Os
Sete Anjos
Capítulo
8
O Terceiro Anjo
‘E
seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: ‘Se alguém adorar a besta, e
a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão,
“‘Também
este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da
sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante
do Cordeiro.
“‘E a
fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia
nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal
do seu nome.’
“Aqui
está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e
a fé em Jesus.” Apocalipse 14:9-12.
Vimos que o segundo anjo revela os resultados
da aceitação e também da rejeição do evangelho vivo que é apresentado pelo
primeiro anjo, apesar desses efeitos não se terem desenvolvido totalmente no
início do aparecimento do segundo anjo. Mesmo agora, depois de 140 anos, a
completa queda de Babilónia ainda está no futuro, mas ela virá com todas as pavorosas
consequências que acompanham a terrível queda em total apostasia. É a obra
especial do terceiro anjo advertir o mundo da aproximação da sua condenação de
modo que os homens possam ser convencidos a adoptar aquelas medidas que os
salvarão do terrível destino predito com exactidão pelo terceiro anjo.
Aqueles
que rejeitam a mensagem do primeiro anjo, como já vimos, serão arrastados
juntamente com Babilónia quando o evangelho a derrubar do seu elevado trono. Contudo,
quando o segundo anjo começou a soar, esta obra de levar Babilónia à completa
profundidade da apostasia ainda não estava completa. À medida que continuaram a
rejeitar as verdades especiais para este tempo caíram cada vez mais fundo.
“Contudo, não se pode ainda dizer que ‘caiu Babilônia, ... que a todas as nações deu a beber do vinho
da ira da sua prostituição’. Ainda não deu de beber a todas as nações. O
espírito de conformação com o mundo e de indiferença às decisivas verdades para
nosso tempo existe e está a ganhar terreno nas igrejas de fé protestante, em
todos os países da cristandade; e estas igrejas estão incluídas na solene e
terrível denúncia do segundo anjo. Mas a obra da apostasia não atingiu ainda a
culminância.
“A
Escritura Sagrada declara que Satanás, antes da vinda do Senhor, operará ‘com
todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da
injustiça’; e ‘os que não receberam o amor da verdade para se salvarem’ serão
deixados à mercê da ‘operação do erro, para que creiam a mentira’. II Tess. 2:9-11.
A queda de Babilônia se completará quando esta condição for atingida, e a união
da igreja com o mundo se tenha consumado em toda a cristandade. A mudança é
gradual, e o cumprimento perfeito de Apocalipse 14:8 está ainda no futuro.” O Grande Conflito, 389, 390.
Uma vez
que os dirigentes das igrejas caídas tinham voltado as costas dos seus corações
contra o evangelho eterno, ficaram determinados na oposição à verdade. À medida
que a luz cresce em brilho cada vez mais, a sua resistência torna-se ainda mais
decidida. O seu ódio à verdade manifesta-se nas medidas severas contra ela até
alcançar o limite do seu poder para destruir o povo de Deus quando fizerem o
decreto proibindo o comprar e vender impondo a sentença de morte àqueles que
não se conformarem. A marca e o número da besta serão indelevelmente impressos
nas testas daqueles que descem às profundidades da depravada impiedade. Ao
separarem-se da protecção de Deus precisamente na altura em que a impiedade que
nutriram desenvolveu as piores paixões nos homens e tiraram as terríveis forças
da natureza do controlo de Deus, os que rejeitaram as graças e a misericórdia
de Deus tornar-se-ão as vítimas da terrível destruição que transformará todo o
planeta em total ruína. Embora os homens não possam compreender quais serão os
resultados finais do seu caminho actual, a cataclismo vem da mesma maneira. Nada
pode ser evitado a menos que os homens se arrependam e voltem para o Senhor, um
caminho que a segura palavra da profecia nos assegura que eles não tomarão.
Todavia,
o Deus de toda a sabedoria e poder pode ver qual será o selvático resultado e,
em amor e misericórdia, encarregou o poderoso terceiro anjo de advertir contra
esta destruição vindoura exactamente como informou os povos do mundo nos dias
de Noé do iminente dilúvio que inundaria completamente toda a Terra, tal como
aconteceu.
Mas há
outro aspecto do terceiro anjo. Ele não apenas indica a resultado final da
rejeição do evangelho, mas também da rejeição do evangelho, mas também fala da
plenitude da sua aceitação. Em primeiro lugar, os que o receberam
experimentaram a queda de Babilónia de dentro de si próprios, uma queda que não
os arrasta para baixo, mas os eleva a um plano mais elevado da experiência
espiritual. Para aqueles que perseveram na aplicação do evangelho a cada um dos
problemas da vida, o galardão final é o selo de Deus, que é a justa antítese da
marca da besta.
Bem
aventurados aqueles que recebem o selo de Deus em vez da marca da besta. Eles
serão os 144.000, os sem pecado que serão os especiais companheiros de Cristo
por toda a eternidade porque Cristo atingiu dentro deles um nível de excelência
que mais ninguém alcançou. Que todos os seguidores de Cristo hoje lutem para
serem membros desse maravilhoso grupo.
A luz
da mensagem do terceiro anjo começou a brilhar sobre os filhos de Deus às
primeiras horas do dia 23 de Outubro de 1844, a manhã a seguir ao grande
desapontamento. O clamor da meia-noite que deu poder à mensagem do segundo anjo
e fez com que cinquenta mil se separassem das igrejas que rejeitaram a
mensagem, também tinha levado os crentes a esperar o aparecimento pessoal de
Cristo em poder e grande glória. Eles não compreenderam que a verdadeira
natureza dos acontecimentos a terem lugar no final dos 2.300 anos era a vinda
de Cristo, não à Terra, mas ao lugar santíssimo do santuário celestial.
Este
trágico erro não pode ser atribuído a qualquer deficiência da mensagem do modo
como Deus a deu, nem a qualquer invenção da parte d’Ele. O Senhor fez tudo o
que podia ser feito para os salvar deste engano, mas o conceito errado há tanto
tempo estabelecido herdado dos erros papais ocultou tanto a luz que os crentes
não podiam ver claramente a verdade.[1]
Durante
as longas horas de 22 de Outubro de 1844, os crentes tiveram que esperar e
orar, desejar e ter esperança. Como o Senhor não apareceu nesse dia, muitos
esperaram durante toda a noite até nascer o novo dia. Hiram Edson era o chefe
da comunidade de crentes em Port Gibson, Nova Iorque, uma pequena comunidade a
meio caminho entre Siracusa e Buffalo. A sua casa de campo, uma milha a sul da
cidade, era frequentemente usada como lugar de reunião por todos os que estavam
vigiando e esperando o regresso do Senhor. Outra pessoa importante associada ao
grupo ali era O.R.L. Crosier.
Quando
o final do novo dia por fim quebrou todas as suas esperanças, muitos dos que se
tinham reunido na casa de Hiram Edson voltaram desolados para as suas casas,
mas alguns permaneceram para orar. Foram para o celeiro e ali ajoelharam juntamente
onde derramaram as suas almas perante Deus com o mais intenso desejo de obter
uma resposta para o seu problema.
“Eles
oraram até que veio a convicção que as suas orações tinham sido ouvidas e
aceites e que a Sua palavra é verdade e
certeza. Ele tinha-os abençoado graciosamente na sua experiência do advento
e Ele com certeza tornaria conhecido para eles a natureza do seu erro e
revelaria a Sua orientação e o Seu propósito. A causa da sua perplexidade
tornar-se-ia tão clara como o dia, disse ele. Tende fé em Deus!” The
Prophetic Faith of our Fathers, 4:879-881, por LeRoy Edwin Froom.
Depois
do pequeno-almoço, Hiram Edson sugeriu a um dos presentes que é identificado
por J.N. Loughborough como sendo O.R.L. Crosier que fossem juntos e
encorajassem alguns dos desapontados. Naturalmente, evitaram as estradas
principais onde sabiam que enfrentariam o ridículo e a troça e começaram a
caminhada através do campo de milho de Hiram Edson. Caminharam silenciosamente,
perdidos nos pensamentos à medida que as suas mentes tentavam lutar contra os
problemas que os confrontavam. Subitamente, Hiram Edson parou, com a sua face
levantada para os céus. A luz estava a brilhar na sua mente. As grandes
verdades que tinham estudado de Hebreus
a respeito do ministério de Cristo no santuário celestial mas que não tinham
compreendido, caíram agora repentinamente no lugar. Viu que os dois ministérios
no santuário do Antigo Testamento era um padrão exacto dos dois ministérios a
cumprir-se no celestial. Então compreendeu claramente que Cristo tinha vindo,
não ao terrestre como esperava o Seu povo, mas ao lugar santíssimo do santuário
celestial. Ao mesmo tempo, viu que, em Apocalipse
10, o Senhor predisse a própria experiência pela qual estavam a passar nessa
altura. Compreendeu pela profundidade da sua própria experiência quão doces as
mensagens de Daniel se haviam tornado
à medida que se deleitavam nelas dia após dia, mas quão amargo tinha sido o
subsequente desapontamento.
Hiram
Edson rapidamente comunicou a sua nova compreensão aos companheiros que
rapidamente reconheceram a veracidade destas propostas. Juntamente se
apressaram de casa em casa falando da luz que tinham visto. Estavam animados
com nova inspiração, coragem e esperança como os discípulos que, depois de
terem reconhecido Cristo a caminho de Emaús, correram todo o caminho de volta a
Jerusalém a fim de informar os outros discípulos.
Os
crentes em breve reconheceram que havia um paralelo aproximado entre o
desapontamento sofrido pelos discípulos e a amarga experiência que então
acabavam de passar. sabiam que a causa do desapontamento na cruz foi uma grave
má compreensão que tinha coberto as mentes dos discípulos a respeito da
verdadeira natureza da missão de Cristo. Agora viram que este tinha sido também
o seu problema. Tinham erradamente acreditado que esta Terra era o santuário
que Cristo tinha vindo purificar. Assim, em vez de terem visto Cristo a
transitar do primeiro para o segundo compartimento para purificar o santuário
no Céu, tinham esperado que Ele viesse à Terra. Depois de terem visto este
ponto, o povo do advento que foi capaz de aceitar esta luz esclarecedora, foram
levados a fazer um intenso e exaustivo estudo dos serviços do santuário no tipo
e no antítipo.
À
medida que o faziam, mais luz estreitamente ligada começou a abrir-se perante
eles vinda do Sumo-Sacerdote que ministrava no lugar santíssimo do Céu. Em
primeiro lugar, o repouso do sétimo dia chamou a atenção deles como o
verdadeiro dia designado por Deus. Os Baptistas do Sétimo-dia tinham fielmente
preservado o dia apontado por Deus nos mandamentos, mas os adventistas eram
ainda na generalidade guardavam o domingo.
Os
Baptistas do Sétimo dia eram cépticos quanto às verdades do advento porque não
viam sinal da parte dos adventistas de serem levados a observar o repouso do
sábado. Por outro lado, os adventistas, que vinham dum passado protestante que
guardavam o domingo, estavam inclinados a olhar o chamamento à observância do
sábado como uma tentativa de os levar de volta à escravidão da lei. Contudo,
apesar destes preconceitos, as duas correntes tinham que ser unidas.
O
primeiro passo foi alcançado por Rachel Preston que convenceu Frederick
Wheeling que o Senhor tinha, pela lei, estabelecido o sétimo e não o primeiro
dia da semana como dia santo. Isto aconteceu na Primavera de 1844. Thomas M.
Preble, um ministro baptista convertido aos ensinamentos do advento, começou a
observância do sábado em Agosto de 1844. Contudo, nenhum deles impôs as suas
opiniões. Nenhum grupo observador do sábado emergiu entre os adventistas antes
do grande desapontamento.
Depois
do desapontamento mas antes do final do ano, William Farnsworth levantou-se
numa reunião e declarou que o seu estudo da Bíblia o levou à conclusão que o
sétimo dia era o dia de repouso e que estava decidido a deixar de considerar o
domingo como um dia santo. O seu irmão, Cyrus e alguns outros foram de igual
modo convencidos e foi formado o primeiro grupo de adventistas observadores do
sábado. Rachel Preston rapidamente aceitou a fé do advento depois disso.
Thomas
M. Preble apresentou o sábado a Joseph Bates e John Nevins Andrews. Joseph
Bates, um capitão marítimo, aprendeu esta importante verdade quando, em Março
de 1845, estudou os artigos de Thomas Preble a respeito do sábado, Hope of Israel, (Esperança de Israel.) Ele em breve se tornou um defensor muito
forte do repouso do sábado com o resultado que outros adventistas se
converteram a esta verdade.
James e
Ellen White no início não estavam entre eles, mas, depois do seu casamento,
deram cuidadosa e honesta consideração aos argumentos nos escritos de Joseph
Bates com o resultado que chegaram à compreensão da genuína verdade a respeito
do dia sagrado. Eles, com outros crentes foram levados a ver a poderosa ligação
entre o santuário e o sábado. Quanto estas duas verdades foram juntas, cada uma
contribuiu poderosamente para a outra.
O
terceiro desenvolvimento que veio a ser considerado como uma marca
identificadora da igreja remanescente, foi o derramamento do dom da profecia
que foi manifestado no ministério de Ellen Gould Harmon, mais tarde conhecida como
Ellen G. White.
Ela
nasceu em Gorham, Maine, em 1827, com a sua irmã gémea, as mais jovens de uma
família com oito filhos. Nada houve de invulgar nos seus primeiros anos. A sua
disposição para as coisas espirituais foi evidenciada pelo seu interesse na
idade de oito anos por um relato num jornal de um pregador inglês que predizia
a vinda de Cristo daí a trinta anos. Ela levou-o para casa e ficou
profundamente impressionada com a necessidade de estar preparada para o grande
acontecimento.
Entre
1837 e 1843, lutou para encontrar a paz com Deus. No meio desta luta quando
tinha quinze anos, William Miller deu a sua segunda série de pregações em
Portland, Maine, na Igreja Cristã da rua Casco. A família Harmon assistiu a estas reuniões e
aceitou a mensagem do advento. Por esta altura, a Igreja Metodista tinha
condenado a obra de William Miller e a família Harmon foi excomungada por causa
das suas convicções e ensinamentos.
Nem
todos os ministros metodistas se submeteram às autoridades da igreja. Levi
Stockman foi um dos que ficou do lado da verdade e encorajou grandemente Ellen
a crer que o Senhor tinha uma obra especial para ela fazer. Foi por esta altura
que ela alcançou uma positiva libertação do senhor do pecado interior e começou
uma vida como cristã renascida. A experiência veio numa reunião de oração. Ela
recorda isto nestas palavras:
“Ao
ajoelharem-se os outros para orar, prostrei-me com eles, trêmula. E, depois de
haverem orado algumas pessoas, alcei a voz em oração, antes que disso me
apercebesse. Naquele instante, as promessas de Deus pareceram-me semelhantes a
tantas pedras preciosas que deveriam ser recebidas apenas pelos que as
pedissem. Enquanto orava, o peso e agonia de alma que havia tanto tempo eu
suportava, deixaram-me, e a bênção do Senhor desceu sobre mim, semelhante ao
orvalho brando. Louvei a Deus de todo o meu coração. Tudo parecia excluído de
mim, exceto Jesus e Sua glória, e perdi consciência do que se passava em redor.
“O
Espírito de Deus pousou sobre mim com tal poder que não pude ir para casa
aquela noite. Quando voltei a mim, estava sendo tratada em casa de meu tio,
onde nos tínhamos congregado para a reunião de oração. Nem meu tio nem minha
tia fruíam a religião, posto que ele já houvesse feito profissão de fé, havendo
esmorecido depois. Contaram-me que, enquanto o poder de Deus se apossava de mim
de maneira tão peculiar, ele ficara grandemente perturbado e andara pela sala,
sofrendo incomodidade e angústia de espírito.
“Quando
a princípio caí, alguns dos presentes ficaram grandemente alarmados e estavam
para correr em busca de médico, julgando que alguma indisposição súbita e
perigosa me houvesse acometido; mas minha mãe lhes disse que me deixassem só,
pois era evidente para ela e para os outros cristãos experientes, que fora o
maravilhoso poder de Deus que me prostrara. Quando voltei para casa, no dia
seguinte, grande mudança ocorrera em meu espírito. Dificilmente parecia ser eu
a mesma pessoa que deixara a casa de meu pai na noite anterior. Esta passagem
estava continuamente em meu pensamento: ‘O Senhor é meu pastor: nada me
faltará.’ Sal. 23:1. Meu coração transbordava de felicidade, enquanto eu
suavemente repetia essas palavras.
“Uma Perspectiva do Amor do Pai
“A fé
tomou posse de meu coração. Experimentei um inexprimível amor a Deus, e tinha o
testemunho do Seu Espírito de que meus pecados estavam perdoados. Minhas
opiniões acerca do Pai estavam mudadas. Considerava-O agora um Pai bondoso e
terno, ao invés de tirano severo que forçasse os homens a uma obediência cega.
Meu coração deixava-se levar a Ele em amor profundo e fervoroso. A obediência à
Sua vontade me parecia um prazer; era para mim uma alegria estar ao Seu
serviço. Nenhuma sombra nublava a luz que me revelava a perfeita vontade de
Deus. Experimentei a segurança de um Salvador que em mim habitava, e compreendi
a verdade do que Cristo dissera: “Quem Me segue não andará em trevas, mas terá
a luz da vida.’ João 8:12.
“Minha
paz e felicidade estavam em tão assinalado contraste com minha tristeza e
angústia anteriores que parecia como se eu houvesse sido libertada do inferno e
transportada ao Céu. Podia até louvar a Deus pela desgraça que fora a provação
de minha vida, pois se tornara o meio de fixar meus pensamentos na eternidade.
De natureza orgulhosa e ambiciosa, eu poderia não ter-me inclinado a entregar o
coração a Jesus, se não fosse a cruel aflição que me separara de vez das
glórias e vaidades do mundo.
“Durante
seis meses, nenhuma sombra me nublou o espírito, tampouco negligenciei um dever
sequer que conhecesse. Todo o meu esforço visava a fazer a vontade de Deus, e
conservar Jesus e o Céu continuamente em vista. Estava surpresa e extasiada com
as claras perspectivas que agora a mim se apresentavam do sacrifício expiatório
e da obra de Cristo. Não mais tentei explicar minhas lucubrações de espírito;
basta dizer que as coisas velhas haviam passado, e todas se tornaram novas. Não
havia uma nuvem para empanar minha perfeita ventura. Eu aspirava contar a
história do amor de Jesus, mas não sentia disposição para entreter conversação
vulgar com qualquer pessoa. Meu coração estava tão cheio de amor a Deus e
daquela ‘paz... que excede todo o entendimento’ (Filip. 4:7) que eu me
comprazia em meditar e orar.” Vida e
Ensinos, 29, 32.
Essa
foi uma experiência inesquecível através da qual Ellen Harmon passou quando
encontrou a paz que está para além da compreensão do homem. Foi nesta força que
ela foi capaz de suportar o temível teste trazido sobre si no grande
desapontamento e preparou-a para o papel especial que devia desempenhar durante
tanto tempo como mensageira de Deus para os crentes do advento.
A
primeira comunicação do Céu na forma de uma visão informativa veio em Dezembro
de 1844, quando estava de visita a casa de uma amiga, sra. Elizabeth Haines,
que vivia em South Portland, Maine. Ela estava ajoelhada em oração com algumas
outras jovens no altar de família, quando lhe foram apresentadas as viagens do
povo do advento desde o tempo do clamor da meia-noite ao estabelecimento do
reino eterno. Esta visão está relatada em Primeiros
Escritos, 13-20.
Nesta
altura tinha apenas dezassete anos, jovem, inexperiente e privada da escola
devido à enfermidade que oito anos antes tinha começado ao ser atingida no
nariz com uma pedra. Contudo, apesar destes factores, a luz enviada através
dela foi reconhecida pelos crentes mais próximos como sendo divinamente
revelada.
“Quando
Ellen Harmon relatou esta visão a um pequeno grupo de sessenta perplexos e
desapontados crentes adventistas em Portland, o seu conhecimento pessoal da sua
singular experiência cristã, sua sinceridade e sua vida consistente e natureza
prática da mensagem, levou-os a aceitar como uma mensagem do Céu.” The
Prophetic Faith of our Father, 4:980,
por LeRoy Edwin Froom.
Não terá
sido uma questão fácil aceitar estas manifestações da revelação divina nessa
altura. Havia muito a preocupar os crentes. Muitas vozes eram ouvidas a
proclamar que tinham uma mensagem do Céu destinada a resolver os problemas que
se levantavam da confusão envolvendo o acontecimento que tinha tido lugar no
final dos 2.300 anos. O fanatismo tinha procurado estabelecer-se entre os
crentes e havia divisão por todo o lado. Mas no meio de toda a confusão, as
ovelhas verdadeiras foram capazes de ouvir a voz do verdadeiro Pastor e iam
onde essa voz os levava.
Era
criticamente importante que os crentes adventistas que sobreviveram ao teste
esmagador do grande desapontamento chegassem a uma compreensão clara e unida da
verdade presente. Para alcançar isto, foram feitas seis conferências sobre o
sábado entre Abril e Novembro de 1848, em Connecticut, Nova Iorque, Maine e
Massachusetts. Aqueles que assistiram as estas reuniões trouxeram e
apresentaram muitos pontos divergentes. Dificilmente dois estavam de acordo. Sendo
os dedicados pioneiros que foram, voltaram-se para o profundo estudo e
diligente oração a fim de reconciliar as suas diferenças chegando à verdade. Nesta
crítica altura, o Senhor usou Ellen Harmon para colocar o Seu selo naquilo que
era a verdade, ao passo que, ao mesmo tempo, claramente indicou qual era o
erro. Este movimento tornou-se solidamente estabelecido na verdade presente. Ela
recorda a experiência nestas palavras:
“Temos
de estar firmados na fé segundo a luz da verdade que nos foi dada em nossa
primeira experiência. Naquele tempo, erro após erro procurava forçar entrada
entre nós; ministros e doutores introduziam novas doutrinas. Nós estudávamos as
Escrituras com muita oração, e o Espírito Santo nos trazia ao espírito a
verdade. Por vezes noites inteiras eram consagradas à pesquisa das Escrituras,
a pedir fervorosamente a Deus Sua guia. Juntavam-se para esse fim grupos de
homens e mulheres pios. O poder de Deus vinha sobre mim, e eu era habilitada a
definir claramente o que era verdade ou erro.” Obreiro Evangélicos, 302.
Por
esta miraculosa intervenção, os fundamentos da fé do advento foram lançados
profundamente e fortemente. O que era a verdade naquela altura ainda é verdade
hoje. Portanto, todo o crente em Jesus está sob a solene obrigação de descobrir
exactamente o que o Senhor revelou ao Seu povo naquela altura nos primeiros
dias do movimento do advento, porque aquelas são as verdades que levarão ao
reino. Grande luz tem sido revelada entretanto e muito mais está ainda para
vir, mas nada desta luz adicional jamais substituirá as mensagens dadas no início.
Aconteceu
assim que os três grandes ramos da mensagem do terceiro anjo foram fundidos – o
santuário, o Sábado e o Espírito de Profecia. Correctamente ensinado, porque
estavam no início do movimento do advento, foram poderosas apresentações do
evangelho – o vivo poder criador de Deus para salvar do pecado e estabelecer a
alma necessitada na justiça.
O
objectivo final das três mensagens é produzir um povo perfeito, do qual o
Senhor testificará: “Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que
guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12.
Quando
o terceiro anjo tiver acabado a sua obra sob o ministério do quarto anjo,
haverá um povo ilustre na Terra que, como resultado daqueles ministérios, terá
a paciência dos santos, os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. De nenhuma
maneira melhor podia Deus ter especificado as qualificações possuídas pelos que
através de quem o Senhor será capaz de por fim terminar a Sua obra. Os que
estavam equipados com estes atributos terão sido libertos de todas as
imperfeições que efectivamente destruíram qualquer esperança dos movimentos
anteriores de cumprirem a sua missão.
A impaciência do povo de Deus tem sido
manifesta uma e outra vez quando tomaram a obra de Deus nas suas próprias mãos
por sentirem que não podiam esperar mais que Deus fizesse o que tinha
prometido. Convenceram-se que o Altíssimo os tinha esquecido de modo que, se
não fizessem alguma coisa, então estariam sujeitos ao desastre.
Há
demasiados exemplos disto. Jeová prometeu pessoalmente a Abraão e Sara que
nasceria deles um filho, todavia os anos passaram sem qualquer indicação que a
promessa fosse cumprida. Confrontados com o aumento da idade avançada e pela
diminuição das possibilidades de gerarem um filho, perderam a paciência com
Deus e inventaram a sua própria forma de cumprir a profecia. Escusado será
dizer que o filho de Agar não era o filho da promessa.
Do
mesmo modo, Rebeca e Jacó não puderam esperar que Deus cumprisse a Sua palavra,
mas tomaram o assunto nas suas próprias mãos com a consequente terrível perda
para ambos.
Quando
Israel chegou a Cades Barneia, manifestou a mesma determinação de ter o seu
próprio caminho no lugar do caminho de Deus. Impacientes com aquilo que lhes
parecia ser um inseguro caminho de alcançar os seus objectivos, tomaram a obra
nas suas próprias mãos e perderam o direito de entrar na terra prometida.
A
triste história da impaciência humana e incredulidade continuou mesmo até aos
dias de Cristo e seguiu até à era da Igreja Apostólica. Os judeus não puderam
esperar que Cristo os libertasse de acordo com os caminhos d’Ele. Quando o
Messias não mostrou disposição de se exaltar a Si próprio ao trono, decidiram
impor a posição sobre Ele. Felizmente Ele compreendeu a paciência dos santos e
completamente recusou a homenagem errada deles. Ele demonstrou no deserto da
tentação que preferia morrer do que colocar-se no lugar do Pai e tomar a obra
nas Suas mãos.[2]
Essa foi uma das mais notáveis demonstrações da paciência dos santos jamais
dada e é uma área de estudo que dirige a atenção de toda a pessoa que deseje
tornar-se qualificada para um lugar na obra de Deus.
Somente
quando esta infinita confiante paciência for aprendida são os mandamentos de
Deus guardados, porque, no momento em que alguém toma a obra de alguém na sua
própria mão, essa pessoa transgrediu todos os mandamentos. Fez-se ela própria
Deus no lugar do Altíssimo; adorou uma imagem; tomou o nome do Senhor em vão,
chamando-se a si mesma filha do Altíssimo quando de facto está a trair a
relação; violou o princípio do princípio do sábado que reconhece apenas Jeová
como Solucionador de problemas; desonrou o Pai celestial; cometeu assassínio
naquilo que, pela separação da fonte da vida, literalmente se matou a si
próprio; cometeu adultério espiritual nos termos em que Deus acusou Judá e
Israel em Jeremias 3:8; roubou a
honra que somente pertence a Deus; levantou um falso testemunho contra a
fidelidade do Pai celestial; e cobiçou a posição que pertence unicamente ao
Infinito.
Tiago escreveu
a verdade literal quando disse: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e
tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.” Tiago 2:10.
Alguns
pregadores procuraram explicar isto usando a ilustração de uma corrente. Se um
elo fosse quebrado, toda a cadeia é quebrada mesmo se os outros elos continuem
intactos. Mas isto não é suficiente. O facto é que se um dos mandamentos é
quebrado, todos os outros também são quebrados. Todos os elos da cadeia são
afectados.
O grupo
de pessoas através de quem o Senhor por fim terminará a obra, será provado ao
ponto máximo da paciência. Uma vez terminada a provação, parecerão abandonados
à ira dos seus inimigos. Estarão extremamente conscientes que, se morressem,
Satanás terá ganho uma completa vitória no grande conflito como está escrito a
respeito da sua situação durante o tempo da angústia de Jacó: “Conta com as
multidões do mundo como seus súditos; mas o pequeno grupo que guarda os
mandamentos de Deus, está resistindo a sua supremacia. Se ele os pudesse eliminar da Terra, seu triunfo seria completo.
Ele vê que santos anjos os estão guardando, e deduz que seus pecados foram
perdoados; mas não sabe que seus casos foram decididos no santuário celestial.”
O Grande Conflito, 618.
À
medida que os justos vivos são colocados face a face com a morte e privados de
quaisquer evidências visíveis que o Senhor cuide deles, serão temivelmente
tentados a levantarem-se e fazer qualquer coisa em seu próprio benefício para
se salvarem, e, ainda mais importante, pela obra do Senhor. Mas, tendo
verdadeiramente e completamente desenvolvido a paciência dos santos, recusarão
completamente tomar a obra de Deus nas suas próprias mãos. “Na presença do
observador universo, declararão … ser menor desgraça sofrer seja o que for, do
que afastar-se de qualquer modo da vontade de Deus.” O Desejado de Todas as Nações, 121.
Assim
eles obedecerão a todos os mandamentos de Deus em perfeição pois mostram, não
só mera fé em Jesus, mas a própria fé
de Jesus. Há apenas uma forma pela
qual podem alcançar este nível de excelência e que é através do ministério da
mensagem do terceiro anjo em verdade. Não há outra forma.
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