Os Sete Anjos
Capítulo
15
O Papel das Primícias
Morrer a fim de pagar o preço da
redenção pela raça humana não é o único objectivo pelo qual Cristo deixou as
mansões celestiais. Se assim tivesse sido, então nenhum outro tipo para além do
cordeiro teria sido necessário para simbolizar a missão e profeticamente
definia a Sua obra.
Havia outra responsabilidade que o
Salvador tinha que suportar — aquela simbolizada por outro tipo — a oferta do
molho. Isto não precisava do pagamento de um resgate e por isso não envolvia a
morte sacrifical. Esta obra completou Ele antes da Sua morte, depois da qual
ficou livre para pagar a penalidade pelo pecado do homem. Isto é confirmado
pelo facto que, antes de expirar, declarou, “está consumado!” João 19:30. Ele podia ter dito, “Está
quase consumado”, ou “finalizarei agora”, mas não, a mensagem foi, “Está
consumado!”
“Cristo não entregou Sua vida antes que
realizasse a obra que viera fazer, e ao exalar o espírito, exclamou: ‘Está
consumado.’ João 19:30.” O Desejado de
Todas as Nações, 758.
Se alguém tivesse que fazer a pergunta a
muitos cristãos de hoje: “qual é a
obra que Cristo veio fazer à Terra?” certamente que responderiam prontamente
que veio para morrer a fim de pagar o resgate pelos nossos pecados e dar-nos a
esperança da vida eterna. Esta posição não ganha suporte no testemunho acabado
de citar, porque ela declara que a
obra que Cristo veio fazer era algo mais e foi cumprida na totalidade antes de
morrer e portanto, sem a Sua morte. Além do mais, uma vez que esta foi a obra que Ele veio fazer, então morrer
para pagar a penalidade do pecado da humanidade é secundário a esta
responsabilidade mais importante que o Redentor carregava. Qual, então, era a obra que Cristo veio fazer e que
estava completa antes da Sua vida ter sido levada d’Ele?
A resposta é dada no resto do parágrafo
cuja primeira frase citámos acima.
“Ganhara a batalha. Sua destra e Seu
santo braço Lhe alcançaram a vitória. Como Vencedor, firmou Sua bandeira nas
alturas eternas. Que alegria entre os anjos! Todo o Céu triunfou na vitória do
Salvador. Satanás foi derrotado, e sabia que seu reino estava perdido.” O Desejado de Todas as Nações, 758.
Tudo isto foi alcançado antes de morrer, não quando morreu ou perto da morte. A
vitória foi ganha, Satanás estava derrotado e sabia que muito bem que o seu
reino estava perdido. A ressurreição dos justos estava assegurada, porque as
primícias tinham feito a Sua obra e na perfeição.
Para compreender a natureza dessa
vitória, o crente tem que estudar os objectivos de Deus à medida que eles se
relacionam com os contra-objectivos de Satanás. O que é que o diabo estava a
tentar estabelecer e quais os meios pelos quais ele procurava atingir os seus
propósitos? Até que ponto tinha ele conseguido as simpatias mesmo dos anjos leais
e daqueles que professavam servir a Deus na Terra? Que possibilidades havia
para o arqui-enganador ser bem sucedido nas suas ambições egoístas? O que é que
o Messias teve que fazer para expor Satanás, frustrar os seus esquemas e
restabelecer a perfeita confiança nos caminhos de Deus? Até onde foi Ele bem
sucedido nisto quando estava pendurado na cruz?
Determinar a resposta correcta a todas
estas perguntas requer uma viagem ao passado até ao princípio do grande
conflito. Embora possa parecer que isto nos leva para muito longe do assunto
dos sete anjos, de facto não é assim, porque o fim do grande conflito nunca
pode ser compreendido a menos que os factores que o começaram sejam
compreendidos. O tempo passado a estudar o aparecimento da iniquidade e o desafio
ao governo divino nunca é demais, porque quanto melhor estas coisas forem
compreendidas, maior capacidade terá o dedicado estudante da Bíblia para
compreender as imensas responsabilidades que repousam sobre os movimentos dos
últimos anjos.
Contudo, não será feita aqui uma
exaustiva exploração de cada aspecto da mentira e rebelião de Satanás. A
atenção será dirigida para aquelas áreas importantes que estão mais
directamente relacionadas com o papel das primícias. É recomendado que, para
uma investigação mais profunda do aparecimento do pecado no universo seja feito
um estudo de The Spirit of the Papacy,
por A.T. Jones, do capítulo em Patriarcas
e Profetas com o título “Porque Foi Permitido o Pecado” e do capítulo em O Grande Conflito “Porque Existe o Sofrimento”,
juntamente com as apropriadas referências bíblicas.
Antes dos primeiros traços de orgulho
começarem a desenvolver-se em Lúcifer, havia um pulsar de harmonia em todo o
Universo. Deus tinha estabelecido um reino bastante diferente de qualquer um que
tenhamos na Terra hoje, um governo que era a expressão do Seu próprio carácter
de infinito amor. Neste sistema, ninguém era forçado a obedecer. Todo o ser
inteligente servia Deus porque estava convencido na sua mente e tinha a
disposição em si mesmo para crer que o caminho de Jeová era o único caminho da
felicidade e da paz. Todos os seres criados amavam o sistema. Tudo neles
respondia a isso e regozijavam-se por poder viver sob o comando de um Rei que
era tão sábio, terno e benigno.
Mas chegou um momento em que o mais
elevado de todos os seres criados, aquele que realmente andava mais próximo de
Deus, perdeu a sua apreciação pelas eternas realidades e ficou possuído de
objectivos inteiramente egoístas e não santificados. “Lúcifer, o querubim
cobridor, desejou ser o primeiro no Céu. Procurou dominar os seres celestes,
afastá-los de seu Criador, e receber-lhes, ele próprio, as homenagens.” O Desejado de Todas as Nações, 21.
Esses eram os objectivos de Lúcifer e
ele estava determinado a alcançá-los não importava o custo que isso pudesse ter
para outros. Para fazer isto tinha que
recorrer a um método que resultasse e o que ele precisava era de uma
representação errada do maravilhoso carácter de Deus.
“Portanto, apresentou falsamente a Deus,
atribuindo-Lhe o desejo de exaltação própria. Tentou revestir o amorável
Criador com suas próprias más características.” O Desejado de Todas as Nações, 21, 22.
Este procedimento alcançou os resultados
desejados. Qualquer que fosse o grau em que foi capaz de implantar os conceitos
errados a respeito do carácter de Deus na mente dos seres criados, nessa medida
estabeleceu rebelião contra Deus e Seu justo governo nessa pessoa.
“Assim enganou os homens. Levou-os a
duvidar da palavra de Deus, e a desconfiar de Sua bondade. Como o Senhor seja
um Deus de justiça e terrível majestade, Satanás os fez considerá-Lo como
severo e inclemente. Assim arrastou os homens a se unirem com ele em rebelião
contra Deus, e as trevas da miséria baixaram sobre o mundo.” O Desejado de Todas as Nações, 22.
Há uma inseparável ligação entre a
criação de ideias erradas acerca do carácter de Deus e a rebelião contra Ele. A
primeira é a causa da última. Onde se encontre uma, a outra também estará
presente, como está escrito: “A Terra obscureceu-se devido à má compreensão de Deus.” O Desejado de Todas as Nações, 22.
Esta frase forte declara em primeiro
lugar um facto claro — “A Terra obscureceu-se”. A palavra “devido” que se
segue, indica que a causa deste obscurecimento está prestes a ser revelado,
porque é devido à má compreensão
acerca do carácter de amor de Deus que esta treva caiu sobre o mundo.
Esta identificação da má compreensão a
respeito do carácter de Deus como causa da rebelião e trevas é algo que deve
ser reconhecido por todo o estudante da Bíblia que está fielmente dedicado ao
serviço de Deus no conflito final. Todos devem chegar ao conhecimento que onde há má compreensão acerca do
carácter de Deus, há rebelião.
Não há excepções a esta regra. Um
cuidadoso estudo do desenvolvimento desse orgulho que em Lúcifer levou ao
início da guerra contra Deus, prova que a rebelião não apareceu nele enquanto
não formou em primeiro lugar um conceito errado acerca do carácter de Deus.
Somente então entrou ele em conflito com o Pai eterno.
O problema começou quando esse mais
elevado dos seres criados começou a perder de vista o facto que todas as coisas
que ele possuía tinham vindo da Fonte altíssima, Jeová, através do ministério
do Seu Filho, Jesus Cristo. Esta é uma armadilha em que se cai demasiado
facilmente, como é evidente pelo número de pessoas que têm deixado o caminho da
justiça através desta tentação. O tão repetido padrão é assim:
Quando chega a altura de Deus construir
um novo movimento que deverá substituir o que caiu em irrecuperável apostasia,
fá-lo sempre da mesma maneira. Ele transmite a Sua luz ao mundo através de um
mensageiro escolhido cujo único papel é ser o canal de comunicação para os
perdidos. Em sentido algum deve este mensageiro construir uma mensagem
propriamente sua. Ele deve manter-se sempre o porta-voz de Deus, exactamente
como o Senhor comunicou a obra a Jeremias.
“Então disse eu: ‘Ah, Senhor Deus! Eis
que não sei falar; porque ainda sou um menino.’ Mas o Senhor me disse: ‘Não
digas: “Eu sou um menino;” porque a todos a quem Eu te enviar, irás; e tudo
quanto te mandar, falarás.’” Jeremias
1:6, 7.
Em primeiro lugar o mensageiro vê que
está inteiramente só confrontado com uma tarefa de dantescas proporções.
Compreendendo que não tem capacidade em si mesmo para satisfazer as prementes
necessidades, confia totalmente nos poderes e provisões residentes no Pai
celestial. À medida que se aproxima de amplos e adequados suprimentos da fonte
da salvação, a obra começa a prosperar e em breve juntam-se outros a ele que
colocam os seus recursos ao dispor do Senhor. Nesta fase, nenhum traço de
auto-suficiência é visível, porque todos estão muito conscientes da sua
dependência do Altíssimo.
Breve vem o tempo em que a obra abranda
porque muitos dos que foram chamados caem outra vez no seu estado de torpor e as
exigências sobre o mensageiro diminuem. Este é um ponto perigoso porque, devido
à sua confiança em Deus, abundantes meios convergiram para o movimento e posse
pessoal dos membros. Isto tende a desenvolver um falso sentido de segurança no
ser humano. A premente necessidade de olhar para Deus como Dador diminui,
porque já há fundos disponíveis para cuidar do futuro visível. A tendência
agora é transferir a confiança do Dador dos dons para os dons que têm vindo do
Dador. Confiança própria e segurança começam a estabelecer-se e crescem até que
por fim os homens olharão para si mesmos como a fonte de tudo o que têm,
enquanto deixam Deus inteiramente fora das suas considerações. 30/7/2005
Um rápido exame das atitudes de hoje
confirmarão que esta presente geração certamente chegou a este ponto. O século
passado viu alguns feitos da parte do homem, sendo o mais espectacular as
viagens no espaço, incluindo o passeio na lua e o envio de satélites para lá de
Marte, Saturno e Júpiter. Mas a quem foi dado o crédito por tudo isto? Os
homens atribuem a si mesmos a honra e a glória como se eles sozinhos fossem
responsáveis por estes sucessos.
Os mesmos desenvolvimentos apareceram em
Lúcifer. Não há informação revelando quantos milénios separaram o seu
afastamento da sua criação. Podia ter havido e provavelmente houve, milhões de
anos. Contudo, apesar de longo o tempo, não foi passado em ociosidade, porque
não há lugar para indolência num lugar tão intensamente activo como o Céu.
Durante todo esse tempo, Lúcifer gozou da satisfação que tinha origem no
exercício e desenvolvimento de todo o dom que o Senhor lhe tinha doado.
Continuamente, como o Senhor determinou que fosse, cresceu em conhecimento,
sabedoria e toda a capacidade para o bem. Bom teria sido se nenhum outro propósito
excepto o de Deus se tivesse revelado nele.
Enquanto esteve assim completamente
ocupado, o Criador, em virtude da Sua infinita humildade, permaneceu em
silêncio por detrás da cena, de tal modo que o querubim cobridor estava
consciente do papel de Deus mais pela fé do que pela vista. A sua própria
contribuição, embora insignificante em comparação com a de Deus, era muito mais
visível aos seus olhos e começou a ocupar a sua atenção mais e mais enquanto
crescentemente diminuía o seu reconhecimento de que tudo o que ele tinha, vinha
do eterno Pai.
As Escrituras declaram que: “Na
multiplicação do teu comércio
encheram o teu interior de violência, e pecaste....” Ezequiel 28:16.
Como esta acumulação de riqueza o levou
a considerar os dons do Dador e a sua parte no desenvolvimento dela como sendo
mais importante do que o próprio Dador, o orgulho, à medida que se desenvolvia
no seu coração e mente, atribuiu-lhe a posição mais elevada que no seu
pensamento agora lhe era mais apropriada. Tão grande foi a sua exagerada visão
de si próprio que agora contemplava com crescente satisfação e entusiasmo que
chegou a cobiçar a posição do próprio Cristo.
Contudo, até este ponto, nenhum conceito
errado acerca do carácter de Deus se tinha formado, e, embora o cancro
destruidor se estivesse a desenvolver nele, ainda não havia o pensamento de se
rebelar contra Deus. Isso somente viria depois de primeiro se formar na sua
mente o agora quase inevitável conceito errado a respeito de Deus. Isto
apareceu do seguinte modo:
Lúcifer compreendeu que Deus determinou
a cada uma das Suas criaturas a posição para a qual a sua habilidade e
conhecimento a tinha dotado. Como cada uma crescia em sabedoria e estatura, a
sua promoção avançava de igual modo e eram-lhe dadas responsabilidades mais vastas.
Até à altura em que agora estava com orgulho no seu coração, este brilhante
anjo nunca tinha tido qualquer causa para duvidar da sabedoria e integridade da
parte de Deus neste campo, e, confiante ainda que o Soberano do Universo não
tinha mudado, totalmente esperou que Ele o elevasse ao lugar mais elevado que
agora reclamava como seu por direito.
Não há dúvida que isto teria acontecido
se Deus tivesse a mesma avaliação que Lúcifer fez de si mesmo, mas, porque Deus
não pode aceitar uma conclusão errada, não podia e não fez quaisquer movimentos
para o promover.
No início o querubim estava pronto para
esperar por Deus, confiante que a sua elevação não demoraria muito a ser
anunciada, mas, quando o tempo passou sem que Deus manifestasse qualquer
intenção de dar a Lúcifer o que este pensava ser seu, o orgulho começou a
perguntar porque é que seria assim. Naturalmente, por causa do orgulho e
presunção agora o possuírem, não havia possibilidade dele olhar na direcção
certa para ver o problema. Estava tão seguro que não estava errado que lançou
todas as suas suspeitas sobre Deus.
Muito em breve concluiu que o Altíssimo
tinha entrado numa conspiração para manter sempre o Seu Filho Unigénito na
melhor e mais elevada posição, não importava quão merecedor outro pudesse ser
para ocupar esse lugar. Seguir um tal procedimento, enquanto professa completa
imparcialidade em relação a todas as Suas criaturas, era, na mente de Lúcifer,
enganador e despótico. Se as conclusões do querubim cobridor a respeito de si
próprio por um lado e as de Deus por outro estivessem correctas, assim teria
que ser.
Havia apenas uma forma em que o
descontente se podia ter salvo da rebelião. Antes de chegar tão longe como
tomar uma posição a propósito do carácter de Deus, devia ter admitido para si mesmo
que podia estar errado, enquanto reconhecia que não estava nele dirigir os seus
caminhos ou solucionar estes graves problemas. Somente Deus podia ser o
Solucionador de problemas e a Ele, em perfeita confiança, este brilhante anjo
devia ter ido. As explicações do Criador teriam sido suficientemente claras
para resolver a dificuldade e o pecado nunca teria levantado a sua cabeça má.
Em vez disso, no seu orgulho, escolheu
tratar ele o assunto, e, uma vez que o seu elevado espírito já tinha corrompido
a sua sabedoria, não havia possibilidade dele chegar a uma correcta conclusão
nesta questão. As Escrituras dão-nos advertência a respeito dele:
“Elevou-se o teu coração por causa da
tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra
te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti.” Ezequiel 28:17.
Corrupção é perversão ou decadência.
Sabedoria num estado de decomposição dificilmente é capaz dum raciocínio são e
por isso não produz conclusões correctas. Era portanto certo que quando Lúcifer
confiou nessa sabedoria corrompida para o manter no caminho certo, que se
afastou dele.
Tendo concluído que o Senhor do Universo
era um mentiroso, um déspota, um destruidor e um ser egoísta e que não havia
esperança que Deus lhe concedesse as suas exigências, Lúcifer tinha finalmente
chegado a um falso conceito acerca do carácter de Deus. E, exactamente nesse
ponto, apareceu a rebelião no seu coração e determinou obter pela força a
supremacia do Filho de Deus e colocar-se a si mesmo no Seu lugar.
Ele então moveu-se entre os anjos,
trabalhando com insidiosa astúcia para destruir a sua fé no perfeito e santo
carácter de Deus, de modo que eles se pudessem juntar a si na rebelião. Ficou
satisfeito por ver quão bem sucedido foi este esquema, porque no caso de todos
os anjos que acreditaram nestas mentiras acerca de Deus, a rebelião tomou o
lugar da lealdade. Depois, quando foi expulso do Céu, Satanás visitou Eva no
Éden e induziu-a a crer que Deus lhe tinha mentido para proteger a Sua posição.
Tendo colocado na sua mente o conceito errado acerca de Deus no lugar da
verdade acerca d’Ele, automática e imediatamente se uniu ao diabo na sua guerra
contra o Ser Omnipotente. “A Terra” em seguida “obscureceu-se devido à má
compreensão de Deus”. O Desejado de Todas
as Nações, 22.
Tão certamente como a causa da rebelião
foi determinada, a cura para ela é conhecida. Rebelião começou e foi o
resultado directo da introdução de falsas teorias a respeito do carácter de
Deus. Ela persistirá onde quer que aquelas mentiras sejam mantidas e será
terminada apenas quando estas falsidades tenham sido substituídas nas mentes de
todos os seres criados, perdidos ou salvos, com as ideias corrigidas a respeito
do Criador.
Esta é a obra que não pode ser alcançada
pelo pagamento do resgate pela culpa do pecador, apesar de ter sido uma tão
maravilhosa revelação do amor divino. Se todos os pecadores fossem perdoados e
levados para o Céu sem os erros acerca do carácter de Deus terem sido removidos
das mentes de todos os seres criados, a rebelião continuaria, impedindo com
isso o restabelecimento da perfeita paz e harmonia no Universo. Isto não seria
totalmente satisfatório sob todos os pontos de vista. Deus não pode aceitar a
continuação da rebelião, porque tem um custo demasiado elevado para os Seus
amados filhos. Ele não tem desejo de vê-los sofrer continuamente sem a
perspectiva do fim das suas dores.
A única solução que Deus pode aceitar
envolve a total erradicação de todo o traço de rebelião pela completa remoção
da causa. Tão profundamente tem isto que ser feito, que qualquer possibilidade
para o seu reaparecimento tem que ser completamente eliminada. Alcançar qualquer
coisa inferior a isto seria considerar Deus incapaz de resolver qualquer
problema que possa ameaçar o Seu reino. No momento em que essas deficiências
estivessem demonstradas, a fé no Altíssimo seria substituída pela
incredulidade, porque teria sido praticamente impossível aos seres criados
terem uma completa confiança num Soberano que fosse menos do que perfeito. Pelo
contrário, tal como Lúcifer com justificação fez, voltar-se-iam para si mesmos
como solucionadores de problemas. Que confusão e caos se seguiria então. Aquilo
que tem acontecido como fruto da rebelião de um anjo tem sido suficientemente
terrível. O que teria acontecido se todos os anjos, juntamente com todos os
habitantes dos inumeráveis mundos do Universo recorressem aos mesmos
procedimentos de Lúcifer! Que cancro teria alastrado por todos os cantos do
reino, que sofrimento seria o resultado e que trevas envolveriam todas as
coisas. Quando as terríveis implicações de qualquer fracasso em remover
totalmente toda a causa de rebelião forem compreendidas, será visto que se
Cristo tivesse limitado a Sua obra na Terra a nada mais do que ao pagamento do preço
da redenção pela transgressão do homem, o problema do pecado teria ficado por
solucionar. A rebelião teria infectado o reino para todo o sempre.
Portanto, Cristo tinha que seguir o
problema até que as últimas raízes fossem eliminadas.
Há apenas um único Ser no universo que
tem o poder para corrigir a compreensão errada a respeito do carácter divino e
esse é Jesus Cristo. Realizar isto foi a
obra que Ele veio fazer e era muito mais importante do que morrer para pagar o
preço da redenção para restaurar o homem ao Paraíso. É por isto que pode ser
verdadeiramente dito: “Cristo não entregou Sua vida antes que realizasse a obra
que viera fazer, e ao exalar o espírito, exclamou: ‘Está consumado.’ João 19:30.” O
Desejado de Todas as Nações, 758.
Desde o princípio do grande conflito,
Cristo era o Escolhido para destruir a obra de Satanás tirando-lhe a única arma
pela qual ele podia continuar a rebelião.
“A Terra obscureceu-se devido à má
compreensão de Deus. Para que as tristes sombras se pudessem iluminar, para que
o mundo pudesse volver ao Criador, era preciso que se derribasse o poder
enganador de Satanás. Isso não se podia fazer pela força. O exercício da força
é contrário aos princípios do governo de Deus; Ele deseja unicamente o serviço
de amor; e o amor não se pode impor; não pode ser conquistado pela força ou
pela autoridade. Só o amor desperta o amor. Conhecer a Deus é amá-Lo; Seu
caráter deve ser manifestado em contraste com o de Satanás. Essa obra,
unicamente um Ser, em todo o Universo, era capaz de realizar. Somente Aquele
que conhecia a altura e a profundidade do amor de Deus, podia torná-lo
conhecido. Sobre a negra noite do mundo, devia erguer-Se o Sol da Justiça,
trazendo salvação ‘sob as Suas asas’. Mal. 4:2.” O Desejado de Todas as Nações, 22.
A revelação do carácter de Deus nunca
poder ser realizada pelo exercício da força, porque, onde quer que um
governante tenha que recorrer ao poder coercivo ou engano para segurar o seu
reino, então é admitir que o seu sistema de governo é defeituoso. O carácter e
governo de Deus é tão superior a tudo o que o homem pode oferecer que ele
prevalece pelos seus próprios méritos. Tudo o que é necessário é que os olhos
dos homens sejam abertos para serem capazes de ver o sistema de Deus em
contraste com o de Satanás. Infelizmente, ainda é verdade que Satanás tem
homens tão enganados a respeito da natureza do seu carácter e do carácter de
Deus que eles ainda acreditam que o diabo tem a melhor oferta das duas.
Esta obra de despir Satanás do poder,
não podia ser realizada apenas pela declaração, muito embora houvesse a
tendência para pensar que a palavra de Deus no Céu era absoluta. Se unicamente
a palavra de Deus fosse suficiente, tal como devia ter sido, então nunca teria
havido um grande conflito. O assunto teria sido esclarecido quando “O Rei do
Universo convocou os exércitos celestiais perante Ele, para, em sua presença,
apresentar a verdadeira posição de Seu Filho, e mostrar a relação que Este
mantinha para com todos os seres criados.” Patriarcas
e Profetas, 36.
Nem a demonstração podia ser dada no
Céu, porque nada menos satisfaria as necessidades do confronto que não fosse
uma total exposição dos enganos de Satanás dada em contraste com a completa revelação da justiça de Deus. O pecado
tinha que desenvolver-se até à total maturidade de modo que ele pudesse ser
visto no seu aspecto mais feio e este estado não seria alcançado antes da
expulsão de Satanás e dos seus seguidores do Paraíso. Satanás deixou as cortes
celestiais com um ar muito santimonial e ainda assim mostrando muito poucos, se
alguns, dos efeitos do seu caminho pecador.
Foi na Terra que o resultado do domínio
de Satanás se tornou manifesto à medida que ele se desenvolvia até à completa
extensão nos corações dos homens, mas isto não aconteceu imediatamente. O poder
restringidor do Espírito Santo retardou os decididos esforços do diabo para
obliterar a imagem de Deus no homem, mas por fim, o mal de facto chegou à
maturidade total. Foi nessa altura que o Salvador apareceu, porque “... a
plenitude do tempo tinha chegado...”. Gálatas
4:4. Desse tempo está escrito:
“... Os transgressores tinham chegado à
sua plenitude...” Daniel 8:23
(The New King James.)
“O engano do pecado atingira sua
culminância. Todos os meios para depravar a alma dos homens haviam sido postos
em operação. Contemplando o mundo, o Filho de Deus viu sofrimento e miséria.
Viu, com piedade, como os homens se tinham tornado vítimas da crueldade
satânica. Olhou compassivamente para os que estavam sendo corrompidos, mortos,
perdidos. Estes tinham escolhido um dominador que os jungia a seu carro como
cativos. Confundidos e enganados, avançavam, em sombria procissão rumo à ruína
eterna — para a morte em que não há nenhuma esperança de vida, para a noite que
não tem alvorecer. Agentes satânicos estavam incorporados com os homens. O
corpo de criaturas humanas, feito para habitação de Deus, tornara-se morada de
demônios. Os sentidos, os nervos, as paixões, os órgãos dos homens eram por
agentes sobrenaturais levados a condescender com a concupiscência mais vil. O
próprio selo dos demônios se achava impresso na fisionomia dos homens. Esta
refletia a expressão das legiões do mal de que se achavam possessos. Eis a
perspectiva contemplada pelo Redentor do mundo. Que espetáculo para a Infinita
Pureza!
“O pecado se tornara uma ciência, e era
o vício consagrado como parte da religião. A rebelião deitara fundas raízes na
alma, e violenta era a hostilidade do homem contra o Céu. Ficara demonstrado
perante o Universo que, separada de Deus, a humanidade não se poderia erguer.
Novo elemento de vida e poder tinha de ser comunicado por Aquele que fizera o
mundo.” O Desejado de Todas as Nações,
36, 37.
As condições tornaram-se tão graves, a
apostasia tão profunda e a rebelião tão desafiadora, que os mundos não caídos
esperaram que o Altíssimo entregasse o mundo à completa e eterna destruição. Em
vez disso, Ele enviou o Seu Filho ao mundo para o salvar.
“Com intenso interesse, os mundos não
caídos observavam para ver Jeová levantar-Se e assolar os habitantes da Terra.
E, fizesse Deus assim, Satanás estaria pronto a executar seu plano de
conquistar a aliança dos seres celestiais. Declarara ele que os princípios de
Deus tornavam impossível o perdão. Houvesse o mundo sido destruído, e teria
pretendido serem justas as suas acusações. Estava disposto a lançar a culpa
sobre o Senhor, e estender sua rebelião pelos mundos em cima. Em lugar de
destruir o mundo, porém, Deus enviou Seu Filho para o salvar. Embora se
pudessem, por toda parte do desgarrado domínio, ver corrupção e desafio, foi provido
um meio para resgatá-lo. Justo no momento da crise, quando Satanás parecia
prestes a triunfar, veio o Filho de Deus com a embaixada da graça divina.
Através de todos os séculos, de todas as horas, o amor de Deus se havia
exercido para com a raça caída. Não obstante a perversidade dos homens, os
sinais da misericórdia tinham sido constantemente manifestados. E, ao chegar à
plenitude dos tempos, a Divindade era glorificada derramando sobre o mundo um
dilúvio de graça vivificadora, o qual nunca seria impedido nem retido enquanto
o plano da salvação não se houvesse consumado.” O Desejado de Todas as Nações, 37.
Enquanto o Senhor trabalhava
incansavelmente para evitar o desenvolvimento da apostasia total, a chegada
desta à completa maturidade era necessária para proporcionar as condições sob
as quais a glória do carácter divino pudesse ser demonstrada em contraste com a
malignidade do carácter satânico. Quando esta, a plenitude dos tempos tinha
chegado por fim, Cristo entrou no campo de batalha para lutar com o
arqui-apóstata. Satanás contestou cada centímetro da inexorável marcha de
Cristo para o Calvário onde a justiça do Pai devia aparecer no seu melhor
brilho em contraste com o carácter de Satanás no seu pior. Nos últimos momentos
da vida de Cristo, a vitória foi obtida, Satanás completamente exposto perante
o expectante Universo e a certeza que a rebelião chegaria ao fim foi vista. As
primícias tinham feito a Sua obra. Estava assegurado que a colheita havia de
vir.
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