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sexta-feira, 9 de abril de 2021

O EVANGELHO NA PÁSCOA - F.T. WRIGHT


 

O EVANGELHO NA PÁSCOA

F. T. Wright

Este estudo dá uma amplitude adicional ao significado das palavras de Jesus:

“Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna.” E, “As palavras que Eu vos disse são espírito e vida”. João 6:53, 54, 63, comparando o simbolismo destas com João 1:14, “O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade.”

O seu objectivo é esclarecer um problema que confrontámos durante alguns anos e tem a ver com o evangelho conforme está revelado na Páscoa.

Surgiram alguns argumentos indicando que na sequência geralmente apontada por nós sobre os acontecimentos durante a Páscoa, a morte do primogénito parecia ocorrer depois de termos recebido a vida de Cristo em nós.

Por outras palavras, a sequência que aparece em livros como O Destino de Um Movimento,

1.Circuncisão

2. Escolha do Cordeiro

3. Morte do Cordeiro

4.Aspersão do sangue nas vergas e umbreiras das portas

5.Comer a carne do Cordeiro

6. Morte do Primogénito

Sempre temos acreditado desde o início que a morte do primogénito é o símbolo da morte do nosso velho homem.

Um ou dois crentes discordavam, pois diziam que a ordem no tempo estava errada porque no evangelho a morte do primogénito tem que acontecer antes de podermos receber a semente de Jesus Cristo e isso está correcto.

Tem sido argumentado que aqui as coisas estão fora de sequência uma vez que o cordeiro que temos ensinado que é o recebimento da vida de Cristo, o que nos transforma num novo homem e, portanto, devia vir depois da morte do primogénito e não antes.

Isto, em consequência, trouxe-nos alguma dificuldade porque a evidência claramente aponta para a morte do primogénito como símbolo do velho homem. Por isso, de facto tínhamos um problema e o que se fez, como sempre, foi tranquilamente entregar o problema a Deus e esperar calmamente até que o Senhor, no Seu tempo oportuno, desse a resposta e de facto ela veio de maneira tão simples que nos pareceu surpreendente.

Evidentemente, o que nos pareceu surpreendente foi o facto de termos falhado em ver o óbvio que sempre esteve ali.

Para confirmar isto leiamos Patriarcas e Profetas, 278, {PP 193.3}, no capítulo “A Páscoa” para ver quão óbvia é a resposta e o parágrafo que a dá diz assim:

“A carne devia ser comida. Não basta mesmo que creiamos em Cristo para o perdão dos pecados; devemos pela fé estar recebendo constantemente força e nutrição espiritual dEle, mediante Sua Palavra. Disse Cristo: ‘Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna.’ E para explicar o que queria dizer, ajuntou: ‘As palavras que Eu vos disse são espírito e vida’. João 6:53, 54, 63. Jesus aceitou a lei de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração. Diz João: ‘O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade’. João 1:14. Os seguidores de Cristo devem ser participantes de Sua experiência. Devem receber e assimilar a Palavra de Deus de modo que esta se torne a força impulsora da vida e das ações. Pelo poder de Cristo devem ser transformados à Sua semelhança, e refletir os atributos divinos. Devem comer a carne e beber o sangue do Filho do homem, ou não haverá vida neles. O espírito e a obra de Cristo devem tornar-se o espírito e obra de Seus discípulos.” {PP 193.3}, Patriarcas e Profetas, 278.

Nós aprendemos anteriormente que há duas formas de receber a vida de Jesus Cristo.

• Cristo, como dador da vida – Isto fala da vida que está n’Ele, ou na Sua semente.

• A vida que está na Sua palavra.

Em ambas há vida.

A vida que está na Sua semente é vida e a vida que está na Sua palavra é vida.

Para desenvolver uma experiência cristã temos que ter estas duas fontes de vida.

Mas a coisa maravilhosa no serviço da Páscoa é que não há apenas uma fonte de vida como ensinávamos anteriormente, mas duas. As duas fontes de vida estão ali simbolizadas na participação da carne e do sangue do cordeiro.

Leiamos outra vez o parágrafo e ao lê-lo notemos que a irmã White em primeiro lugar fala do recebimento da vida para nutrir que está na palavra e na segunda parte ela fala da vida que nos tornará como Cristo.

Se um homem não regenerado estudar a Palavra de Deus e recebe a vida que está nessa Palavra ela não o transformará. Tudo o que ela fará é uma modificada melhoria da velha vida.

Para dar um exemplo disto imaginemos um homem que tem um cordeiro. O cordeiro, obviamente, é vegetariano.

Desta maneira, o homem alimenta o cordeiro com milho, trigo, cevada, aveia e alguma erva, mas geralmente falando ambos comem alimento em comum. Portanto, ambos comem a mesma comida.

Ora, o facto do cordeiro e o dono comerem dos mesmos alimentos não transforma o cordeiro num homem.

Semelhantemente, a pessoa não regenerada que se alimenta da Palavra de Deus e tenta chegar por aí à vida eterna não será transformada pelo estudo da Palavra. Ela ensina-lhe como pode ser transformada e aprenderá ali que a Palavra por si não a transformará. Aquilo que faz a transformação é a erradicação do velho homem e a implantação da vida, ou semente de Cristo nessa pessoa. Isso é o que faz a transformação. É isso que coloca a natureza de Cristo na pessoa.

Depois disso ter sido feito é preciso alimentar essa vida. Então a vida – a vida de Cristo – tem que ser alimentada com a vida que está na Palavra e com isso várias coisas acontecem. A vida contida nesses nutrientes que servem para desenvolver vida de Cristo em nós servirá também para transformar o nosso pensamento mais e mais à semelhança da mente de Cristo, o que mostra que esta dupla provisão de vida – a vida que está no próprio Cristo e a vida que está na Sua palavra – são necessárias para produzir um homem completo capaz de chegar ao grande dia do julgamento.

Voltemos a Patriarcas e Profetas, 278, ao parágrafo em consideração e leiamos de forma mais analítica ponto por ponto e vejamos como a irmã White lida com estes dois aspectos e mostra como ambos são simbolizados pelo comer a carne do cordeiro:

“A carne devia ser comida.” [Nesta pequena frase a irmã White lança a base do parágrafo]. “Não basta mesmo que creiamos em Cristo para o perdão dos pecados; devemos pela fé estar recebendo constantemente força e nutrição espiritual dEle, mediante Sua Palavra.” [Até aqui, nesta frase a qual das provisões está a irmã White a referir-se?]. Ao recebimento da vida que está n’Ele ou da vida que está na Sua Palavra?

-À Sua palavra.

“Disse Cristo: ‘Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna.’ E para explicar o que queria dizer, ajuntou: ‘As palavras que Eu vos disse são espírito e vida’. João 6:53, 54, 63. [Com que propósito foi a vida na Palavra dada?]

Para alimentar.

— Até aqui no parágrafo a que palavra está a irmã White a falar unicamente?

À nutrição ou à vida que está na Palavra! “Jesus aceitou a lei de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração.

— Paramos neste ponto, porque agora vem uma mudança. “Jesus aceitou a lei de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração.” [Esta frase faz a mudança]

“Diz João: ‘O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade’. João 1:14. — Numa palavra, qual é o assunto deste texto? “‘O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós,’”

A incarnação.

Como é que a incarnação é realizada? Pelo estudo da Palavra de Deus ou pela implantação da semente de Cristo? A incarnação produziu o “Unigénito de Filho de Deus.”

 A irmã White faz aqui uma inflexão. Ela estava a referir-se à vida que serve para alimentar, mas agora muda o assunto para a vida que gera vida. • De um lado temos aquilo que simboliza a geração ou criação da vida. • Do outro lado temos aquilo que simboliza a nutrição e desenvolvimento da vida.

No momento em que o texto fala da incarnação, ou do momento em Cristo foi gerado e dessa maneira se tornou carne e habitou entre nós continua dizendo, “Os seguidores de Cristo devem ser participantes de Sua experiência.”

— A que experiência está o texto a referir-se?

“‘O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós,” e como é que nos tornamos participantes dessa experiência?

Estudando a Palavra de Deus? Ou recebendo a semente que está em Jesus Cristo?

Ao recebimento da semente de Cristo. “Devem receber e assimilar a Palavra de Deus de modo que esta se torne a força impulsora da vida e das ações. Pelo poder de Cristo devem ser transformados à Sua semelhança, e refletir os atributos divinos. Devem comer a carne e beber o sangue do Filho do homem, ou não haverá vida neles. O espírito e a obra de Cristo devem tornar-se o espírito e obra de Seus discípulos.” {PP 193.3}. Patriarcas e Profetas, 278.

Pode agora ser visto claramente que este parágrafo ao falar de comer a carne do cordeiro está a apresentar duas aplicações de “comer a carne do cordeiro”.

• A primeira é o recebimento da vida que se alimenta pelo estudo da Palavra de Deus.

• A segunda é entrar na experiência de Jesus Cristo em que Ele Se fez carne, e habitou entre nós.

Essas duas obras estavam simbolizadas por uma única coisa que era comer o cordeiro nessa noite.

É essencial compreender o serviço da Páscoa.

Agora desaparece todos o problema relativo à ordem ou sequência de tempo.

Em primeiro lugar olhemos para o elemento do tempo.

Em que hora do dia foi o cordeiro morto?

Ao entardecer, quando o Sol descia, mataram o cordeiro da Páscoa.

O cordeiro tinha que ser assado no forno, inteiro.

Depois de terem matado o cordeiro apanharam o sangue e saíram para espargir o sangue nas vergas e ombreiras das suas portas, o que levaria cerca de quinze ou vinte minutos, e regressaram para preparar o cordeiro para ser assado no forno.

Obviamente o processo para cozinhar o cordeiro não foi em modernos fornos eléctricos que deixaria a carne assada em pouco tempo, mas em antigos fornos, como fornos a lenha. O tempo de cozedura levaria provavelmente duas, três ou mesmo quatro horas até ficar pronto a comer.

Portanto, a hora em que eles comeram o cordeiro devia ser perto da meia-noite, altura em que o primogénito do Egipto morreu.

Então, podíamos dizer que quando o primogénito morreu eles estavam a comer o cordeiro um pouco antes do primogénito do Egipto morrer, durante a sua morte e um pouco tempo depois dele morrer.

Isto que dizer que a acção de comer o cordeiro coincidiu com o tempo da morte do primogénito do Egipto.

Apliquemos, isto à nossa própria experiência na obtenção da libertação do pecado.

Antes do nosso primogénito ser morto pelo vivo poder de Deus temos de nos alimentar da Palavra de Deus. É possível os incrédulos fazerem isso também. Mesmo antes de nascerdes de novo alimentar-vos da Palavra de Deus coloca dentro de vós uma certa quantidade de vida.

Por exemplo, se alimentardes um cordeiro com ervas e milho e cereais é verdade que isso não o transforma, mas coloca nele alguma quantidade de vida.

O principal benefício antes de nascermos de novo a ser obtido pelo estudo da Palavra de Deus é alcançar vida na forma de uma fé crescente. É possível alcançar uma vida de vitória simplesmente deitando mão à fé?

– Não!

Portanto, tem que haver um crescimento da fé em nós em resposta ao alimentar na Palavra de Deus e há também o valioso elemento da aprendizagem nos correctos procedimentos de como fazer as coisas. Então, à medida que a nossa fé cresce chega ao ponto em que confia na semente de Cristo e vem a morte do velho homem e mesmo depois de termos recebido a vida de Cristo tem de haver a continuação do alimento na Palavra para desenvolver e fortalecer a força que já obtivemos.

Nos anos seguintes até à cruz do Calvário o povo celebrava a Páscoa, mas nessas subsequentes Páscoas o que é que estava a faltar?

A morte do primogénito.

Podíamos dizer que era muito conveniente o primogénito do Egipto morrer todos os anos a fim de tornar o serviço da Páscoa completo. Se isso acontecesse seria uma negação do simbolismo que as Páscoas posteriores tinham. Porque cada Páscoa da qual participaram a partir da primeira, independentemente do lugar e da situação em que se encontravam depois da primeira, não envolvia a morte do primogénito, mas o posterior alimento em Jesus Cristo no símbolo do cordeiro e na demonstração de que apesar de terem deixado a terra do Egipto, tinham de continuar a alimentar-se em Jesus Cristo através da Sua Palavra a fim de continuar a desenvolver a vida que haviam recebido por altura da sua fuga da terra da escravidão.

O simbolismo é absolutamente perfeito e nós temos sido totalmente recompensados por esperar pacientemente que o Senhor respondesse a este perturbador problema.

Não é conveniente, nas situações em que não temos respostas, procurar soluções aqui a acolá, em vez de esperar com paciência a resposta do Senhor, mas como neste caso as respostas vêm muito claramente e nós estamos gratos por isso.

Não é raro nas Escrituras haver duas coisas simbolizadas por uma mesma coisa apesar de serem diferentes.

Temos exemplos disto nas bestas de Daniel e Apocalipse na quais a Igreja e o Estado são simbolizados numa besta, mas quando lemos em Apocalipse 17 Deus usa dois símbolos diferentes numa só ilustração, uma mulher e uma besta para simbolizar as duas coisas que anteriormente estavam simbolizadas apenas por um símbolo.

Então, quando essas duas coisas são compreendidas, todos os elementos discordantes desaparecem e o símbolo é visto de modo perfeito, como é neste caso em particular.

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O Evangelho na Páscoa é um artigo transcrito de um estudo realizado na Conferência de Palmwoods – Austrália em 1980, destinado a trazer luz sobre a linha do tempo e ordem na sequência dos acontecimentos na Páscoa do Egipto, quando o povo de Israel foi libertado da escravidão egípcia e iniciaram a sua jornada para a Terra Prometida

1 comentário:

  1. Título do texto original do artigo pelo autor F.T. Wright e tradução para a língua portuguesa "O EVANGELHO NA PÁSCOA."

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