nada temos de temer daqueles que
podem apenas destruir o corpo, e depois nada mais têm a fazer. Ainda que nosso
corpo seja cremado numa pira ou atado a uma estaca, os homens maus não podem
tocar a vida eterna que temos em Cristo, o
qual não pode ser destruído. Nenhum homem pode desprovê-Lo de vida.
A certeza da
ressurreição – “E se o Espírito
dAquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dos mortos
ressuscitou a Cristo Jesus há de
vivificar também os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita.”
Jesus disse que a água que Ele nos deu, que é o Espírito Santo, seria em nós
uma fonte que saltava para a vida eterna (João 4:14; 7:37-39). Isto é, a vida
espiritual que agora temos na carne, graças ao Espírito, constitui-se a certeza
do corpo espiritual que nos será outorgado na ressurreição, quando a vida de
Cristo se manifestar em nossos corpos incorruptíveis.
Não somos
devedores à carne – “Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne
para vivermos segundo a carne.” De fato, somos devedores. Porém, nada devemos à
carne. Ela nada fez por nós e nem pode fazê-lo. Tudo o que a carne pode fazer
resulta em nada, já que suas obras são pecado e significam morte. Todavia,
somos devedores a Cristo Jesus, “que Se deu a Si mesmo por nós”.
Conseqüentemente, devemos entregar-Lhe tudo. “Porque se viverdes segundo a
carne, haveis de morrer, mas se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo,
vivereis.”
Filhos de
Deus – Os
que se entregam à operação do Espírito e perseveram nisso, são guiados pelo
Espírito e são filhos de Deus. Eles são colocados na mesma relação com o Pai em
que Cristo Se acha. “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de
sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos
filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não O
conheceu a Ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se
manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele Se manifestar,
seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é.” Se guiados
pelo Espírito de Deus, somos tão filhos dEle como jamais o poderíamos ser.
Filhos,
agora – Alguns defendem a idéia de que ninguém será nascido de Deus até a
ressurreição. Porém, é um fato que agora já somos filhos de Deus. Quem sabe alguém
diga: “Sim, contudo ainda não nos manifestamos como filhos.’ Certo, como
tampouco foi Cristo enquanto esteve na Terra. Pouquíssimas pessoas O
reconheceram como o Cristo, o Filho do Deus vivo. E as que o fizeram foi por
revelação divina. O mundo não nos conhece porque não conhece a Ele. Dizer que
os crentes não são agora filhos de Deus devido a que nada em sua aparência
exterior o indica, é acusar a Cristo.
Porém, Jesus era tão certamente o Filho de Deus no presépio de Belém,
como o é agora, assentado à destra de Deus.
O
testemunho do Espírito – “O Espírito mesmo testifica com o
nosso espírito que somos filhos de Deus.”
Como faz isso? Encontramos a resposta em Hebreus 10:14-17. Diz o
apóstolo que por uma só oferta tornou perfeitos os que são santificados, e
depois acrescenta que o Espírito Santo testifica desse fato nestes termos: “Esta é a
aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu
coração as Minhas leis e sobre a sua mente as
inscreverei...” E acrescenta: “Também de nenhum modo Me lembrarei dos seus pecados
e das suas iniqüidades, para sempre.” O testemunho do Espírito é a Palavra.
Sabemos que somos filhos de Deus porque o Espírito nos dá a certeza desse fato
na Bíblia. O testemunho do Espírito não é nenhum arrebatamento de sentidos, mas
uma declaração concreta. Não somos filhos de Deus porque sentimos assim, mas porque o
Senhor o disse. Aquele que crê tem a palavra morando em si mesmo. “Aquele
que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho.” (I João 5:10)
Sem
temor – “Porque não recebestes o espírito de escravidão , para outra vez
estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos:
Aba, Pai?” “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de
amor e de moderação.” (II Tim. 1:7) “E nós conhecemos e cremos no amor que Deus
tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e
Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo,
mantenhamos confiança; pois, segundo Ele é, também nós somos neste mundo. No
amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo
produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor.” (I João
4:16-18)
Cristo entregou-Se a Si mesmo para livrar os
que, pelo temor da morte, estavam toda a vida sujeitos à servidão (Heb. 2:15).
Aquele que conhece e ama ao Senhor não pode ter medo; e quem não tem medo do
Senhor não tem por que temer qualquer pessoa ou coisa. Uma das maiores bênçãos
do evangelho é a libertação do temor, seja ele produzido por causa real ou
imaginária. “ Busquei o Senhor, e Ele me acolheu; livrou-me de todos os meus
temores.” (Sal. 34:4)
Herdeiros
de Deus – O texto não diz apenas que somos herdeiros do que Deus tem, mas que o somos do próprio Deus.
Que herança maravilhosa! Tendo a Ele, temos tudo em realidade. A bênção
consiste em tê-Lo. “O Senhor é a porção da minha herança e o meu cálice.” (Sal.
16:5). Isso é um fato. Algo digno de profunda meditação, muito mais do que
explicação.
Co-herdeiros
com Cristo – Se somos Filhos de Deus, pisamos o mesmo
terreno que Jesus Cristo. Ele próprio disse que o Pai nos ama como ama a Ele
(João 17:23). Fica claro pelo fato de que Sua vida nos foi outorgada. Assim, o Pai não tem nada por Seu Filho
unigênito que não tenha por nós. Não apenas isso, mas que ser co-herdeiros com
Cristo significa que Ele não possuirá Sua herança antes que nós. Ele está
assentado à destra do Pai, porém, Deus, em Seu grande amor por nós, “... nos deu vida juntamente com Cristo... e,
juntamente com Ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais
em Cristo Jesus” (Efés. 2:4-6). Cristo reparte conosco a glória que Ele tem
(João 17:22). Significa muito ser co-herdeiros com Cristo! Não causa admiração
que o apóstolo exclame: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto
de sermos chamados filhos de Deus...”
Sofrer com
Ele – “Se
com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados.” “Pois, naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é
poderoso para socorrer os que são tentados.” (Heb. 2:18). Sofrer com Cristo significa,
por conseguinte, resistir à tentação juntamente com Ele. O sofrimento deriva da
luta contra o pecado. O sofrimento auto-infligido carece de valor. Não há honra
alguma em satisfazer a carne (Col. 2:23). Cristo não Se torturou a fim de obter
a aprovação do Pai. Porém, quando sofremos com Cristo, somos perfeitos nEle. O
poder por meio do qual Ele venceu as tentações do inimigo, é o mesmo que nos
dará a vitória. Sua vida em nós obtém a vitória.
Nos versículos precedentes vimos como fomos
adotados na família de Deus, e como somos feitos co-herdeiros com Cristo Jesus.
O Espírito Santo estabelece o vínculo da relação. Ele é “o Espírito de adoção”,
o Espírito procedente do Pai como representante do Filho, Aquele que permite nossa
aceitação como irmãos de Jesus Cristo. Os que são guiados pelo Espírito devem
ser como Cristo no mundo, e lhes é garantida, dessa maneira, sorte na herança
com Cristo. “porque o mesmo Espírito dá testemunho com nosso espírito de que
somos filhos de Deus.”
Glorificados juntamente
17
Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros
com Cristo; se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados.
18 Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos
do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.
19 A ardente expectativa da criação aguarda a
revelação dos filhos de Deus.
20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não
voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou,
21 na esperança de que a própria criação será
redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus.
22 Porque sabemos que toda a criação, a um só
tempo, geme e suporta angústias até agora.
23 E não somente ela, mas também nós, que temos
as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a
adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
24 Porque, na esperança, fomos salvos. Ora,
esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?
25 Mas, se esperamos o que não vemos, com
paciência o aguardamos.
Romanos 8:17-25
Por
que o sofrimento? – A vida de Cristo na Terra foi uma
existência de sofrimento. Ele foi “varão de dores, experimentado nos
trabalhos”. “Sendo tentado, padeceu”, porém Seus sofrimentos não foram somente
psicológicos. Conheceu também a dor física. “Ele mesmo tomou as nossas
enfermidades e carregou com as nossas doenças.” (Mat. 8:17). Passou fome no
deserto e Suas obras de amor não foram realizadas sem considerável cansaço e
dor. Os sofrimentos que padeceu nas mãos dos rudes soldados, na zombaria e
crucifixão, foram a continuação, de outra forma, do que havia sofrido durante
toda a Sua existência terrena.
Glória
muito além do sofrimento – Por meio de todos os profetas o
Espírito Santo dava testemunho dos “sofrimentos referentes a Cristo e sobre as
glórias que os seguiriam” (I Ped. 1:11). Quando Jesus, após Sua ressurreição,
falava com Seus discípulos no caminho de Emaús, disse-lhes: “Porventura, não
convinha que o Cristo padecesse e entrasse na Sua glória? E, começando por
Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito
constava em todas as Escrituras.” (Luc. 24:26 e 27) Sabemos que a primeira parte dessas profecias
se cumpriu, motivo pelo qual podemos estar seguros do cumprimento da parte restante.
A glória vindoura é tão certa e real como foram os sofrimentos de Cristo.
Sofrendo
juntamente com Ele – Nosso sofrimento deve ser
“juntamente com Ele”. Não se trata de
sofrermos sozinhos. Agora, não poderíamos sofrer aquilo que aconteceu há dois mil
anos, antes que havermos nascido, pelo que se deduz que Cristo sofre ainda
hoje. De outra forma, não poderíamos sofrer com Ele. Leia o que nos é
certificado em relação ao antigo Israel: “Em toda a angústia deles, foi Ele angustiado.”
(Isa. 63:9) Assim, em Mateus 25:35-40, vemos que Cristo sofre ou Se sente
aliviado no sofrimento quando Seus discípulos sofrem ou sentem alívio. Ele é a
Cabeça do corpo.
Se um membro da igreja sofre, todos os demais
se condoem dele (I Cor. 12:26), quanto mais certo deve ser isso com relação à
Cabeça! Lemos que Cristo, mesmo agora como Sumo Sacerdote, “ é capaz de
condoer-Se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele mesmo está rodeado
de fraquezas” (Heb. 5:2). Vemos que Cristo nunca Se despojou da natureza humana
que tomou sobre Si, mas continua identificado com os homens sofredores e
pecadores. É uma gloriosa verdade, digna de reconhecimento e proclamação, a de
que “Jesus veio em carne” (I João 4:2)
Glorificados
juntamente com Ele – “Se
com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados.” Cristo nada tem que não
seja também nosso. Sua oração foi: “Pai, a Minha vontade é que onde Eu estou,
estejam também comigo os que Me deste...” (João 17:24) Também disse: “Ao vencedor,
dar-lhe-ei sentar-se Comigo no Meu trono, assim como também Eu venci e Me
sentei com Meu Pai no Seu trono...”
(Apoc. 3:21) Todo o que é Seu é
nosso, porquanto somos co-herdeiros com Cristo.
Há glória,
agora
– À primeira vista poderia parecer exagerada essa afirmação. A idéia
predominante é que Cristo foi glorificado muito antes de sermos Seus
co-herdeiros. Bastará um texto para tornar clara a questão: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre
vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda
co-participante da glória que há de ser revelada...” (I Ped. 5:1) Pedro
declarou-se participante da glória. Assim tinha de ser, pois creu ele nas
palavras de Cristo em Sua oração pelos discípulos: “Eu
lhes tenho transmitido a glória que me tens dado.” (João 17:22) Se Cristo tem hoje a glória e a reparte com
Seus discípulos. Temos ainda as palavras do
apóstolo Pedro falando acerca de Cristo: “... A
quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais
com alegria indizível e cheia de glória...” (I Ped. 1:8)
Graça
e glória inesperadas – O apóstolo João nos diz que, embora
sejamos filhos de Deus hoje, o mundo não nos conhece, visto que também não
conheceu Cristo. Nada havia na aparência física de Cristo que indicasse ser Ele
o Filho de Deus. A carne e o sangue não O revelaram a ninguém. Sua aparência
era inteiramente a de um homem comum. Porém, tinha glória em todos os momentos.
Lemos que quando Ele
mudou a água em vinho, “manifestou Sua glória” (João 2:11). Sua glória Se manifestava
em forma de graça. “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça
e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do Unigênito do Pai.” (João
1:14) A graça com que Deus fortalece Seu povo é “segundo a riqueza da Sua
glória...” (Efés. 3:16) A graça é glória, porém, glória velada, para que os
olhos humanos não sejam cegados por ela.
Glória
que há de ser revelada – “Pois tenho para mim que as
aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há
de ser revelada.” Temos de possuir essa
glória agora. Porém, ela será revelada somente na vinda de Cristo. Então se
revelará Sua glória (I Ped. 4:13); nessa ocasião nossa provação será
transformada em louvor, glória e honra.
Exceção feita à manifestação aos três escolhidos
no monte da transfiguração, a glória de Cristo ainda não se revelou. Naquele
ensejo, foi permitido que brilhasse a glória que Cristo já possuía. Apareceu
então com o mesmo aspecto que ostentará em Sua vinda. Porém, para o homem em
geral, não há agora maior evidência de ser Jesus o Filho de Deus, do que havia
quando estava perante o tribunal de Pilatos.
Todavia, aqueles que O
vêem pela fé e que não se envergonham de ser participantes dos sofrimentos de
Cristo, compartilham igualmente Sua glória oculta. E quando Ele aparecer em Sua
glória, “então os justos resplandecerão como o Sol, no reino de Seu Pai” (Mat.
13:43). Essa será “a manifestação dos filhos de Deus”. Naquela ocasião Cristo Se revelará pela
primeira vez diante do mundo como o Filho de Deus, e os Seus se manifestarão
com Ele.
A esperança da criação – O termo
“criatura” [visto em algumas traduções], constante nos versos 19 a 21,
significa criação. No verso 22, a criação é descrita como gemente e esperando
ser libertada daquele a quem está sujeita. Quando o homem pecou, a Terra foi
amaldiçoada por sua causa (Gên. 3:17). Ela não havia cometido pecado algum,
porém, teve de participar da queda do homem, a quem havia sido dada. Uma Terra
perfeita não podia ser a morada do homem pecador. Ficou, entretanto, sujeita à
vaidade, mas em esperança. Deus havia criado a Terra perfeita. “Deus que formou
a Terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos.” (Isa.
45:18) E Ele faz todas as coisas segundo o propósito de Sua vontade (Efés. 1:11)
Assim sendo, é certo que a Terra há de ser glorificada tal como o foi no
princípio. “A própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a
liberdade da glória dos filhos de Deus.”
Adoção e redenção –Tanto nós como a Terra
estamos “aguardando a nossa redenção, a saber, a redenção do nosso corpo”. A
Terra também espera, já que não pode libertar-se da maldição até que sejamos
estabelecidos como filhos de Deus e, portanto, Seus legítimos herdeiros. O
Espírito Santo é a garantia ou fiança desse direito hereditário.
O Espírito nos sela
como herdeiros “para o dia da redenção” (Efés. 4:30).
Ele é para nós a
Testemunha de que somos filhos de Deus, embora o mundo não aceite Sua
testificação. O mundo não conhece os filhos de Deus. Porém, quando se revelar a
glória que Ele nos tem dado, e nossos corpos forem redimidos da destruição e
brilharem à semelhança do corpo glorioso de Cristo, não haverá qualquer dúvida
na mente de ninguém. Até o próprio Satanás ver-se-á obrigado a reconhecer que
somos filhos de Deus e, por conseguinte, herdeiros legítimos da Terra
glorificada.
Esperança e
paciência – A esperança, em sentido bíblico, significa mais do que mero
desejo de alguma coisa. Implica em certeza, porque o terreno sobre o qual se
baseia a esperança do cristão é a promessa de Deus, firmada com juramento. A própria criação será redimida do cativeiro da corrupção,
para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Nada há, diante de nossos olhos,
que confirme sermos filhos de Deus. Não podemos ver nossa própria glória e é
por isso que não somos encarregados de a procurarmos aqui. Tampouco podemos ver
a Cristo, porém, sabemos que Ele é o Filho de Deus. Essa é a garantia de que
nós somos também filhos de Deus. Houvesse alguma incerteza e não poderíamos esperar
com paciência. Teríamos de esperar com inquietude e preocupação. Porém, embora
os olhos físicos sejam incapazes de detectar algum indício de sermos
propriedade de Deus, a fé e a esperança no-lo assegura; assim, podemos esperar
com paciência aquilo que não vemos.
Algo
que vale a pena saber
26
Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não
sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira,
com gemidos inexprimíveis.
27 E aquele que sonda os corações sabe qual é a
mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos
santos.
28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito.
Romanos
8: 26 a 28
Orar
“com o Espírito” – O coração é enganoso, mais do que
todas as coisas, e ninguém pode conhecê-lo senão Deus (Jer. 17:9 e 10). Além
disso, não sabemos as coisas que Deus tem para nos dar. Mesmo que as
soubéssemos, nossos lábios não as poderiam descrever, posto que “nem olhos
viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus
tem preparado para aqueles que O amam. Mas Deus no-lo
revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo
as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o
seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém
as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do
mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos
foi dado gratuitamente.” (I Cor. 2:9-12)
Deus anseia dar-nos “infinitamente mais do que
tudo quanto pedimos ou pensamos” (Efés. 3:20). De fato, é impossível expressar
mediante palavras o alcance dessas coisas. A frase seguinte, não obstante,
especifica que é “pelo poder que em nós opera”, e o verso dezesseis esclarece
que esse poder é o Espírito. Encontramo-lo também no capítulo oitavo de Romanos
e no segundo de I Coríntios.
“Porque o Espírito a todas as coisas perscruta,
até mesmo as profundezas de Deus.” De maneira que o
Espírito sabe exatamente o que o Senhor tem para nós. Os pensamentos mais
profundos estão muito acima do que a linguagem pode expressar, assim como o
Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis, impossíveis de serem descritos.
Porém, embora não se trate propriamente de palavras, “Aquele que sonda os
corações sabe qual é a mente do Espírito, porque
segundo a vontade de Deus é que Ele intercede pelos santos”. O Espírito pede exatamente as coisas que o
Senhor tem para conceder. Ele intercede pelos santos de acordo com a vontade de
Deus. E sabemos que nos é concedido tudo o que pedimos segundo a vontade de
Deus (I João 5:14 e 15).
Observe a forma como esse texto referente à
oração se harmoniza com as passagens precedentes de Romanos 8. Deus nos concedeu
Seu Espírito para que habite em nós, a fim de guiar-nos e dirigir nossa vida. O
fato de termos o Espírito Santo demonstra que somos filhos de Deus. Sendo
assim, podemos nos achegar a Ele rogando-Lhe que nos dê o que necessitamos, com
a mesma confiança de uma criança que se dirige a seu pai. Não obstante essa
certeza, nossos pensamentos são tão inferiores aos de Deus, como está
distanciada a Terra em relação ao Céu (Isa. 55:8 e 9).
Se nossos pensamentos são deficientes, nossa
linguagem o será ainda mais. Sequer encontramos a maneira de descrever com
propriedade nossos pequenos atos cotidianos. Porém, se somos filhos de Deus,
temos em nós Seu próprio Representante, o qual nos auxilia nas fraquezas e é
capaz de tomar as coisas divinas e no-las dar. Que maravilhosa confiança isso
nos deveria dar ao orarmos a Deus, particularmente àqueles que menos facilidade
têm para se expressar em palavras. Pouco importa se o vocabulário empregado por
você for limitado, se você gaguejar, o mesmo se for mudo. Se orar a Deus no
Espírito, você está seguro de receber tudo quanto necessita, e mesmo mais do
que sabe pedir ou pensar.
Tendo presentes esses fatos, quanto poder
adquire a exortação do apóstolo: “... Orando em todo tempo no Espírito e para
isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos.” (Efés.
6:18)
Todas
as coisas contribuem para o bem – “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus...”
Se não o
soubéssemos, não poderíamos ter a confiança na oração que é nosso privilégio
possuir, em vista do quanto foi expresso nos versículos precedentes. Todo
aquele que conhecer o Senhor O amará, posto que Deus é amor. O Espírito no-Lo
revela tal como Ele é. Todo o que sabe que “Deus amou o mundo de tal maneira,
que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê, não pereça,
mas tenha a vida eterna”, achará impossível deixar de amá-Lo; e nessa
circunstância, todas as coisas contribuirão para o seu bem.
Veja que o verso não diz que sabemos que
àqueles a quem Deus ama, todas as coisas lhe irão bem, mas que já lhe vão
atualmente. Venha o que vier, é bom para os que amam ao Senhor e confiam nEle.
Muitos perdem a bênção que lhes daria essa segurança, ao ler o versículo como
se ele se aplicasse ao futuro. Tentam aceitar com resignação as provas que lhes
advêm, pensando que com o tempo, algum dia, elas lhes acarretarão algum
benefício. Ao fazer assim, contudo, não estão recebendo o bem que Deus lhes
deseja comunicar hoje.
Por fim, observe que o texto não diz que
sabemos qual é a maneira como as coisas contribuem para o bem daqueles a quem
Deus ama. Alguns exclamam entre piedosos suspiros: “Suponho que isso será para
o bem, embora não tenha idéia como.”
Certamente que não é assim, porque não há razão para se preocupar com
isso. Deus é quem faz com que as coisas cooperem para o bem, visto que Ele só
tem o poder.
Por conseguinte, não precisamos saber de que
maneira a coisa ocorre. Basta-nos conhecer o fato. Deus pode transtornar todos
os planos do diabo e fazer com que a ira do homem redunde em louvor para Ele.
Nossa parte é crer. Onde fica a confiança no Senhor se precisarmos saber como
tudo transcorrerá? Os que precisam ver a forma como Deus opera, demonstram não
poderem confiar nEle sem que a vista entre em ação, desonrando-O assim perante
o mundo.
Chamados
por Deus – Deus chamou a todos para virem a Ele. “O
Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede
venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.” (Apoc. 22:17) Deus não
faz acepção de pessoas; Ele deseja que todos sejam salvos e, portanto, chama-os
todos.
Não apenas nos convida, mas nos atrai. Ninguém
poderia vir a Ele sem essa atração. Cristo foi levantado da terra a fim de
atrair todos a Deus. Ele provou a morte por todo homem (Heb. 2:9) e, mediante
Jesus, todo homem tem acesso a Deus. Desfez em Seu próprio corpo a inimizade –
o muro de separação entre o homem e Deus – de maneira que nada pode afastar o
Senhor do homem, se esse não erigir uma barreira.
O Senhor nos atrai a Si sem fazer uso de força.
Chama, não ameaça. A nós corresponde fazer “firme a nossa vocação e eleição”, respondendo à influência que Deus estende ao
nosso redor. Ele nos diz: “Segue-Me!” Devemos tornar efetivo o chamamento
atendendo a Seu convite.
O
propósito do chamado – Deus nos chama “à graça de Cristo”
(Gál. 1:6). “Assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo, para
sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor.” (Efés. 1:4) Mais ainda: lemos que Ele nos “chamou com
santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria
determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos
eternos”. (II Tim. 1:9). No texto de Romanos, vimos que os que amam a Deus
“foram chamados segundo o Seu propósito”. Esse intento é que sejamos santos e
sem mácula perante Ele, em amor. Se nos submetermos a Seu desígnio, Ele o
levará a bom termo.
Deus criou o homem para ser Seu companheiro.
Porém, onde há restrição não pode haver verdadeiro companheirismo. Por isso,
com o propósito de fazer associação com ele em termos de intimidade, deu-lhe
tanta liberdade de arbítrio ou eleição quanto a Sua própria. Deus não pode
fazer nada contra Seu plano; portanto, de acordo com Seu propósito, não quer
nem pode forçar o arbítrio do homem. Todo homem é tão absolutamente livre para
escolher como o próprio Deus. Quando o homem escolhe atender ao chamamento
divino, o propósito de Sua graça se cumpre nele mediante o poder pelo qual todas
as coisas vêm a concorrer para o seu bem.
Temos considerado nossa relação com Deus
mediante o Espírito, e o auxílio que Ele nos proporciona em oração, tanto como
a certeza de que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito”. As bases dessa
certeza estão solidamente estabelecidas nos versículos seguintes.
O dom inefável
9 Porquanto aos que de antemão conheceu, também
os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele
seja o primogênito entre muitos irmãos.
30 E aos que predestinou, a esses também chamou;
e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses
também glorificou.
31
Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra
nós?
31 Aquele que não poupou o Seu próprio Filho,
antes, por todos nós O entregou, porventura não nos dará graciosamente com Ele
todas as coisas?
Romanos
8:29 a 32
Conhecer
antecipadamente não significa determinar – Obras
intermináveis sobre os termos “predeterminar” ou “predestinar” têm sido
escritas, porém, bastam poucas palavras para esclarecer os fatos. Com respeito
a isso, bem como aos outros atributos divinos, é-nos suficiente saber que o
fato existe. Não nos é permitido penetrar em sua explicação.
Está claramente exposto nas Escrituras o fato
de Deus conhecer todas as coisas. Não apenas sabe das coisas do passado, mas
igualmente o futuro Lhe é transparente. O Senhor “faz estas coisas conhecidas
desde séculos” (Atos 15:18). “Senhor, Tu me sondas e me conheces. Sabes quando me
assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos.” (Sal.
139:1 e 2). Desse modo, Deus conhece inclusive tudo o que as pessoas que ainda
não nasceram farão e dirão.
Isso não torna Deus responsável pelo mal que elas praticarem. Alguns têm pensado que
era necessário defender o Senhor e livrá-Lo da acusação segundo a qual, visto
ser Ele onisciente, é responsável pelo mal quando não faz nada para evitá-lo.
Uma estranha forma de defendê-Lo consiste em pretender que Ele poderia ter
conhecimento se assim o desejasse, porém, escolhe não saber muitas coisas. Uma
“defesa” dessa espécie é absurda e ímpia. Tem por certo que Deus é culpado do
mal, porque o conhece com antecedência e nada faz para evitá-lo. Supõe ainda
que, a fim de colocar-Se numa posição em que não pode tomar medidas para evitar
esse mal, opta deliberadamente por tapar os próprios olhos. Tal argumentação
torna a Deus culpado de toda maldade. Não apenas isso, mas ainda O limita.
Rebaixa-O à altura do homem.
Deus conhece todas as coisas, não mediante
estudo e investigação, assim como o homem faz, mas porque Ele é Deus. Ele
habita na eternidade (Isa. 57:15). Não podemos compreender a maneira por que
isso é assim, mais do que podemos entender a eternidade. Temos de aceitar o
fato e estar não apenas conformados com isso, mas felizes porque Deus é maior
do que nós. Todo o tempo – passado, presente e futuro – é igual para Deus. Para
Ele, sempre é “agora”. Por que Deus já conhecia de antemão o mal que o homem
iria praticar, mesmo antes da fundação do mundo, isso não O torna responsável.
Assim como um homem que espia, através de uma luneta, o que outro está fazendo
a cinco quilômetros de distância, não se transforma em responsável pelos atos
do observado. Desde o princípio Deus deu aos homens advertências contra o
pecado, e providenciou todos os meios para que eles pudessem evitá-lo. Porém,
Ele não pode interferir em seu direito e liberdade de escolha, sem privá-lo de
sua humanidade e convertê-lo em um autômato.
A liberdade de praticar o bem implica na
liberdade de fazer o mal. Se o homem
houvesse sido feito de forma a não poder escolher o mal, não teria, em
absoluto, liberdade, nem sequer para fazer o bem. Seria menos que um animal.
Não há virtude alguma na obediência forçada, nem haveria mérito em fazer o que
é correto se fosse impossível agir de outra maneira. Ademais, não poderia
existir nenhum prazer ou satisfação na amizade que juram duas pessoas, no caso
da associação de uma delas com outra se devesse à impossibilidade de
evitá-la. O prazer do Senhor no
companheirismo com Seu povo jaz na livre
escolha de Sua Pessoa por parte do homem, sobre todos os demais. E a alegria do
Senhor é o gozo de Seu povo.
Os mesmos que injuriam a Deus por Ele não impedir
os males que vê com antecedência (visto ser Ele onipotente), seriam os primeiros
a acusá-Lo de crueldade caso o Senhor interferisse arbitrariamente em sua
liberdade, e lhes determinasse fazer aquilo que é contrário à sua escolha. Tal
curso de ação converteria todos em seres infelizes e descontentes. A atitude
mais sábia que podemos tomar é não tentar penetrar os caminhos do Altíssimo, e
aceitar o fato de que tudo quanto Ele faz é correto. “O caminho de Deus é
perfeito.” (Sal. 18:30)
O
que há acerca da predestinação? – O texto diz que “aos que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de
Seu Filho...” Os pensamentos de Deus em relação ao homem são pensamentos de paz
e não de mal (Jer. 29:11). Ele nos concede a paz (Isa. 26:12). Nada lemos sobre
terem sido alguns homens predestinados à destruição. O único propósito ao qual
estão destinados é serem conformes à imagem de Seu Filho.
No entanto, é somente em Cristo que somos tornados conforme a Sua imagem. É através dEle
que chegamos “à medida da estatura completa em Cristo” (Efés. 4:13). Portanto,
o homem está predestinado somente em Cristo. Todo esse assunto nos é
apresentado nas seguintes passagens escriturísticas: “Bendito o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção
espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nEle antes
da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em
amor nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua
graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado,” (Efés. 1:3-6)
Tudo é em Cristo. NEle recebemos todas as
bênçãos espirituais; nEle somos eleitos em santidade; nEle somos predestinados
para a adoção de filhos; somos aceitos nEle, e nEle temos a redenção por Seu
sangue. “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação
mediante nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Tess. 5:9)
Esse é o propósito e a determinação de Deus com
respeito ao homem. Mais ainda: “Aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho.” A quem conheceu? Não
pode haver limite; Deus deve ter conhecido a todos. Se houvesse exceções, então
Ele não seria infinito em conhecimento. Se é que conhece com antecedência uma
pessoa, conhece-a totalmente. Não há um ser humano que tenha nascido neste
mundo que Deus não conheceu. “E não há criatura que não seja manifesta na Sua
presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos
daquele a quem temos de prestar contas.” (Heb. 4:13)
Assim, visto que Deus conheceu cada pessoa, mesmo antes da
fundação do mundo, e posto que a todos conheceu, também os predestinou para
serem conformes a imagem de Seu Filho, deduz-se que Ele disponibilizou a
salvação a toda alma que habitou, habita
e habitará este mundo. Seu amor envolve a todos, sem exceção.
“Então”, dirá alguém, “todos serão salvos, não importando o
que façam”. Não é assim! Lembremo-nos de que o propósito de Deus é realizado em
Cristo. Somente nEle somos predestinados. Somos livres para escolher se O
aceitamos ou não. Foi dada ao homem, para sempre, a liberdade de escolha, e até
o próprio Deus Se abstém de interferir nela. O Senhor respeita como sagrada a
escolha de cada pessoa. Não é plano divino cumprir Seu propósito contra a
vontade do homem. Ele deseja dar ao homem o que esse preferir.
Deus põe diante do homem a vida e a morte, o bem e o mal, e
o convida a escolher o que pretende. Nosso Pai sabe o que é melhor, e o que
escolheu e preparou para o homem. Foi Ele muito longe para garantir que não
haja mais a possibilidade de queda; para assegurar que o homem receba o bem, se
assim o preferir. Porém, as magníficas
delicadeza e amabilidade do grande Deus ficam aqui patenteadas, visto que Ele
cede ao desejo do homem, respeitando-lhe a escolha. Se esse, por sua vez, pende
para o desejo divino e aceita o que o Senhor lhe dispôs, terá lugar entre ambos
um maravilhoso e sublime companheirismo de amor. “Com amor eterno Eu te amei;
por isso, com benignidade te atraí.” (Jer. 31:3)
Chamados,
justificados e glorificados – “E
aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” Trata-se de uma
ação completa. Não temos por que tropeçar se nos lembrarmos de que tudo é em Cristo. Nele já fomos benditos com
toda bênção espiritual. Todos os homens são chamados para o que Deus lhes
preparou. Porém, não foram convocados segundo o propósito divino, a menos que
tenham feito firme sua vocação e eleição, submetendo-se à Sua vontade. Eles
estão predestinados a salvar-se. Nada no Universo pode impedir a salvação da
alma que aceita e confia no Senhor Jesus Cristo.
E são justificados. A
morte de Cristo nos reconcilia com Deus. “Ele é a
propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda
pelos do mundo inteiro.” (I João 2:2). Sua morte garante perdão e vida a todos.
Nada pode impedir sua salvação, exceto sua própria escolha em contrário. O
homem deve escapar da mão de Deus para se perder.
Desse modo,
os que aceitam o sacrifício são justificados. “Mas Deus prova o Seu
próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda
pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados
pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira. Porque, se nós, quando
inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho, muito
mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela Sua vida.”
“E aos que justificou, a esses também
glorificou.” Por acaso não ouvimos na oração que Cristo fez em prol de Seus
discípulos de então, e por todos os que creriam pela palavra deles, por
conseguinte, em nosso favor: “Eu lhes tenho
transmitido a glória que Me tens dado...”? Pedro disse que era participante da
glória que haveria de ser revelada. Deus nada deixou por fazer. Se O
aceitarmos, tudo o que Cristo tem é nosso. Tudo quanto falta é essa revelação.
“A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de
Deus.” Quando o Senhor pergunta em relação ao Seu povo: “Que mais se podia
fazer ainda à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito?”, atrever-se-á alguém a
dizer que faltou algo?
seja Paulo, seja Apolo,
seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes,
sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus.” (I Cor.
3:21-23) Isso responde, portanto, à pergunta: “Quem será contra nós?” Tudo
concorre em nosso favor. “Porque todas as coisas existem por amor de vós.” (II
Cor. 4:15)
Um general, certa vez,
enviou um telegrama à sua central de operações, dizendo: “Encontramos o
inimigo. Já é nosso.” Isso também é o que todo filho de Deus tem o privilégio
de dizer. “Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor
Jesus Cristo.” (I Cor. 15:57)
“E esta é a vitória que
vence o mundo: a nossa fé.” (I João 5:4) É assim que todas as coisas contribuem
para o bem daqueles que amam a Deus. Não importa se elas forem escuras e
ameaçadoras; se estivermos em Cristo, são para nós e não contra nós.
Chegamos agora ao final
do oitavo capítulo de Romanos. É ele o alto do Pisga da epístola, pois desde
sua cumeada o olho da fé contempla a terra prometida. Nesse ponto, quem sabe,
seja proveitoso proceder a um breve resumo do terreno que percorremos. O que
vem a seguir é um esquema sinóptico do quanto estudado até aqui:
No primeiro capítulo
encontramos o tema da epístola expresso em breves palavras, o evangelho de
Cristo, o poder de Deus para a salvação. Salvação tanto para judeus como para
gentios, revelado a todos mediante as obras de Deus. Descreve-se, então, a condição
daquele que se recusa conhecer a Deus.
O segundo capítulo nos
ensina que no fundo, todos são iguais; e que serão julgados pela única e mesma
norma; que o conhecimento e a elevada profissão não recomendam ninguém a Deus.
A obediência à lei de Jeová é o único sinal do verdadeiro israelita e herdeiro
de Deus.
O terceiro capítulo
enfatiza os tópicos anteriores, especialmente o fato de que não há ninguém
obediente. “Visto que ninguém será justificado diante dEle
por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.”
Porém, há esperança para todos, visto que a justiça da lei é imputada sobre
todo aquele que crê em Cristo, de maneira que o homem se torna um cumpridor da
lei pela fé. Um só Deus justifica a ambos, judeus e gentios, por meio da fé. A
fé não é um sucedâneo da obediência à lei, mas o que assegura seu cumprimento.
No capítulo quarto,
encontramos Abraão como ilustração da justiça obtida pela fé. Vemos também que
a fé na morte e ressurreição de Cristo é a única maneira de herdar a promessa
feita aos pais, promessa que envolve nada menos que a possessão da Terra
renovada. A bênção de Abraão é a mesma que vem pela cruz de Cristo. Porquanto a
promessa feita a Israel não foi mais que a repetição daquela feita a Abraão.
Vemos que Israel é constituído por aqueles que, oriundos de todas as nações,
obtêm a vitória sobre o pecado mediante a cruz de Cristo.
O amor e a graça
abundantes, a salvação mediante a vida de Cristo, são as linhas mestras do
capítulo quinto.
O capítulo sexto dirige
a mente do leitor à nova criatura como pensamento-chave. Considera a morte, a
sepultura, a ressurreição e a vida com Cristo.
No capítulo sétimo,
vemos quão estreita é a relação entre Cristo e os crentes. Estão desposados com
Ele, de modo que são “membros de Seu corpo, de Sua carne e ossos”. São
descritas em vívido estilo as lutas mediante as quais é conseguida a libertação
do primeiro marido – o corpo do pecado.
O oitavo capítulo, o
ápice da carta, descreve as bênçãos do filho de Deus nascido para a liberdade.
A esperança da imortalidade constitui a possessão, mediante o Espírito, da vida
e da glória presentes em Cristo. Os que são de Cristo estão predestinados à
glória eterna. Chegamos assim a:
Exclamação triunfal. A gloriosa convicção
31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se
Deus é por nós, quem será contra nós?
32 Aquele que não poupou o Seu próprio Filho,
antes, por todos nós O entregou, porventura, não nos dará graciosamente com Ele
todas as coisas?
33 Quem intentará acusação contra os eleitos de
Deus? É Deus quem os justifica.
34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu
ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede
por nós.
35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será
tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou
espada?
36 Como está escrito: Por amor de Ti, somos
entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
37 Em todas estas coisas, porém, somos mais que
vencedores, por meio dAquele que nos amou.
38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte,
nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do
porvir, nem os poderes,
39 nem a altura, nem a profundidade, nem
qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor.
Romanos 8:31 a 39
Tudo a nosso favor – O apóstolo
acaba de perguntar: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” A única resposta
é: Ninguém! Deus é maior e ninguém pode arrebatar coisa alguma de Suas mãos. Se
Aquele que tem poder para fazer com que todas as coisas contribuam para o bem
estiver conosco, então tudo tem de estar a nosso favor.
No entanto, com freqüência
se levanta na mente de muitos a pergunta: “Será que Deus está realmente
conosco? Alguns O acusam injustamente de estar contra eles. Algumas vezes até
os professos cristãos pensam que Deus age contra eles. Ao advir a prova,
imaginam que Deus está lutando contra eles. Porém, um só fato deveria bastar
para esclarecer definitivamente o assunto: Foi Deus quem Se deu a Si mesmo por
nós e quem nos justifica.
Quem acusará os
escolhidos de Deus. Deus mesmo, que os justifica, fará isso? Impossível! Pois bem,
Deus é o único em todo o Universo que tem o direito de acusar alguém de alguma
coisa, e posto que Ele nos justifica em lugar de condenar, ficamos livres.
Assim é se assim crermos. A quem Deus justifica? “Ao ímpio.” Isso não deixa
nenhuma dúvida de que é a nós que Ele justifica.
E que diremos de
Cristo? Condenar-nos-á Ele? Como poderia fazê-lo sendo que Se deu a Si mesmo
por nós? Porém, deu-Se de acordo com a vontade de Deus (Gál. 1:4) “Porquanto
Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o
mundo fosse salvo por Ele.” (João 3:17). Ele ressuscitou para nossa justificação
e está a nosso favor, à direita de Deus. Interpõe-Se entre nós e a morte que
merecemos. Portanto, não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo
Jesus.
Alguém dirá: “Satanás
vem a mim e me faz sentir que sou tão pecador que Deus está indignado comigo,
dizendo que meu caso é desesperador.” Pois bem, e por que você o ouve? Você
conhece o seu caráter: Ele é “mentiroso e pai da mentira”. O que você tem a ver
com ele? Deixe que o acuse de tudo quanto quiser; ele não é o juiz. Deus é o
Juiz e Ele justifica. O único
objetivo de Satanás é enganar o homem e seduzi-lo a pecar, fazendo-o crer que
isso é correto. Pode você ter bastante certeza de que ele nunca dirá a alguém que
não foi perdoado: “você é um pecador.” Deus, mediante Seu Espírito, é quem faz
isso, a fim de que o homem culpado possa aceitar o perdão que Ele gratuitamente
oferece.
O tema pode ser
colocado desta maneira: Quando Deus diz ao homem que ele é um pecador, fá-lo
com o propósito de levá-lo a receber Seu perdão. Se Deus afirma que um homem é
pecador, esse o é sem dúvida, e deveria reconhecê-lo, porém, “o sangue de Jesus
Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Isso é verdadeiro, não importa
quem nos diz que somos pecadores. Suponha que Satanás nos dissesse que somos
pecadores. Não precisamos parlamentar com ele, nem nos determos para discutir a
questão. Esqueçamo-nos da acusação e cobremos ânimo com a certeza de que “o
sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”.
Deus não nos condena,
nem mesmo ao nos convencer do pecado. E não incumbiu a ninguém mais de
condenar-nos. Se outros nos condenam, sua acusação equivale a nada. Não há
nenhuma condenação para aqueles que confiam no Senhor. Até as próprias
acusações de Satanás podem nos ser motivo de ânimo, visto podermos estar certos
de que ele jamais dirá a um homem que ele é pecador, enquanto sob seu domínio (Nota: Posto que isso daria ao pecador a
oportunidade de se arrepender, é a última coisa que Satanás deseja). Se
Deus é por nós, tudo está a nosso favor.
Amor eterno – “De longe se me deixou
ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno Eu te amei; por isso, com benignidade te
atraí.” (Jer. 31:3) Sendo assim, “quem nos
separará do amor de Cristo?” Seu amor é eterno. Não conhece variação e é
dirigido a nós, portanto, nada nos pode apartar dEle. Nossa escolha deliberada
pode repudiá-lo, porém, até nesse caso, Ele continua amando-nos, mesmo que O
hajamos renegado. “Se somos infiéis, Ele permanece fiel, pois de maneira
nenhuma pode negar-Se a Si mesmo.” (II Tim. 2:13)
Poderão a tribulação, a
angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou espada separar-nos do
amor de Cristo? Impossível! Nessas mesmas coisas Ele manifestou Seu amor por
nós. A própria morte não pode separar-nos de Seu amor, porquanto Ele nos amou
de tal maneira que Se deu para morrer por nós. A morte é a garantia de Seu
amor. O pecado que nos separa de Deus não nos distancia de Seu amor, já que
“Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por
nós, sendo nós ainda pecadores”. “Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez
pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus.” (II Cor.
5:21)
“Em todas estas coisas, porém, somos mais
que vencedores, por meio dAquele que nos amou.” Assim
somente é que pode ser, visto que todas as coisas “contribuem para o bem”.
Posto que Jesus sofreu fome, angústia, perigos e até a morte a fim de poder
livrar-nos, todas essas coisas vão a nosso favor. Foi mediante a morte que Ele
nos obteve a vitória, por conseguinte, até na morte conquistamos uma gloriosa
vitória. Aqueles a quem Satanás persegue até a morte alcançam o maior triunfo
imaginável sobre ela. O que parece ser um triunfo do maligno, significa sua mais
esmagadora derrota.
Considere a maravilhosa
provisão que Deus fez para nossa salvação. É simples achar que se Satanás não
nos perturbasse em coisa alguma, nossa salvação seria certa. Se nosso inimigo
nos deixasse totalmente em paz, acabaria o conflito. Poderíamos sentir-nos
seguros. Porém, ele não nos deixa de modo algum, mas anda ao nosso redor qual
leão bramidor, buscando a quem devorar. Pois bem; Deus providenciou para que
mesmo esses ataques destruidores nos sejam de benefício. A morte é a suma de
todos os piores males que Satanás pode infligir-nos, e mesmo nela somos mais do
que vencedores por Aquele que nos amou. “Graças a Deus, que nos dá a vitória
por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Cor. 15:57)
Confiança
inquebrantável – “Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de
Israel: Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na
tranqüilidade e na confiança, a vossa força...” (Isa. 30:15) “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato,
guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos.”
(Heb. 3:14) A fé é nossa vitória. Somente Deus é nossa força e salvação. Por
isso, o poder está em pôr nEle a nossa confiança. “Confiai no Senhor perpetuamente, porque o
Senhor Deus é uma rocha eterna.” (Isa. 26:4)
Esse foi o destino do apóstolo Paulo: “Em
açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.” Disse ele:
“Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de
açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em
naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em
jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em
perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em
perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas
vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez.” (II Cor.
11:24-27) Não resta dúvida de que estamos diante de alguém que possui autoridade
provinda de experiência.
Ouçamos, pois, o que ele nos diz a respeito:
“Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes,nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra
criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor.”
Sem
medo do futuro – Tão-somente àqueles que rejeitam
voluntariamente o amor de Deus, há “uma horrível expectativa de juízo”.
Cristo nos diz: “... Não vos inquieteis com o dia de amanhã.” Não é de Sua
vontade que nossas mentes sejam presas de temor e nem de angustiosos
presságios. Alguns nunca acham o repouso, nem sequer sob as circunstâncias mais
favoráveis, porque temem que no futuro possa lhes acontecer algo terrível. Porém,
o que vai suceder não faz diferença alguma, porque nem o presente, nem o
porvir, podem separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. É-nos
garantido que tanto as coisas futuras como as presentes, são todas nossas (I
Cor. 3:22). Portanto, podemos em Cristo cantar: “Venha o bem ou o mal, para mim
só será bem, pois estou seguro de ter-Te em tudo, de ter tudo em Ti.”
Capítulo 9
Quem São os Verdadeiros Israelitas?
O amor de
Paulo por seus irmãos .
1
Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a
minha própria consciência:
2 tenho grande tristeza e incessante dor no
coração;
3 porque eu mesmo desejaria ser anátema,
separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne.
4 São israelitas. Pertence-lhes a adoção e
também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas;
5 deles são os patriarcas, e também deles
descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para
todo o sempre. Amém!
6
E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de
Israel são, de fato, israelitas;
7 nem por serem descendentes de Abraão são
todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.
8 Isto é, estes filhos de Deus não são
propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os
filhos da promessa.
9 Porque a palavra da promessa é esta: Por esse
tempo, virei, e Sara terá um filho.
10 E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber
de um só, Isaque, nosso pai.
11 E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem
tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à
eleição, prevalecesse, não por obras, mas por Aquele que chama),
12 já fora dito a ela: O mais velho será servo
do mais moço.
13 Como está escrito: Amei Jacó, porém me
aborreci de Esaú.
14
Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!
15 Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de
quem Me aprouver ter misericórdia e compadecer-Me-ei de quem Me aprouver ter compaixão.
16 Assim, pois, não depende de quem quer ou de
quem corre, mas de usar Deus a Sua misericórdia.
17 Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto
mesmo te levantei, para mostrar em ti o Meu poder e para que o Meu nome seja anunciado
por toda a terra.
18 Logo, tem Ele misericórdia de quem quer e
também endurece a quem lhe apraz.
Romanos
9: 1 a 18.
Esse é um trecho
extenso das Escrituras, porém, se o abordarmos com diligência a fim de
compreendermos o que ele tem exatamente a dizer, não será tão difícil interpretá-lo
como se poderia supor.
Judeus
e gentios – Mesmo Paulo, que era “o apóstolo dos gentios”, não se
esquecia de seus “parentes segundo a carne”. Aonde ia, pregava primeiramente
aos judeus. Ele disse aos anciões de Éfeso: “Jamais
deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar
publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a
gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.” (Atos 20:20) A solicitude de
Paulo por todas as classes sociais, inclusive aquelas que estavam distantes,
mostra mais do que qualquer outra coisa, sua semelhança com Jesus Cristo.
A
vantagem de Israel – “Qual é, pois, a vantagem do judeu?... Muita, sob todos os aspectos.” (Rom. 3:1 e 2) Lemos no
texto um magnífico rol de bênçãos pertencentes a Israel: a adoção, a glória, os
concertos, a entrega da lei e o serviço de Deus, bem como as promessas. Ser
tido como infiel em meio a tais privilégios deve ser algo realmente terrível.
“A salvação vem dos judeus” – Jesus proferiu essas palavras à
samaritana, junto ao poço de Jacó (João 4:22). “Também deles descende o Cristo,
segundo a carne.” A Bíblia foi escrita por judeus e uma jovem judia foi a mãe
de nosso Senhor. Cristo era judeu, da tribo de Judá. Quando lemos que somos “salvos
por Sua vida” entendemos que é por Sua vida como judeu. Não há nenhum dom nem
bênção divina que não fossem “primeiramente ao judeu”, por cujo conhecimento
não podemos ficar em dívida com os hebreus.
Nada
dos gentios – Disse o apóstolo Paulo acerca “dos gentios na carne”, que
estavam “separados da comunidade de Israel e
estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”
(Efés. 2:11 e 12). Os pactos, as promessas, até o próprio Cristo, pertencem aos
judeus e não aos gentios. Portanto, todo aquele que se salva deve sê-lo como
judeu. “Deus, primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre
eles um povo para o Seu nome.” (Atos
15:14)
Excluídos de Cristo – “Separados”,
“estranhos”, “sem Cristo” (Efés. 2:12). Trata-se da mais deplorável condição
que possamos imaginar. Estar sem Cristo é estar sem esperança e sem Deus no
mundo.
“Assim diz o Senhor: Por três transgressões de
Edom e por quatro, não sustarei o castigo, porque perseguiu o seu irmão à
espada e baniu toda a misericórdia; e a sua ira não cessou de despedaçar, e
reteve a sua indignação para sempre.” (Amós 1:11) Jacó, ao contrário, embora não fosse menor
que Esaú por natureza, creu nas promessas de Deus e mediante elas tornou-se
participante da natureza divina e, desse modo, herdeiro de Deus e co-herdeiro
de Jesus Cristo.
Deus
não faz injustiça – Observe com atenção os versículos
14 a 17 e veja a evidência de que não há arbitrariedade na eleição divina. Tudo
é misericórdia. “Pois Ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem Me aprouver
ter misericórdia e compadecer-Me-ei de quem Me aprouver ter compaixão.” “Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto
mesmo te levantei, para mostrar em ti o Meu poder e para que o Meu nome seja anunciado
por toda a terra.”
Pouco importa que isso se refira ao fato de
Faraó haver sido levado ao trono, ou de ter sido ele preservado para essa
ocasião. Uma coisa é certa: isso não nos ensina, como se costuma supor, que
Deus guindou Faraó ao trono com o propósito de descarregar Sua vingança nele. É
incrível que professos cristãos tenham desonrado a Deus com uma acusação como
essa.
O propósito de Deus ao suscitar Faraó ou
mantê-lo no trono era demonstrar Seu poder a
ele e nele, e que o nome do
Senhor fosse manifesto em toda a terra. Esse desígnio cumpriu-se na destruição
de Faraó devido à sua obstinada resistência. Porém se cumpriria igualmente, e
com melhor resultado para Faraó, se ele houvesse dado ouvidos à palavra de
Deus. O rei do Egito viu o poder de Deus, porém recusou-se a crer. Se o fizesse
teria sido salvo, porque o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê.
Faraó tinha vontade obstinada. Sua
característica principal era a resolução de propósito, a persistência, que se havia
degenerado em obstinação. Porém, quem pode imaginar o poder para o bem que
Faraó poderia ter desenvolvido, se se houvesse submetido de boa vontade ao Senhor?
Isso teria sido um grande sacrifício, segundo o conceito que o homem tem de
sacrifício, porém, não maior que o de Moisés. Esse recusou o trono egípcio e
uniu sua sorte a do povo de Deus.
Ao monarca foi oferecida uma maravilhosa e
honorável posição, contudo esse não reconheceu o dia de sua visitação. Isso
implicava em humilhação e ele se recusou. Em conseqüência, perdeu tudo,
enquanto Moisés, que escolheu antes ser afligido com o povo de Deus e ter parte
no vitupério de Cristo, tem um nome e um lugar que durará por toda a
eternidade. As misericórdias de Deus, quando rejeitadas, convertem-se em maldições.
“Os caminhos do Senhor são retos, e os justos andarão neles, mas os
transgressores neles cairão.” (Oséias 14:9)
Vimos que embora Deus tenha escolhido pessoas
especialmente chamadas, as quais posteriormente vieram a ter grande destaque
aos olhos divinos, a escolha não foi discricionária. Jacó foi escolhido antes
de nascer, porém, não mais do que os outros. Deus nos abençoou com as bênçãos
espirituais em Cristo, “assim como nos escolheu nEle antes da fundação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos
predestinou para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que
Ele nos concedeu gratuitamente no Amado” (Efés. 1:4-6)
“Assim, pois, não depende
de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a Sua
misericórdia.” Como prova disso, o apóstolo mencionou Faraó, que foi escolhido
em Cristo tanto quanto Jacó e nós mesmos. Foi eleito para louvor da glória da
graça de Deus, a fim de revelar as excelências do Senhor, porém, resistiu-Lhe
de forma contumaz. Deus será louvado até mesmo pela ira do homem, quando esse
se nega a louvá-Lo espontaneamente. Foi assim que o nome e o poder de Deus se
fizeram conhecidos mediante a contumácia de Faraó.
Quão melhor teria sido
se o orgulhoso rei se submetesse ao desígnio divino, em lugar de ver cumprido o
propósito do Senhor de outra maneira. Entretanto, a lição que temos de aprender
é que todo homem, em toda nação, foi eleito; e sua escolha consiste em ser adotado
como filho. Nessa eleição, os judeus não têm nenhuma vantagem sobre os demais,
mas estão em igualdade como bem demonstra o restante do capítulo.
19 Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda?
Pois quem jamais resistiu à Sua vontade?
20 Quem és tu, ó homem, para discutires com
Deus? Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste
assim?
21 Ou não tem o oleiro direito sobre a massa,
para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?
22 Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar
a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita longanimidade os
vasos de ira, preparados para a perdição,
23 a fim de que também desse a conhecer as
riquezas da Sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de
antemão,
24 os quais somos nós, a quem também chamou, não
só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?
25
Assim como também diz em Oséias: Chamarei povo Meu ao que não era Meu povo; e
amada, à que não era amada;
26 e no lugar em que se lhes disse: Vós não sois
Meu povo, ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo.
27 Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías:
Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente
é que será salvo.
28 Porque o Senhor cumprirá a Sua palavra sobre
a terra, cabalmente e em breve;
29 como Isaías já disse: Se o Senhor dos
Exércitos não nos tivesse deixado descendência, ter-nos-íamos tornado como
Sodoma e semelhantes a Gomorra.
30
Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a
alcançá-la, todavia, a que decorre da fé;
31 e Israel, que buscava a lei de justiça, não
chegou a atingir essa lei.
32 Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim
como que das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço,
33 como está escrito: Eis que ponho em Sião uma
pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será
confundido.
Romanos 9…19 a 32
Retrucando
a Deus – Esse é um fato comum e por causa disso muitos perderam a noção de
sua própria maldade. Aquele que pergunta indignado: “Por que Deus faz isto ou
aquilo?”; o que diz “Não vejo justiça em parte alguma”, como se ele fosse
especial e pessoalmente agravado, faz com que seja impossível para si mesmo
sequer compreender o que Deus permitiu que o mortal entendesse. É absurdo e
maléfico culpar a Deus, porque nós não somos iguais a Ele em sabedoria. A única
forma pela qual podemos chegar a um mínimo conhecimento do Altíssimo, é aceitar
de uma vez por todas que Ele é justo e misericordioso, e que tudo quanto faz é
visando ao bem de Suas criaturas. A reverência, e não o questionamento infame,
tem valor diante de Deus. “Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus; Sou exaltado
entre as nações, Sou exaltado na Terra.” (Sal. 46:10)
O
oleiro e seus vasos – Aquele que se julga competente para
criticar a Deus, pensa encontrar nos versos 21 a 24 um motivo de acusação
contra Ele. Diz ele: “Esse texto mostra que Deus deu vida a alguns homens para
serem salvos e a outros para serem destruídos.”
Mas não é nada disso! Há uma imensa diferença
entre o que diz realmente o texto e o que esse homem imaginou. O oleiro tem
poder sobre o barro, com mais razão o Criador sobre Suas criaturas, segundo o
direito natural e inquestionável. Considere este exemplo: o oleiro tem domínio
para fazer do barro um vaso para honra e outro para desonra. Certo. Porém, quem
conhece em todo o mundo um só oleiro que se dedique a fazer vasos simplesmente
para destruí-los? Ele produz vasos de diversos tipos segundo o propósito para cada
um deles, porém, sempre para um determinado uso e não para a destruição. Assim,
Deus jamais criou a quem quer que seja com o objetivo de destruí-lo.
A
paciência de Deus – O fato de Deus não pretender a
destruição de ninguém é demonstrado em Sua luta para que ninguém sofra a
destruição que suas próprias obras más lhe trazem em justiça. Ele
“suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”. Esses se tornaram credores da destruição
por sua própria rebeldia e impenitência, entesourando para si mesmos ira para o
dia da vingança (Rom. 2:5). Observe que
Deus suportou com muita misericórdia esses “vasos de ira”. “... E tende por
salvação a longanimidade de nosso Senhor...” (II Ped. 3:15) “Ele é longânimo
para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento.” (verso 9) Por ter Deus suportado com grande paciência os vasos
de ira, fica demonstrado que, mesmo depois de terem esses tomado o curso que os
leva à destruição, Ele procurou salvá-los, concedendo-lhes todas as oportunidades
para isso.
“Os
quais também chamou” – A paciência de Deus tem ainda o
propósito em tornar conhecidas as riquezas de Sua glória nos “vasos de misericórdia
que Ele preparou para Sua glória”. Quem são esses vasos? Nós, a quem também
chamou. Quem são os que Ele chamou? Pessoas procedentes de alguma nação em
especial? “Não só dos judeus, mas também dos gentios.” Todo este capítulo é uma
vindicação da eleição do homem por
parte de Deus, mesmo antes de seu nascimento, tal como ilustra o caso de Jacó.
É demonstrado que a eleição de Jacó não significou que Deus tivesse reservado
privilégios especiais para o povo judeu, mas que Ele outorga Seus favores com
imparcialidade, tanto a judeus como a gentios, contanto que O aceitem.
Povo
de Deus – Volta-se a insistir nos versos 25 e 26: “Disse o Senhor a Oséias
[cap. 1:9 e 10]: Põe-lhe o nome de Não-Meu-Povo, porque vós não sois Meu povo,
nem Eu serei vosso Deus. Todavia, o número dos filhos de Israel será como a
areia do mar, que se não pode medir, nem contar; e acontecerá que, no lugar
onde se lhes dizia: Vós não sois Meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do
Deus vivo.” Deus visitou os gentios para despertar dentre eles um povo para o
Seu nome. O apóstolo Paulo descreveu essa visita nestes termos: “Ora, Deus, que
conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles,
como também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e
eles, purificando-lhes pela fé o coração... Mas cremos que fomos salvos pela
graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram.” (Atos 15:8-11) “Pois não
há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico
para com todos os que O invocam.” (Rom. 10:12)
O
remanescente – “Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías:
Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o
remanescente é que será salvo.” “Assim, pois, também
agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça.”
(Rom. 11:5) Pouco importa quantos há cuja genealogia remonte até Jacó, segundo
a carne, somente serão salvos os que se entregam voluntariamente à graça de
Deus. Certamente não há motivo para gloriar-se, senão na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo.
Os
gentios, a cabeça – Os judeus professavam guardar a
lei, porém, a realidade era outra. Os gentios não estavam familiarizados com a
lei, contudo, cumpriam seus reclamos. Se você agora rememorar Romanos 2:25 a
29, verá que a verdadeira circuncisão consiste
(e sempre foi assim) em guardar a lei. Por isso, uma vez que os gentios
guardaram a lei pela fé, e os judeus, por sua falta de fé, deixaram de
observá-la, conclui-se que uns e outros inverteram suas respectivas posições.
Os gentios se tornaram “verdadeiros judeus” e os judeus por natureza,
transformaram-se em pagãos.
Não
atingir o alvo – Os judeus se esforçaram por observar a lei da
justiça, porém não da maneira certa. “Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim
como que das obras.” Com poder essas palavras estabelecem aquela que é a idéia
principal em toda a epístola, isto é, que a fé não exime a ninguém da
transgressão, e que somente por ela é possível obedecer à lei.
Os judeus não são culpados por desejarem
atender à lei da justiça, mas por não quererem obedecê-la da forma devida. Não
é pelas obras, mas pela fé, que é possível praticar o quanto a lei exige. Isso
equivale a dizer que não é possível fazer boas obras a partir das más obras. O
bem não pode originar-se do mal. Tampouco existe qualquer redução no que
respeita às boas obras. Elas são aquilo que o mundo necessita, acima de tudo.
São o resultado da observância da lei pela fé. Porém, é totalmente impossível
que as boas obras surjam sem fé, já que “tudo o que não provém de fé é pecado”
(Rom. 14:23).
A
pedra de tropeço – Nunca deixe de relacionar a última
parte deste capítulo com a primeira. Lembre-se de que, no princípio, é apresentado o Israel segundo a carne, como separado
de Cristo. A eles pertencia, entre
outras coisas, a entrega da lei, no entanto, fracassaram miseravelmente em
relação a ela. Por quê? Porque
“tropeçaram na pedra de tropeço”. Que pedra é essa? Cristo. Estavam na mesma
condição em que muitos se encontram hoje. Negavam-se a crer que as promessas de
Deus a Israel eram total e unicamente em Cristo. Pensavam o mesmo que muitos
professos cristãos modernos, isto é, que Deus os honrava por causa deles
mesmos, à parte de Cristo. Cristo é a pedra de tropeço ou escândalo na qual
tropeçam todos os que entendem as promessas feitas a Israel como ligadas
exclusivamente a certa nação, com exclusão das demais.
Um
fundamento estável – Paradoxal, porém correto, é que
essa mesma pedra de tropeço é a pedra angular e o sólido fundamento. Aquilo que
faz cair a uns é o que eleva e edifica a outros. “Os caminhos do Senhor são retos,
e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão.” (Oséias 14:9)
Cristo é uma rocha de escândalo para os que não crêem, contudo, um alicerce
seguro para os que têm fé. Ele é o “Santo de Israel”, o “Deus de Israel”,
“Pastor de Israel”, redil e porta, tudo
ao mesmo tempo. Sem Ele a nação de Israel não poderia existir.
Os que pretendem reclamar uma herança em Israel
por causa do seu nascimento, e não por causa de Cristo, serão finalmente
decepcionados, porquanto todo aquele que não entra pela porta será desmascarado
como “ladrão e salteador”. No entanto, quem nEle crer nunca será envergonhado
(I Ped. 2:6), porque sua fé demonstrará que ele é semente de Abraão e herdeiro
conforme a promessa.
Capítulo 10
Boas-Novas de Grande Alegria
O capítulo nono estabelece a condição do Israel
segundo a carne, o Israel literal. Ele buscou a justiça da lei, porém, não a
alcançou porque não a seguiu pela fé, mas pelas obras da lei. Por isso, os
gentios lhe tomaram a dianteira ao seguir a justiça de modo acertado, isto é, pela
fé.
Cumpriram-se assim as palavras de Jesus aos
judeus auto-suficientes: “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos
precedem no reino de Deus... Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será
tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos.” (Mat.
21:31,43)
Todavia, o Senhor não rejeitou Seu povo devido
ao tropeço na Rocha que havia posto como fundamento. Ele os suportou com paciência
infinita, até mesmo os vasos da ira votados à destruição. O apóstolo continua o
tema nestes termos:
O
glorioso evangelho
1 Irmãos, a boa vontade do meu coração e a
minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos.
2
Porque lhes dou testemunho de que eles
têm zelo por Deus, porém não com entendimento.
3
Porquanto, desconhecendo a justiça de
Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de
Deus.
4 Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de
todo aquele que crê.
5 Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar
a justiça decorrente da lei viverá por ela.
6 Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não
perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu? isto é, para trazer do alto a
Cristo;
7 ou: Quem descerá ao abismo? isto é, para
levantar Cristo dentre os mortos.
8 Porém que se diz? A palavra está perto de ti,
na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos.
9 Se, com a tua boca, confessares Jesus como
Senhor e, em teu coração, creres que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo.
10 Porque com o coração se crê para justiça e
com a boca se confessa a respeito da salvação.
11 Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que
nele crê não será confundido.
12
Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de
todos, rico para com todos os que O invocam.
13 Porque: Todo aquele que invocar o nome do
Senhor será salvo.
14 Como, porém, invocarão Aquele em quem não
creram? E como crerão nAquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há
quem pregue?
15 E como pregarão, se não forem enviados? Como
está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!
16 Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois
Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação?
17 E, assim, a fé vem pela pregação, e a
pregação, pela palavra de Cristo.
18 Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim,
por certo: Por toda a terra se fez ouvir a Sua voz, e as Suas palavras, até aos
confins do mundo.
19 Pergunto mais: Porventura, não terá chegado
isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um
povo que não é nação, com gente insensata Eu vos provocarei à ira.
20 E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado
pelos que não Me procuravam, revelei-Me aos que não perguntavam por Mim.
21 Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi
as mãos a um povo rebelde e contradizente.
Romanos
10…1 a 21
Zelo
sem entendimento – “É saudável sempre mostrar zelo pelo bom.” O
zelo é muito necessário na consecução de todo ideal, porém, zelo sem
entendimento é como um cavalo selvagem sem arreios ou freio. Há febricitante atividade,
mas sem utilidade. É como alguém que mostra grande determinação para chegar a
certo lugar, enquanto caminha na direção oposta. Pouco importa o empenho que
coloque em chegar a um lugar que está diametralmente oposto a ele. Enquanto se
dirigir em rumo contrário, jamais chegará a seu objetivo. A ignorância converte
o zelo numa característica ineficaz. “Meu povo foi destruído porque lhe faltou
conhecimento.” (Oséias 4:6)
A insipiência de Israel – Esse desconhecimento consistia em “ignorar a
justiça de Deus”. Trata-se de um tipo de
ignorância que não se extinguiu com a aquela geração e não está confinada a
nenhum povo em especial. Todavia, o que se tornou muito mais grave no caso de
Israel, foi que a ignorância sobre a justiça de Deus se associou à mais alta
profissão de serviço ao Senhor.
A
justiça de Deus – A justiça de Deus é muito mais que uma simplex
expressão lingüística ou conjunto de palavras. Ela compreende muito mais que
uma definição. É nada mais nada menos do
que a vida e o caráter de Deus. Da mesma maneira que não se pode conceber a
doçura na ausência de algo doce, assim tampouco existe a justiça como algo abstrato.
A justiça deve estar necessariamente ligada a um ser animado. Porém, somente
Deus é justo (Mar. 10:18). Por isso, onde houver justiça, Deus Se encontra em
ação. A justiça é a característica essencial de Deus.
A
forma e a substância – Os judeus tinham a forma do conhecimento e a verdade
na lei, porém careciam da própria verdade. A lei de Deus, escrita em tábuas de
pedra ou em um livro, é tão perfeita como sempre o foi. Contudo, há exatamente
a mesma diferença entre isso e a lei legítima, como entre a fotografia de um
indivíduo e ele próprio, em pessoa. A lei escrita não era mais que uma sombra.
Na letra não havia vida e, por ela mesma, nada podia fazer. Não era mais do que
uma declaração de que a vida existe tão-somente em Deus.
Justiça
oca – Os
judeus sabiam muito bem que as palavras escritas nas tábuas de pedra ou no
livro, não podiam fazer nada; e como ignorassem a justiça que aquelas palavras
descreviam, procuraram estabelecer sua própria justiça. Conheciam a justiça de
Deus, mas nunca a haviam praticado. Disse o salmista: “A
tua justiça é como as montanhas de Deus.” (Sal. 36:6). Tentavam produzir por
eles mesmos aquilo que é atributo essencial de Deus.
Um esforço
assim, por mais zelo que nele seja posto, tinha de levar ao fracasso mais
retumbante. Saulo de Tarso era “extremamente zeloso das tradições
dos [seus] pais”, mas, quando compreendeu corretamente a questão, as coisas que
antes lhe pareciam lucro, reputou-as por perda. Isto é, quanto mais zelosamente
procurava estabelecer sua própria justiça, mais se distanciava dela.
Submeter-se
à justiça – Se os judeus não houvessem ignorado a justiça de Deus, não
haveriam procurado estabelecer a sua própria. Tentaram sujeitar a si mesmos a
justiça de Deus, quando eram eles é que deveriam haver-se submetido à justiça
divina. A justiça de Deus é ativa. É Sua própria vida. Da mesma forma que o ar
preenche o vácuo, assim também a vida justa de Deus locupletará cada coração
que estiver aberto para recebê-Lo. Quando o homem procura manejar a lei de
Deus, perverte-a invariavelmente, modelando-a segundo suas próprias
idéias. A única maneira de discernir a perfeição
da lei é submeter-se a ela, permitindo que exerça o governo da vida. Então ela
operará na vida, “porque Deus é quem efetua em vós
tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Fil. 2:13).
A fim da lei – “Ora, o intuito da presente
admoestação visa ao amor que procede de um coração puro e uma consciência boa,
e de fé sem hipocrisia.” (I Tim. 1:5)
“... O
cumprimento da lei é o amor.” Portanto, a finalidade da lei é seu perfeito
cumprimento. É algo que se explica a si mesmo. A forma como se interpreta a
palavra “fim” não muda as coisas. Se você lhe der o significado de “objetivo”
ou “propósito”, é evidente que aquilo que a lei exige terá de ser efetuado. Se
pela palavra “fim” entendermos a extensão final de algo, chegamos à idêntica conclusão. Você atinge o fim
da lei somente quando alcança o limite máximo de seus reclamos.
O
fim da lei é Cristo – Vimos que o fim ou objetivo da lei é a justiça
por ela requerida. Desse modo, lemos que Cristo é o fim da lei “para a
justiça”. A lei de Deus é a justiça de Deus (Isa. 51:6 e 7). Entretanto, essa
justiça é a própria vida divina, e as palavras da lei não são mais que sua
própria sombra. Somente em Cristo encontramos essa vida, já que somente Ele
reivindica ser a justiça de Deus (Rom. 3:24 e 25). Sua vida é a lei de Deus,
posto que Deus estava nEle. Aquilo que os judeus tinham meramente na forma,
encontramo-lo em sua genuína substância unicamente em Cristo. O fim da lei está
nEle. Será que alguém irá pretender que “o fim da lei” signifique sua abolição?
Pois bem, quando houver a abolição de Cristo, então haverá o banimento da lei.
Não antes. Unicamente o estudo da vida de Cristo revelará a justiça que a lei
de Deus exige.
Para
quem? – Cristo
é o fim da lei para a justiça de quem? Para “todo aquele que crê”. Cristo habita
no coração pela fé (Efés. 3:17). Somente nEle se encontra a perfeita justiça da
lei. NEle está a perfeição absoluta. Assim, desde que Cristo habite no coração
do crente, somente nEle é alcançado o fim da lei. “A obra de Deus é
esta: que creiais nAquele que por Ele foi enviado.” (João 6:29) “Com o coração se crê para a justiça.”
Trabalhar para viver e viver para trabalhar – A
justiça que é pela lei, isto é, a justiça própria do homem (Fil. 3:9),
baseia-se no princípio de fazer algo para viver. O mero enunciado já basta para
dar conta de sua impossibilidade, visto que a vida deve necessariamente
preceder a ação. Um corpo morto nada pode fazer a fim de viver; ele precisa
receber a vida antes de poder fazer algo. Pedro não pediu a Dorcas, morta como estava,
que fizesse alguma obra de caridade, que confeccionasse alguns vestidos mais
para que pudesse viver, mas, em nome de Jesus, restaurou-lhe primeiro a vida a
fim de que pudesse continuar a praticar suas boas obras. O homem que fizer
essas coisas viverá por elas; porém, primeiramente tem de viver antes de poder
efetuá-las. Portanto, a justiça pela lei nada mais é que uma quimera. Cristo dá
a vida, a eterna e justa vida de Deus, e essa opera justiça na alma reavivada.
Cristo, a Palavra – Os versos 6 a 18 são uma
citação integral de Deuteronômio 30:11-14. Moisés terminara de repetir a lei ao
povo e os havia exortado à obediência. Dissera que o mandamento não estava “longe”
deles, de modo que não precisavam enviar ninguém para que lho trouxesse, “pois
esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a
cumprires”. Paulo, escrevendo sob a inspiração do Espírito, menciona as
palavras de Moisés e mostra que elas se referem a Cristo. Cristo é a Palavra, o
mandamento que não está “longe”, que não precisa descer do Céu e nem trazido
dentre os mortos. Compare cuidadosamente
essas partes da Escritura e descobrirá que o autêntico mandamento do Senhor é
nada menos que Cristo.
Lei e vida – Essa verdade não estava necessariamente encoberta desde os tempos do
Novo Testamento. O judeu pensante dos dias de Moisés podia claramente
compreender que só na vida de Deus é possível achar a justiça da lei. Disse
Moisés: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus
a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas,
tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, dando ouvidos à Sua voz e
apegando-te a Ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade...” (Deut.
30:19 e 20)
Ao
apresentar a lei ao povo, Moisés desdobrou perante eles a vida de Deus, que
pode ser encontrada apenas em Cristo. “E sei que o Seu mandamento é a vida eterna.”
(João 12:50) “E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17:3)
A
proximidade da Palavra – Recordando-nos de que Cristo é a Palavra, lemos
que: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração;
isto é, a palavra da fé que pregamos.” Será que Cristo está tão próximo
assim? Sim, certamente, pois Ele mesmo
disse: “Eis
que estou à porta e bato.” (Apoc. 3:20). Não está apenas próximo dos bons, se bem que não está longe de cada
um de nós” (Atos 17:27). Tão próximo, que “nEle vivemos, e nos movemos, e
existimos”.
Não podemos estender nosso braço sem
alcançá-Lo. Cristo está junto ao coração, inclusive dos ímpios, esperando e
procurando fazer com que O reconheçam em todos os seus caminhos. Então Ele
poderá morar nesses corações “pela fé”, dirigindo-os em todos os seus caminhos.
Em nenhuma outra coisa é mostrado mais plenamente o amor de Cristo, do que em
Sua moradia com o homem pecador, sofrendo sua inimizade a fim de, por Sua
divina paciência, poder resgatá-lo de seus maus caminhos.
Crer na ressurreição – “Se, com a tua
boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus O
ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” “O qual
foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da
nossa justificação.” (Rom. 4:25) “Morreu por todos”. Provou a morte por todos.
E foi ressuscitado para a justificação de todos. Crer com o coração que Deus O
ergueu dentre os mortos, é acreditar que Ele me justifica. Aquele que não crê
que Jesus purifica do pecado, realmente não acredita que Deus O ressuscitou dos
mortos. Efetivamente, não creremos na ressurreição de Cristo, a menos que
tenhamos fé no motivo e no propósito desse ressurgir. A ressurreição de Jesus é
um fato muito menos aceito do que pensamos.
“Não será envergonhado” – A raiz da palavra “crer” traz implícita a idéia de fundamento, de algo
sólido sobre o qual construir. Crer em Jesus é edificar sobre Ele. Ele é a
Pedra Angular, a Pedra Fundamental, “solidamente assentada” (Isa. 28:16). Quem edificar
sobre Ele não será confundido no dia da chuva e da inundação, quando os ventos
arremeterem contra sua casa. Ele edificou sobre a Rocha dos séculos.
Não há diferença – A nota predominante do chamamento evangélico é “todo aquele”. “Porque
Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo
o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16). “Aquele que
tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.” (Apoc. 22:17).
“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”,
“pois não há distinção entre judeu e grego”.
Torne a ler os capítulos
2, 3 e 4 de Romanos. Verdadeiramente, todo o livro de Romanos é uma sentença de
morte à malévola suposição de que Deus é parcial, e favorece a certas pessoas em
detrimento de outras. A idéia de que o
Senhor tem bênçãos especiais para uma nação da Terra, e não para as demais,
sejam judeus, ingleses, alemães ou qualquer outro povo, significa uma negação
direta do evangelho da graça de Deus.
O evangelho para todos – Os versos 13, 14 e 15 indicam os passos necessários para a salvação. O
homem deve invocar primeiramente ao Senhor, porém, a fim de invocá-Lo, deve
crer nEle. Para que possa fazer isso, carece de que alguém lhe seja enviado.
Não tem havido falta de pregadores, porém, nem todos creram e obedeceram, embora
todos tenham ouvido.
O que todos ouviram? A
Palavra de Deus. Para demonstrar essa assertiva, o apóstolo diz que a fé vem
pelo ouvir da Palavra de Deus, e acrescenta: “Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a Terra se fez ouvir a Sua voz, e as Suas
palavras, até aos confins do mundo.”
“Todo homem que vem a este mundo” ouviu,
e ninguém tem desculpas para a incredulidade. Leia novamente Romanos
1:16-20.
Gloriosos pregadores – As boas-novas gloriosas
são o evangelho de Cristo. Seus raios abrem caminho até o coração (Ver II Cor.
4:4; I Tim. 1:11). Portanto, aqueles que
as pregam participam de um ministério glorioso. O Sol, a Lua e as estrelas são
os maravilhosos “pregadores”, cujas palavras atingem os confins do mundo.
Pregam o glorioso evangelho de Cristo. São um exemplo permanente da forma
adequada de pregar o evangelho: brilhar para a glória de Deus.
Assim, o apóstolo diz a nós os que
temos ouvido e crido no evangelho: “Vós, porém, sois
raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de
Deus, a fim de proclamardes as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para
a Sua maravilhosa luz.” (I Ped. 2:9) O evangelho é a revelação de Deus ao
homem. Deus é luz e, portanto, a pregação do evangelho consiste em fazer brilhar
essa luz. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” (Mat. 5:16)
Capítulo 11
Todo o Israel Será Salvo
O undécimo capítulo conclui a discussão sobre o
tema específico de Israel. Nos três capítulos anteriores, vimos que os gentios,
quando crentes, partilham a mesma sorte dos judeus. E estes perdem todo
privilégio como povo de Deus por causa de sua incredulidade. Nada poderia
demonstrar com maior clareza, como o fazem estes capítulos, que todos os homens
são iguais diante de Deus e que Suas promessas destinam-se a todo aquele que
crê, a despeito das circunstâncias de seu nascimento ou colocação territorial.
1
Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o Seu povo? De modo nenhum!
Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.
2 Deus não rejeitou o Seu povo, a quem de
antemão conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias,
como insta perante Deus contra Israel, dizendo:
3 Senhor, mataram os Teus profetas, arrasaram
os Teus altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida.
4 Que lhe disse, porém, a resposta divina?
Reservei para Mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal.
5 Assim, pois, também agora, no tempo de hoje,
sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça.
6 E, se é pela graça, já não é pelas obras; do
contrário, a graça já não é graça.
7
Que diremos, pois? O que Israel busca,
isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos,
8 como está escrito: Deus lhes deu espírito de
entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até ao dia de
hoje.
9 E diz Davi: Torne-se-lhes a mesa em laço e armadilha,
em tropeço e punição;
10
escureçam-se-lhes os olhos, para que não
vejam, e fiquem para sempre encurvadas as suas costas.
11 Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para
que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos
gentios, para pô-los em ciúmes.
12 Ora, se a transgressão deles redundou em
riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto
mais a sua plenitude!
13 Dirijo-me a vós outros, que sois gentios!
Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério,
14 para ver se, de algum modo, posso incitar à
emulação os do meu povo e salvar alguns deles.
15 Porque, se o fato de terem sido eles
rejeitados trouxe reconciliação ao mundo, que será o seu restabelecimento, senão
vida dentre os mortos?
16 E, se forem santas as primícias da massa,
igualmente o será a sua totalidade; se for santa a raiz, também os ramos o
serão.
17 Se, porém, alguns dos ramos foram quebrados,
e tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles e te tornaste
participante da raiz e da seiva da oliveira,
18 não te glories contra os ramos; porém, se te
gloriares, sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti.
19 Dirás, pois: Alguns ramos foram quebrados,
para que eu fosse enxertado.
20 Bem! Pela sua incredulidade, foram quebrados;
tu, porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme.
21 Porque, se Deus não poupou os ramos naturais,
também não te poupará.
22
Considerai,
pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade;
mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte,
também tu serás cortado.
Romanos
11: 1 a 22
Não
abandonados – O apóstolo Paulo sabia que Deus não rejeitara Seu povo, os
descendentes literais de Abraão, e a prova disso era que ele próprio havia sido
aceito pelo Senhor. Se Deus houvesse abandonado os judeus, Paulo estaria sem
esperança, visto ser ele “hebreu de hebreus”. Assim, pois, lemos: “Terá Deus,
porventura, rejeitado o Seu povo? De modo nenhum!” A
razão comprobatória dessa afirmação é que “eu também sou israelita da descendência
de Abraão, da tribo de Benjamim”.
Quem
são os rejeitados? – Embora Deus não tenha abandonado
Seu povo, esse se encontrava em situação deplorável. O fato de Deus não os ter
abandonado não significava que seriam salvos. Paulo mostrou o perigo da reprovação,
inclusive para ele mesmo, após ter pregado o evangelho (I Cor. 9:27). Isso, não
obstante, dependia inteiramente dele. O risco não estava, de maneira alguma, em
que Deus decidisse rejeitá-lo contra sua própria vontade. Temos as palavras do
Senhor: “Aquele que vem a Mim, de maneira alguma o lançarei fora.” (João 6:37)
Todos podem aproximar-se dEle; “quem tem sede, venha”. Deus não repudia
ninguém, contudo, se alguém O rejeita completamente, embora Ele a ninguém
force, não há alternativa exceto deixar o indivíduo ao sabor de sua própria
escolha.
“Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque
estendi a mão, e não houve quem atendesse; antes, rejeitastes todo o meu conselho
e não quisestes a minha repreensão... comerão do fruto do seu procedimento e dos
seus próprios conselhos se fartarão. Os néscios são mortos por seu desvio, e
aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição.” (Prov. 1:24-32)
Deus estende Suas mãos a um povo rebelde e contraditório
(Rom. 10:21); cabe-lhes decidir se serão salvos. Deus aceita a todos. A
pergunta-chave é: Será que eles O aceitarão?
O
remanescente – A partir da ilustração de Elias, podemos
aprender mais sobre a aceitação e a rejeição. Aparentemente todo o Israel se
havia apostatado, porém, havia sete mil homens que não haviam dobrado seus
joelhos a Baal, “assim, pois, também agora, no tempo de hoje,
sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”. A graça de Deus é manifestada
a todos os homens; estende-se a todos. Os que a aceitam são escolhidos, pouco
importando a nação ou povo a que pertençam. A despeito de o plano da salvação
abarcar todo o mundo, é triste porém certo que apenas uns poucos de cada povo
ou geração o aceitam. “Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a
areia do mar, o remanescente é que será salvo.”
A oliveira –
Embora
contendo expressões especiais de difícil compreensão, em seu conjunto, o
capítulo undécimo de Romanos é simples. O povo de Deus é apresentado sob a
figura de uma oliveira, e a relação de todo homem com Deus ilustrada pela
figura do enxerto. Antes de entrar nos detalhes dessa imagem, é bom que nos
detenhamos para considerar a nação de Israel.
No segundo capítulo de Efésios, podemos ver que, sendo
gentios, os efésios estavam “excluídos de Israel”, sem esperança e sem Deus no
mundo. Isto é, os excluídos de Israel estão sem Deus; ou melhor, os que se
encontram sem Deus estão excluídos de Israel.
Cristo é a única manifestação de Deus ao homem. Ele veio
para os que eram Seus, e os Seus não O receberam (João 1:11). Assim a nação
israelita, como povo, estava sem Deus tanto quando os pagãos, sendo, portanto,
excluídos da comunidade de Israel. Nesse mesmo capítulo de Efésios, lemos como
Cristo veio para reconciliar tanto judeus como gentios com Deus, o que
evidencia com clareza que ambos estavam separados dEle. Mais adiante nesse
texto, vemos que a cidadania de Israel consiste em ser membros da família de
Deus, parentela essa composta de santos – aqueles que estão reconciliados com
Deus. Apenas desses é possível dizer que não são estrangeiros, nem estão
separados de Israel.
A origem de
Israel – O
nome vem desde aquela noite em que Jacó lutou com Deus, e por sua fé obteve
finalmente a bênção que buscava. Nada lhe fora possível conseguir confiando em
sua própria força física. Um simples toque do Senhor bastou para deixá-lo
completamente indefeso. Foi então que, em seu estado de total impotência,
entregou-se ao Senhor com fé simples e prevaleceu, recebendo o nome de Israel –
príncipe de Deus. Esse título foi aplicado a todos os seus descendentes, embora
de modo estrito pertença apenas àqueles que exercitam viva fé em Deus. É algo
como o nome “cristãos”, que genericamente conferimos a todos os que fazem parte
da igreja visível, sem nos determos a analisar se conhecem ou não ao Senhor.
Todos
precisam ser enxertados
23 Eles também, se não permanecerem na
incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo.
24 Pois, se foste cortado da que, por natureza,
era oliveira brava e, contra a natureza, enxertado em boa oliveira, quanto mais
não serão enxertados na sua própria oliveira aqueles que são ramos naturais!
25 Porque não quero, irmãos, que ignoreis este
mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento
em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios.
25
E, assim, todo o Israel será salvo, como está
escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades.
Romanos 11:23-26
Uma
nação justa – Foi dita muita coisa sobre a incredulidade dos
filhos de Israel. Não obstante, houve épocas em que, como nação, eles exerceram notável fé. Um
exemplo: “Pela fé, ruíram as muralhas de Jericó, depois de rodeadas por sete dias.”
(Heb. 11:30) Todo o exército rodeou por três vezes a cidade, sem proferir um único
som, e aparentemente sem qualquer propósito definido. Essa fé demonstra que
eram então uma nação justa, em estreita ligação com Deus, já que “justificados,
pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”
(Rom. 5:1). Na ocasião, seu nome realmente fazia justiça ao caráter que
possuíam; eram autênticos israelitas. Estavam caminhando “nos passos da fé do
pai Abraão”.
Ramos
cortados – Lamentavelmente, eles não guardaram a fé. “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de
fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio,
tivemos.” (Heb. 3:14) Eles não fizeram isso e ficaram “sem Cristo”, “separados
da comunidade de Israel” (Efés. 2:12). Em Romanos 11:17, o apóstolo fala de alguns
ramos que foram quebrados. Isso não significa que não houve galhos intactos,
porque no verso 20 lemos que por sua incredulidade se romperam, e Deus “a todos
encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos” (verso
32). Assim, todos os ramos foram arrebentados. Encontramo-nos, pois, com o povo
dos que eram “amados por causa dos patriarcas” (verso 28), e que em certo
momento da história haviam sido “filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gál.
3:26), depois reduzidos, por causa da incredulidade, ao mesmo nível de quem
nunca havia conhecido a Deus.
Ramos
enxertados – Todos os ramos da oliveira (Israel) foram
cortados por causa de sua incredulidade. Deus enxertou ramos procedentes da
oliveira silvestre (os gentios) em lugar dos primeiros. Essa enxertia era
contra a natureza (verso 24), posto que uma obra inteiramente procedente da
graça. De acordo com as leis naturais, os ramos enxertados deveriam produzir
frutos silvestres, próprios à sua natureza, e o enxerto, então, não seria proveitoso
(Gál. 5:19-21; Efés. 2:1 e 2). Porém, a graça operou um milagre e os ramos
enxertados participaram da mesma natureza da raiz. Seu fruto já não é natural,
mas o fruto do Espírito (Gál. 5:22 e 23).
A
reunião – Lembremo-nos de que Deus não rejeitou a Seu povo. Esse descaiu por
causa da incredulidade, porém, “se não permanecerem na incredulidade, serão
enxertados; porque poderoso é Deus para os enxertar novamente”. Isto é, o judeu
tem uma oportunidade tão favorável quanto o gentio, “porque não há diferença
entre o judeu e o grego” (Rom. 10:12). Cristo veio para reconciliar “ambos em
um só corpo com Deus”, e “por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito”
(Efés. 2:16 e 18).
Um
plano sem mudanças – Não nos esqueçamos de que o enxerto
dos gentios para ocupar o lugar do rebelde Israel, não implica em mudança
alguma no plano de Deus. Essa inserção estava perfeitamente incluída na
promessa original feita a Abraão. “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos
de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os
gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os
povos.” (Gál. 3:7 e 8)
No princípio, Deus criou Adão, o pai da raça
humana. Adão era filho de Deus (Luc. 3:38); assim, todos os seus descendentes
são povo de Deus por direito. Deus não os abandonou por haverem pecado. Seu
amor abarca o mundo inteiro (João 3:16), e por certo isso não foi diferente nos
dias de Abraão, Isaque e Jacó. A única vantagem de Israel era que eles tinham o
privilégio de portar o glorioso evangelho aos gentios, para quem havia sido
provido, e também para si mesmos.
A
visitação dos gentios – Desde o início fora estabelecido
que os gentios, assim como os descendentes de Jacó, se tornassem Israel. O
concílio de Jerusalém demonstra muito bem esse conceito. Pedro expôs como lhe
havia sido divinamente designada a pregação do evangelho, de modo que nenhuma
diferença fosse feito entre judeus e gentios. Disse, então Tiago: “Expôs Simão
como Deus, primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles
um povo para o seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está
escrito: Cumpridas estas coisas,
voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas
ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também
todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que
faz estas coisas conhecidas desde séculos.” (Atos 15:14-18; ver também Amós 9:11-15)
Isto posto, podemos concluir que a “habitação
de Davi”, ou a casa do rei Davi, seria restaurada mediante a pregação do
evangelho aos gentios, segundo os desígnios do Senhor desde o princípio do
mundo. Não há necessidade de comentários a esse respeito. Trata-se simplesmente
de crer nessa Escritura.
“A
plenitude dos gentios” – “...
Veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos
gentios.”
“Haja entrado”? Onde? É claro que
em Israel, já que é com a entrada da plenitude dos gentios que “todo Israel
será salvo”. Quando entrará a plenitude dos gentios? O próprio Senhor nos
responde: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para
testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.” (Mat. 24:14) Deus está
visitando os gentios “para tomar deles um povo para o Seu nome”. Mediante eles
Israel alcançará sua plenitude. Tão logo a obra de pregar o evangelho aos
gentios seja concluída, virá o fim. Então nada mais será pregado a ninguém: nem
aos gentios, visto que já terão feito sua decisão final, e tampouco aos judeus,
porque todo o Israel será salvo. Não haverá mais necessidade do evangelho. Ele
terá cumprido sua obra.
Afluxo massivo de
judeus
27 Esta é a Minha aliança com eles, quando Eu
tirar os seus pecados.
28 Quanto ao evangelho, são eles inimigos por
vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas;
29 porque os dons e a vocação de Deus são
irrevogáveis.
30 Porque assim como vós também, outrora, fostes
desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia, à vista da
desobediência deles,
31 assim também estes, agora, foram
desobedientes, para que, igualmente, eles alcancem misericórdia, à vista da que
vos foi concedida.
32 Porque Deus a todos encerrou na
desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos.
33
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!
34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou
quem foi o Seu conselheiro?
35 Ou quem primeiro deu a Ele para que Lhe venha
a ser restituído?
36 Porque dEle, e por meio dEle, e para Ele são
todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!
Tudo
mediante Cristo – Dê especial atenção aos versos 25 a 27. Quando
entrar a plenitude dos gentios, “todo o Israel será salvo”. É somente com essa
entrada que Israel será salvo. Isso se constituirá no cumprimento da Escritura,
que diz: “Virá de Sião o Libertador e Ele apartará de Jacó as impiedades.”
Somente através de Cristo é possível que Israel seja reunido e salvo. Israel
são todos aqueles que pertencem a Cristo, porque “se
sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a
promessa” (Gál. 3:29).
Remover os pecados – De Sião virá o Libertador
que tirará a impiedade de Israel. Cristo é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo” (João 1:29). “E Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não
somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.” (I João 2:2)
Caifás, o sumo sacerdote, falando pelo Espírito, “profetizou que Jesus estava
para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um
só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos”. (João 11:51 e 52)
Assim
Pedro, falando no templo de Jerusalém, disse: “Vós sois os filhos dos profetas
e da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua
descendência, serão abençoadas todas as nações da terra. Tendo Deus
ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vós outros para vos abençoar,
no sentido de que cada um se aparte das suas perversidades.” (Atos 3:25 e 26) A bênção de Abraão consiste no perdão dos
pecados mediante Cristo, e os habitantes de todas as nações tornam-se
verdadeiros israelitas mediante a remoção da iniqüidade.
Tudo pela fé – Foi pela fé que Jacó tornou-se
Israel. Foi pela incredulidade que seus descendentes foram cortados do tronco
de Israel. É pela fé que os gentios são enxertados e somente por meio dela
podem manter-se. É pela fé que os judeus podem ser reimplantados no tronco
original.
A fé em Cristo
é a único meio de converter alguém num israelita, e apenas a incredulidade
exclui alguém de Israel. Assim revelou Cristo quando Se admirou da fé do
centurião: “Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em
verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta. Digo-vos que muitos
virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e
Jacó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para
fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mat. 8:10-12)
Todos encerrados – “Porque Deus a
todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com
todos.” “Em prisões foram encerrados.” Lemos em Gálatas 3:22: “Mas a Escritura
encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a
promessa concedida aos que crêem.” E o verso 23 explica que todos estávamos
guardados sob a lei, reservados para a fé que iria ser revelada. Segundo
Romanos 3:9, tanto judeus como gentios “estão debaixo do pecado”.
Todos, igualmente,
são prisioneiros, sem nenhuma esperança de escape a não ser Cristo, o
Libertador, Aquele que proclama “libertação aos cativos e... liberdade aos
algemados” (Isa. 61:1). Vem desde Sião como Libertador, trazendo liberdade da
“Jerusalém lá de cima” (Gál. 4:26). Portanto, todos os que aceitam a liberdade
de Cristo, são filhos da Jerusalém de cima, herdeiros da Canaã celestial,
cidadãos do verdadeiro Israel.
Maravilhoso conhecimento – “... Com o
Seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará
sobre Si.” (Isa. 53:11). E assim reedificará os muros de Jerusalém e libertará
seus filhos cativos mediante o perdão dos pecados (Sal. 51:18). “Ó
profundidade da
riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são
os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!”
Ninguém
pretenda, portanto, questionar o plano de Deus ou rejeitá-lo por não o haver
compreendido, porque “quem foi o Seu conselheiro?” “Porque dEle, e por meio dEle, e para
Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!”
Capítulo 12
A Justificação Pela
fé na Prática
Concluímos o que podemos chamar de parte
argumentativa da carta aos Romanos. Os cinco capítulos restantes consistem em
exortações à igreja. As contidas no presente
capítulo não apresentam complexidade, porém, é possível compreendê-las muito
melhor ao lê-las em relação com aquilo que imediatamente as precede.
33
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou
quem foi o Seu conselheiro?
35 Ou quem primeiro deu a Ele para que lhe venha
a ser restituído?
36 Porque dEle, e por meio dEle, e para Ele são
todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!
Romanos
11:33 a 36.
1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias
de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis com este século, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja
a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
3 Porque, pela graça que me foi dada, digo a
cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense
com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
4 Porque assim como num só corpo temos muitos
membros, mas nem todos os membros têm a mesma função,
5 assim também nós, conquanto muitos, somos um
só corpo em Cristo e membros uns dos outros,
6 tendo, porém, diferentes dons segundo a graça
que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé;
7 se ministério, dediquemo-nos ao ministério;
ou o que ensina esmere-se no fazê-lo;
8 ou o que exorta faça-o com dedicação; o que
contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce
misericórdia, com alegria.
9 O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal,
apegando-vos ao bem.
10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor
fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.
11 No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos
de espírito, servindo ao Senhor;
12 regozijai-vos na esperança, sede pacientes na
tribulação, na oração, perseverantes;
13 compartilhai as necessidades dos santos;
praticai a hospitalidade;
14 abençoai os que vos perseguem, abençoai e não
amaldiçoeis.
15 Alegrai-vos com os que se alegram e chorai
com os que choram.
16 Tende o mesmo sentimento uns para com os
outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais
sábios aos vossos próprios olhos.
17 Não torneis a ninguém mal por mal;
esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens;
18 se possível, quanto depender de vós, tende
paz com todos os homens;
19 não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas
dai lugar à ira; {ira; de Deus, subentendido} porque está escrito: A Mim Me
pertence a vingança; Eu é que retribuirei, diz o Senhor.
20 Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome,
dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás
brasas vivas sobre a sua cabeça.
.21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal
com o bem.
Romanos 12 1 a 21.
Uma
conclusão lógica – Os últimos versículos do capítulo
precedente estabelecem o poder e a sabedoria insondáveis e infinitos de Deus.
Ninguém Lhe pode acrescentar nada. Ninguém pode pretender que Deus tenha a
mínima obrigação para com ele. Ninguém Lhe pode dar nada na expectativa de
receber alto em troca. “Porque dEle, e por meio dEle, e para Ele são todas as
coisas.” “Pois Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais.” “Pois nEle vivemos,
e nos movemos, e existimos.” (Atos 17:25
e 28)
Sendo assim, o lógico seria que todos se
pusessem sob Seu controle. Somente Ele tem a sabedoria e o poder necessários. O
resultado natural de haver conhecido o poder, a sabedoria e o amor de Deus é
submeter-se a Ele. Quem não o faz está virtualmente negando Sua existência.
Exortando
e confortando – É interessante notar que o termo grego
traduzido por “rogar”, compartilha sua etimologia com “consolar”, com
referência à ação do Espírito Santo. Trata-se da mesma palavra empregada em
Mateus 5:4: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.” Podemos
também encontrá-la em I Tessalonicenses 4:18: “Consolai-vos, pois, uns aos
outros com estas palavras.” Ela aparece
várias vezes nos seguintes versículos: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É Ele
que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que
estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos
contemplados por Deus. Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se
manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação
transborda por meio de Cristo.” (II Cor. 1:3-5) O termo grego que traduzimos
por “exortar” ou “rogar” é o mesmo empregado para “consolar”. Seu conhecimento
empresta novo vigor às exortações do
Espírito de Deus.
Existe ânimo e consolação em saber que Deus é
Todo-Poderoso. Portanto, há consolo em todas as Suas exortações e mandamentos,
visto que Ele não espera que ajamos em nossa própria força, mas na Sua. Cada
mandado divino nada mais é que uma declaração do que Ele fará em e por
nós, se nos submetermos a Seu poder. Em cada reprovação há uma exposição de
nossa necessidade, para que Ele a possa prover abundantemente. O Espírito convence
do pecado, porém, sem nunca deixar de ser o Consolador.
Poder
e graça – “Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a
Deus, e a ti, Senhor, pertence a graça...”
(Sal. 62:11 e 12) “Deus é amor.”
Portanto, Seu poder é amor, de maneira que quando o apóstolo se refere ao poder
e sabedoria de Deus, como os argumentos por causa dos quais deveríamos
submeter-nos a Ele, está-nos exortando
pelas misericórdias de Deus. Nunca se esqueça de que toda manifestação do poder
de Deus é uma mostra de Seu amor, e que o amor é o poder mediante o qual Ele
opera. Em Jesus Cristo é revelado o amor de Deus (I João 4:10); Ele é “poder de
Deus e sabedoria de Deus” (I Cor. 1:24).
Verdadeiro
inconformismo – Na Inglaterra era comum encontrar gente dividida
em bandos: os partidários da igreja e os inconformistas. Hoje em dia, todo
cristão tem de ser um inconformista, porém não no sentido que ordinariamente o
mundo atribui a esse termo. “Não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente.” Quando os se julgam
inconformistas adotam os métodos mundanos e se envolvem em esquemas seculares,
desonram esse nome.“Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?”
Como
pensar de si mesmo? – A exortação feita a todo homem é
que ele não tenha de si mesmo um conceito superior ao que deveria. Quão elevado
deveria ser o conceito que temos de nós
mesmos? “Infunde-lhes, Senhor, o medo; saibam as nações que não passam de
mortais.” (Sal. 9:20) “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em
quem não há salvação.” (Sal. 146:3) “Afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego
está no seu nariz. Pois em que é ele estimado?” (Isa. 2:22) “Na verdade, todo
homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade.” (Sal. 39:5) “Porque a
sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus... O Senhor conhece os
pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos.” (I Cor. 3:19 e 20) “Que é a
vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se
dissipa.” (Tia. 4:14) “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas
justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as
nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam.” (Isa. 64:6) “Nada façais por
partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros
superiores a si mesmo.” (Fil. 2:3)
Fé
e humildade – O orgulho é o inimigo da fé. É impossível que
ambos convivam. O homem só é capaz de pensar sobre si mesmo de modo humilde e
sóbrio, como resultado da fé que Deus lhe dá. “Eis o soberbo! Sua alma não é
reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.” (Hab. 2:4) Aquele que confia em sua
própria força e sabedoria nunca quererá depender de outro. A confiança na
sabedoria e poder de Deus pode ocorrer apenas pelo reconhecimento de nossa própria
debilidade e ignorância.
A
fé: um dom de Deus – A
fé que Deus concede ao homem é a que está indicada em Apocalipse 14:12: “Aqui
está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a
fé em Jesus.” Não é simplesmente que Deus dê fé aos santos. Assim como sucede
com os mandamentos, os santos guardam a
fé, enquanto que o resto não o faz. A fé que guardam é a fé de Jesus, Sua
fé dada ao homem (Nota: “guardei a fé”
II Tim. 4:7)
A
fé é dada a todo homem – Exorta-se a todo homem a pensar
sobriamente sobre si mesmo, já que a cada ser humano foi concedida uma medida
de fé. Muitos supõem que sua constituição é tal que para eles torna-se
impossível crer. Esse é um erro crasso. A fé é algo tão fácil e natural como
respirar. É a herança comum de cada homem e na qual todos se acham em
igualdade. Crer é tão natural para o filho de um infiel, como o é para o filho
de um santo. É tão-somente erguendo uma barreira de orgulho perante si (Sal.
73:6) que alguém pode achar difícil crer. E mesmo em tal caso, ele crerá, visto
que se não crê em Deus, crê em Satanás. Quando não crê na verdade, engole todo
tipo de vergonhosas mentiras.
Em
que medida? – Vimos ser a fé outorgada a cada homem. Isso é
demonstrado pelo fato de a salvação ser oferecida a todos eles. Ele é posta ao
alcance de cada um e é somente pela fé. Se Deus não houvesse dado fé a todo
homem, não haveria posto a salvação ao alcance de todos.
A pergunta seguinte é: em que medida Deus deu
fé a cada homem? Encontramos a resposta no que acabamos de aprender. A fé que o
Senhor concede é a fé de Jesus. Recebemos a fé de Jesus no dom do próprio
Cristo. Ele Se entregou plenamente por todo homem. Provou a morte por todos
(Heb. 2:9) “... A graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do
dom de Cristo.” (Efés. 4:7). Cristo não está limitado; portanto, a cada homem é
concedida a plenitude de nosso Senhor, e a plenitude
de Sua fé. Essa é a única medida existente.
O
corpo e seus membros – Há “um corpo” (Efés. 4:4), que é a
igreja. Cristo é a cabeça (Efés. 1:22 e 23; Col. 1:18). “Porque somos membros
do seu corpo.” (Efés. 5:30). No corpo há muitos membros, “conquanto muitos,
somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros”.
Do mesmo jeito que acontece ao corpo humano, há
no corpo de Cristo “muitos membros e nem todos têm a mesma função”, porém,
estão a tal ponto integrados e unidos uns aos outros; são tão mutuamente
dependentes, que nenhum deles pode vangloriar-se sobre os demais. “Não podem os
olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não
preciso de vós.” (I Cor. 12:21). Isso mesmo acontece na igreja de Cristo. Não
há divisões nem orgulho; nenhum membro procura ocupar o lugar e nem fazer o
trabalho de outro. Nenhum membro acha que é independente dos demais, e todos
têm uma solicitude similar uns pelos outros.
Diversos
dons –
Os membros não têm a mesma função e nem todos têm os mesmos dons. “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo...
Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo
o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé;
e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a
outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas;
e a outro, capacidade para interpretá-las. Mas um só e o mesmo Espírito realiza
todas estas coisas, distribuindo-as, como Lhe apraz, a cada um, individualmente.”
(I Cor. 12:4-11)
“A
proporção da fé” – “Tendo,
porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja
segundo a proporção da fé.” Como já estudamos, não há mais que uma fé (Efés.
4:5), que é “a fé de Jesus”. Embora haja diversidade de dons, um só poder
sustenta todos eles. “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas.”
(I Cor. 12:11) Assim, profetizar ou exercer qualquer outro dom “conforme a
proporção da fé”, consistem em ministrá-los “na força que Deus supre” (I Ped.
4:11) “Cada um ponha a serviço dos demais o dom que recebeu, dispensando
fielmente as diferentes graças de Deus.”
“Preferindo-vos em honra uns aos outros” – Isso só é
possível quando estamos dispostos a agir com “humildade,
considerando cada um os outros superiores a si mesmo.” (Fil. 2:3) Essa ação,
por seu turno, torna-se possível somente quando alguém está consciente de sua
própria indignidade. Aquele que “sente a praga em seu coração”, não projetará
sobre os demais suas próprias deficiências. “Tende em vós o mesmo sentimento
que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo Se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido
em figura humana, a Si mesmo Se humilhou...”
Como
tratar os perseguidores – “Abençoai os que vos perseguem,
abençoai e não amaldiçoeis.” Amaldiçoar não implica necessariamente no emprego
de linguagem profana; mas significa falar com maldade. Eis o oposto de
abençoar, que significa falar bem de algo ou alguém. Em certas ocasiões os
homens perseguem de acordo com a lei; outras vezes, sem nenhum apoio legal.
Seja como for desenfreada a violência das massas, não devemos proferir
palavreado áspero algum contra os que
assim procedem. Pelo contrário, devemos falar o bem.
É impossível fazê-lo sem o Espírito de Cristo,
que orou por aqueles que O entregaram e crucificaram; que também “não Se
atreveu a proferir juízo infamatório contra ele”, o diabo (Judas 9) Mostrar
desdém pelos que nos perseguem não está de acordo com a instrução divina.
Alegrar-se
e prantear – Não é fácil ao homem natural alegar-se com os
que estão alegres, nem chorar com os aflitos. Somente a graça de Deus lhe pode
conferir essa simpatia. Quem sabe não seja particularmente difícil lamentar-se
com os aflitos, porém, costuma ser menos fácil jubilar-se com os que estão
alegres. Suponha, por exemplo, que seu vizinho receba algo que você deseja
muito. E você ainda assiste o desfrute desse bem. Você vai necessitar de graça
para se alegrar juntamente com ele.
“Tende
paz” – Devemos viver em paz com todos os homens até onde isso seja
possível. Porém, qual é o limite da possibilidade? Alguns responderiam que “até
o ponto em que a tolerância deixa de ser uma virtude”. Depois disso, dispõem-se
a pagar na mesma moeda aos que lhes causaram dor. Muitos pensam que esse texto
nos exorta a resistir tanto quanto pudermos, e a não tomar parte no problema
até que a provocação seja “insuportável”. Contudo, o texto diz: “Se possível,
quanto depender de vós, tende paz com todos os homens.”
Jamais devemos dar lugar a conflitos, tanto
quanto dependa de nós. Nem sempre podemos evitar que os demais promovam
batalhas, porém, podemos continuar mostrando nossa paz. “Tu, Senhor,
conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em
Ti.” (Isa. 26:3) “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por
meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Rom. 5:1) “Seja a paz de Cristo o árbitro
em vosso coração...” (Col. 3:15) “E a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” (Fil.
4:7). Aquele que possui permanentemente essa paz de Deus jamais se achará em
conflito com os demais.”
Capítulo 13
O Crente e os Governos Terrestres
1 Todo homem esteja sujeito às autoridades
superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades
que existem foram por ele instituídas.
2 De modo que aquele que se opõe à autoridade
resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos
condenação.
3 Porque os magistrados não são para temor, quando
se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze
o bem e terás louvor dela,
4 Visto que a autoridade é ministro de Deus
para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela
traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o
mal.
5 É necessário que lhe estejais sujeitos, não
somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência.
6 Por esse motivo, também pagais tributos, porque
são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço.
7 Pagai a todos o que lhes é devido: a quem
tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem
honra, honra.
8 A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto
o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a
lei.
9 Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não
furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra
se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
10 O amor não pratica o mal contra o próximo; de
sorte que o cumprimento da lei é o amor.
11
E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes
do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio
cremos.
12 Vai alta a noite, e vem chegando o dia.
Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz.
13 Andemos dignamente, como em pleno dia, não em
orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes;
14 Mas revesti-vos
do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas
concupiscencias.
Romanos 13: 1 a 14.
Chegamos ao segundo dos
capítulos de caráter puramente exortativo. Ele contém material da mais alta
importância; porém, costuma ser a seção
do livro a que se costuma dar pouca atenção.
A
quem se dirige? – Quiçá seja interessante recordar
aqui que a epístola é dirigida a professos seguidores de Jesus. “Se, porém, tu,
que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces
a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei...” (Rom.
2:17 e 18) “Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei)...”
(Rom. 7:1). A última parte do capítulo volta a pôr a questão em destaque.
Portanto, é erro supor que esse capítulo tenha
por objetivo estabelecer obrigações dos governantes terrenos, o que pretenderia
ser um tratado sobre a forma correta de governar, assim como tampouco é
instruir quanto à relação que deviam manter a igreja e Estado. Posto que a
epístola se dirige a cristãos professos, é evidente que tinha como objetivo
dizer-lhes como se comportar em relação às autoridades civis, sob cuja tutela
viviam.
Deus,
a origem de todo poder – “Uma vez falou Deus, duas vezes
ouvi isto: Que o poder pertence a Deus.” (Sal. 62:11) “Não há potestade que não
proceda de Deus.” Isso é absolutamente certo; não há exceções. O poder romano,
inclusive nos dias do famigerado e cruel Nero, derivava do poder de Deus, tanto
como o dos judeus nos dias de Davi. Quando Pilatos disse a Cristo que tinha
poder para crucificá-Lo ou para libertá-lo, Jesus replicou: “Nenhuma autoridade
terias sobre Mim, se de cima não te fosse dada...” (João 19:11) Não obstante,
esse fato em nada implica que as ações desse poder sejam devidas ao Senhor ou
contem com a aprovação divina.
Considerando os indivíduos, isso se torna mais claro. Todo poder humano
provém de Deus. É tão certo para os pagãos como para os cristãos, que “nEle vivemos, e
nos movemos, e existimos... porque dEle também somos
geração”. Pode-se dizer com veracidade que os indivíduos e também os governos,
são ordenados ou estabelecidos por Deus. Ele tem um plano para a vida de cada
um.
No entanto, isso não torna Deus responsável
pelas ações do homem, porque esse dispõe de liberdade para agir segundo sua
própria escolha. É o homem quem se
rebela contra o plano de Deus e perverte Seus dons. O poder com que o
escarnecedor blasfema de Deus procede dEle, tão certamente como o poder com que
o cristão O serve. Porém, ninguém suporá que Deus aprove a blasfêmia. De igual
forma, não podemos admitir que Deus aprove necessariamente os atos dos governos
terrestres, pelo simples fato de terem sido ordenados por Ele.
Instituídas
(estabelecidas) – Ninguém entenda que essa expressão
implique necessariamente na concessão de algum poder espiritual. Ela significa
simplesmente estabelecida ou assinalada. Em Atos 28:23 encontramos novamente o
termo grego, a partir do qual se traduziu marcado:
“Havendo-lhe eles marcado um dia,
vieram em grande número ao encontro de Paulo na sua própria residência...” Os
judeus de Roma estavam de acordo em marcar um dia determinado para que Paulo
lhes falasse do evangelho. Pode-se dizer que haviam estabelecido ou marcado um dia para
o encontro com o apóstolo.
Deus é sobre
todos – As “potestades superiores” não estão acima do
Altíssimo. “Porque dEle é a sabedoria e o poder; é
Ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis...” (Dan.
2:20 e 21) Ele colocou a Nabucodonosor, soberano de Babilônia, como rei sobre
todos os domínios da Terra (Jer. 27:5-8; Dan. 2:37 e 38). Porém, quando
Nabucodonosor atribuiu-se o poder divino, foi lançado entre os animais do
campo, a fim de reconhecer que “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos
homens e o dá a quem quer” (Dan. 4:32).
Resistindo
a Deus – Visto que somente em Deus há poder, “de modo que aquele que se
opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre
si mesmos condenação”. Há aqui uma advertência contra a rebelião e a insubordinação.
Deus é quem coloca e retira os reis. Portanto, quem pretende destronar um rei
está tentando usurpar a prerrogativa que só a Deus pertence. É como se soubesse
melhor do que Deus o momento em que um governo deve ser mudado. A menos que
possa demonstrar a existência de uma revelação direta do Céu, que o invista de
uma obra tal, quem se levanta contra um governo terreno está tomando posição
contra Deus, e procurando transgredir um mandamento por Ele dado. Está-se
colocando adiante do Senhor.
Resistir
ou derribar – O ato de resistir à autoridade civil está no
mesmo nível de procurar sua queda. Quem se opõe pela força a um poder,
derrotá-lo-ia se para isso dispusesse de meios. Os seguidores de Cristo são
proibidos terminantemente de fazer tal coisa.
O
exemplo de Jesus – Cristo padeceu “deixando-vos
exemplo para seguirdes os Seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo
algum se achou em Sua boca.” (I Ped. 2:21 e 22). É bom lembrar que Jesus foi
condenado sob acusação política e por motivos políticos; porém, não ofereceu resistência
apesar de dispor de poder para fazer isso (Ver João 18:5-11; Mat. 26:51-53).
Pode-se acrescentar que Cristo sabia que havia chegado Sua hora. Tampouco em
ocasiões anteriores levantou oposição. Encomendava-Se continuamente ao cuidado
do Pai. Ele é o exemplo de Seus seguidores.
Se você, amado leitor, se colocar sob o cuidado divino, não sofrerá opressão e indignidade que Ele
não saiba ou permita; não é possível que você sofra dano algum antes de haver
chegado sua hora. É mais fácil fazer profissão de fé em Cristo, do que
demonstrar verdadeira fé seguindo Seu exemplo.
Outro
exemplo relevante – Saul havia sido ungido rei de
Israel por ordem divina. Foi rejeitado posteriormente devido a seu curso de
ação inconseqüente. Então, Davi foi ungido em seu lugar. A ascensão de Davi
despertou ciúmes em Saul, que tentou contra sua vida. Davi não lhe ofereceu
resistência, mas fugiu de sua presença. Em mais de uma vez Saul ficou exposto a
Davi, porém, nem sequer por um momento ele levantou sua mão contra o rei. Se é
que há algum pretexto para se opor a um governante, Davi certamente o tinha.
Em primeiro lugar, se Davi houvesse tirado partido
das circunstâncias, não teria feito mais do que se conhece como “agir em
legítima defesa”. Em segundo lugar, ele já havia recebido a unção real para
substituir Saul. Contudo, quando um companheiro seu lhe pediu autorização para
matar Saul, ele replicou: “Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão
contra o ungido do Senhor e fique inocente?... Tão certo como vive o Senhor,
Este o ferirá, ou o seu dia chegará em que morra, ou em que, descendo à
batalha, seja morto.
O Senhor me guarde de
que eu estenda a mão contra o Seu ungido...” (I Sam. 26:9-11) Mas Saul era um
homem ímpio, que havia dado de mão a toda fidelidade a Deus, e já não era mais
idóneo para governar.
Sujeitos
a Deus – As Escrituras Sagradas nos ordenam estar sujeitos aos poderes
constituídos, porém jamais autoriza a desobediência a Deus. O Senhor jamais
permitiu que poder algum se situe acima dEle. Seria o cúmulo da loucura
pretender inferir, a partir deste capítulo, que é dever dos cristãos obedecer
às leis humanas quanto essas se achem em conflito com a lei de Deus. Ele não é
indulgente com o pecado, e muito menos nos mandaria pecar! Não devemos ser sujeitos
aos poderes porque suplantam a Deus, mas porque estamos sujeitos a Deus. “E
tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor
Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai.” (Col. 3:17)
Sujeição
e obediência – Por sujeição costumamos entender obediência.
Quando lemos que Jesus era sujeito a Seus pais, entendemos que os obedecia.
Assim, quando somos exortados a estar sujeitos às potestades, a conclusão
natural é que devemos render obediência às leis. Porém, jamais deveríamos nos
esquecer de que Deus está acima de todos, e que tanto o poder individual como o
nacional provêm dEle, de forma que Deus possui o direito do serviço indivisível
de cada alma. Sempre é nossa obrigação obedecer a Deus e sempre devemos estar
sujeitos às potestades humanas, porém apenas até onde essa sujeição não
implique em desobediência a Deus.
Não podemos servir a dois senhores – “Ninguém
pode servir a dois senhores... não podeis servir a Deus e a Mamom.” A razão é
que Deus e Mamom apresentam requerimentos opostos. Todos sabem que com certa
freqüência tem havido leis humanas em conflito com os mandamentos de Deus. Nos
dias da escravatura, promulgou-se na América, em certa ocasião, uma lei que
requeria que todos fizessem o que estivesse ao seu alcance para devolver os
escravos fugitivos a seus senhores. Porém, a Palavra de Deus dizia: “Não
entregarás ao seu senhor o escravo que, tendo fugido dele, se acolher a ti.”
(Deut. 23:15) Nessa ocasião era impossível obedecer a lei terrena sem desobedecer
a Deus; e a obediência a Deus tornava absolutamente necessário desobedecer à
lei humana. As pessoas eram obrigadas a fazer sua escolha sobre quem iriam
servir.
O cristão não pode vacilar um só momento em sua
escolha. A lei que contraria a lei de Deus nada é. “Não há sabedoria, nem
inteligência, nem mesmo conselho contra o Senhor.” (Prov. 21:30)
"Toda
instituição humana" - Alguém poderia mencionar I Pedro 2:13 como evidência contra o supracitado. Ali
lemos: "Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer
seja ao rei, como soberano.” Outros dirão que deveríamos estar sujeitos a toda
instituição, exceto quando essa se opuser à lei de Deus. Porém, não há ai
nenhuma exceção, nem é necessário que haja. O texto em nenhum caso ensina que
seja obrigatório obedecer a leis humanas que contradizem a lei de Deus.
O problema se origina na confusão do termo
"instituição". Normalmente se considera que significa lei ou
ordenança, mas uma leitura cuidadosa demonstrará o erro de tal suposição. Leiamos
cuidadosamente os versos de I Pedro 2:13 e 14: "Sujeitai-vos a toda
instituição humana por causa do Senhor...” Quais são essas instituições ou ordenações a que devemos estar sujeitos? “Quer
seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por Ele...” É
evidente que o texto nada diz com respeito a leis, mas só com respeito a
autoridades ou governadores. A exortação harmoniza-se perfeitamente com a do
capítulo 13 de Romanos.
“Sujeitos,
embora desobedientes?” - Ao continuar a leitura do
capítulo 13, tem-se a comprovação de que a sujeição para a qual somos exortados não inclui a obediência a
leis ímpias. “Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o
rei.” Devemos estar sujeitos à autoridade legítima,
seja ela amável ou rude, no exercício de seu mister. Continuamos lendo:
"Porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente,
por motivo de sua consciência para com Deus.” (I Ped. 2:17-19)
Pois bem, ninguém pode
sofrer aborrecimentos injustamente por
causa de sua consciência perante Deus, a menos que seja forçado a
desobedecer alguma ordem contrária à ordem divina. Essa observação, feita
imediatamente após a exortação para sujeição às autoridades, mostra claramente
que a desobediência é vista como uma possibilidade, quando os que exercem
autoridade não são "bons" nem "afáveis" (no que tange à sua
consciência perante o Senhor). A idéia é reforçada ao ser apresentado o exemplo
de Cristo, que sofreu injustamente sem opor resistência. “Ele foi oprimido e
humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como
ovelha muda perante os Seus tosquiadores, Ele não abriu a boca.” (Isa. 53:7)
Foi condenado por Sua
lealdade à verdade. Ele não comprometeu, no mínimo que fosse, essa fidelidade,
porém, sujeitou-se à autoridade dos dirigentes. Disse o apóstolo que ao agir
Ele assim, deixou-nos um exemplo para que seguíssemos Suas pegadas.
O
cristão e as autoridades civis – "Pois a nossa pátria
está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.”
(Fil. 3:20). Aqueles que por meio de Cristo têm acesso por um mesmo Espírito ao
Pai, já não são “estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e da
família de Deus” (Efés. 2:19). Preocupe-se
cada com os assuntos de seu próprio país, não com os de outro. Se um
americano fosse para a Inglaterra e pretendesse dar aulas ao Parlamento quanto
à maneira de governar, ou se um inglês achasse por bem viajar para a América a
fim de aconselhar às autoridades locais, isso seria considerado como o cúmulo
da impertinência. Se começasse a
interferir ativamente na vida pública ou nos assuntos oficiais, logo ele
cientificado da impropriedade de sua atitude. Teria que se naturalizar antes de poder falar e agir em pleno direito.
Mas se isso fizesse, no caso de regressar ao país ao qual professou fidelidade
anteriormente, deveria se abster de opinar e ser discreto. Ninguém pode
imiscuir-se de forma ativa nos assuntos de dois governos distintos.
Essa aplicação cabe nas questões do governo
celestial em relação aos da Terra, tanto como aos governos da terra uns para
com os outros. Aquele cuja cidadania está nos céus, nada lhe diz respeito
quanto aos assuntos dos governos
terrestres. Deveria declinar em favor desses que reconhecem a Terra como sua casa.
Se os líderes terrestres tentarem regular os assuntos relativos ao reino de
Deus, tornam-se réus de presunção flagrante, para dizer o menos. Porém, se é
certo que não deveriam pretender tratar dos assuntos do reino dos céus, muito
menos os cidadãos desse reino deverão interferir nos assuntos dos reinos deste
mundo (Nota: no contexto da proeminente
implicação de Waggoner em defesa da liberdade religiosa de seus dias, o sentido
aqui se prende à atividade política por parte da igreja que, segundo sua firme
convicção, deveria permanecer separada do Estado. O autor jamais se opôs ao
serviço de um cristão como fiel colaborador, enquanto cidadão individual, no
exercício do voto, etc).
Converter
a Terra no Céu – Não poucos cristãos e também
ministros do evangelho, tentam justificar seu envolvimento na política dizendo
ser seu dever transformar a Terra em Céu. Em recente campanha, ouvimos muito
com respeito à “regeneração de Londres", e fazer de Londres a cidade de
Deus." Uma linguagem como essa denota falta de compreensão manifesta
quanto ao que é o evangelho: "O
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.” (Rom. 1:16)
A regeneração só acontece por meio da obra do
Espírito Santo nos corações individuais, e escapa ao controle do homem. Os reinos
deste mundo virão a ser de Cristo, mas só "o zelo do Senhor dos Exércitos
fará isso." (Apoc. 11:15; Isa. 9:7). Haverá uma nova terra na qual somente
a justiça poderá habitar, porém isso acontecerá somente depois da vinda do dia
do Senhor, no qual os elementos ardendo se desfarão e os ímpios forem
destruídos pelo fogo (II Ped. 3:10-13). Não acontecerá como fruto de qualquer
ação política, a despeito de quantos
ministros do evangelho detiverem cargos políticos. O ministro do
evangelho tem como única comissão pregar a Palavra. Não há outro modo no mundo
pelo qual os homens se tornam melhores. Então, o ministro que deriva a atenção
para a política, está negando sua vocação.
Mantendo a paz –
Devemos sujeitar-nos aos governos terrestres por
causa da consciência; e por essa mesma causa pagar nossos impostos e cumprir
todo dever que nos seja imposto. Os impostos podem ser pesantes e até mesmo
injustos, mas isso nunca justifica a rebelião. O apóstolo Tiago se dirige aos
ricos que oprimem os pobres e sua linguagem se aplica com a mesma propriedade
tanto ao exercício de cargo público como à vida privada. Diz-lhes: “Tendes
vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado
o vosso coração, em dia de matança; tendes condenado e matado o justo, sem que
ele vos faça resistência.” (Tia. 5:5 e 6)
Veja isto: o justo não opõe resistência. E por
que não? Por causa da exortação: "Se possível, quanto depender de vós,
tende paz com todos os homens; não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai
lugar à ira; {ira; de Deus, subentendido} porque está escrito: A Mim Me
pertence a vingança; Eu é que retribuirei, diz o Senhor.” (Rom. 12:18 e 19)
Como súditos do Rei da paz e cidadãos de Seu reino, estamos obrigados a viver
em paz com todos os homens. Portanto, não devemos contender, nem sequer em
defesa própria. Cristo, o Príncipe de paz, é nosso exemplo.
Quem
deve temer? – Só
os obradores da maldade temem seus governantes. Os que procedem bem não têm
qualquer temor. Não é porque todos os governantes sejam bons, pois sabemos que
muitos não o são. O vasto império romano se estendia por todo o mundo, e quem
governava os romanos nos dias de Paulo era o rei mais vil e cruel de todos
quantos se assentaram sobre o trono de Roma. Nero mandou trucidar pessoas pelo
mero prazer de ordenar sua morte. Ela infundia terror nos corações dos homens.
Porém o cristão podia viver em calma,
pois havia posto sua confiança em Deus. “Eis que Deus é a minha salvação;
confiarei e não temerei...” (Isa. 12:2)
O
dever do homem – “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma,
exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem
cumprido a lei.” “O amor não faz mal ao próximo; de forma que o cumprimento da
lei é o amor.” "... O amor procede de Deus; e
todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.” “Porque este é o amor
de Deus: que guardemos os Seus mandamentos...” (I João 5:3) Temer a Deus e
guardar os Seus mandamentos é o dever de todo homem (Ecles. 12:13).
Se ele ama de coração a
seu próximo, é porque ama também a Deus; e visto que amor é guardar os Seus
mandamentos, é evidente que o apóstolo resume nessa exortação todo o dever do
homem. Aquele que lhes dá ouvidos nunca fará algo que possa ser condenado pelas
autoridades com justiça, mesmo que desconheça suas leis. Se você cumpre a lei
de amor, nunca causará problemas às potestades estabelecidas. Mesmos que essas o oprimam, não estarão em
realidade lutando contra você, mas contra o Rei a quem você serve.
Para
os cristãos; não para as “potestades” – Algumas
pessoas supõem que os versículos 8-10 definem os limites da autoridade civil,
autorizando o homem a legislar em tudo quanto diga respeito “à segunda tábua da
lei”, porém não em relação à primeira. Há dois fatos que mostram a falácia de
tal suposição: (1) a carta não é dirigida a governantes, mas a cristãos
individuais, como um manual de conduta particular. Se se tratasse dos deveres
dos governantes, ela seria destinada a esses e não aos irmãos. (2) “A lei é
espiritual”, portanto, nenhuma de suas partes está sob o poder da legislação
humana. Considere o mandamento “não cobiçarás”. Nenhum poder humano pode
obrigar seu cumprimento nem determinar quando pode ser violado. E certamente
esse mandamento não é mais espiritual que os outros nove. A linguagem usada é
mais apropriada para os irmãos e se resume em: Vivam com amor e não prejudiquem
a ninguém, nem tenham motivos para temer autoridade alguma.
O
fim se aproxima - O restante do capítulo é dedicado a
exortações que não necessitam de comentários. Sua ênfase especial deriva do
fato de que "o fim de todas as coisas está próximo". Portanto,
deveríamos ser sóbrios e vigiar em oração. Embora vivendo na noite, quando as
trevas cobrem a terra (Isa. 60:2), os cristãos são filhos da luz e do dia, tendo
abandonado as obras das trevas.
Revestidos
de Cristo – Os que estão revestidos do Senhor Jesus Cristo
deixaram de se exibir. Somente Cristo surge à vista. Fazer provisão para os desejos
da carne é a última coisa que precisamos, uma vez que a carne sempre procura
satisfazer seus maus desejos. O que o cristão precisa é vigiar melhor para que
a carne não manifeste sua própria força e assuma o controle. Só em Cristo é
possível sujeitar a carne. O que está
crucificado com Cristo pode dizer: "Estou crucificado com Cristo;
logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora,
tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se
entregou por mim.” (Gál. 2:29 e 20) E nesse caso, ele se comportará como Cristo
em relação aos governantes e pessoas, "porque como Ele é, também nós o
somos mundo."
(Na
sessão da Associação Geral de 1891, E.J. Waggoner fez os seguintes comentários
sobre o capítulo 13 de Romanos, segundo estão registrados no correspondente Bulletin. Sem dúvida, eles promoverão
melhor compreensão de sua mensagem.)
Até onde é possível ao cristão viver em paz com
todos os homens? Até onde isso dependa dele. Certamente ele está morto para o
pecado, mas vivo para Cristo. Cristo mora em seu coração pela fé, e Ele é o
Príncipe de paz. Então, não existe circunstância alguma na qual o cristão tenha
justificativa para perder o controle e declarar guerra, seja contra uma pessoa
ou contra um governo...
Em Gálatas 5:18 lemos que "se sois guiados
pelo Espírito, não estais sob a lei”. As obras da carne são feitas por aqueles
que estão sob a lei, e entre aquelas enumeradas nessa lista encontramos as
“contendas”. Por conseguinte, visto que o cristão não se encontra na carne, não
pode envolver-se em contendas. A guerra nunca pode ocorrer em nós, portanto,
tanto quando dependa de nós, sempre
haverá paz.
Mas, se aqueles com quem nos relacionamos
endurecem seu coração contra a verdade de Deus, não sendo por ela alcançados,
provocarão um conflito, porém unilateral. Naquilo que estiver em nosso poder
fazer, haverá paz em qualquer caso...
“Mas, ainda que venhais
a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis,
portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes,
santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados
para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós.”
(I Ped. 3:14,15).
Não tema por eles. E por que não? Porque temos
santificado ao Senhor em nossos corações, e Ele é nosso único temor. Deus é por
nós, Cristo está conosco, e quando os homens lançam opróbrio sobre nós,
fazem-no contra nosso Salvador...
O mais importante para todos nós que temos essa
verdade especial que nos porá em conflito contra “as potestades” que existem, é
santificarmos o Senhor em nossos corações pelo Espírito de Deus e Sua Palavra.
Devemos ser estudantes da Palavra de Deus e seguidores de Cristo e de Seu
evangelho… Há fazendeiros e mecânicos entre nós que, embora nunca tenham podido
reunir os textos necessários pa ra pregar um sermão, santificaram ao Senhor em
seus corações mediante o fiel estudo de Sua Palavra. Esses comparecerão perante
os tribunais por causa de sua fé e pregarão ali o evangelho, porque Deus lhes
dará, nesse dia, palavras de sabedoria que seus adversários não poderão
contradizer...
Nosso dever é pregar o evangelho,
levantarmo-nos e deixar brilhar nossa luz; e se fizermos isso, Deus reterá os
ventos tanto quanto seja necessário... A
mensagem do terceiro anjo é grande em toda a Terra. Os homens, porém, não a
consideram assim; mas chegará o dia em que será o tema da conversação de todos.
Contudo, nunca será levada a essa posição por povo que guarda silencio a seu
respeito, mas por aqueles que, pondo sua confiança em Deus, não temem
pronunciar as palavras que Ele lhes confiou.
Ao proceder assim, não estaremos pondo nossas
vidas em perigo, e eu dou graças a Deus por isso. Nossas vidas estarão
escondidas com Cristo em Deus e Ele cuidará delas. A verdade será levada às
alturas por homens e mulheres que saem a
pregar o evangelho e vivem o que pregam. Que a verdade seja conhecida do povo.
Se desfrutamos um tempo de paz para podermos pregar o evangelho, estejamos
agradecidos por isso. E se os homens fizerem leis que parecem obstruir os
canais pelos quais a verdade deveria fluir, podemos estar por adorar um Deus
que faz com que até a ira dos homens concorra para o Seu louvor. Ele certamente
fará assim. Tomará providências para que
o evangelho seja difundido por meio das mesmas leis que os homens ímpios
decretarem com o objetivo de sufocá-lo.
Deus retém os ventos… e ordena que levemos a mensagem. Retém-nos por
tanto tempo quanto seja necessário; e quando começarem a soprar e sentirmos os
primeiros tornados da perseguição, farão exatamente aquilo que o Senhor lhes
ordenou...
“Pagai a todos o que lhes é devido: a quem
tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem
honra, honra. A ninguém fiqueis devendo coisa
alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo
tem cumprido a lei.” (Rom. 13:7 e 8) Se você faz isso, está vivendo em paz com todos os homens,
tanto quanto esteja ao seu alcance. Se você ama seu semelhante como a si mesmo
está cumprindo toda a lei, já que para poder amar ao próximo a pessoa tem de
amar a Deus, porque não há amor senão o que procede dEle.
Se eu amo a meu próximo como a mim mesmo, é
simplesmente porque o amor de Deus habita em meu coração. É porque Ele fez
morada em meu coração e não há ninguém neste mundo que possa removê-lo de lá.
Essa é a razão pela qual o apóstolo se refere à
segunda tábua da lei, porque se cumprirmos nossa obrigação para com nosso
semelhante, isso implica que amamos a Deus.
Ouvimos, às vezes, que a primeira tábua da lei
diz respeito a nossas obrigações para com Deus e constitui a religião, enquanto
que a segunda define nossos deveres para com o próximo e constitui a
moralidade. Mas a segunda tábua da lei contém deveres para com Deus tanto
quanto a primeira. Davi, depois de ter transgredido os mandamentos da segunda
tábua, confessou-se dizendo: "Pequei contra
Ti, contra Ti somente, e fiz o que é mal perante os Teus olhos...” (Sal. 51:4)
Deus deveria ser o primeiro e o último a cada momento…
Todas essas lições que aprendemos haverão de
nos preparar para o tempo de angústia.
Capítulo 14
Deus, o Único Juiz
O capítulo décimo quarto contém principalmente
instrução prática relativa à vida do cristão, e não depende diretamente das exortações
precedentes. Abordaremos diretamente o texto do capítulo, lembrando-nos que,
assim como aconteceu nos capítulos anteriores, ele é dirigido a quem reconhece
a Deus como seu Senhor. Ele nos indica a maneira com que devemos considerar-nos
uns aos outros, na qualidade de”
Servos de um só Senhor – Romanos 14:1-13
1
Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.
2 Um crê que de tudo pode comer, mas o débil
come legumes;
3 quem come não despreze o que não come; e o
que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu.
4 Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o
seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é
poderoso para o suster.
5 Um faz diferença entre dia e dia; outro julga
iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente.
6 Quem distingue entre dia e dia para o Senhor
o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come
para o Senhor não come e dá graças a Deus.
7 Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem
morre para si.
8 Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se
morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do
Senhor.
9 Foi precisamente para esse fim que Cristo
morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos.
10 Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu,
por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus.
11 Como está escrito: Por minha vida, diz o
Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a
Deus.
12 Assim, pois, cada um de nós dará contas de si
mesmo a Deus.
13 Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo
contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão.
A
escola de Cristo - A igreja de Cristo não é composta de homens
perfeitos, mas por aqueles que vão à procura da perfeição. Ele é o Perfeito e
nos convida nestes termos: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim,
porque Sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.”
(Mat. 11:28 e 29) Havendo chamado a
todos para que vão a Ele, disse: "... O que vem a Mim, de modo nenhum o
lançarei fora.” (João 6:37). Como disse alguém: “Deus estende Sua mão para
alcançar a mão de nossa fé, e dirigi-la a apropriar-se da divindade de Cristo,
a fim de que nosso caráter possa alcançar a perfeição.”
A fé pode ser mui débil, porém Deus não rejeita
ninguém por isso. Paulo dava graças a Deus porque a fé dos tessalonicenses estava
“crescendo” (II Tess. 1:3), o que demonstra que sua fé, no princípio, não era
perfeita. É certo que Deus é tão bom que toda pessoa deveria confiar nEle
completamente; porém, por ser tão bom, mostra paciência e benignidade para com
aqueles que não estão bem familiarizados com Ele, e não os abandona por causa
de suas dúvidas. São a bondade e a paciência de Deus que dão lugar à fé
perfeita.
Alunos
não são professores – Não é função dos alunos
determinar quem deve freqüentar a escola. É certo que neste mundo há escolas
exclusivistas, as quais só pode freqüentar certa classe de estudantes. Se
alguém inferior econômica e socialmente tentar entrar isso seria motivo de
escândalo. Os mesmos estudantes protestariam de tal modo contra os recém-chegados,
que os professores se veriam forçados a negar o acesso. Mas tais escolas não
são a escola de Cristo. "Deus não faz acepção de pessoas.” Ele convida os
pobres e necessitados, assim como os débeis. É Ele, e não os estudantes, quem
decide sobre os que serão admitidos.
Ele diz: "...Quem quiser receba de graça a água da
vida”, e pede a todo aquele que ouve o convite que o divulgue. A única
qualificação necessária para ingressar na escola de Cristo é a disposição de
aprender dEle. Deus receberá e ensinara a quem quiser conhecer Sua vontade
(João l7:17). Quem pretender estabelecer norma diferente, está se atrevendo a
colocar-se acima de Deus. Nenhum homem tem direito de
rejeitar aquele a quem Deus recebe.
O
mestre e o aluno - Cristo disse aos Seus discípulos: “Vós, porém,
não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois
irmãos... Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo...”
(Mat. 23:8 e 10). É o mestre quem determina o trabalho de cada discípulo ou
aluno. Cabe ao mestre fazer com que seu pupilo atinja os objetivos. Portanto,
somente o mestre tem o direito de dar ordens e julgar em caso de fracasso.
"Quem
és tu que julgas o servo alheio.” Se você não tem poder para tornar a vida dele
um sucesso, também não tem o direito de julgar
seus fracassos
"Deus
é o juiz" - "Deus é o juiz; a um abate, a outro
exalta.” (Sal. 75:7).”Porque o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso
legislador, o Senhor é o nosso Rei; Ele nos salvará.” (Isa. 33:22) “Um só é Legislador
e Juiz, Aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas
o próximo?” (Tia. 4:12). O poder de salvar e condenar determina o direito de
julgar. Condenar quando não se tem poder para exercer o juízo, não é mais do
que encenar uma farsa. Quem o faz expõe-se ao ridículo, para não dizer outra
coisa.
O
espírito do papado - O apóstolo Paulo descreve a
apostasia como a manifestação do “homem da iniqüidade, o filho da perdição, o
qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a
ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o
próprio Deus” (II Tess. 2:3 e 4). Em Daniel 7:25 é descrito o mesmo poder como
falando palavras contra o Altíssimo e pensando em mudar os tempos e a lei.
Pôr o próprio eu contra a lei de Deus, ou acima
dela, é o mais alto grau de oposição a Deus que se possa imaginar, assim como a
mais presunçosa usurpação de Seu poder. O final reservado para esse poder que a
si mesmo se exalta é este: ser consumido pelo Espírito de Cristo e destruído
pelo esplendor de Sua vinda (II Tess. 2:8).
Leiamos agora Tiago 4:11: "Irmãos, não
faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão
fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei,
mas juiz.” Isso indica que qualquer um que fale mal de seu irmão, julga-o ou o
deprecia, está falando contra a lei de Deus e se assentando na cátedra de juiz.
Em outras palavras, está-se colocando na posição e fazendo a obra do "homem
do pecado”. Que outra coisa se pode esperar senão que receba a condenação
reservada ao homem do pecado? Isso é algo transcendente e digno de especial
atenção.
Temos aprendido que os membros da igreja de
Cristo não são juízes uns dos outros, mas servos de um mesmo Senhor. Vimos como
não é indiferente o fato de guardarmos ou não os mandamentos de Deus. Muito ao
contrário: todos nós deveremos comparecer perante o tribunal de Cristo e sermos
por Ele julgados. Porém, aprendemos também que naquelas coisas sobre as quais a
lei de Deus não se pronuncia especificamente, os caminhos de uns são tão
válidos como os de outros. Aprendemos finalmente que mesmo que alguém seja
achado em falta com relação a algum mandamento, não devemos tratá-lo com rudeza
e condenação. Uma atitude como essa dificilmente seria um auxílio ao faltoso e,
além disso, não temos o direito de fazer assim, visto que nada somos mais do
que servos.
Vivendo para os outros
14 Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus,
de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a
considera; para esse é impura.
15 Se, por causa de comida, o teu irmão se
entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não
faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu.
16
Não seja, pois, vituperado o vosso bem.
17 Porque o reino de Deus não é comida nem
bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.
18 Aquele que deste modo serve a Cristo é
agradável a Deus e aprovado pelos homens.
19 Assim, pois, seguimos as coisas da paz e
também as da edificação de uns para com os outros.
20 Não destruas a obra de Deus por causa da
comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer
com escândalo.
21 É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer
qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar ou se ofender ou se
enfraquecer.
22 A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante
Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova.
23
Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de
fé; e tudo o que não provém de fé é pecado.
Romanos 14:14 a 23
A leitura descuidada da Bíblia, as conclusões
precipitadas a partir de fragmentos isolados, e a torção consciente da Palavra,
conduzem a erros incontáveis. Possivelmente existam muitos erros devidos à
falta de reflexão, do que à distorção deliberada. Prestemos sempre, pois,
grande atenção à nossa forma de lê-la.
Limpo
e imundo - Se considerarmos bem o
tópico em questão, não forçaremos as Escrituras tirando-as de seu contexto. O que
é apresentado desde o início do capítulo é o caso de alguém que possui tão
pouco conhecimento real de Cristo, que acredita que a justiça é obtida mediante
a ingestão de certos tipos de alimento e o evitamento de outros. A conceito
claramente exposto em todo o capítulo é que não somos salvos pelo comer ou
beber, mas pela fé.
Ser-nos-á de grande ajuda considerar
sucintamente a questão dos alimentos puros e impuros. Prevalece a estranha
idéia de que as coisas que antes eram artigos impróprios para a alimentação
humana, hoje sejam perfeitamente saudáveis e puros. Muitos parecem pensar que
até os animais imundos foram purificados pelo evangelho. Esquecem-se de que
Cristo purifica os homens e não os animais e os répteis.
As plantas que eram venenosas nos tempos de
Moisés continuam sendo deletérias até hoje. Esses mesmos que parecem pensar que
o evangelho converte todas as coisas em próprias para o consumo, sentir-se-iam
contrafeitos se fossem obrigados a comer gatos, cães, vermes, aranhas, moscas e
outros quetais, tanto quanto teria ocorrido a um judeu contemporâneo de Moisés.
Longe de nós concluir que o conhecimento de Cristo reconcilie alguém com uma
dieta como essa; reconhecemos, pelo contrário, que apenas os mais degradados
selvagens utilizam-se de tais animais como alimento, e que sua dieta é, por sua
vez, indicativa e geradora de degradação. A iluminação espiritual dá relevo ao
cuidado na seleção de alimentos.
Ninguém pode imaginar o apóstolo Paulo nem
qualquer outra pessoa em são juízo e refinamento, apressando-se a comer tudo
aquilo que fosse capaz de encontrar sobre o solo. Embora muitos se considerem
mais sábios do que Deus em relação à comida e à bebida, há e sempre houve certas coisas
universalmente tidas como impróprias para a alimentação. Então, quando o
apóstolo diz que não há nada imundo por si mesmo, evidentemente se refere
àquelas coisas que Deus proveu para a alimentação do homem. Há pessoas cuja
consciência é tão pobremente educada, que temem comer até as coisas que Deus deu
para nutrimento, de igual modo como há aqueles que estão dispostos a proibir os
“alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos
fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade” (I Tim. 4:3).
Assim, quando o apóstolo diz que "um crê
que pode comer todas as coisas”, é evidente que isso não inclui sujidades.
Entende-se claramente que acredita que pode comer todas as coisas adequadas à
alimentação. Porém outro, dando importância ao fato de que algumas dessas coisas
foram dedicadas a um ídolo, teme comê-las como se se houvesse convertido num
idólatra. O oitavo capítulo da primeira epístola aos Coríntios, em paralelismo
evidente com o capítulo 14 de Romanos, esclarece esse tópico.
Isso igualmente lança luz sobre o assunto dos
dias. Sendo que o apóstolo faz declarações com relação à comida, focando o que
é adequado para comer, fica, todavia, mais claro que esses dias que devem ser
considerados como qualquer outro, são apenas os dias que Deus não santificou
para Si.
A
natureza do reino - "Porque o reino de Deus não é comida
nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito
Santo.” Cristo foi designado por Deus como Rei desse reino, pois lemos: “Eu,
porém, constituí o Meu Rei sobre o Meu santo monte Sião.” (Sal. 2:6). Leia
agora com muita atenção as palavras do Pai dirigidas ao Filho, a quem
estabeleceu como herdeiro de todas as coisas: “O teu trono, ó Deus, é para todo
o sempre; e: cetro de eqüidade é o cetro do seu reino. Amaste a justiça e odiaste
a iniqüidade; por isso, Deus, o Teu Deus, Te ungiu com o óleo de alegria como a
nenhum dos Teus companheiros.” (Heb. 1:8 e 9)
Cetro é símbolo de poder. O cetro de Cristo é
um cetro de justiça, por conseguinte, o poder de Seu reino consiste na justiça.
Ele governa com justiça. Sua vida na Terra foi uma perfeita manifestação da
justiça, de forma que Ele reina com o poder da justiça. Todos os que possuem
Sua vida são subidos de Seu reino. Nada senão a vida de Cristo é o a veste da
cidadania de Seu reino.
Porém, Cristo foi ungido rei de que modo? O citado
texto diz que foi com “o óleo da alegria”. Assim, a felicidade, o gozo, é uma
parte necessária do reino de Cristo. Esse é um reino de alegria tanto como de
justiça. Conseguintemente, cada súdito desse reino deve ser pleno de alegria.
Um cristão triste é algo tão contraditório quanto luz escura ou calor frio. Os
raios solares destinam-se a a levar luz e calor a todos os lugares. Do mesmo
modo, o cristão tem o dever de difundir paz e
alegria que porta em sua natureza. O cristão não é feliz simplesmente porque
crê que deve sê-lo, mas porque foi transladado para o reino da alegria.
"Aquele que deste
modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. Assim, pois,
seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros.”
“Aquele que deste modo serve a Cristo...” Em que O serve? Em justiça, paz e
alegria.
Deus aceita tal serviço e os homens o
reconhecem. Os cristãos não apenas aprovam esse serviço, mas até os que
não-crentes são constrangidos a reconhecê-lo. Os inimigos de Daniel foram
forçados a dar testemunho da retidão de sua vida, ao declararem que não podiam
encontrar coisa alguma de que acusá-lo, exceto no que fosse referente à lei do
seu Deus. Mas, de fato, essa declaração era um reconhecimento da lei de Deus,
cuja obediência fizera dele um homem
fiel.
Sem
egoísmo - A paz é uma característica de Seu reino, portanto, os que fazem
parte dele devem seguir o que contribui para a paz. Porém, o egoísmo nunca consegue tal coisa. Contrariamente,
o egoísmo. Devido a isso, os cidadãos do reino deveriam estar sempre dispostos
a sacrificar os próprios desejos e idéias em favor dos demais. O altruísta
deporá os próprios planos onde puderem promover a paz de outrem.
Mas não esqueça de que o reino de Deus é tanto
justiça como paz. Justiça é obediência à lei de Deus, já que "toda
injustiça é pecado" (I João 5:17), e "o pecado é a transgressão da
lei" (I João 3:4). Destarte, embora segundo as leis do reino o crente deva
submeter seus próprios desejos e interesses a fim de não interferir com os
sentimentos dos outros, por essas mesmas leis também não lhe é permitido
abandonar nenhum dos mandamentos de Deus.
A obediência à lei de
Deus traz a paz, pois lemos: “Grande paz têm os que amam a Tua lei...” (Sal. 119:165). "Ah! Se tivesses dado ouvidos aos
Meus mandamentos! Então, seria a tua paz como um rio, e a tua justiça, como as
ondas do mar.” (Isa. 48:18) Portanto, aquele que se julga justo e desobedece
qualquer parte da lei de Deus, porque muitos se desagradam em guardá-la, não
está buscando aquilo que conduz à paz. Ao contrário, rebela-se contra o reino
de Cristo.
Isso nos mostra uma vez mais que o sábado do
Senhor [o quarto mandamento da lei de Deus] não é uma algo que se apresenta ao
homem como assunto subjetivo, dependente de opinião ou opção pessoal. Não há,
para o cristão, outra escolha a respeito; ele deve observá-lo. Não é um dia que
os cidadãos do reino podem deixar de se lembrar se assim o preferirem. Ele é
uma das coisas obrigatórias.
Porém há outras coisas que as pessoas têm o
direito de fazer se assim desejarem. Por exemplo, o indivíduo tem direito de
comer usando os dedos se assim achar melhor. Agora, se isso causa incômodo ao
seu companheiro, a lei de Cristo requer dele que abandone esse comportamento.
Conclui-se que uma atenção cuidadosa à lei de Cristo tornará o homem
perfeitamente cortês. O verdadeiro cristão é um cavalheiro no melhor sentido do
termo.
Há muitas coisas permissíveis, mas que são
consideradas reprováveis por aqueles cuja fé é fraca, porque não receberam a
devida instrução. A cortesia cristã que apresenta o capítulo décimo quarto de
Romanos exige que quem foi bem-educado mostre consideração pelas dúvidas de seu
irmão mais fraco. Ignorar ou negligenciar essas dúvidas, por mais que careçam
de razão, não é a maneira de ajudar para que esse irmão tenha maior liberdade.
Pelo contrário, é a forma de desanimá-lo. "É bom não comer carne,
nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a
tropeçar ou se ofender ou se enfraquecer.”
Dessa maneira, é evidente que o capítulo 14 de
Romanos contém uma grande lição de cortesia cristã e espírito de serviço, e não
um convite para desobedecer ao sábado ou a qualquer outra coisa que pertença
aos mandamentos de Deus, segundo agrade a cada um. Devemos manifestar terna
consideração para com o “fraco na fé”.
Em acentuado contraste com isso, aquele que se ofende com a observância
dos mandamentos de Deus não tem, absolutamente, o mínimo grau de fé.
As
limitações da consciência – “A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus.”
A fé e a consciência pertencem ao indivíduo. Ninguém pode ter fé por
outro. Ninguém pode ter fé que valha para dois. O ensino da igreja romana é que
uns poucos tiveram mais fé do necessitavam pessoalmente, e que foram mais
justos do que o necessário, de forma que podem compartilhá-la com outros. Mas a
Bíblia ensina que é impossível que alguém tenha mais fé do precisa para sua
própria salvação. Assim sendo, não importa quão bem instruída possa ser a fé de
alguém, nenhum outro homem pode ser julgado por ela.
Hoje ouvimos falar muito sobre a consciência
coletiva. Freqüentemente escutamos que a consciência de um é violentada pelo
curso de ação de outro. Mas com a consciência acontece a mesma coisa que com a
fé: ninguém tem tal consciência que possa ser aplicável também a outra pessoa.
Aquele que pensa que sua consciência também serve para ele e para outros, está confundindo obstinação egoística com
consciência. Foi essa idéia equivocada de consciência que levou a todas as
terríveis perseguições perpetradas em nome da religião.
Que cada cristão saiba que a consciência é algo
entre ele e Deus somente. Ninguém tem permissão de impor sua liberdade de
consciência a outrem, mas, de acordo com as leis do reino de Cristo, está sob
obrigação de se abster inclusive, em certas ocasiões, de exercer sua própria
liberdade, por consideração com os demais. Isto é, aquele que anda mais
depressa tem de auxiliar seu irmão mais fraco que percorre o mesmo caminho com
lentidão. Não deve, porém, deter-se para atender a quem transita em sentido
contrário.
Capítulo 15
Louvem ao Senhor Todos os Gentios
O capítulo precedente apresentou nosso dever
para com os débeis na fé, e que têm exagerados escrúpulos de consciência quanto
às coisas que não possuem, em si mesmas, relevância. Não somos juízes uns dos
outros; antes, todos temos de comparecer perante o tribunal de Cristo. Se
tivermos maior conhecimento que nosso irmão, não deveremos conformá-lo
arbitrariamente à nossa própria norma, mais do que ele mesmo tente nos impor a
sua. Nosso conhecimento mais amplo faz-nos mais responsáveis quanto ao dever de
exercer a maior caridade e paciência.
Nestes versos encontramos a síntese de tudo o
que antes foi dito: "Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas,
mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem beber
vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar ou se
ofender ou se enfraquecer.”
O dever de nos ajudarmos mutuamente.
1 Ora, nós que somos fortes devemos suportar as
debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos.
2 Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no
que é bom para edificação.
3 Porque também Cristo não se agradou a Si
mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que Te ultrajavam caíram sobre
Mim.
4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o
nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das
Escrituras, tenhamos esperança.
5 Ora, o Deus da paciência e da consolação vos
conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus,
6 para que concordemente e a uma voz
glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
7 Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como
também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.
Romanos
15:1 a 7.
Suportar-nos
uns aos outros - Os versos que compõem este capítulo suplementam a instrução dada no
precedente e lhe são prosseguimento. Desse modo, o capítulo 15 começa com a
exortação: “Devemos suportar as debilidades dos fracos." O último verso
dessa seção diz: "Acolhei-vos uns aos outros."
Como podemos suportar-nos uns aos outros? A resposta é: “Como também Cristo nos suportou."
Isso enfatiza uma vez mais o fato de que o apóstolo não tinha a menor intenção
de desprezar nenhum dos Dez Mandamentos quando escreveu, no capítulo anterior:
“Um faz diferença
entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente.”
Cristo não fez a mínima concessão com relação
aos mandamentos, a fim de acomodar aqueles a quem aceitava. Ele disse:
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim
para revogar, vim para cumprir.” (Mat. 5:17). "Se guardardes os Meus
mandamentos, permanecereis no Meu amor; assim como também Eu tenho guardado os
mandamentos de Meu Pai e no Seu amor permaneço.” (João 15:10).
Os mandamentos de Cristo e os do Pai são os
mesmos, porque Ele disse: "Eu e o Pai somos um." (João 10:30). Certo
dia declarou a um jovem que pretendia segui-Lo: “Guarda os mandamentos.” (Mat.
19:17) Portanto, é óbvio que ao se fazer concessões por causa da paz e da
harmonia, nenhuma licença deveria ser dada com relação à observância dos mandamentos
de Deus.
Como
agradar aos demais? - Da mesma maneira que a exortação
indica: "Portanto,
cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação.” Jamais somos
exortados a ajudar um irmão a pecar a fim de agradá-lo.
Nem fechar os olhos ao pecado de nosso irmão para não molestá-lo, permitindo com
isso que persista na transgressão sem adverti-lo. Não existe bondade alguma
nesse proceder. Está escrito: "Não aborrecerás teu irmão no teu íntimo;
mas repreenderás o teu próximo e, por causa dele, não levarás sobre ti pecado.”
(Lev. 19:17). A mãe que, temerosa de contrariar o filho, nada fizesse para
impedi-lo de pôr a mão no fogo, estaria sendo cruel e não bondosa. Devemos
agradar ao nosso próximo, mas somente para o seu bem e não para sua perdição.
Suportar
as fraquezas dos outros – Retornando ao primeiro verso vemos ainda mais sobressalente
esta verdade: "Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades
dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos.” “Porque Cristo não Se agradou a Si
mesmo.” Examine esse fato em relação a Gálatas 6:1 e 2: "Irmãos, se alguém
for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com
espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis
a lei de Cristo.” Ao tolerar as fraquezas dos débeis, estamos cumprindo a lei
de Cristo, Porém, suportar as cargas u ns dos outros não significa dizer-lhes
que podem ignorar impunemente qualquer dos mandamentos. Guardá-los não é carga
alguma, já que “os Seus mandamentos não são pesados” (I João 5:3).
Como
Cristo carrega nossos fardos? - Cristo os porta não
removendo a lei de Deus, mas os nossos pecados e capacitando-nos para
guardarmos a lei. "Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma
pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa
e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim
de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne,
mas segundo o Espírito.” (Rom. 8:3 e 4)
Ele
nos diz: “Venham!” – Uma bênção no serviço do Senhor é
que Ele não nos diz “vejam”, mas “venham”. Não nos envia a trabalhar por nós
mesmos, mas nos chama a segui-Lo. Não pede de nós nada que Ele mesmo não faça
ou tenha feito. Quando nos diz que devemos levar as cargas daqueles que são
débeis, deveríamos fazer isso com ânimo e não como uma carga imposta, visto que
Ele nos está lembrando o que realiza em nosso favor. Ele é o Todo-Poderoso, pois
lemos: “Outrora, falaste em visão aos Teus santos e disseste: A um herói
concedi o poder de socorrer; do meio do povo, exaltei um escolhido.” (Sal.
89:19) “... Certamente, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e
as nossas dores levou sobre Si... Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez
cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos.” (Isa. 53: 4 e 6)
O
que transforma isso em algo fácil? - Se sabemos
que Cristo leva as nossas cargas, ser-nos-á um prazer levar as cargas de nossos
semelhantes. O problema é que muito freqüentemente nos esquecemos de que Cristo
é o Portador, e estando oprimidos pelo peso de nossas próprias debilidades,
temos menos paciência com as dos demais. Mas quando sabemos que Cristo
realmente é o Portador de cargas,
lançamos toda a nossa solicitude sobre Ele, e então, quando fazemos
nossa a carga do próximo, Ele também as leva.
O
Deus de toda a consolação – Deus é "o Deus da paciência
e consolação", é o “Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É Ele
que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que
estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos
contemplados por Deus”. (II Cor. 1:3 e 4). Ele assume todas as repreensões que
caem sobre os homens. "As injúrias dos que Te ultrajavam caíram sobre
Mim.” Lemos acerca dos filhos de Israel: “... Em toda a angústia deles, foi Ele
angustiado...” (Isa. 63:9) Estas são palavras de Cristo: “Tu conheces a Minha
afronta, a minha vergonha e o meu vexame...
O opróbrio partiu-Me o coração...”
(Sal. 69:19,20). Porém, Ele não mostrou a menor impaciência nem fez
qualquer murmuração. Portanto, já levou as cargas do mundo em Sua carne e é
completamente capaz de levar as nossa sem queixa alguma, para podermos ser “fortalecidos
com todo o poder, segundo a força da Sua glória, em toda a perseverança e longanimidade;
com alegria” (Col. 1:11).
O
evangelho segundo Moisés – Esta é a lição que nos é ensinada
ao longo das Escrituras: "Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso
ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela
consolação das Escrituras, tenhamos esperança.” Isso é manifesto no livro de
Jó. “Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque
o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.” (Tia. 5:11) Também está claro
nos livros de Moisés. Cristo disse: "Se, de fato, crêsseis em Moisés,
também creríeis em Mim; porquanto ele escreveu a Meu respeito. Se, porém, não
credes nos seus escritos, como crereis nas Minhas palavras? (João 5:46 e 47).
Se você for negligente com relação ao evangelho segundo Moisés, de nada lhe
servirá ler o evangelho segundo João, visto que o evangelho não pode ser
dividido. O evangelho de Cristo, da mesma forma que Ele próprio, é único.
Como
suportar ou aceitar os demais – Finalmente: “... Acolhei-vos uns aos outros,
como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.” A quem Cristo acolhe?
“Ele recebe pecadores...” Quantos deles? "Vinde a Mim, todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei.”
Como os receberá? "Estendi as mãos todo
dia a um
povo rebelde, que anda por caminho que não é bom,
seguindo os seus próprios pensamentos.” (Isa. 65:2). E se eles Lhe atenderem ao
convite, que segurança terão? "Aquele que vem a Mim de maneira nenhuma o
lançarei fora." Procure aprender dEle e lembrar-se de que onde quer que
você abrir as Escrituras, elas darão testemunho dEle.
Permanecendo
no início - Nosso estudo de Romanos, embora extenso, não foi exaustivo.
Certamente é impossível estudar exaustivamente a Bíblia, já que por mais
profundamente que abordemos qualquer de suas porções, continuaremos no início.
Quanto mais investigarmos a Bíblia, mais teremos a impressão de que nossa
melhor compreensão não foi senão a preliminar de um estudo mais profundo, de
cuja necessidade não nos havemos apercebido.
Mas, embora nunca possamos esperar esgotar a verdade até oi pondo de
dizer que a conhecemos totalmente, podemos, contudo, ter a segurança de que até
onde chegarmos, teremos só a verdade. E essa segurança procede, não de alguma
sabedoria que possamos possuir, mas de nos apegarmos estritamente à Palavra de
Deus e não permitirmos que se introduzam idéias de feitura humana mescladas com
o puro ouro.
Gozo
e paz no crer.
8 Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro
da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas
aos nossos pais;
9 e para que os gentios glorifiquem a Deus por
causa da Sua misericórdia, como está escrito: Por isso, Eu Te glorificarei
entre os gentios e cantarei louvores ao Teu nome.
10 E também diz: Alegrai-vos, ó gentios, com o
Seu povo.
11 E ainda: Louvai ao Senhor, vós todos os
gentios, e todos os povos O louvem.
12 Também Isaías diz: Haverá a raiz de Jessé, Aquele
que se levanta para governar os gentios; nEle os gentios esperarão.
13 E o Deus
da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais
ricos de esperança no poder do Espírito Santo.
14
E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais
possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos
admoestardes uns aos outros.
Romanos 15: 8 a 14
“Ministro
da circuncisão” – Não nos esqueçamos de que Jesus
Cristo foi o ministro da circuncisão. Isso significa que Ele salva unicamente
os judeus? Não, mas nos mostra que "a salvação vem dos judeus" (João
4:22). Diz-se “acerca de Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo" que nasceu
“da linhagem de Davi segundo a carne" (Rom. 1:3). Ele é a “raiz de Jessé,
Aquele que Se levanta para governar os gentios; nEle os gentios esperarão” (Isa. 11:10; Rom. 15:12). Os gentios devem
encontrar a salvação em Israel. Ninguém pode achá-la em outro lugar.
"A
cidadania de Israel" - Ao escrever aos irmãos de Éfeso,
Paulo se refere ao estado anterior à sua conversão como sendo “gentios segundo
a carne”, e disse: “Naquele tempo, estáveis sem
Cristo, separados da comunidade de Israel
e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.”
(Efés. 2:11 e 12)
Isto é, além de Israel não há esperança para o
homem. Os que estão excluídos da cidadania de Israel e estrangeiros estão sem
Cristo e sem Deus no mundo. Em Cristo Jesus somos atraídos para Deus.
Sendo levados a Deus "já não sois
estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de
Deus” (Efés. 2:18 e 19). Assim, duas coisas são ensinadas de modo claro e
positivo: (1) Ninguém que seja da casa de Israel pode ser salvo. (2) Somente os
que estão em Cristo constituem a casa de Israel.
Confirmando
as promessas - "Cristo foi constituído
ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as
promessas feitas aos nossos pais.” Isso mostra que
todas as promessas divinas aos pais foram feitas em Cristo. "Porque quantas
são as promessas de Deus, tantas têm nEle o sim...” (II Cor. 1:20). "Ora,
as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos
descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu
descendente, que é Cristo.” (Gál. 3:16). Nunca se fez promessa alguma aos pais
que não houvesse de ser obtida somente em Cristo e mediante a justiça que há
nEle.
Cristo
não está dividido -
Ele é apresentado como ministro da circuncisão. Suponhamos que as
promessas feitas aos pais sejam aplicadas apenas aos descendentes naturais de
Abraão, Isaque e Jacó. A única conclusão possível seria, então, que só esses –
os que foram circuncidados – podem ser salvos. Ou, ao menos, teríamos que
admitir que Cristo fez algo por eles que não realizou pelo resto da humanidade.
Mas Cristo não está dividido. Tudo quanto fez
por um homem, fê-lo por todos os homens. Tudo o que faz por alguém, fá-lo
mediante a cruz; e Ele foi crucificado uma só vez. “Porque Deus amou ao mundo
de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não
pereça, mas tenha a vida eterna.”
Posto que Cristo seja o ministro da circuncisão
para confirmar as promessas feitas aos pais, é evidente que essas promessas
incluem a toda a humanidade. “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma
vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que O invocam.”
(Rom. 10:12). “É, porventura, Deus somente dos judeus? Não o é também dos
gentios? Sim, também dos gentios, visto que Deus é um só, o qual justificará,
por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso.” (Rom. 3:29 e 30)
"O
tabernáculo de David" - Quando os apóstolos e os anciãos
se reuniram em Jerusalém, Pedro explicou como havia sido instrumento nas mãos
divinas para levar o evangelho aos gentios. Ele disse: “Ora, Deus, que conhece
os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como
também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e
eles, purificando-lhes pela fé o coração.”
(Atos 15:8 e 9)
Então, Tiago acrescentou: “Expôs Simão como
Deus, primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um
povo para o Seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está
escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de
Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens
busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o
Meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos.” (Atos
15:14-18).
Somente mediante a pregação do evangelho aos
gentios será edificado o tabernáculo de Davi. Dentre eles é tomado um povo para
Deus. Tal foi o propósito de Deus “desde a eternidade”, e “dEle todos os
profetas dão testemunho de que, por meio de Seu nome, todo aquele que nEle crê
recebe remissão de pecados.” (Atos 10:43)
A
bênção de Abraão” – Lemos que “Cristo nos resgatou da
maldição da lei, fazendo-se Ele próprio maldição em nosso lugar (porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), para que a bênção
de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos,
pela fé, o Espírito prometido.” (Gál. 3:13 e 14). As palavras omitidas no texto
precedente indicam que a maldição que Cristo foi feito por nós é a cruz.
Portanto,
concluímos que somente pela cruz de Cristo puderam eles assegurar-se das
promessas feitas aos pais. Mas Cristo provou a morte por todos (Heb. 2:9).
"E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nEle crê tenha a vida
eterna.” (João 3:14 e 15). Assim, as promessas feitas aos pais eram simplesmente
as aquelas do evangelho, proclamadas “a cada criatura”. Mediante a cruz, Jesus
confirma as promessas feitas aos pais, “para que os gentios glorifiquem a Deus
por Sua misericórdia.”
“Um
rebanho e um só Pastor” – No décimo capítulo do evangelho de
João encontramos algumas das mais belas, entranháveis e animadoras palavras do
Senhor Jesus. Ele é o Bom Pastor. Ele é a porta através da qual as ovelhas
entram no redil. Dá Sua vida para salvá-las. Ele diz: “Ainda tenho outras
ovelhas, não deste aprisco; a Mim Me convém conduzi-las; elas ouvirão a Minha
voz; então, haverá um rebanho e um pastor.” (Verso 16) Desse modo, quando Sua obra se completar, haverá
um só rebanho e Ele será o Pastor. Vejamos agora quem comporá esse rebanho.
A
ovelha perdida – No capítulo 15 de Lucas, nesse
maravilhoso conjunto de benditas ilustrações de amor e graça do Salvador, Jesus
apresenta Sua obra como a de um pastor em busca da ovelha perdida e errante.
Quem é essa ovelha? Cristo mesmo responde: “Não fui enviado senão às ovelhas
perdidas da casa de Israel.” (Mat. 15:24)
A afirmação não dá ensejo a confusão. Fica evidente que todas as ovelhas
que Ele encontra e traz de volta ao redil serão o “Israel”. Também não é menos
evidente que esse “rebanho” será o de Israel. Não haverá mais que “um rebanho”.
Jesus será o seu Pastor. Hoje, da mesma forma que nos dias antigos, podemos
orar: “Dá ouvidos, ó pastor de Israel, Tu que conduzes a José como um rebanho;
Tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o Tu esplendor.” (Sal.
80:1)
O
que distingue suas ovelhas – Os que seguem a Cristo são Suas
ovelhas. Porém, Ele possui “outras ovelhas”. Há muitos que hoje ainda não O
seguem, mas são Suas ovelhas. Estão errantes e perdidos e Ele os busca.
O que determina quem são Suas ovelhas? Escute a
própria resposta de Cristo: “Minhas ovelhas ouvem a Minha voz”. “Também tenho
outras ovelhas que não são deste redil, a Mim me convém agregá-las; e elas
ouvirão a Minha voz.” “Mas vós não
credes, porque não sois das Minhas ovelhas. As Minhas ovelhas ouvem a Minha
voz; Eu as conheço, e elas Me seguem.” (João 10:3, 16, 26 e 27) Quando Cristo
fala, aqueles que são Suas ovelhas ouvem-Lhe a voz e vêm a Ele. A palavra do
Senhor é a prova que deixa claro quem são Suas ovelhas. Portanto, cada um que
ouve e obedece à Palavra do Senhor é da família de Israel. E aqueles que a
rejeitam ou negligenciam perder-se-ão eternamente. “E, se sois de Cristo, também
sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.” (Gál. 3:29)
“Uma
só fé” – Deter-nos-emos agora para considerar como tudo isso que o apóstolo
disse está relacionado com o que foi exposto no capítulo 14, com respeito a
Cristo como ministro da circuncisão, para confirmar as promessas feitas aos
pais, a fim de que os gentios glorifiquem a Deus.
"Ora, ao que é fraco na fé, acolhei-o, mas
não para condenar-lhe os escrúpulos. Observe que esses temos que temos de
receber "como também Cristo nos recebeu para a glória de Deus", são
os que têm a fé. Agora, não há mais que “uma fé” como também somente “um
Senhor” (Efés. 4:5). E a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rom. 10:17).
Visto que tem de haver um só rebanho, e posto
que Cristo, seu Pastor, não está dividido, não pode haver nenhuma divisão no
rebanho. As disputas que procedem da sabedoria e idéias humanas devem ser
descartadas, e apenas observada a Palavra de Deus. Isso não dará lugar a
qualquer disputa. Esta é a norma: "Despojando-vos, portanto, de toda
maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências,
desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual,
para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes
a experiência de que o Senhor é bondoso.” (I Ped. 2:1-3)
Fé,
esperança, alegria e paz – "Ora, o Deus de esperança vos
encha de todo o gozo e paz na vossa fé, para que abundeis na esperança pelo
poder do Espírito Santo.” Isso liga à instrução
recebida a do capítulo 14, onde nos é
dito que “o reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, paz e alegria
no Espírito Santo.”
O
ministério triunfante de Paulo
15 Entretanto, vos escrevi em parte mais
ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça
que me foi outorgada por Deus,
16 para que eu seja ministro de Cristo Jesus
entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo
que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo.
17
Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a
Deus.
18 Porque não ousarei discorrer sobre coisa
alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os
gentios à obediência, por palavra e por obras,
19 por força de sinais e prodígios, pelo poder
do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao
Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo,
20 esforçando-me, deste modo, por pregar o
evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre
fundamento alheio;
21 antes, como está escrito: Hão de vê-Lo aqueles
que não tiveram notícia dEle, e compreendê-Lo os que nada tinham ouvido a Seu
respeito.
22
Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti impedido de
visitar-vos.
23 Mas, agora, não tendo já campo de atividade
nestas regiões e desejando há muito visitar-vos,
24 penso em fazê-lo quando em viagem para a
Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por
vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia.
25 Mas, agora, estou de partida para Jerusalém,
a serviço dos santos.
26 Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar
uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém.
27 Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são
devedores; porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais
dos judeus, devem também servi-los com bens materiais.
28 Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes
consignado este fruto, passando por vós, irei à Espanha.
29 E bem sei que, ao visitar-vos, irei na
plenitude da bênção de Cristo.
30
Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do
Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor,
31 para que eu me veja livre dos rebeldes que
vivem na Judéia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos
santos;
32 a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de
Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa recrear-me convosco.
33 E o Deus da paz seja com todos vós. Amém!
Romanos 15: 15 a 33.
A
comissão evangélica – Estando Jesus prestes a deixar este
mundo, disse a Seus discípulos que eles haveriam de receber poder pelo Espírito
Santo. Então ordenou: “Sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da Terra.” (Atos 1:8) “Primeiramente
do judeu e também do grego”, mas o evangelho deveria ser levado a todos. Assim
Paulo declarou que sua obra como ministro do evangelho consistia em testificar
solenemente “ tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé
em nosso Senhor Jesus Cristo” (Atos
20:21) É-nos dito nesse texto que “para ser ministro de Jesus Cristo aos
gentios, ministrando o evangelho de Deus”, havia ele tinha “divulgado o
evangelho de Cristo”, com poder, milagres e prodígios, pela virtude do Espírito
de Deus, “desde Jerusalém e circunvizinhanças
até ao Ilírico”.
Compartilhando
a mesmas coisas espirituais – O apóstolo, expressando seu
desejo de visitar os romanos, disse que esperava vê-los no transcurso de sua
viagem à Espanha. Disse: “Mas agora vou a Jerusalém para ministrar aos santos.
Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia levantar uma oferta fraternal para os
pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. Isto, pois, lhes pareceu bem
como devedores que são para com eles. Porque se os gentios foram participantes
das bênçãos espirituais dos judeus, devem também servir a estes com as
materiais.”
Uma declaração muito simples, mas que ilustra
como os gentios não receberam nenhum bem espiritual que não proviesse dos
judeus. As bênçãos espirituais de que participaram os gentios, eles as
receberam dos judeus e por esses lhes foram ministradas. Ambos compartilharam o
mesmo pão espiritual, de modo que os gentios demonstraram sua gratidão,
ministrando as necessidades materiais dos judeus. Vemos aqui uma vez mais um só
redil e um só Pastor.
O
Deus de Israel – Deus se dá a conhecer muitas vezes
na Bíblia como o Deus de Israel. Pedro, cheio do Espírito Santo, imediatamente
após a cura do coxo, disse ao povo: “O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o
Deus de nossos pais, glorificou a Seu Servo Jesus, a quem vós traístes e
negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-lo. (Atos 3:13). Mesmo
nesse momento Deus Se identifica como Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó; o
Deus de Israel.
Ele quer que O conheçamos e nos lembremos dEle.
Assim lemos: “Tu, pois, falarás aos filhos de Israel e lhes dirás: Certamente,
guardareis os Meus sábados; pois é sinal entre Mim e vós nas vossas gerações...
Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança
perpétua nas suas gerações. Entre Mim e
os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o Senhor os
céus e a Terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento.” (Êxo. 31:13, 16 e
17) Deus é o Deus de Israel. Certamente.
É também o Deus dos gentios, porém somente na medida em que esses O
aceitem e venham a se tornar parte de Israel, mediante a justiça pela fé. Porém,
Israel tem de guardar o sábado. Esse é o sinal de sua união com Deus.
Capítulo 16
Saudações Pessoais
Duas terças partes do
último capítulo de Romanos consistem em saudações:
3 Saudai Priscila e Áqüila, meus cooperadores
em Cristo Jesus,
4 os quais pela minha vida arriscaram a sua
própria cabeça; e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as
igrejas dos gentios;
5 saudai igualmente a igreja que se reúne na
casa deles. Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para Cristo.
6 Saudai Maria, que muito trabalhou por vós.
7 Saudai Andrônico e Júnias, meus parentes e
companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos e estavam em
Cristo antes de mim.
8 Saudai Amplíato, meu dileto amigo no Senhor.
9 Saudai Urbano, que é nosso cooperador em
Cristo, e também meu amado Estáquis.
10 Saudai Apeles, aprovado em Cristo. Saudai os
da casa de Aristóbulo.
11 Saudai meu parente Herodião. Saudai os da
casa de Narciso, que estão no Senhor.
12 Saudai Trifena e Trifosa, as quais trabalhavam
no Senhor. Saudai a estimada Pérside, que também muito trabalhou no Senhor.
13 Saudai Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a
sua mãe, que também tem sido mãe para mim.
14 Saudai Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas,
Hermas e os irmãos que se reúnem com eles.
15 Saudai Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã,
Olimpas e todos os santos que se reúnem com eles.
16 Saudai-vos uns aos outros com ósculo. As igrejas
de Cristo vos saúdam.
Romanos
16 3 a 16.
E assim continua a
lista, incluindo indistintamente homens e mulheres. Ao lermos essa bendita
lista, não apenas vemos a amplitude e a efusividade da simpatia de Paulo, como
também o especial cuidado que o Espírito Santo dedicava a cada membro da
família da fé, referindo-se a cada um por seu nome. Certamente ninguém porá em
dúvida a pertinência dessa Escritura.
Uma
omissão significativa – Porém, algo muito significativo: Pedro não é
mencionado, esse mesmo que é pretendido ser o “bispo de Roma”. Às vezes podemos
aprender tanto pelo que a Bíblia omite como pelo que ela revela. Nessa ocasião,
pelo que ela não diz podemos saber que, muito longe de ser o “bispo de Roma”,
Pedro não estava absolutamente nessa cidade quando Paulo escreveu. Se é que
esteve alguma vez ali, foi depois que Paulo escreveu a epístola e muito depois
que essa igreja foi estabelecida e desenvolvida.
É igualmente inconcebível
que ao saudar por nome aos membros da igreja, Paulo deixasse de citar a pessoa
mais importante dela, cuja hospitalidade havia partilhado em Jerusalém por quinze
dias. É claro que há abundante e positiva evidência de que nem a igreja de
Cristo e nem a igreja de Roma foi fundada sobre Pedro. Porém, se não houvesse
nenhum outro, esse testemunho do capítulo 16 de Romanos seria suficiente por si
mesmo para dirimir a dúvida.
Conclusão
24 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com
todos vós. Amém!
25
Ora, Àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a
pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio
nos tempos eternos,
26 e que, agora, se tornou manifesto e foi dado
a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus
eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações,
27 ao Deus único e sábio seja dada glória, por
meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém!
Romanos 16:24-27
Uma
magnífica conclusão – Abrange desde a eternidade passada
até a eternidade futura. O evangelho divino é supremo por todos os séculos. Foi
guardado em segredo na mente de Deus desde os tempos eternos. Cristo foi
“conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim
dos tempos, por amor de vós”. (I Ped. 1:19 e 20) Porém, agora, o mistério “foi
manifestado”. Não simplesmente manifestado pela pregação apostólica, mas
“segundo o mandamento do Deus Eterno”, “pelos escritos dos profetas”,
“proclamado a todos os povos para que obedeçam à fé”.
O plano do evangelho teve sua origem na mente
divina desde a eternidade passada. Os patriarcas, os profetas e os apóstolos
trabalharam em harmonia na obra de proclamá-lo. Nas eras vindouras constituirá
ele a ciência e o cântico dos remidos “de todas as nações, tribos, línguas e
povos”, que se reunirão com Abraão, Isaque e Jacó no reino de Deus e dirão:
“Àquele que nos ama, e, pelo Seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos
constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a Ele a glória e o domínio
pelos séculos dos séculos. Amém!”
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