Os sermões que Jones
e Waggoner pregaram na assembleia e nas sessões da Conferência da Associação
Geral não foram registrados; nem tampouco alguns de Ellen White. Mas podemos
conhecer a essência das suas mensagens em seus escritos. Waggoner foi o orador principal
acerca de Cristo e Sua justiça no congresso. Um de seus livros, publicado pouco
depois da conferência, leva o título de Christ and His Righteousness [Cristo e
Sua Justiça]. Nele expõe o que desejou transmitir em suas apresentações.
O Legislador Entrega-Se
Pelo Pecador
O livro inteiro é uma
radiante exaltação do amor de Deus e de Sua misericórdia segundo manifestada
por Jesus. Waggoner aconselha os seus leitores a “considerar a Cristo, de forma
contínua e inteligente”. “Cristo deve ser ‘elevado’ por todos os que crêem
n’Ele como o Redentor crucificado, cuja graça e glória são suficientes para
satisfazer as maiores necessidades do mundo; significa que deveria ser
‘elevado’ em Seu extraordinário encanto e poder como ‘Deus conosco’, de modo
que Seu atrativo divino possa assim atrair a todos para junto dEle” [Cristo e
Sua Justiça, págs. 5-6].
Nossa certeza de
perdão por todos os nossos pecados “está no fato de que o próprio Doador da
lei, Aquele contra quem” nos rebelamos e a quem temos desafiado “é o que Se deu
a Si mesmo por nós”. Em Cristo, Deus Se deu e Si mesmo por nossa redenção,
porque “não devemos imaginar que o Pai e o Filho estavam separados nesta
transação. Eram um só nisto, bem como em tudo o mais” [Idem, pág. 45].
“Que maravilhosa
manifestação de amor! O Inocente sofreu pelo culpado; o Justo pelo injusto; o
Criador pela criatura; o Autor da lei pelo transgressor da lei; o Rei por Seus
súditos rebeldes... O infinito Amor não poderia encontrar uma maior
manifestação de Si mesmo. Bem pode o Senhor dizer: ‘Que mais se podia fazer à
Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito?’ (Isaías 5:4)” [Idem, págs. 45 e 46.]
O amor divino
envolveu toda a criação. Por meio de Sua morte sobre a cruz Jesus redimiu o
mundo inteiro. “Ele não adquiriu uma certa classe, mas todo o mundo de
pecadores. ‘Porque Deus amor o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho
unigénito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna’ (João 3:16). Jesus disse: ‘O pão que Eu der é a Minha carne, que Eu
darei pela vida do mundo’ (João 6:51). ‘Porque Cristo, estando nós ainda
fracos, morreu a Seu tempo pelos ímpios’. ‘Mas Deus prova o Seu amor para
conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores’ (Romanos 5:6,
8)” [Idem, pág. 71.]
Gratuito Livramento do
Pecado
Havendo nos comprado
com o Seu sangue, Jesus aceita a todo pecador arrependido tal como é e o cobre
com o manto de Sua própria justiça. Ao fazê-lo, “não fornece um disfarce para o
pecado, mas remove o pecado. E isto mostra que o perdão dos pecados é mais que
uma mera forma, algo mais que um mero registro nos livros do céu, ao ponto de
ser cancelado o pecado. O perdão dos pecados é uma realidade; é algo tangível,
algo que afeta vitalmente o indivíduo. Realmente liberta-o da culpa; e se está
livre de culpa, está justificado, foi tornado justo, e certamente sofreu uma
mudança radical. É, na verdade, uma outra pessoa” [Idem, pág. 66]. Waggoner
mostrou que isto está de acordo com o ensino do apóstolo Paulo quando escreveu:
“Se alguém está em Cristo, nova criatura é” (II Coríntios 5:17).
Cristo Identifica-Se
Com o Pecador
Waggoner e Jones
sustentavam que o Redentor vai mais além de perdoar os pecados. O crente que
aceita a Jesus como seu substituto e seu fiador de salvação aprende a
considerá- Lo como seu exemplo e Aquele que o capacita a obter vitória sobre o
pecado, o que se relaciona intimamente com a encarnação de Cristo.
“O Salvador estava
profundamente ansioso por que Seus discípulos compreendessem para que fim Sua
divindade estava unida à humanidade. Ele veio ao mundo para manifestar a glória
de Deus, a fim de que o homem fosse erguido por Seu poder restaurador. Deus Se
revelou n’Ele, para que Se pudesse manifestar neles. Jesus não revelou
qualidades, nem exercer poderes que os homens não possam possuir mediante a fé
nEle. Sua perfeita humanidade é a que todos os Seus seguidores podem possuir,
se forem sujeitos a Deus como Ele o foi” (O Desejado de Todas Nações, pág.
664). “Nossa suficiência se encontra unicamente na encarnação e morte do Filho
de Deus” (Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 355).
Ao tomar nossa carne
ou natureza, Jesus uniu a humanidade com a divindade. “Em Cristo havia uma
sujeição do humano ao divino. Ele vestiu Sua divindade com humanidade, e pôs
Sua própria pessoa debaixo da obediência à divindade... Cristo requer que a
humanidade obedeça à divindade. Em Sua humanidade, Cristo foi obediente a todos
os mandamentos de Seu Pai” (Review and Herald, 9 de novembro de 1897).
Foi Sua divindade,
não Sua humanidade, o que permitiu que Jesus vencesse a toda traiçoeira
tentação que Satanás Lhe apresentou. A encarnação de Cristo garante que podemos
ser “participantes da natureza divina” (II Pedro 1:4). Desta forma nós também
podemos sair vitoriosos sobre a tentação e o pecado, como fez Jesus durante a
Sua encarnação ou enquanto habitou na carne humana.
Por meio da encarnação,
explicava Waggoner, “Cristo tomou sobre Si a igualdade com o homem a fim de que
pudesse redimir o homem”. Continua dizendo: “Deve ter sido ao homem pecador que
Ele Se assemelhou, porque é ao homem pecador que Ele veio redimir. A morte não
teria poder sobre um homem sem pecado, assim como Adão foi no Éden; e não
poderia ter poder sobre Cristo, se o Senhor não houvesse tomado sobre Si a
iniquidade de todos nós. Mais ainda, o fato de que Cristo tomou sobre Si mesmo
a carne, não de um ser sem pecado, mas do homem pecador, ou seja, que a carne
que assumiu tinha as debilidades e tendências ao pecado às quais está sujeita a
natureza humana caída, se vê na declaração de que ‘nasceu da descendência de
Davi segundo a carne’. Davi tinha as paixões da natureza humana” [Cristo e Sua
Justiça, págs. 26-27].
Depois de citar II
Coríntios 5:21, que diz: “Àquele que não conheceu pecado, [Deus] O fez pecado
por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus”, Waggoner comentava:
“Isto é muito mais forte que a declaração de que foi feito ‘em semelhança da
carne do pecado’ [Romanos 8:3]. Ele foi feito pecado... O imaculado Cordeiro de
Deus, que não conhecia pecado, foi feito pecado. Sem pecado, no entanto, foi
não só contado como pecador, mas tomou sobre Si a natureza pecaminosa. Ele foi
feito pecado para que nós fôssemos feitos ‘justiça’” [Idem, págs. 27-28].
A Impecável Vida de
Cristo
Mas ainda que
Waggoner apresentasse a Jesus como tendo tomado a nossa natureza pecaminosa,
cuidou para não considerá-Lo um pecador. Disse:
“Alguns podem ter
pensado, lendo até aqui, que estamos depreciando o caráter de Jesus, ao
trazê-Lo ao nível do homem pecador. Pelo contrário, simplesmente estamos
exaltando o ‘poder divino’ de nosso bendito Salvador, que voluntariamente
desceu ao nível do homem pecador, para poder exaltar o homem a Sua própria
imaculada pureza, que reteve mesmo nas circunstâncias mais adversas. Sua
humanidade somente velou a Sua natureza divina... Durante toda a Sua vida houve
uma luta. A carne, movida pelo inimigo de toda justiça, tendia ao pecado, no
entanto, Sua natureza divina, nunca, nem por um momento abrigou um desejo mau,
nem vacilou por um momento o Seu poder divino” [Idem, págs. 28-29].
Como Podemos Vencer
Waggoner animava a
seus ouvintes e a seus leitores com a declaração: “Você poderá ter o mesmo
poder que Ele teve se desejar. Ele foi capaz de ‘compadecer-Se ternamente’ das
nossas fraquezas (Hebreus 5:2) mas ‘sem pecado’ (cap. 4:15), porque o poder
divino morava constantemente com Ele” [Idem, pág. 29].
Waggoner se referiu à
promessa de Deus feita através do apóstolo Paulo em Efésios 3:14-19, de que
cada crente pode ser fortalecido por Cristo ao morar em seu coração pela fé
mediante o Espírito Santo. Desta forma cada alma disposta pode ser cheia com a
plenitude de Deus, que é capaz e está ansioso de dar-nos força “mais
abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos”. Todo o poder que residia
em Cristo pode morar em nós pela graça divina, porque Ele nos concede
gratuitamente.
Waggoner
confiantemente afirmou que Alguém mais forte que Satanás pode morar
continuamente no coração do crente. E assim, o crente pode enfrentar os ataques
de Satanás e dizer: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”
(Filipenses 4:13) [Idem, págs. 29-31].
A mensagem de justificação
pela fé apresentada no congresso de 1888, foi verdadeiramente uma mensagem de
esperança e vigor. Oferecia perdão para todos os pecados. Mais ainda, oferecia
a vitória sobre o pecado. Waggoner desejava que os cristãos, antes relutantes,
decidissem viver confiantemente, amando a Deus.
No entanto, Waggoner
advertiu que Satanás não estava disposto a deixar que seus antigos escravos
escapassem sem luta. Admoestou a cada seguidor de Cristo a lembrar-se sempre
que Cristo o havia libertado e que já não é mais escravo de Satanás. Mas a
vitória exige ceder continuamente á vontade de Deus. Afastado dela, não há
vitória [Idem, págs. 92-95].
Ao dar esta receita
para vencer a tentação, Waggoner voltou à sua advertência inicial: Mantenham
seus olhos, seus pensamentos e seus afetos em Jesus. Em um de seus sermões,
registrado na revista Signs of the Times de 25 de março de 1889, Waggoner
utilizou ilustrações da história para mostrar como Jesus fortalecerá o pecador
fraco mas arrependido, em sua luta contra o pecado e contra Satanás.
“Os soldados de
Alexandre [o Grande] –escreveu- eram conhecidos como os invencíveis. Por quê?
Era devido a serem naturalmente mais fortes e mais valentes que todos os seus
inimigos? Não; mas porque eram liderados por Alexandre. A sua força estava em
sua liderança. Debaixo de outro líder haveriam sido derrotados inúmeras vezes.
Quando o exército da União estava fugindo, aterrorizado diante do general
Winchester, a presença de Sheridan [general norte-americano durante a Guerra da
Secessão] tornou a sua derrota em vitória. Sem ele, os homens constituíam uma
multidão temerosa; com ele à frente, eram um exército invencível. Se vocês
tivessem escutado os comentários dos soldados que estavam a mando destes
líderes e de outros como eles depois da batalha teriam escutado louvores ao seu
general em meio de todo regozijo. Eram fortes porque ele o era; estavam
inspirados pelo mesmo espírito que ele tinha”.
Vitória ao Olhar Para
Cristo
Os pensamentos de um
crente vitorioso não devem dirigir-se para as tentações e as dificuldades.
Waggoner disse que se os pensamentos de uma pessoa se detêm nas tentações,
inevitavelmente será vencido por elas. Ao contrário, os pensamentos de um
cristão vitorioso devem centralizar-se em Deus e em Seu poder. Como exemplo disto,
se referiu ao rei Josafá de Judá, cuja vitória sobre os moabitas e os amonitas
está registrada em II Crónicas 20.
Waggoner recordou a
seus leitores que tão prontamente Josafá recebeu a notícia da invasão inimiga,
se aproximou de Deus. De pé, com seu povo no átrio do templo, derramou sua alma
a Deus em oração. Disse: “Na Tua mão há força e potência, e não há quem Te
possa resistir” (II Crónicas 20:6). Dirigiu-se a Deus em seu próprio nome e no
de seu povo, “os nossos olhos estão postos em Ti” (verso 12). Enquanto o rei e
o povo se humilhavam diante de Deus e mantinham os seus olhos fixos n’Ele, Deus
lhes deu uma grande vitória sobre seus inimigos. Waggoner disse: “Certamente, o
homem que, na hora da necessidade, começa sua oração com tal reconhecimento do poder
de Deus, já tem a vitória do seu lado. Mas notem que Josafá não somente
declarou sua fé no maravilhoso poder de Deus, mas também reivindicou a força de
Deus apropriando-se dela”.
Por suas próprias
forças nenhuma pessoa pode derrotar a Satanás. Mas no momento da tentação cada
crente deveria recordar-se da promessa de Deus a Josafá, aconselhou Waggoner.
“Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão; pois a peleja
não é vossa, mas de Deus” (verso 15) [Idem, págs. 78-80]. Waggoner ansiava que
o indivíduo cheio do Espírito Santo e com os seus olhos em Jesus obtivesse a
vitória sobre o pecado: “Que maravilhosas possibilidades há para o cristão! Que
alturas de santidade pode alcançar! Não importa quanto Satanás possa lutar
contra ele, atacando-o em seu lado mais fraco, pode habitar debaixo da sombra
do Onipotente, e estar cheio da plenitudade da força de Deus. Aquele que é mais
forte que Satanás pode habitar continuamente em seu coração; e assim,
observando os ataques de Satanás como se estivesse firmado sobre uma imponente
fortaleza, pode dizer: ‘Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece’
(Filipenses 4:13)” [Idem, págs. 30-31].
O Santuário e a
Justiça Pela Fé
De acordo com Jones e
Waggoner, a vitória sobre o pecado advém de uma correta compreensão da verdade
acerca do santuário. Ellen White compartilha desta idéia. Em seu sermão de 20
de outubro de 1888, o primeiro sábado da conferência de Mineápolis, disse:
“Cristo está agora no santuário celestial. O que está fazendo? Está fazendo expiação
por nós, purificando o santuário dos pecados do povo. Portanto devemos entrar
pela fé no santuário com Ele, devemos começar a obra no santuário de nossa
alma. Devemos limpar-nos de toda contaminação. ‘Purifiquemo-nos de toda a
imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus’
(II Coríntios 7:1)” [A. V. Olson, Thirteen Crisis Years, pág. 276.]
Para Ellen White a
resposta pessoal em relação com a purificação do santuário celestial envolvia a
purificação do templo da alma de cada crente. Isto se reflete em seus escritos
posteriores. Em 1890 escreveu: “Cristo está purificando o templo celestial dos
pecados do povo, e devemos trabalhar em harmonia com Ele sobre a Terra,
purificando o templo da alma de sua contaminação moral” [Review and Herald, 11
de fevereiro de 1890].
Ellen White chamava a
esta compreensão da justificação pela fé de “mensagem do terceiro anjo, em
verdade” [Review and Herald, 11 de abril de 1890.] Esta verdade deveria reunir
as pessoas que “guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apocalipse 14:12),
e prepará-los para encontrar-se com seu Senhor quando voltar em alegre paz. Ela
resumiu esta transformadora compreensão da justificação pela fé na frase “os
incomparáveis encantos de Cristo” [Olson, pág. 53].
Jones e Waggoner haviam captado pessoalmente a visão da inigualável
glória de Cristo. Tal conceito libertaria os crentes das garras do legalismo.
Por isso desejavam compartilhá-lo com os demais delegados da Conferência Geral
de Mineápolis de 1888.
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