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sexta-feira, 9 de abril de 2021

O EVANGELHO NA PÁSCOA - F.T. WRIGHT


 

O EVANGELHO NA PÁSCOA

F. T. Wright

Este estudo dá uma amplitude adicional ao significado das palavras de Jesus:

“Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna.” E, “As palavras que Eu vos disse são espírito e vida”. João 6:53, 54, 63, comparando o simbolismo destas com João 1:14, “O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade.”

O seu objectivo é esclarecer um problema que confrontámos durante alguns anos e tem a ver com o evangelho conforme está revelado na Páscoa.

Surgiram alguns argumentos indicando que na sequência geralmente apontada por nós sobre os acontecimentos durante a Páscoa, a morte do primogénito parecia ocorrer depois de termos recebido a vida de Cristo em nós.

Por outras palavras, a sequência que aparece em livros como O Destino de Um Movimento,

1.Circuncisão

2. Escolha do Cordeiro

3. Morte do Cordeiro

4.Aspersão do sangue nas vergas e umbreiras das portas

5.Comer a carne do Cordeiro

6. Morte do Primogénito

Sempre temos acreditado desde o início que a morte do primogénito é o símbolo da morte do nosso velho homem.

Um ou dois crentes discordavam, pois diziam que a ordem no tempo estava errada porque no evangelho a morte do primogénito tem que acontecer antes de podermos receber a semente de Jesus Cristo e isso está correcto.

Tem sido argumentado que aqui as coisas estão fora de sequência uma vez que o cordeiro que temos ensinado que é o recebimento da vida de Cristo, o que nos transforma num novo homem e, portanto, devia vir depois da morte do primogénito e não antes.

Isto, em consequência, trouxe-nos alguma dificuldade porque a evidência claramente aponta para a morte do primogénito como símbolo do velho homem. Por isso, de facto tínhamos um problema e o que se fez, como sempre, foi tranquilamente entregar o problema a Deus e esperar calmamente até que o Senhor, no Seu tempo oportuno, desse a resposta e de facto ela veio de maneira tão simples que nos pareceu surpreendente.

Evidentemente, o que nos pareceu surpreendente foi o facto de termos falhado em ver o óbvio que sempre esteve ali.

Para confirmar isto leiamos Patriarcas e Profetas, 278, {PP 193.3}, no capítulo “A Páscoa” para ver quão óbvia é a resposta e o parágrafo que a dá diz assim:

“A carne devia ser comida. Não basta mesmo que creiamos em Cristo para o perdão dos pecados; devemos pela fé estar recebendo constantemente força e nutrição espiritual dEle, mediante Sua Palavra. Disse Cristo: ‘Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna.’ E para explicar o que queria dizer, ajuntou: ‘As palavras que Eu vos disse são espírito e vida’. João 6:53, 54, 63. Jesus aceitou a lei de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração. Diz João: ‘O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade’. João 1:14. Os seguidores de Cristo devem ser participantes de Sua experiência. Devem receber e assimilar a Palavra de Deus de modo que esta se torne a força impulsora da vida e das ações. Pelo poder de Cristo devem ser transformados à Sua semelhança, e refletir os atributos divinos. Devem comer a carne e beber o sangue do Filho do homem, ou não haverá vida neles. O espírito e a obra de Cristo devem tornar-se o espírito e obra de Seus discípulos.” {PP 193.3}, Patriarcas e Profetas, 278.

Nós aprendemos anteriormente que há duas formas de receber a vida de Jesus Cristo.

• Cristo, como dador da vida – Isto fala da vida que está n’Ele, ou na Sua semente.

• A vida que está na Sua palavra.

Em ambas há vida.

A vida que está na Sua semente é vida e a vida que está na Sua palavra é vida.

Para desenvolver uma experiência cristã temos que ter estas duas fontes de vida.

Mas a coisa maravilhosa no serviço da Páscoa é que não há apenas uma fonte de vida como ensinávamos anteriormente, mas duas. As duas fontes de vida estão ali simbolizadas na participação da carne e do sangue do cordeiro.

Leiamos outra vez o parágrafo e ao lê-lo notemos que a irmã White em primeiro lugar fala do recebimento da vida para nutrir que está na palavra e na segunda parte ela fala da vida que nos tornará como Cristo.

Se um homem não regenerado estudar a Palavra de Deus e recebe a vida que está nessa Palavra ela não o transformará. Tudo o que ela fará é uma modificada melhoria da velha vida.

Para dar um exemplo disto imaginemos um homem que tem um cordeiro. O cordeiro, obviamente, é vegetariano.

Desta maneira, o homem alimenta o cordeiro com milho, trigo, cevada, aveia e alguma erva, mas geralmente falando ambos comem alimento em comum. Portanto, ambos comem a mesma comida.

Ora, o facto do cordeiro e o dono comerem dos mesmos alimentos não transforma o cordeiro num homem.

Semelhantemente, a pessoa não regenerada que se alimenta da Palavra de Deus e tenta chegar por aí à vida eterna não será transformada pelo estudo da Palavra. Ela ensina-lhe como pode ser transformada e aprenderá ali que a Palavra por si não a transformará. Aquilo que faz a transformação é a erradicação do velho homem e a implantação da vida, ou semente de Cristo nessa pessoa. Isso é o que faz a transformação. É isso que coloca a natureza de Cristo na pessoa.

Depois disso ter sido feito é preciso alimentar essa vida. Então a vida – a vida de Cristo – tem que ser alimentada com a vida que está na Palavra e com isso várias coisas acontecem. A vida contida nesses nutrientes que servem para desenvolver vida de Cristo em nós servirá também para transformar o nosso pensamento mais e mais à semelhança da mente de Cristo, o que mostra que esta dupla provisão de vida – a vida que está no próprio Cristo e a vida que está na Sua palavra – são necessárias para produzir um homem completo capaz de chegar ao grande dia do julgamento.

Voltemos a Patriarcas e Profetas, 278, ao parágrafo em consideração e leiamos de forma mais analítica ponto por ponto e vejamos como a irmã White lida com estes dois aspectos e mostra como ambos são simbolizados pelo comer a carne do cordeiro:

“A carne devia ser comida.” [Nesta pequena frase a irmã White lança a base do parágrafo]. “Não basta mesmo que creiamos em Cristo para o perdão dos pecados; devemos pela fé estar recebendo constantemente força e nutrição espiritual dEle, mediante Sua Palavra.” [Até aqui, nesta frase a qual das provisões está a irmã White a referir-se?]. Ao recebimento da vida que está n’Ele ou da vida que está na Sua Palavra?

-À Sua palavra.

“Disse Cristo: ‘Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna.’ E para explicar o que queria dizer, ajuntou: ‘As palavras que Eu vos disse são espírito e vida’. João 6:53, 54, 63. [Com que propósito foi a vida na Palavra dada?]

Para alimentar.

— Até aqui no parágrafo a que palavra está a irmã White a falar unicamente?

À nutrição ou à vida que está na Palavra! “Jesus aceitou a lei de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração.

— Paramos neste ponto, porque agora vem uma mudança. “Jesus aceitou a lei de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração.” [Esta frase faz a mudança]

“Diz João: ‘O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade’. João 1:14. — Numa palavra, qual é o assunto deste texto? “‘O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós,’”

A incarnação.

Como é que a incarnação é realizada? Pelo estudo da Palavra de Deus ou pela implantação da semente de Cristo? A incarnação produziu o “Unigénito de Filho de Deus.”

 A irmã White faz aqui uma inflexão. Ela estava a referir-se à vida que serve para alimentar, mas agora muda o assunto para a vida que gera vida. • De um lado temos aquilo que simboliza a geração ou criação da vida. • Do outro lado temos aquilo que simboliza a nutrição e desenvolvimento da vida.

No momento em que o texto fala da incarnação, ou do momento em Cristo foi gerado e dessa maneira se tornou carne e habitou entre nós continua dizendo, “Os seguidores de Cristo devem ser participantes de Sua experiência.”

— A que experiência está o texto a referir-se?

“‘O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós,” e como é que nos tornamos participantes dessa experiência?

Estudando a Palavra de Deus? Ou recebendo a semente que está em Jesus Cristo?

Ao recebimento da semente de Cristo. “Devem receber e assimilar a Palavra de Deus de modo que esta se torne a força impulsora da vida e das ações. Pelo poder de Cristo devem ser transformados à Sua semelhança, e refletir os atributos divinos. Devem comer a carne e beber o sangue do Filho do homem, ou não haverá vida neles. O espírito e a obra de Cristo devem tornar-se o espírito e obra de Seus discípulos.” {PP 193.3}. Patriarcas e Profetas, 278.

Pode agora ser visto claramente que este parágrafo ao falar de comer a carne do cordeiro está a apresentar duas aplicações de “comer a carne do cordeiro”.

• A primeira é o recebimento da vida que se alimenta pelo estudo da Palavra de Deus.

• A segunda é entrar na experiência de Jesus Cristo em que Ele Se fez carne, e habitou entre nós.

Essas duas obras estavam simbolizadas por uma única coisa que era comer o cordeiro nessa noite.

É essencial compreender o serviço da Páscoa.

Agora desaparece todos o problema relativo à ordem ou sequência de tempo.

Em primeiro lugar olhemos para o elemento do tempo.

Em que hora do dia foi o cordeiro morto?

Ao entardecer, quando o Sol descia, mataram o cordeiro da Páscoa.

O cordeiro tinha que ser assado no forno, inteiro.

Depois de terem matado o cordeiro apanharam o sangue e saíram para espargir o sangue nas vergas e ombreiras das suas portas, o que levaria cerca de quinze ou vinte minutos, e regressaram para preparar o cordeiro para ser assado no forno.

Obviamente o processo para cozinhar o cordeiro não foi em modernos fornos eléctricos que deixaria a carne assada em pouco tempo, mas em antigos fornos, como fornos a lenha. O tempo de cozedura levaria provavelmente duas, três ou mesmo quatro horas até ficar pronto a comer.

Portanto, a hora em que eles comeram o cordeiro devia ser perto da meia-noite, altura em que o primogénito do Egipto morreu.

Então, podíamos dizer que quando o primogénito morreu eles estavam a comer o cordeiro um pouco antes do primogénito do Egipto morrer, durante a sua morte e um pouco tempo depois dele morrer.

Isto que dizer que a acção de comer o cordeiro coincidiu com o tempo da morte do primogénito do Egipto.

Apliquemos, isto à nossa própria experiência na obtenção da libertação do pecado.

Antes do nosso primogénito ser morto pelo vivo poder de Deus temos de nos alimentar da Palavra de Deus. É possível os incrédulos fazerem isso também. Mesmo antes de nascerdes de novo alimentar-vos da Palavra de Deus coloca dentro de vós uma certa quantidade de vida.

Por exemplo, se alimentardes um cordeiro com ervas e milho e cereais é verdade que isso não o transforma, mas coloca nele alguma quantidade de vida.

O principal benefício antes de nascermos de novo a ser obtido pelo estudo da Palavra de Deus é alcançar vida na forma de uma fé crescente. É possível alcançar uma vida de vitória simplesmente deitando mão à fé?

– Não!

Portanto, tem que haver um crescimento da fé em nós em resposta ao alimentar na Palavra de Deus e há também o valioso elemento da aprendizagem nos correctos procedimentos de como fazer as coisas. Então, à medida que a nossa fé cresce chega ao ponto em que confia na semente de Cristo e vem a morte do velho homem e mesmo depois de termos recebido a vida de Cristo tem de haver a continuação do alimento na Palavra para desenvolver e fortalecer a força que já obtivemos.

Nos anos seguintes até à cruz do Calvário o povo celebrava a Páscoa, mas nessas subsequentes Páscoas o que é que estava a faltar?

A morte do primogénito.

Podíamos dizer que era muito conveniente o primogénito do Egipto morrer todos os anos a fim de tornar o serviço da Páscoa completo. Se isso acontecesse seria uma negação do simbolismo que as Páscoas posteriores tinham. Porque cada Páscoa da qual participaram a partir da primeira, independentemente do lugar e da situação em que se encontravam depois da primeira, não envolvia a morte do primogénito, mas o posterior alimento em Jesus Cristo no símbolo do cordeiro e na demonstração de que apesar de terem deixado a terra do Egipto, tinham de continuar a alimentar-se em Jesus Cristo através da Sua Palavra a fim de continuar a desenvolver a vida que haviam recebido por altura da sua fuga da terra da escravidão.

O simbolismo é absolutamente perfeito e nós temos sido totalmente recompensados por esperar pacientemente que o Senhor respondesse a este perturbador problema.

Não é conveniente, nas situações em que não temos respostas, procurar soluções aqui a acolá, em vez de esperar com paciência a resposta do Senhor, mas como neste caso as respostas vêm muito claramente e nós estamos gratos por isso.

Não é raro nas Escrituras haver duas coisas simbolizadas por uma mesma coisa apesar de serem diferentes.

Temos exemplos disto nas bestas de Daniel e Apocalipse na quais a Igreja e o Estado são simbolizados numa besta, mas quando lemos em Apocalipse 17 Deus usa dois símbolos diferentes numa só ilustração, uma mulher e uma besta para simbolizar as duas coisas que anteriormente estavam simbolizadas apenas por um símbolo.

Então, quando essas duas coisas são compreendidas, todos os elementos discordantes desaparecem e o símbolo é visto de modo perfeito, como é neste caso em particular.

*********

O Evangelho na Páscoa é um artigo transcrito de um estudo realizado na Conferência de Palmwoods – Austrália em 1980, destinado a trazer luz sobre a linha do tempo e ordem na sequência dos acontecimentos na Páscoa do Egipto, quando o povo de Israel foi libertado da escravidão egípcia e iniciaram a sua jornada para a Terra Prometida

PORQUÊ UM QUARTO ANJO SEPARADO? F. T. WRIGHT

 



Porquê Um Quarto Anjo Separado?

 

 

F.T. Wright

Publicado em: The Messenger and News Review, Novembro de 1977

 


 

Tradução

JFernandes

2021






Conteúdo





O

 livro do Apocalipse é um livro de setes – sete igrejas, sete selos, sete trombetas, sete pragas e sete anjos. Mas enquanto que, nos casos das igrejas, dos selos, das trombetas e pragas, cada um dos sete vem em ordem directa de sequência na apresentação, não é assim com os sete anjos. Os três primeiros são apresentados em Apocalipse 14. O quarto encontra-se no capítulo 18, depois do que é necessário regressar ao capítulo 14 para encontrar os últimos três.

Coloca-se então uma questão natural sobre o porquê disto ser assim. Na medida em que nada nas Escrituras é feito sem significado e propósito, não é acidental. Há uma boa razão para isso e compreender que a razão ajudará muito na preparação para o conflito final.

Ela também removerá um certo mal-estar decorrente de estar ciente de que aqui está algo um pouco diferente do padrão do resto do Apocalipse. Esse mal-estar será substituído pela garantia de que a obra de Deus está muito perto da conclusão e que o Senhor tem tudo a decorrer conforme a Sua sabedoria e padrão divinos. Será visto que Ele previu e fez provisão para todas as exigências.

A compreensão da razão pela qual o quarto anjo está separado dos outros seis é obtida pela busca do propósito específico pretendido por Deus em cada um dos três primeiros anjos em particular. Deus enviou-os para realizar individual e colectivamente uma obra em que o grande conflito poderia ser levado ao fim. Isto deve ser claramente conhecido pelo povo de Deus que se dedicou à realização desse maravilhoso propósito.


A Plenitude do Tempo

O tempo do fim começou em 1798. Foi nesse ano, de acordo com Daniel 12:6-12, que aquelas coisas a que o revelador celestial se referiu como o “fim destas maravilhas” chegaram ao fim. Como mostra um estudo cuidadoso de Daniel e outras partes das Escrituras, estas maravilhas eram a capacidade do homem do pecado para:

·      Tirar o sacrifício contínuo,

·      Derrubar o lugar do santuário, e

·      Pisar aos pés o povo de Deus.

Isto nunca deveria ter acontecido, pois o poderoso poder de Deus está disponível para o Seu povo. Enquanto isto continuasse de século em século, a obra de Deus certamente não podia ser terminada e não foi.

Mas chegou o tempo em que Babilónia não mais será capaz de derrubar o santuário, tirar o sacrifício contínuo e pisar o povo de Deus. Uma vez alcançado isso em 1798, então estavam lançadas as condições para finalizar a obra. O fim destas maravilhas começou o tempo do fim.

Por isso Deus enviou, por sua vez, os anjos dos quais até agora chegaram os quatro primeiros para fazer a sua obra. Os restantes três não podem aparecer até que o trabalho destes quatro primeiros tenha terminado. Esta última obra final envolve a completa derrota do homem do pecado em quem está o espírito do mistério da iniquidade. As armas pelas quais essa vitória será obtida é a revelação do evangelho de Jesus Cristo, que é o poder de Deus.

Para esse efeito veio o primeiro anjo com aquele evangelho tal como está escrito:

“E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo.” Apocalipse 14:6.

Este primeiro anjo vem tendo o evangelho eterno e que ele por sua vez prega ao mundo inteiro. Nesse evangelho está toda a mensagem para a humanidade. Não há outra e não pode haver outra.

É um erro grave segmentar as Escrituras em áreas temáticas: história, doutrina, profecia, genealogia, lei e evangelho. Tudo é o evangelho. Portanto, se a profecia fosse ensinada como Deus pretendia que fosse, então, seria apenas o ensinamento do evangelho de Cristo.

Assim é com história, doutrina e qualquer outro tipo de revelação bíblica. O cristão, como Paulo, não tem mais nada para pregar a não ser o evangelho. Ele disse aos coríntios:

“Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” 1 Coríntios 2:2.

Ele limitou a sua pregação por causa da natureza da sua comissão, dando testemunho da sua vocação nestas palavras:

“Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã.” 1 Coríntios 1:17.

Cristo não tinha recomendado a Paulo que pregasse o evangelho juntamente com outras coisas. Ele mandou-o pregar o evangelho e nada mais. Não há dúvida quanto a isto, pois ele testemunhou aos coríntios que só pregaria o evangelho. Ao fazê-lo, estava a cumprir de forma exacta e fiel a sua comissão, sem acrescentar nem diminuir aquilo que tinha sido chamado a fazer.

A comissão dada a Paulo é exactamente a mesma comissão dada a todos os cristãos. Foi expressa em termos explícitos por Cristo pouco antes da Sua partida desta Terra.

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:15.

Este é o trabalho que o Senhor tem dado a cada um dos Seus filhos. É pregar o evangelho e nada mais além disso. Como Paulo, estamos determinados a não saber nada entre aqueles que nos ouvem, a não ser Cristo e Ele crucificado. Este ponto é fortemente e claramente apresentado por E.J. Waggoner em Estudos Bíblicos Sobre o Livro dos Romanos, 47-49 (Capítulo 16). Recomenda-se que seja dado tempo a estudar esta referência em ligação com este estudo.


Então, Porquê o Segundo Anjo?

A razão para realçar que a única mensagem que o povo de Deus tem de pregar nestes últimos dias ou em qualquer outro, é mostrar a importância de perguntar por que o segundo anjo seguiu o primeiro. É tão importante compreender a verdadeira natureza e o trabalho do segundo anjo como conhecer o primeiro. Caso contrário, verificaremos que pregamos outra coisa que não é o evangelho.

Por isso, coloca-se a questão:

“Se o primeiro anjo traz o evangelho e este é tudo o que temos que pregar, então o que traz o segundo anjo?”

Não pode ser outro evangelho, ou simplesmente uma repetição do que trouxe o primeiro, nem pode ser qualquer outra mensagem para além do evangelho. O facto de o primeiro anjo ter trazido o evangelho, que é a única coisa que devemos pregar, deixa claro que o primeiro trouxe a mensagem final à humanidade e que nenhum outro anjo é necessário.

Ainda assim, é necessário o segundo anjo. Deus nunca enviaria um anjo adicional a menos que fosse necessário. Portanto, o facto de Deus ter enviado outro anjo é a prova de que ele era necessário. Qual a razão para ele ser necessário? O que é que o segundo anjo traz que é tão essencial para terminar a obra sem ser uma mensagem adicional ao evangelho?

Para responder à pergunta simplesmente deve dizer-se que o segundo anuncia o resultado da pregação do primeiro. Isto não devia realmente ser necessário e não seria não fosse a lentidão das perceções do povo de Deus. Mas ele precisava de confirmação e orientação, pois a pregação do evangelho traz certos resultados que o povo tem dificuldade em compreender e aceitar.

Uma simples pesquisa dos resultados da obra do primeiro anjo mostrará a necessidade para a vinda do segundo. Quando o primeiro anjo veio ao povo das igrejas em 1833 e depois, encontrou-o num estado de apostasia. Tinham perdido a sua ligação vital com Deus, embora ainda professassem ser o Seu povo e O venerassem. Fizeram das aparências exteriores, uma profissão bastante convincente. Mas dentro deles estava o espírito de Babilónia que é o espírito do mistério da iniquidade.

É preciso sublinhar que Babilónia não passou a existir como resultado da rejeição da mensagem do primeiro anjo. O segundo anjo diz que Babilónia cai. Portanto, ela já tinha que ali estar para depois cair. Então, o que é Babilónia?

A esta pergunta muitos responderiam:

     No tempo de Daniel era uma grande cidade nas margens do Eufrates;

     Nos dias de João era Roma pagã;

     No tempo de Lutero era o papado;

     E hoje, ela inclui todas as igrejas de denominacionais caídas.

Nesta resposta, está a ser feita referência a grandes organizações e é verdade que elas são Babilónia. Mas um exame mais profundo e mais perceptivo revelará que estas organizações são apenas a combinação dos esforços de milhares de pessoas que possuem o espírito de Babilónia. Dentro delas estão certas ambições, impulsos, e o compromisso com determinadas formas de concretizar essas aspirações. Esta é a verdadeira Babilónia.

Onde quer que esse espírito seja encontrado, aí se encontra a Babilónia, seja num único indivíduo ou em dez mil vezes dez mil que estejam unidos para efectuar o domínio mundial. Tão subtil é este espírito que pode estar presente mesmo dentro daqueles que saíram dessas organizações e se juntam ao verdadeiro povo de Deus.

Ela está presente em maior ou menor grau, na medida que está precisamente relacionada com o nível de fé em Deus. Seja qual for o grau de falta de fé em Deus, também o espírito da Babilónia será desenvolvido. Isto é automático. Portanto, a única cura real para o mistério da iniquidade é a plenitude da fé em Deus. É por esta razão que aquele grupo que obterá por fim a vitória sobre a besta e a sua imagem terá “a fé de Jesus”, e não simplesmente a fé em Jesus. (Apocalipse 14:12.)

O primeiro em que o espírito de Babilónia se desenvolveu foi Lúcifer enquanto ainda estava no Céu e ela surgiu desta forma:

1. A verdade, que “o justo viverá pela fé”, é tão verdadeira no Céu como na Terra. Portanto, os justos no Céu vivem pela fé nas promessas de Deus, da mesma maneira como os justos na Terra vivem pelas promessas de Deus.

2. Uma dessas promessas para Lúcifer era que lhe seria atribuído um lugar no governo do Universo proporcional ao seu desenvolvimento espiritual, físico, mental e social. Com certeza infalível, ele havia confirmado o cumprimento dessa promessa até ocupar o lugar mais elevado disponível para um anjo.

3. Todavia, o orgulho deu-lhe uma visão aumentada do seu valor levando-o a esperar que Deus lhe desse um lugar ainda mais elevado, acima do possível a um anjo. Deus não podia fazer isto. Mas a promessa não tinha falhado. Lúcifer estava a pedir a Deus que fizesse mais do que tinha prometido.

4. No entanto, Lúcifer esperou na expectativa de que Deus o fizesse até que o passar do tempo o levou a duvidar, e depois a perder totalmente a esperança de que Ele o faria.

5. A fé em Deus foi então substituída pela fé em si mesmo. Já não podia acreditar que o Senhor se importasse com ele. Acreditava que agora devia fazer por si a obra que Deus prometera fazer por ele.

6. Deste modo, a criatura tirou das mãos de Deus o trabalho que só Deus podia fazer e começou a manifestação do mistério da iniquidade.

Logo que Satanás ganhou acesso a Adão e Eva no Jardim, trabalhou para incutir o mesmo espírito neles. Ele argumentou a Eva que o Senhor nunca cumpriria a promessa de os tornar semelhantes a Ele porque os próprios meios pelos quais isso devia ser realizado lhes foi negado – aquela árvore do conhecimento do bem e do mal.

Isto era uma mentira, mas Eva acreditou. Assim, ela perdeu a fé em Deus e respondeu às sugestões do diabo de que o Senhor não o faria por ela e, em vez disso, ela tinha de o fazer por si mesma. Ela colocou-se no lugar de Deus, tomando ela própria o trabalho de Deus para si mesma, e o mistério da iniquidade foi estabelecido nesta Terra.

Saul, o primeiro rei de Israel, exibiu o mesmo espírito quando perdeu a paciência enquanto esperava que Samuel viesse oferecer o sacrifício, oferecendo-o ele mesmo.

Semelhantemente, Judas que, convencido de que Cristo deveria ser o Messias, mas frustrado porque Cristo não usou o enorme poder que tinha para Se tornar rei, decidiu tomar a obra nas suas próprias mãos. Ele traiu Cristo entregando-O aos judeus, convencido de que isso criaria uma situação que obrigaria Jesus confirmar a realeza. Foi porque o plano falhou que Judas se enforcou em desespero.[1]

Este é o caminho do homem do pecado. É colocar o homem no lugar de Deus, simplesmente porque ele tem mais fé em si mesmo do que no Deus que o criou. É sempre o mistério da iniquidade e sempre leva ao sofrimento, à enfermidade, à violência, à morte e à separação total de Deus. É o mal do princípio ao fim, no entanto, é o caminho universal do homem não convertido e das igrejas apóstatas em particular.


O Evangelho é a Resposta

O evangelho é a revelação do mistério de Deus. Esta é a completa e única resposta para o mistério da iniquidade. As igrejas em1833 estavam num triste estado de apostasia em que o espírito de Babilónia estava presente. Os homens tinham-se colocado no lugar de Deus e precisavam desesperadamente de um regresso a Deus. Então, Deus enviou-lhes o primeiro anjo com a revelação do evangelho de Cristo. A grande maioria recusou-se a desviar-se dos seus caminhos de incredulidade e autossuficiência e, consequentemente, sofreu uma queda moral de consequências terríveis.

Mas houve os que atenderam ao convite da misericórdia e neles foi feito uma maravilhosa obra. O evangelho trouxe a queda da Babilónia de dentro deles, de modo que o mistério da iniquidade deixou de reinar neles e passaram a viver pela simples confiante fé em Deus. Tinha-se operado uma grande mudança neles, uma mudança maior do que eles eram verdadeiramente capazes de apreciar.

Ao mesmo tempo, aqueles que recusaram a mensagem sofreram uma queda terrível. Mas como caíram mais ainda nos caminhos da incredulidade, que já era o padrão familiar nas suas vidas, nem sequer sabiam que tinham caído. Pelo contrário, estavam inclinados a pensar que tinham crescido naquilo que acreditavam ser os caminhos de Deus.

Este é o pernicioso e insidioso engano dos caminhos do mistério da iniquidade, pois ele leva os homens que se colocaram no lugar de Deus, a pensar que estão a trabalhar poderosamente por Deus. Portanto, embora pensem que se aproximaram de Deus, na verdade separaram-se ainda mais d’Ele.

Assim, em 1844, tinha sido criado um grande abismo entre aqueles que tinham aceitado a mensagem e de dentro de quem Babilónia tinha sido destronada, e aqueles que tinham rejeitado a mensagem e tinham caído com Babilónia num estado ainda mais triste de apostasia.

Era agora impossível qualquer possibilidade de comunhão ou de uma relação de trabalho entre estes dois grupos como a comunhão que haviam conhecido durante os anos anteriores. A separação era a única saída para cada um deles. Mas foi difícil para o povo de Deus entender isto. Não compreenderam todas as implicações de tudo o que lhes tinha acontecido, tanto a eles como aos que rejeitaram a mensagem. Além disso, tinha-lhes sido ensinado toda a vida que “o bom navio estava a passar com sucesso” e que o pior tipo de pecado era separar-se dele.

Portanto, o povo de Deus precisava de instrução para abrir os olhos para a verdadeira natureza da situação que agora se tinha desenvolvido e informá-los de que a vontade de Deus era eles se separarem das igrejas caídas.

Esta é a tarefa do segundo anjo. Ele não traz uma mensagem adicional para além da primeira. Ele simplesmente diz ao povo de Deus o que o primeiro tinha realizado e o que eles deviam agora fazer com a mensagem do primeiro, uma vez que ele ainda não havia acabado a sua obra. O primeiro continua enquanto o segundo se junta a ele.


Um Trabalho Progressivo

O primeiro anjo não completou o seu trabalho e depois deixou o campo para o segundo. Mesmo apesar de ser dito que o espírito do mistério da iniquidade saiu de dentro deles, todos os vestígios desse espírito ainda não tinham sido retirados.

Além disso, há uma constante tentação de voltar a ela, uma tentação à qual muitos sucumbem. Um exemplo esplêndido é encontrado nas de Abraão e Moisés.

Abraão e Sara moravam inicialmente na terra de Ur dos caldeus, que era na altura a sede do mistério da iniquidade. Portanto, o Senhor literalmente chamou-o para sair de Babilónia e pela fé ele assim fez. Fiel e submissamente, ele seguiu Deus nos anos seguintes com a promessa de Deus soando aos seus ouvidos de que teria um filho. Mas o tempo tardou e o Senhor não mostrava disposição, assim parecia, de fazer da promessa mais do que palavras apesar de Abraão abertamente dizer ao Senhor:

“… Eis que não me tens dado filhos.” Génesis 15:3.

Em resposta, Deus apenas repetiu a promessa, depois foi-se embora e aparentemente não fez nada. Passaram-se mais anos até abraão e Sara decidirem que já não podiam esperar que o Senhor o fizesse, pois parecia evidente que Ele ou não o podia fazer ou não o faria. Portanto, deviam eles fazê-lo, conforme fizeram.

Assim, Ismael nasceu e tanto Abraão como a sua esposa ficaram muito satisfeitos por terem feito uma grande obra para Deus quando, na verdade, tinham feito um grande trabalho para o diabo. Deus nunca poderia aceitar Ismael como filho da promessa. Quando o tempo certo de Deus veio com o nascimento da fé viva em Abraão e Sara, então o verdadeiro filho apareceu.

Assim foi com Moisés:

“Os anciãos de Israel foram instruídos pelos anjos de que o tempo para o seu libertamento estava próximo, e que Moisés era o homem que Deus empregaria para realizar esta obra.” {PP 171}, Patriarcas e Profetas, 245.

Mas Moisés chegou ao ponto em que sentiu que o Senhor estava a esperar demasiado tempo, por isso tomou a obra nas suas próprias mãos. Matou o egípcio à espera que isto precipitasse a crise e obrigasse o Senhor a fazer o trabalho. Em vez disso, Deus tirou-o do Egipto para desaprender os caminhos do mistério da iniquidade e aprender os caminhos do mistério de Deus.

Quando foi, por esse meio, completamente limpo das atitudes e do espírito errados, foi enviado de volta a fim de os fazer sair. Todavia, chegou outra vez o momento em que ele cedeu à pressão de tomar a obra do Senhor para si mesmo e bateu na rocha com ira dizendo:

“Porventura tiraremos água desta rocha para vós?” Números 20:10.

Estas ilustrações demonstram que, apesar de termos saído de Babilónia e Babilónia ter caído de dentro de nós, a obra ainda não está completa, pois pode haver em nós resíduos desse velho espírito e a constante tentação de deixar o caminho da fé e seguir o caminho da incredulidade, onde substituímos a direcção e bênção divinas pelo poder e sabedoria humanos.

Portanto, o primeiro anjo que só por si pode destronar Babilónia deve continuar a sua obra enquanto o segundo anjo o ajuda explicando o que o primeiro está a fazer.

A obra do primeiro conduz assim aos seus objetivos finais e à sua realização. Isto é, o abandono total de todos os vestígios do espírito e dos caminhos do mistério da iniquidade na vida do povo de Deus por um lado e a queda total e completa da própria Babilónia do outro. É a tarefa do terceiro anjo explicar e anunciar estes objetivos finais. De um lado, ela é descrita nestas palavras:

“Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12.

·      Esta é uma paciência que nunca lhes permitirá desistir da sua crença em Deus e tomar a obra sobre si mesmos.

·      É uma observância dos mandamentos perfeita e não permite substituição alguma dos caminhos de Deus pelos caminhos do mistério da iniquidade.

·      É a fé de Jesus e não apenas a fé n’Ele. É uma fé tão absoluta que, seja qual for a pressão exercida para tomar a tarefa de Deus nas nossas próprias mãos, recusamo-nos absolutamente a fazê-lo, mesmo que tal recusa possa parecer causar grande prejuízo à obra de Deus.

Por isso, o terceiro anjo instrui-nos sobre qual será o resultado final do ensino do primeiro anjo, no que diz respeito aos que o aceitam.

Mas há também o outro lado da questão. Em 1844, as igrejas não caíram totalmente.

“Continuando a rejeitar as verdades especiais para este tempo, têm elas caído mais e mais.” O Grande Conflito, 389.

Virá o tempo quando essa queda está completa como resultado da sua resistência ao evangelho pregado com grande poder. Então terão formado a manifestação completa da besta e da sua imagem que, por sua vez, é a manifestação total de Babilónia e o espírito do mistério da iniquidade. Mantende em mente que a última vasta organização é apenas a união daqueles dentro dos quais o espírito de Babilónia está presente. Eles são apenas o todo daquilo que está em cada pessoa individualmente.


Então, Porquê um Quarto Anjo?

Do exposto atrás, é evidente que as mensagens dos três anjos são a completa e total provisão para a finalização da obra. É impossível levar a obra de Deus para além do previsto pelo terceiro anjo. Não podemos ir além da fé de Jesus. Esta é a suma de tudo, e todos os que têm essa fé certamente não terão nada do espírito do mistério da iniquidade neles. Isso seria uma impossibilidade.

Entretanto, temos outro anjo, o quarto. Por que foi enviado adicionalmente aos outros? E por que está ele localizado à parte dos outros? Certamente, se os três primeiros trazem tudo o que é necessário para terminar a obra, então o quarto devia ser desnecessário.

Mas ele é necessário, caso contrário não teria sido enviado, pois Deus não faz nada desnecessário para pôr fim a esta miséria. Isto já está a ter um custo muito alto.

A adição do quarto anjo tornou-se necessária não por causa de qualquer insuficiência nos outros três, mas porque a geração a quem foram pregados pela primeira vez não permitiu que essas mensagens fizessem todo o seu trabalho neles. Foi dito a essa geração repetidamente e várias vezes que só poderiam estar no reino se aproveitassem as provisões que lhes foram oferecidas. Estamos familiarizados com os testemunhos no Espírito de Profecia para este efeito. Estudai as primeiras páginas da nossa publicação “A Vinda de Cristo Retardada-Porquê?” para refrescar a memória, se necessário.

Quando essa geração falhou em passar, foi declarado à seguinte que tinha afundado numa condição laodiceana de mornidão e ineficácia. Nessa condição, certamente não podiam e não entrariam no reino.

Entre estas duas gerações, há uma diferença muito interessante no que diz respeito à receção das mensagens. A primeira geração recebeu as mensagens frescas e vivas dos anjos através de certos mensageiros escolhidos por Deus para o propósito. Porém, a geração seguinte recebeu-as não dos anjos, mas dos seus pais, que ensinaram aos filhos o que os anjos lhes tinham dado. Uma mensagem chegada por estes canais secundários nunca poderia ter a mesma frescura, poder e eficácia, por isso, esta geração não podia ver a obra toda. A geração seguinte, compreensivelmente, estaria numa situação ainda pior.

O que era necessário era uma nova apresentação dada por outro anjo directamente ao povo mais uma vez. Assim, o quarto anjo foi encarregado de trazer todas as três mensagens antigas com luz e poder reforçados directamente ao povo do advento. Isto não deveria ter sido necessário e não teria sido se o povo tivesse recebido tudo o que os três primeiros já lhes tinham oferecido.

Uma simples comparação mostrará que o quarto anjo repete as mensagens completas dos três primeiros. O primeiro anjo vem tendo o evangelho eterno. O quarto vem tendo “grande poder”. Este só pode ser o poder de Deus que é o mesmo evangelho trazido pelo primeiro anjo. Por conseguinte, o quarto certamente apresenta tudo o que o primeiro anjo apresentou. Como já foi mostrado, esta é a mensagem completa.

O segundo e o terceiro anjos anunciam os desenvolvimentos na sua plenitude tanto na aceitação como na rejeição do evangelho conforme trazido pelo primeiro. O quarto também cobre o mesmo terreno, anunciando que Babilónia, a grande, caiu até ao ponto em que está total e finalmente exposta às pragas que vêm como a colheita de anos de sementeira da semente do mal.

Portanto, o quarto anjo veio ao vivo ao povo de Deus em 1888, trazendo toda a luz e poder das mensagens dos três anjos. É por esta razão que ele é descrito como “o clamor do terceiro anjo”. The SDA Bible Commentary 7:984; Primeiros Escritos, 271.

Essa geração também podia ter entrado no reino, mas declarou que não queria o que o anjo lhe ofereceu. Queria em seu lugar o que os pais lhes tinham transmitido. Que lamentável troca que foi essa, porque o melhor que os seus pais lhes podiam oferecer era a lei sob a forma do ministério de morte. Eles tinham-no pregado até se tornarem tão secos como as colinas de Gilboa sem orvalho ou chuva.

Com esta recusa da luz que o anjo tinha para lhes oferecer fecharam a porta da oportunidade a si mesmos de entrar no reino sem ver a morte.

Todavia hoje, o anjo regressou com a luz gloriosa das mensagens destes três anjos. O alto clamor dessas mensagens voltou, mas a igreja de hoje declarou novamente que não quer receber o que o anjo lhe está a oferecer. Em vez disso, escolheu ter o que a própria Babilónia ofereceu. A igreja verificou que a mensagem trazida pelos evangélicos muito mais ao seu gosto do que o alto clamor do terceiro anjo.

Mas, louvado seja o Senhor por haver um pequeno piedoso grupo de pessoas espalhado pela Terra que estão aceitando com alegria a luz do anjo quando ele vem até nós hoje. E é claro que a mensagem vem do anjo. Não o obtemos de nenhuma fonte, excepto directamente do Céu através da Bíblia, do Espírito da Profecia, e dos escritos de Waggoner e Jones – os mensageiros nomeados pelo Senhor para transmitir a mensagem ao povo.

De tudo isto, deve ser evidente que aquela geração que recebe a mensagem directamente do anjo é a que vai experimentar a trasladação. Portanto, nós, que hoje estamos a receber essa luz directamente do anjo, somos o povo que verá a obra chegar ao fim e seguir em frente para a trasladação. Isto deve vir como um grande conforto e, ao mesmo tempo, um tremendo desafio para nós. Não podemos, por um momento, descansar em falsas garantias de que chegaremos ao fim automaticamente. Poderíamos falhar como todos os outros antes de nós.

Não deixemos que isto aconteça. Que cada um decida elevar-se à plenitude da glória desta mensagem para que o mistério da iniquidade seja completamente e totalmente destronado dos nossos corações para sempre.

A deslocação da mensagem e movimento do quarto anjo de Apocalipse 14 para Apocalipse 18, é para nos mostrar que este anjo não era inicialmente necessário. Foi apenas por causa da apostasia da geração a que as mensagens dos três anjos foram pregadas pela primeira vez que ele se tornou necessário. Porque teve que ser adicionado mais tarde, está localizado mais tarde no livro.

No entanto, o Apocalipse foi escrito séculos antes do aparecimento de qualquer um dos anjos. Há muito tempo atrás, Deus previu a rejeição e providenciou a vinda do quarto. Ele não tinha que dar a revelação da vinda desse outro anjo quando a geração de 1844 falhou. Ele previu o fracasso e tomou providências muito antes de surgir a necessidade.

Daí resulta que hoje precisamos de uma compreensão muito mais precisa e mais profunda do que são as mensagens dos três anjos e do que elas se destinam a realizar. Quando tivermos isso, estaremos mais bem preparados para aceitar e entrar na plenitude da obra que o Senhor deseja realizar com o regresso destas mensagens com maior luz e poder proporcionados na sua apresentação pelo quarto e último anjo como uma obra a fazer antes do fim da provação.

 

 

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[1] Ver O Desejado de Todas as Nações, 720-721, {DTN 507-508}.