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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

OS SETE ANJOS EM APOCALIPSE - CAPITULO 21 - F T Wright






Os Sete Anjos


Capítulo 21

 


Cristo Revela o Caminho


A prova pela qual passarão aqueles que formarão o movimento do quinto anjo — os 144,000 — será tão severa que é impossível alguém saber completamente quão terrível será a pressão antes do tempo chegar. Contudo, no Seu grande amor e misericórdia, o Altíssimo não deixou o Seu povo sem alguma indicação daquilo que têm de enfrentar e precisamente como se relacionarem com isso, com o mundo, uns com os outros e com o Senhor. Estas revelações são dadas nas experiências daqueles que passaram por tribulações que foram uma vívida amostra do futuro. Exemplos notáveis destas foram os conflitos pelos quais Cristo passou e venceu no monte da tentação e posteriormente no Getsêmane e a luta através da qual Jacó passou naquela noite de desesperado conflito.
Os filhos de Deus que estão agora a ser preparados para a crise que se aproxima, devem investir tanto tempo quanto possível na aquisição de um próximo e salvador conhecimento da prova através da qual passarão, de modo que, ao vir ela, possam estar equipados mental, física e espiritualmente para enfrentar o teste. O Senhor, que alerta completamente para a nossa necessidade de compreender estas coisas, tem dado adequada informação na Sua palavra inspirada de modo que aqueles que diligentemente estudam serão galardoados com uma completa preparação. Aqueles que realmente estudam diligentemente receberão revelações especiais tal como as que o Salvador recebeu.
Quando Cristo saiu do Jordão depois de ter sido baptizado por João, foi aberta perante Ele uma compreensiva ilustração da obra que estava à Sua frente e dos terríveis sofrimentos que consequentemente O acompanhariam.
“Sozinho devia trilhar a vereda; sozinho carregaria o fardo. Sobre Aquele que abrira mão de Sua glória, e aceitara a fraqueza da humanidade, devia repousar a redenção do mundo. Viu e sentiu tudo isso; firme, porém, permaneceu o Seu desígnio. De Seu braço dependia a salvação da raça caída, e Ele estendeu a mão para agarrar a do Omnipotente Amor.” O Desejado de Todas as Nações, 111.
Jeová honrou a ilimitada dedicação de Cristo com uma mensagem pessoal do Céu.
“E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre Ele.
“E eis que uma voz dos céus dizia: ‘Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo.’” Mateus 3:16, 17.
O Pai não podia dar melhor aprovação ao Seu Filho. Jesus sabia que tinha sido aprovado pelo Céu e que a Sua consagração a Deus fora totalmente aceite. Compreendeu que o Governador do Universo estaria ao Seu lado em todos os passos na longa e dura jornada para a cruz e regresso ao Céu. Estava confiante que podia deixar o planeamento da obra ao Seu Pai de infinita sabedoria.
Essa confiança devia ser terrivelmente testada no futuro imediato. Depois do Salvador se ter levantado das águas, o Espírito Santo encaminhou-O para uma solitária, árida e desolada região onde “Por jejum e oração Se devia fortalecer para a sangrenta vereda que Lhe cumpria trilhar. Mas Satanás sabia que Jesus fora para o deserto, e julgou ser essa a melhor ocasião de se Lhe aproximar.” O Desejado de Todas as Nações, 114.
“Quando Jesus chegou ao deserto, estava rodeado da glória do Pai. Absorto em comunhão com Deus, foi erguido acima da fraqueza humana. Mas a glória afastou-se, e Ele foi deixado a lutar com a tentação. Ela O apertava a todo instante. Sua natureza humana recuava do conflito que O aguardava. Durante quarenta dias, jejuou e orou. Fraco e emagrecido pela fome, macilento e extenuado pela angústia mental, ‘o Seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a Sua figura mais do que a dos outros filhos dos homens’. Isa. 52:14. Era então a oportunidade de Satanás. Julgou poder agora vencer a Cristo.” O Desejado de Todas as Nações, 118.
Quando Satanás atacou o Salvador tinha algumas forças extremamente poderosas do seu lado. Não admira que estivesse tão confiante que podia vencer Jesus. Por essa altura quase seis semanas de completa abstinência de alimento tinham passado, Jesus estava muito perto da morte. Magro, macilento e exausto, o Seu aspecto era lamentável. Todas as partes da Sua humanidade clamavam por alimento com um poder que era quase irresistível. O pior de tudo era a tremenda tentação do receio que o Seu Pai O tivesse abandonado, um aspecto que o diabo pressionou sobre Ele com a maior força possível.
Tinha sido fácil crer no cuidado e presença do Pai quando Este Lhe falou em tom poderoso e audível junto ao rio Jordão. Todo o Seu ser tinha respondido com satisfação e alegria à maravilhosa certeza contida no anúncio que havia brilhado sobre Ele do Céu. As palavras de Deus eram a declaração de uma relação em que — Deus era o Pai, Cristo era o Filho — e, por outro lado, o reconhecimento de uma responsabilidade pessoal da parte do Pai. Desse modo o Altíssimo estava a confirmar que tinha providenciado os planos e os meios para os levar à prática, enquanto Cristo não tinha mais a fazer que não executar a vontade de Deus onde, quando e como Jeová Lhe indicasse.
No início, o resultado deste esquema não criou problema. O Pai, através do Espírito Santo, encaminhou Jesus para o deserto a fim de passar tempo em preparação adicional para a obra da Sua vida e o Salvador humildemente obedeceu. Não tinha recebido instruções para levar suprimento de alimento Consigo, assim não se preocupou com isto. A Sua parte era obedecer à ordem do Senhor ao passo que deixava ao Seu Director celestial a provisão das Suas necessidades.
Ao princípio estava consciente da proximidade da presença do Pai, mas a glória afastou-se e Ele parecia ter sido deixado sozinho a lutar com a terrível tentação. Sob todas as aparências, o Pai tinha falhado em cumprir a Sua parte do contracto e não havia apoio ou conforto humano também. Não há nada mais terrível do que um ser humano sentir-se abandonado tanto por Deus como pelo homem, uma pressão de desespero e desencorajamento que o Salvador sentiu da forma mais profunda nesta altura. Aquilo que tornou as coisas infinitamente piores foi o facto que a vida em si mesma estava rapidamente a desaparecer. O tempo para Ele quase tinha expirado.
Satanás sabia exactamente o que devia fazer para ganhar a vitória neste encontro. Aproveitando ao máximo a vantagem das probantes circunstâncias em que Cristo estava colocado, devia levar o Salvador a crer que o Pai não estava a ouvir as Suas orações e que Ele devia tomar as coisas nas Suas próprias mãos a fim de preservar a Sua própria vida o tempo suficiente para assegurar que o plano da salvação fosse levado a cabo. Por outras palavras, o diabo devia levar o Salvador sofredor, se pudesse, a fazer exactamente como ele tinha feito no Céu, quando depois de perder a confiança no Pai, tomou as coisas nas suas mãos.
No Éden, foi bem sucedido levando Eva e depois Adão a dar o mesmo passo terrível. À medida que geração se seguia a outra geração, ele continuamente apresentou a mesma tentação e teve o prazer de ser bem sucedido o que repetidamente conseguiu. Agora que Jesus estava limitado à carne fraca, pecaminosa e mortal, Satanás estava confiante que também O podia vencer.
“As palavras do Céu: ‘Este é Meu Filho amado, em quem Me comprazo’ (Mat. 3:17), soavam ainda aos ouvidos de Satanás. Mas ele estava decidido a fazer Cristo descrer desse testemunho. A Palavra de Deus era a segurança de Cristo quanto à divindade de Sua missão. Viera viver como homem entre os homens, e era a palavra que declarava Sua ligação com o Céu. Era o desígnio de Satanás fazê-Lo duvidar dessa palavra. Se a confiança de Cristo em Deus fosse abalada, Satanás sabia que lhe caberia a vitória no conflito. Poderia derrotar Jesus. Esperava que, sob o império do acabrunhamento e de extrema fome, Cristo perdesse a fé em Seu Pai, e operasse um milagre em Seu benefício. Houvesse Ele feito isso, e ter-se-ia frustrado o plano da salvação.” O Desejado de Todas as Nações, 119.
O inimigo sabia que enquanto Jesus mantivesse a Sua confiança no Pai, confiaria n’Ele para Lhe dar protecção e guia. Cristo continuaria a crer que não havia necessidade de tomar as coisas nas Suas mãos, mas pelo contrário podia confiar no Pai para o fazer na altura certa tudo aquilo que havia prometido. Enquanto o Salvador fizesse isto, Satanás não podia ter poder sobre Ele.
Contudo, manter esta posição quando os dias se transformavam em semanas sem qualquer evidência visível do cuidado e presença de Deus é a prova mais difícil de suportar. Este facto manifesta-se a si mesmo no meio mais probante quando a obediência aos mandamentos de Deus coloca a pessoa no lugar em que a própria vida está em perigo e a causa de Deus aparentemente enfrenta a ruína.
Abrão passou anos em que a promessa do filho não aparecia e durante os quais o Altíssimo não deu indicação que estava a fazer alguma coisa para fazer com que a Sua palavra se transformasse em realidade. Por fim, isto tornou-se demasiado para o patriarca e sua esposa. Tendo perdido a confiança que Deus cumpriria a Sua responsabilidade e faltando-lhes a preparação para esperar ansiosamente mais tempo, assumiram o cumprimento da palavra de Deus no lugar d’Ele.
Aconteceu o mesmo com Rebeca e Jacó. Eles sabiam que o Senhor tinha prometido dar a primogenitura a Jacó, mas o tempo tinha expirado tanto quanto podiam ver, e, incapazes de repousar na palavra de Deus, sentiram que tinham de avançar e salvar a causa de Deus no lugar d’Ele. Este foi um erro fatal, o mesmo procedimento no qual o diabo procurou induzir Cristo no monte da tentação. Se Ele pudesse ter sido persuadido a fazer o que os outros fizeram, então tudo estaria perdido para sempre. O plano da salvação teria falhado completamente.
Ninguém jamais sofreu como Jesus nesse campo de batalha. Portanto, é impossível qualquer ser humano compreender o que Ele passou por nós, nem é possível a alguém apreciar a vitória que Ele ganhou. Enquanto por um lado podemos estar gratos por não nos ser pedido que passemos pelo que Ele sofreu, por outro lado, quanto melhor compreendermos a agonia pela qual Ele passou em nosso lugar, mais gratos estaremos e mais fortes seremos para resistir aos enganos de Satanás. O tempo passado em profundo estudo dessa batalha acompanhado de oração, recompensará o estudante com discernimento espiritual do plano da salvação que provará ser uma maravilhosa bênção para alma e um fortalecimento da experiência.
As pressões exercidas sobre Cristo eram de diversa ordem e complexas. A mais poderosa de todas brotou do Seu intenso desejo de fazer a obra vital que tinha vindo fazer à Terra. A realização da missão que Lhe foi divinamente designada esteve sempre acima de qualquer outra consideração. Foi a força orientadora da Sua vida, a coisa mais importante na Sua existência.
Ele sabia pela segura palavra da profecia que o plano da salvação falharia se morresse no cimo do monte. Havia um tempo e um lugar marcado para a crucifixão. A hora crucial ainda estava a três anos de distância e o local era fora de Jerusalém onde o acontecimento seria testemunhado por multidões de perto e de longe. Portanto, em nenhuma circunstância devia  morrer noutra altura ou lugar senão a apontada pelo Omnipotente Planeador.
Contudo, dia a dia toda a evidência visível declarava que Ele estava a aproximar-se cada vez mais duma morte prematura em consequência directa das instruções do Pai, enquanto Deus, em aparente indiferença, estava a deixar que tudo acontecesse. Quando os homens são colocados em situações semelhantes, têm a tendência para acusar Deus de ser frio, desinteressado, indiferente e negligente. É nessa altura que decidem que se o Senhor não os salvar, não têm alternativa senão salvarem-se a si mesmos. Era isto que Satanás estava determinado a levar Cristo fazer.
Nunca deve ser esquecido que Jesus não passou através do Seu ministério terrestre como um actor num papel em que sabia exactamente o resultado de todos os movimentos e exactamente o que ia acontecer a seguir. Os espectadores que observam uma actuação são mantidos em suspenso porque não sabem o que está para acontecer. Receiam que o herói não seja capaz de suportar as pressões exercidas sobre si e que não seja capaz de escapar à morte que o ameaça. Não é assim com o actor. Ele sabe exactamente qual será o resultado antes mesmo de começar a revelar a história. Para ele a única ansiedade é se fará uma boa ou má representação.
Mas, Cristo apesar de saber através da segura palavra da profecia os traços gerais daquilo que o futuro Lhe reservava, ignorava os resultados imediatos dos acontecimentos como qualquer filho de Deus que alguma vez existiu. Ele não gozou qualquer privilégio ou excepção quando enfrentou a tentação, mas suportou cada prova exactamente como todo o cristão deve fazer. “Mas o Filho de Deus era submisso à vontade de Seu Pai, e dependente de Seu poder. Tão plenamente vazio do próprio eu era Jesus, que não elaborava planos para Si mesmo. Aceitava os que Deus fazia a Seu respeito, e o Pai os desdobrava dia a dia. Assim devemos nós confiar em Deus, para que nossa vida seja uma simples operação de Sua vontade.” O Desejado de Todas as Nações, 208.
O fiéis de Deus têm que esperar pacientemente pelo Senhor sem saberem como é que Ele resolverá o problema ou se a solução incluirá o seu livramento pessoal do prejuízo ou mesmo da morte.
Aquilo que faz com que a espera seja realmente probante é o facto que o Altíssimo parece indiferente à sua desesperada súplica, que aparentemente os abandonou e parece não os ter deixado com alternativa senão defenderem-se a si mesmos e à causa do Senhor. A despreocupação quanto às consequências da obediência em circunstâncias como estas é a mais dura prova da fé. Em termos mais vigorosos Satanás afligiu o Salvador com esta prova o qual sentiu toda a pressão como qualquer um dos Seus seguidores quando o diabo vem contra eles. A única diferença é que o cristão nunca é levado ao desesperado extremo a que Jesus foi levado.
Não importa quão positivamente o Senhor possa tê-lo reconhecido antes, quando as trevas da aparente separação de Deus envolve a alma, o abatido crente em Jesus deseja alguma reafirmação que ainda é aceite pelo Senhor. Há sempre o receio que dalguma maneira tenha desagradado de tal modo ao Senhor entretanto que Este tenha sido forçado a abandoná-lo.
Quando Cristo estava sozinho no monte e cambaleando no ponto da morte pela fome, desesperadamente necessitava e intensamente ansiava alguma palavra de confirmação vinda do Pai. Satanás reconheceu isto e sentiu que podia desse modo ganhar uma tal vantagem que pudesse vencer o Salvador. Para alcançar isto, apresentou-se a Jesus como um anjo de luz afirmando que era o mesmo mensageiro que o Senhor tinha enviado para deter a mão de Abraão para não matar o filho.
“Eis que foi ter com o Salvador, como em resposta a Suas orações, disfarçado num anjo do Céu. Pretendia ter uma missão de Deus, declarar que o jejum de Cristo chegara ao termo. Como Deus enviara um anjo para deter a mão de Abraão de oferecer Isaque, assim, satisfeito com a prontidão de Cristo para entrar na sangrenta vereda, o Pai mandara um anjo para O libertar; era essa a mensagem trazida a Jesus. O Salvador desfalecia de fome, ambicionava o alimento, quando Satanás O assaltou de repente. Apontando para as pedras que juncavam o deserto, e tinham a aparência de pães, disse o tentador: ‘Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.’ Mat. 4:3.” O Desejado de Todas as Nações, 118.
“Satanás disse a Cristo que devia apenas colocar os pés na vereda salpicada de sangue, mas não palmilhá-la. Como Abraão, foi Jesus provado para mostrar Sua obediência perfeita. Afirmou ele também ser o anjo que detivera a mão de Abraão ao levantar o cutelo para sacrificar a Isaque, e que viera agora para Lhe salvar a vida; que não era preciso que suportasse a penosa fome e a ela sucumbisse; ele O ajudaria a levar a termo uma parte da obra do plano da salvação.” The Review and Herald, 4 de Agosto de 1874.
Foi “... como em resposta a Suas orações.....” que Satanás veio a Cristo vestido como um anjo de luz aparentemente acabado de chegar da presença do Pai. Sabendo que a experiência de Abraão era um tipo daquilo que Cristo havia de passar, dirigiu a atenção do Salvador para a aceitação da parte de Deus da disposição do patriarca para sacrificar o seu filho, como se o sacrifício tivesse sido realmente feito. O diabo argumentou que, apesar de ser um bom princípio que o antítipo deva estar em harmonia com o tipo, o Pai deve aceitar a prontidão de Cristo para entrar na vereda salpicada de sangue como se Ele tivesse realmente sacrificado a Sua vida. Caso contrário, inferiu Satanás, a experiência pela qual Abraão passou era um falso testemunho. Apesar de não o ser, este “belo anjo” afirmou que era o portador das maravilhosas novas que o Pai estava satisfeito, a obra já estava feita.
Não havia nada melhor calculado para apelar à humanidade de Cristo nesta altura. A perspectiva do fim desse devastador jejum e a entrada uma vez mais no conforto e alegria da vida era na realidade uma perspectiva muito atractiva. Todavia, antes do diabo transmitir esta suposta mensagem do Céu, argumentou que devia assegurar-se que ela era dada à pessoa certa. Tudo acerca da condição e aspecto do Salvador declarava que Ele tinha sido expulso do Céu, odiado e abandonado tanto por Deus como pelo homem e parecia-se mais com o anjo rebelde que tinha sido expulso do Céu do que com o Filho de Deus. Era inconcebível ao sedutor que o Pai tratasse o Seu verdadeiro Filho como Cristo estava a ser tratado desta vez. Contudo, este anjo tinha sido “enviado a Jesus” e desejava unicamente ter a certeza que tinha de facto vindo à pessoa certa. Portanto, o seu pedido era que Cristo o ajudasse dando-lhe qualquer prova da Sua verdadeira identidade.
“Quando o Filho de Deus e Satanás, pela primeira vez, se defrontaram em conflito, era Cristo o comandante das hostes celestiais; e Satanás, o cabeça da rebelião no Céu, fora dali expulso. Agora, dir-se-ia haverem-se invertido as condições, e o adversário explorou o mais possível sua suposta vantagem. Um dos mais poderosos anjos, disse ele, fora banido do Céu. A aparência de Jesus indicava ser Ele aquele anjo caído, abandonado de Deus, e desamparado dos homens. Um ser divino devia ser capaz de comprovar sua pretensão mediante um milagre; ‘se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães’. Mat. 4:3. Tal ato de poder criador, insiste o maligno, seria conclusiva prova de divindade. Isso poria termo à contenda.” O Desejado de Todas as Nações, 119.
Foi uma tentação subtil, poderosa, bem argumentada e hábil apresentado com todo o irresistível apelo à humanidade do unigénito Filho de Deus. Ele desesperadamente necessitava que Lhe fosse assegurado nesta altura que ainda era o Filho de Deus, mas, apesar dos seus intensos rogos de alívio para o Seu torturado espírito, nenhuma comunicação Lhe chegou do Céu. O conforto e apoio humano também estava longe nesta altura embora seja duvidoso que qualquer lenitivo pudesse ter vindo deste lado. O poderoso testemunho de todas as circunstâncias visíveis declaravam nos mais fortes embora falsos termos que o único ser a quem Ele podia recorrer era a Si próprio. Se não pudesse repousar pela fé na proclamação feita pelo Pai quarenta dias antes, tinha apenas que obter um sinal visível e positivo que era o mensageiro de Deus, teria que ser feito por Ele próprio e aqui estava este maravilhoso anjo propondo os meios pelos quais isso podia ser adquirido. Não seria difícil ver que “Não foi sem luta que Jesus pôde escutar em silêncio o arquienganador.” O Desejado de Todas as Nações, 119.
A resposta de Cristo a Satanás foi a declaração de um procedimento que garante a vitória total de cada vez que o princípio é posto em causa. Ele disse, “... Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” Mateus 4:4.
Deste modo Cristo colocou a questão da sobrevivência e mesmo da causa de Deus como secundário à implícita obediência às ordens do Senhor. Ele disse ao tentador que não era uma questão de quem Ele era, que aspecto tinha, ou o que a Sua situação inferia ou sugeria, mas somente daquilo que o Pai Lhe tinha ordenado que fizesse. Nada mais havia com que Ele tivesse que se preocupar. Havia apenas duas questões que deviam ser respondidas na Sua vida diária. Elas eram: “Qual é o mandamento de Deus? Qual Sua promessa?” O Desejado de Todas as Nações, 121.
Sabendo isto, obedecia a uma e confiava na outra mesmo que fazê-lo, parecia caminhar em consequências totalmente desastrosas tanto para si como para a causa de Deus. Mas compreendia que não tinha nada a ver com os resultados. Tinha que cumprir o Seu dever e deixar as consequências para Deus. Também compreendia que aquilo que parecia ser um iminente desastre era meramente as trevas antes do raiar. O Pai não podia cometer um erro e não cometeria. Portanto, os Seus planos não podiam ser executados fora do perfeito sucesso.
“Em presença do expectante Universo, testificou Ele ser menor desgraça sofrer seja o que for, do que afastar-se de qualquer modo da vontade de Deus.” O Desejado de Todas as Nações, 121.
Sofrer doença, ser privado de alimento e abrigo, ou morrer são calamidades terríveis, mas elas são menores do que caminhar em qualquer vereda que não seja a implícita obediência à vontade de Deus, o fiel cumprimento dos planos que o Senhor fez para nós.
Os filhos de Deus são frequentemente presos à ideia que o dever do seu Pai celestial é responder instantaneamente a todas as orações pedindo ajuda removendo imediatamente toda a causa de dificuldade e sofrimento assim que isso cai sobre eles. Pelo contrário, deve ser aprendido e aceite que o Senhor algumas vezes nos mantém à espera durante consideráveis períodos de tempo a fim de nos preparar para o tempo em que, durante a angústia de Jacó, a vitória não pode ser obtida sem um tempo de espera.
No deserto os dias passaram-se uns atrás dos outros sem ter sido dado ao Salvador qualquer alívio. Nada de anormal havia nisso e portanto não havia indicação que o Senhor já não estava com Ele ou tinha deixado o Seu lugar como Planeador ou Solucionador de problemas. O Altíssimo ainda continuava a prestar a maior atenção à obra que estava a avançar de acordo com os Seus perfeitos propósitos.
O Senhor tinha tentado usar esta forma de educação com os israelitas mas estes provaram ser os estudantes mais obstinados. Todas as vezes que o Senhor tentou ensiná-los permitindo que sofressem durante um período de confiante espera, revoltaram-se, privando-se desse modo das maravilhosas possibilidades de crescimento espiritual.
A respeito desses tempos Moisés declarou: “E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.” Deuteronómio 8:3.
“No deserto, quando falharam todos os meios de subsistência, Deus enviou a Seu povo maná do Céu; e foi-lhe dada suficiente e constante provisão. Essa providência visava a ensinar-lhes que, enquanto confiassem em Deus, e andassem em Seus caminhos, Ele os não abandonaria. O Salvador pôs agora em prática a lição que dera a Israel. Pela Palavra de Deus, fora prestado socorro às hostes hebraicas, e pela palavra seria ele concedido a Jesus. Ele aguardava o tempo designado por Deus, para O socorrer. Achava-Se no deserto em obediência a Deus, e não obteria alimento por seguir as sugestões de Satanás. Em presença do expectante Universo, testificou Ele ser menor desgraça sofrer seja o que for, do que afastar-se de qualquer modo da vontade de Deus.” O Desejado de Todas as Nações, 121.
Ele estava no deserto por ordem de Deus, mas teria sido uma coisa muito simples descer até uma região habitada e, depois de reunir uma provisão de alimento, regressar ao lugar onde Deus O havia colocado e continuar as Suas súplicas. Porém, não tinha ordem para fazer isso. Portanto, permaneceu onde estava apesar dos intensos sofrimentos e ameaça de vida.
Esta lição de implícita obediência tem que ser aprendida tão completamente por aqueles que serão os 144,000 que o Senhor será capaz de confiar neles tão totalmente como podia confiar em Cristo. Não será tarefa fácil alcançar este nível de obediência. Os que pretendem ser membros desse ilustre grupo deviam ponderar muito cuidadosamente se estão verdadeiramente preparados para fazer os sacrifícios necessários para alcançar isto.
Aqui por exemplo, está o tipo de situação que pode provar a pessoa. Um pai e uma mãe jovens ouvem a pregação do evangelho através da qual aprendem que Deus é o Restaurador do corpo assim como do espírito. Ficam emocionados quando ouvem o Senhor declarar, “Eu sou o teu Médico.” Reconhecem nisto um gracioso convite à entrega da guarda da saúde unicamente a Deus. De acordo com isto, fazem uma solene dedicação de si mesmos a Jeová nestes termos, determinando que nunca mais punham a sua confiança em qualquer outro procedimento que não o aprovado pelo Céu.
Não passa muito tempo até a sua resolução ser posta à prova. A esposa, esperando o seu primeiro bebé, fica gravemente doente. Confiantemente, seguem os procedimentos correctos na sua aproximação ao divino Médico e para sua alegria o problema desaparece. Os seus corações estão cheios da mais profunda gratidão ao Pai celestial que é poderoso na salvação e que responde às orações tão rápida e eficientemente.
Mas, apenas algumas semanas depois a mãe grávida fica outra vez gravemente doente. Confiante que a experiência anterior seria repetida, entregam a questão ao grande Medido tal como anteriormente, mas desta vez nada acontece. A doença agrava-se cada vez mais até que é evidente que a paciente está muito próximo da morte.
É neste ponto que a pressão começa a fazer-se sentir mais fortemente sobre os pais. O marido ama ternamente a sua mulher e não consegue aceitar o pensamento de a perder. Sente que algo tem de ser feito antes que seja para sempre tarde demais, especialmente quando começa a compreender que se ela morrer, será acusado de ser culpado de homicídio por ter negligenciado em recorrer aos serviços de um médico através de quem ela podia ser salva. Não pode ver evidência que o Senhor esteja ao menos interessado no caso, porque nenhuma resposta visível veio às suas orações. Esta é uma situação muito difícil e um tempo de prova. Aquilo que ele fizer agora revela quão firme está ancorado no princípio: que é “... menor desgraça sofrer seja o que for, do que afastar-se de qualquer modo da vontade de Deus.” O Desejado de Todas as Nações, 121.
Se ele e a sua esposa tiverem caminhado no serviço de Deus; se as únicas perguntas que os preocupem forem: quais são as ordens de Deus e quais as Suas promessas? e se cumprirem as simples condições envolvidas, nenhum desastre virá sobre eles. A esposa ou qualquer outro membro da família pode ser levado às portas da morte, mas não lhes será permitido entrar a menos que na superior sabedoria de Deus, Ele veja que é o melhor. Naquele momento esse é um resultado relativamente improvável. O verdadeiro cristão fará o seu concerto com o Senhor e permanecerá fiel a ele não importa que pressões possam vir. Ao fazer assim está a ser correctamente treinado para o conflito vindouro.
Há um paralelo muito próximo entre o que Cristo sofreu no deserto e a vitória ganha ali e a experiência pela qual os 144,000 passarão no tempo da angústia de Jacó. Jesus Cristo estava no deserto por ordem de Deus, assim a desesperada situação em que os 144,000 se encontrarão será um resultado directo da sua implícita obediência às instruções pessoais de Deus. À medida que a sua condição rapidamente piora, verão todo o apoio terrestre cortado, resultando no sofrimento de severa privação e fome. O pior de tudo é que as suas mais sinceras súplicas por libertação encontrarão o que parecerá ser o desinteressado silêncio do Céu. Tal como Satanás desafiou Cristo a provar Ele mesmo ser o mensageiro de Deus, assim os ímpios afrontarão os verdadeiros crentes com o pensamento que são filhos de Satanás e não de Deus. Os ímpios jactar-se-ão da sua unidade e poder. Apontarão para os maravilhosos milagres que estão a realizar-se entre eles, a sua devoção às Escrituras, a sua determinação para construir o reino de Deus e a evidentes bênçãos que estão a receber no meio de desastrosas pragas.
Importunarão os justos com o pensamento que o Senhor os abandonou e ridicularizarão os seus devotos apelos ao Altíssimo. Assim, será colocada sobre eles tremenda pressão para fazerem alguma coisa para se salvarem, para provarem quem são e salvarem a causa de Deus da derrota e da destruição. Isto não devem eles fazer, porque desse modo a causa de Deus seria destruída e o triunfo de Satanás seria completo.
Não há linguagem humana que possa descrever convenientemente a pressão que os santos sentirão nesta altura, quando, a todo o custo devem viver por toda a palavra que procede da boca do Senhor. A obediência deve ser a única consideração. Eles sabem que Cristo é o Segador ao passo que a sua tarefa é demonstrar que a única solução possível para os inúmeros sofrimentos que serão crescentemente sentidos pelos ímpios se encontra em Deus, o infinito Solucionador de problemas.
Assim, quando insistem com Jesus para que lance a Sua foice e segue, estão realmente a confirmar que reconhecem o papel de Cristo por um lado e a sua verdadeira posição por outro. Estão de facto a dizer que não há pressão que os induza a agir com qualquer outra consideração que não seja a obediência à palavra de Deus. Aquilo que Ele diz eles farão, nada mais e nada menos. Não farão qualquer tentativa para fazer a obra de Deus no lugar d’Ele como as multidões à sua volta estão a fazer. Estão a declarar que se relacionarão com a hora da tentação exactamente como Jesus fez no deserto.
É por causa deles estarem tão firmes na sua posição como Jesus esteve que serão bem sucedidos onde todos os outros movimentos do passado falharam. Enquanto os membros de todos os movimentos anteriores tomaram nas suas mãos a obra tentando construir o reino de Deus no lugar d’Ele, eles deixarão a sega e a construção do reino inteiramente para Ele. A grande vitória que obterão será alcançada mais por nada fazerem do que por fazerem alguma coisa. Este é o tipo de vitória mais difícil que alguém possa alcançar.
“O tempo de agonia e angústia que diante de nós está, exigirá uma fé que possa suportar o cansaço, a demora e a fome — fé que não desfaleça ainda que severamente provada. O tempo de graça é concedido a todos, a fim de se prepararem para aquela ocasião. Jacó prevaleceu porque era perseverante e decidido. Sua vitória é uma prova do poder da oração importuna. Todos os que lançarem mão das promessas de Deus, como ele o fez, e como ele forem fervorosos e perseverantes, serão bem-sucedidos como ele o foi. Os que não estão dispostos a negar o eu, a sentir verdadeira agonia perante a face de Deus, a orar longa e fervorosamente rogando-Lhe a bênção, não a obterão. Lutar com Deus — quão poucos sabem o que isto significa! Quão poucos têm buscado a Deus com contrição de alma, com intenso anelo, até que toda faculdade se encontre em sua máxima tensão! Quando ondas de desespero que linguagem alguma pode exprimir assoberbam os que fazem suas súplicas, quão poucos se apegam com fé inquebrantável às promessas de Deus!” O Grande Conflito, 621.


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