Os Sete
Anjos
Capítulo 16
Satanás Desmascarado
Satanás estava muito
mais preocupado a respeito do sucesso de Cristo em desmascarar as suas mentiras
acerca do perfeito carácter de Deus do que por causa da morte de Cristo pela
raça caída, pois ele sabia muito bem que quando Cristo tivesse chegado a esse
objectivo estava derrotado e condenado. Ele sabia que Jesus tinha adiado a Sua
entrada no campo de acção até ao momento em que a depravação moral da raça
humana e sua consequente decadência física, mental e espiritual tivesse
alcançado um tal limite que a sobrevivência da humanidade estivesse ameaçada. O
Salvador podia então fazer a revelação contrastante do carácter de amor do Seu
Pai que derrotaria o diabo.
Deve ser compreendido
que se a única obra que Cristo tinha que fazer fosse pagar a penalidade pelos
pecados do homem, podia ter vindo à Terra fazer esse serviço assim que Adão e
Eva caíram no Jardim e assim teria feito, porque não é por vontade divina que o
pecado tivesse permissão para existir mais tempo do que o necessário.
Porém, esperou quatro
mil anos até à chegada desse momento que as Escrituras definem como “Plenitude
dos tempos”.
“Mas, vindo a
plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei.” Gálatas 4:4.
Contudo, houve um
período, em que, apenas 1656 anos depois da queda, a impiedade do mundo se
tornou tão grande que o Senhor permitiu que ela fosse destruída pelo dilúvio. A
rebelião estava tão profundamente implantada e desafiadora que Jesus declarou
que ela era uma ilustração daquilo que será nos últimos dias em que o pecado
chegará à sua maturação final. O Salvador disse:
“E, como foi nos dias
de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem.” Mateus 24:37.
Se isto era assim,
porque não veio o Salvador para dar a demonstração necessária acerca do
carácter de Deus pela qual o fim viria? Não estava o carácter de Satanás
completamente revelado? Não podia a revelação do carácter de Deus ter sido dada
em contraste nessa altura?
Embora fosse verdade
que a impiedade e rebelião tinham atingido a completa maturidade no dilúvio e
quando Cristo veio por fim, mas havia ainda uma tão clara diferença entre os
dois períodos que Cristo teve que esperar até à segunda oportunidade. Nos dias
que conduziram ao dilúvio, apesar da iniquidade não restringida, os efeitos do
pecado dificilmente eram visíveis na raça humana. Tão grande era a vitalidade
concedida à humanidade na criação que nem mesmo a deliberada entrega ao pecado
que marcava as vidas dos antediluvianos não foi suficiente para os abater numa
extensão importante. Parecia como se estivessem a pecar sem impunidade.
“O livro de Gênesis
apresenta um relato bem definido da vida social e individual, e, todavia, não
temos notícia de alguma criança que nascesse cega, surda, aleijada, deformada
ou imbecil. Não é mencionado um só caso de morte natural na infância, meninice
ou juventude. Não há relato algum de homens e mulheres vitimados por doenças.
Os obituários no livro de Gênesis declaram o seguinte: ‘E foram todos os dias
que Adão viveu novecentos e trinta anos; e morreu.’ Gên. 5:5. ‘E foram todos os
dias de Sete novecentos e doze anos; e morreu.’ Gên. 5:8. Com referência a
outros, diz o relato: ‘Morreu em boa velhice, velho e farto de dias.’ Gên.
25:8. Era tão raro morrer um filho antes de seu pai, que tal acontecimento foi
considerado digno de menção: ‘Morreu Harã, estando seu pai Terá ainda vivo.’
Gên. 11:28. Harã já era pai ao tempo de sua morte.
“Deus dotou o homem
de tão grande força vital, que ele tem resistido à acumulação de doenças
trazidas sobre a humanidade em conseqüência de hábitos pervertidos, e tem
continuado por seis mil anos. Este fato, por si mesmo, é suficiente para
evidenciar-nos a força e a energia elétrica que Deus concedeu ao homem na sua
criação. Levou mais de dois mil anos de crime e de condescendência com vis
paixões para trazer sobre o ser humano doenças físicas em larga escala. Se
Adão, em sua criação, não houvesse sido dotado de vinte vezes mais força vital
do que os homens têm agora, a humanidade, com os seus atuais hábitos de vida,
em violação da lei natural, estaria extinta. Por ocasião do primeiro advento de
Cristo, o ser humano degenerara tão rapidamente que um acúmulo de doenças
pesava sobre aquela geração, ocasionando uma torrente de aflição e um fardo de
inexprimível desdita.” Fundamentos da
Educação Cristã, págs. 22 e 23.
Dois mil anos depois
da queda, chega aos dias de Terá e Abraão, o que significa que a doença era
praticamente desconhecida quando o dilúvio aconteceu cerca de quatrocentos anos
antes. Quão diferente era isto antes dos dias de Cristo em que a condição
física das pessoas era nada menos do que desesperada. Tão grande era o fardo da
doença, cegueira, enfermidade, desordens mentais e possessões demoníacas, que
Jesus passou mais tempo a aliviar as moléstias físicas e mentais do povo do que
na pregação do evangelho. Os anjos observadores e os habitantes dos mundos não
caídos não tiveram dificuldade em ver qual era o resultado do governo de
Satanás. O tempo tinha chegado totalmente em que o confronto necessário tinha
que acontecer, resultando numa vitória da justiça que não deixaria perguntas
sem resposta para formar uma base de dúvida em qualquer mente.
Satanás sabia que
havia uma saída para evitar confrontar-se com Cristo neste campo de batalha,
muito embora se sentisse confiante que alcançaria a vitória. Nenhum homem tinha
escapado das suas tentações e esperava que quando Jesus tomasse sobre si a
fraqueza da humanidade caída e andasse sozinho pelo reino de Satanás, tê-l’O-ia
então sob o seu poder e far-Lhe-ia conforme lhe aprouvesse. Todavia, Satanás
não tinha intenção de esperar até ao último momento para lançar todos os seus
recursos no grande conflito.
Ele sabia
perfeitamente que a natureza do grande conflito exigia de Cristo uma
demonstração na mesma carne e sangue como aquela em que o seu mau carácter foi
mostrado. Portanto, uma forma para assegurar que Cristo não pudesse realizar a
Sua missão era destruir a humanidade e o mundo em que ela vivia, antes da
plenitude do tempo ter chegado e o Salvador aparecesse.
Induzindo Adão e Eva
a pecar, esperou que eles pudessem ser imediata e permanentemente separados de
Deus e assim serem instantaneamente destruídos. Para sua frustração, o Senhor desceu
e, depois de falar aos nossos primeiros pais, dirigiu-se directamente à “...
antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás...” Apocalipse 12:9. O inimigo de Deus e do homem foi informado que o
Senhor lutaria pessoalmente pelos Seus filhos e resgatá-los-ia das mãos do
destruidor.
“Desde a declaração
feita à serpente no Éden: ‘Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a sua
semente e a tua semente’ (Gên. 3:15), Satanás ficara sabendo que não manteria
absoluto controle do mundo. Manifestava-se nos homens a operação de um poder
que contrabalançaria seu domínio. Fundamente interessado, observava ele os
sacrifícios oferecidos por Adão e seus filhos. Discernia nessas cerimônias um
símbolo de comunhão entre a Terra e o Céu. Aplicou-se a interceptar essa comunhão.
Desfigurou a Deus, e deu falsa interpretação aos ritos que apontavam ao
Salvador. Os homens foram levados a temer a Deus como um Ser que Se deleitasse
na destruição deles. Os sacrifícios que deveriam haver revelado Seu amor, eram
oferecidos apenas para Lhe acalmar a ira. Satanás despertava as más paixões dos
homens, a fim de firmar sobre eles o poder. Quando foi dada a Palavra escrita
de Deus, Satanás estudou as profecias concernentes ao advento do Salvador. De
geração a geração operou no intuito de cegar o povo para essas profecias, de
modo a rejeitarem a Cristo em Sua vinda.” O
Desejado de Todas as Nações, 115.
Era a sua intenção
que a raça humana fosse exterminada no dilúvio e chegou perigosamente do
sucesso. Uma pessoa pode imaginar a amarga frustração dele quando um justo
remanescente sobreviveu. Ele sabia que deles cresceriam grandes nações através
de quem o Senhor procuraria alcançar os Seus propósitos. Quando o diabo viu que
não podia fazer desaparecer toda a raça humana, concentrou-se especialmente no
povo escolhido. Sabendo que os planos de Deus eram para ser executados através
dos descendentes de Abraão e David, tentou quanto pôde para exterminar esta
linhagem. Numa altura chegou tão próximo de conseguir isso que o remanescente
foi um frágil bebé que milagrosamente sobreviveu para se tornar o rei Joaz.
Apesar dos seus
decididos esforços nos quais nenhuns meios eram considerados demasiado baixos
ou cruéis, a linhagem real sobreviveu até Cristo aparecer em Belém. Tinha
chegado o tempo em que Satanás tinha perante si a última oportunidade para
impedir o Salvador de cumprir a Sua missão. “Satanás viu que, ou venceria, ou
seria vencido. Os resultados do conflito envolviam demasiado para ser ele
confiado aos anjos confederados. Ele próprio devia dirigir em pessoa o
conflito. Todas as forças da apostasia se puseram a postos contra o Filho de
Deus. Cristo Se tornou o alvo de todas as armas do inferno.” O Desejado de Todas as Nações, 116.
Quando a hora de
crise se aproximou em que a radiante justiça no seu melhor tinha que enfrentar
a manifesta impiedade no seu pior aspecto, a humanidade estava ignorante quanto
à dimensão da batalha que estava próxima. Nem mesmo os homens que tinham
seguido o Salvador durante os anos do Seu ministério sabiam o que estava em
causa ou para vir. Mas isto não era verdade a respeito dos anjos ou dos
habitantes que enchiam os miríades mundos no espaço exterior. Eles tinham
esperado muito tempo para ver se Deus podia responder a todas as acusações que
Satanás tinha lançado contra Ele. Precisavam ver por si mesmos o verdadeiro
carácter de Deus e o dos Seus inimigos. Este era para eles o ponto decisivo na
eternidade. Ou perderiam todos os traços de simpatia para com Satanás, ou
perderiam para sempre a fé em Deus.
“Para os anjos e os mundos
não caídos, o brado: ‘Está consumado’ teve profunda significação. Fora em seu
benefício, bem como no nosso, que se operara a grande obra da redenção.
Juntamente conosco, compartilham eles os frutos da vitória de Cristo.” O Desejado de Todas as Nações, 758.
As Escrituras
declaram que um terço dos anjos seguiram Satanás ao sair do Céu e isto é
verdade, como está escrito:
“E a sua cauda levou
após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra...” Apocalipse 12:4.
“Satanás na sua
rebelião levou consigo uma terça parte dos anjos. Eles deixaram o Pai e o Seu
Filho e uniram-se ao instigador da rebelião.” Testimonies 3:115.
“Quando Satanás se
tornou indesejável no Céu, não apresentou ele sua queixa perante Deus e Cristo;
foi, porém, aos anjos que o julgavam perfeito, afirmando que Deus lhe fizera
injustiça, preferindo Cristo a ele. O resultado dessa falsidade foi, por motivo
de lhe terem aderido, um terço dos anjos perderam sua inocência, sua alta
posição e seu lar feliz.” Testimonies
5:291.
Mas, apesar de um
terço dos anjos terem seguido o diabo, os outros dois terços foram seriamente
enganados por ele. Estes sentiram que ele podia ter alguma razão e, até certo
ponto, tinham simpatia para com a causa dele. Contudo, recusaram-se a deixar a
sua lealdade a Deus a quem continuaram a servir apesar das persistentes dúvidas
não respondidas que inundavam as suas mentes. Sem dúvida que Deus lhes havia
assegurado que aquelas dúvidas seriam completamente tratadas por Cristo quando
Ele viesse à Terra. Portanto, foi com intenso interesse que esses anjos e
mundos não caídos observaram o desenvolvimento do conflito entre Cristo e
Satanás. Termino 3/9/2005
“Para os anjos e os
mundos não caídos, o brado: "Está consumado" teve profunda
significação. Fora em seu benefício, bem como no nosso, que se operara a grande
obra da redenção. Juntamente conosco, compartilham eles os frutos da vitória de
Cristo.
Até à morte de Jesus,
o caráter de Satanás não fora ainda claramente revelado aos anjos e mundos não
caídos. O arqui-apóstata se revestira por tal forma de engano, que mesmo os
santos seres não lhe compreenderam os princípios. Não viram claramente a
natureza de sua rebelião.
“Era um ser admirável
de poder e glória o que se pusera em oposição a Deus. De Lúcifer, diz o Senhor:
‘Tu és o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.’ Ezeq.
28:12. Lúcifer fora o querubim cobridor. Estivera à luz da presença divina.
Fora o mais elevado de todos os seres criados, e o primeiro em revelar ao
Universo os desígnios divinos. Depois de pecar, seu poder de enganar tornou-se
consumado, e mais difícil o descobrir-lhe o caráter, em virtude da exaltada
posição que mantivera junto do Pai.” O
Desejado de Todas as Nações, 758, 759.
Antes da queda,
Lúcifer tinha sido grandemente amado por aqueles anjos cuja capacidade de amar
era muito profunda, elevada e mais ampla do que qualquer coisa experimentada
pela humanidade hoje. Portanto, a sua afeição por Satanás, mesmo depois dele
ter caído, era uma poderosa força no seu pensamento. Apesar disto ser
totalmente recomendável, também era perigoso, porque, a menos que as suas
emoções fossem controladas por uma compreensão iluminada das questões do grande
conflito, seriam levados a quebrar a sua aliança a Deus em favor de um pacto com
o inimigo.
Eles queriam
acreditar que de algum modo ele podia ser corrigido e reintegrado. Eles não
podiam ver que ele se tinha destruído a si mesmo ultrapassando qualquer
possibilidade de salvação e um regresso ao seu estado perdido. Estes eram
problemas acerca dos quais agonizavam e para os quais tinham que ter respostas.
Deus amava Satanás
com um amor ainda maior, mas, ao mesmo tempo, podia ver com nítida e
compreensiva clareza a verdadeira natureza das falsas acusações de Satanás e o
que elas fariam aqueles que as aceitassem. Por conseguinte, enquanto eles
retivessem a mais profunda simpatia pelo
diabo na sua situação, não havia ligação de simpatia com ele. A rejeição de Jeová de todo o princípio pelo qual o
arqui-inimigo operava era total. Ele estava dedicado à total exposição deste
ímpio apóstata de modo que através disso todo o ser pudesse fazer uma escolha
inteligente sobre o lado a tomar. Até estes objectivos serem alcançados, o
grande conflito continua, independentemente de quantos crentes se juntem às
fileiras do Senhor. Por outras palavras, se todas as pessoas vivas na Terra
aceitassem a salvação de Deus e ficassem aptas para o Céu sem as dúvidas a
respeito do carácter e governo de Deus serem esclarecidas, o fim continuava a
não vir e Jesus não podia voltar. Isto é assim por causa da segurança do Céu
não poder ser assegurada enquanto estas questões não forem resolvidas para
completa satisfação de todos. Deus não necessita que elas sejam respondidas
para Seu próprio benefício, porque Ele não é enganado por elas. Nem, sendo
imortal e indestrutível, está preocupado por causa da sua posição. É por causa
dos Seus filhos em todos os ilimitados recessos do Universo, que Ele está
determinado a trazer estas coisas à luz.
Levou mais de quatro
mil anos a chegar a um parcial esclarecimento destas questões. Na cruz os anjos
e os mundos não caídos viram finalmente a verdadeira natureza dos argumentos
envolvidos e tomaram a sua decisão irrevogável e irreversível de servir a Deus
e a Ele somente. As últimas perguntas estavam respondidas e toda a remanescente
dúvida foi apagada para sempre.
“Com dor e espanto
contemplou o Céu a Cristo pendente da cruz, o sangue a correr-Lhe das fontes
feridas, tendo na testa o sanguinolento suor. O sangue caía-Lhe, gota a gota,
das mãos e dos pés, sobre a rocha perfurada para encaixar a cruz. As feridas
abertas pelos cravos aumentavam ao peso que o corpo fazia sobre as mãos. Sua
difícil respiração tornava-se mais rápida e profunda, à medida que Sua alma
arquejava sob o fardo dos pecados do mundo. Todo o Céu se encheu de assombro
quando, em meio de Seus terríveis sofrimentos, Cristo ergueu a oração: ‘Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.’ Luc. 23:34. E, no entanto, ali
estavam homens formados à imagem de Deus, unidos para esmagar a vida de Seu
unigênito Filho. Que cena para o Universo celeste!
“Os principados e os
poderes das trevas estavam congregados em torno da cruz, lançando no coração
dos homens a diabólica sombra de incredulidade. Quando Deus criou esses seres
para estar diante de seu trono, eram belos e gloriosos. Sua formosura e
santidade estavam em harmonia com a exaltada posição que ocupavam. Enriquecidos
com a sabedoria de Deus, cingiam-se com a armadura celestial. Eram os ministros
de Jeová. Quem poderia, no entanto, reconhecer nos anjos caídos os gloriosos
serafins que outrora ministravam nas cortes celestiais?
“Instrumentos
satânicos coligaram-se com homens maus em levar o povo a crer que Cristo era o
maior dos pecadores, e torná-Lo objeto de abominação. Os que escarneciam de
Cristo, enquanto pendia da cruz, estavam possuídos do espírito do primeiro
grande rebelde. Ele os enchia de vis e aborrecíveis expressões. Inspirava-lhes
as zombarias. Com tudo isso, porém, nada ganhou.
“Houvesse-se podido
achar um só pecado em Cristo, tivesse Ele num particular que fosse cedido a
Satanás para escapar à horrível tortura, e o inimigo de Deus e do homem teria
triunfado. Cristo inclinou a cabeça e expirou, mas manteve firme a Sua fé em
Deus, e a Sua submissão a Ele. ‘E ouvi uma grande voz no Céu, que dizia: Agora
chegada está a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do Seu
Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derribado, o qual diante do
nosso Deus os acusava de dia e de noite.’ Apoc. 12:10.” O Desejado de Todas as Nações, 760, 761.
Foi na cruz que
aquele que havia sido anteriormente lançado fora do Céu, foi lançado nesta
Terra, sofreu nessa altura uma terrível limitação das suas actividades. É
importante que a diferença entre estes dois acontecimentos sejam claramente
compreendidos. Eles estão expostos em Apocalipse
12:7-10.
“E houve batalha no
céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e
os seus anjos; Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E
foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás,
que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram
lançados com ele. E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: ‘Agora é chegada a
salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque
já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os
acusava de dia e de noite.’”
A guerra que começou
no próprio Céu entre Lúcifer e os seus seguidores dum lado e Cristo e os anjos
leais do outro, teve lugar antes deste mundo ser criado.
“Então houve guerra
no Céu. O Filho de Deus, o Príncipe do Céu, e Seus anjos leais empenharam-se
num conflito com o grande rebelde e com aqueles que se uniram a ele. O Filho de
Deus e os anjos verdadeiros e leais prevaleceram; e Satanás e seus simpatizantes
foram expulsos do Céu. Todo o exército celestial reconheceu e adorou o Deus da
justiça. Nenhuma mácula de rebelião foi deixada no Céu. Tudo voltara a ser paz
e harmonia como antes. Os anjos do Céu lamentaram a sorte daqueles que tinham
sido seus companheiros de felicidade e alegria. Sua perda era sentida no Céu.
“O Pai consultou Seu
Filho com respeito à imediata execução de Seu propósito de fazer o homem para
habitar a Terra. Colocaria o homem sob prova a fim de testar sua lealdade,
antes que ele pudesse ser posto eternamente fora de perigo. Se ele suportasse o
teste com o qual Deus considerava conveniente prová-lo, seria finalmente igual
aos anjos. Teria o favor de Deus podendo conversar com os anjos, e estes, com
ele. Deus não achou conveniente colocar os homens fora do poder da
desobediência.” História da Redenção,
19.
A luta que teve lugar
ali naquela altura não foi física. Lúcifer teria escolhido outro caminho do que
enveredar por esse tipo de batalha com o Deus cujo poder era incrível e ele
conhecia-o bem. Tinha visto o Altíssimo chamar à existência vastas galáxias e
estava bem ciente que depender do poder físico em qualquer confronto com Jeová
seria fútil. A situação era que Satanás não mais podia operar dentro da
estrutura da constituição divina. Ele lutou quanto pôde para conseguir mudá-la,
mas quando os seus esforços falharam, não teve alternativa senão partir para
qualquer lugar onde ele pudesse ganhar a batalha e estabelecer os seus
procedimentos. Quando ele foi “expulso” do Céu, foi para nunca mais voltar. Uma
vez fora, como o terrível impacto daquilo que tinha feito a si mesmo e aos seus
seguidores se tornou claro para ele, foi assaltado pelo terror e desejou
regressar ao seu lugar no Paraíso, mas isso era impossível. Tinha-se magoado
sem recuperação.
“Depois que Satanás e
os que caíram com ele foram expulsos do Céu, e tendo ele compreendido que
perdera para sempre toda a sua pureza e glória, arrependeu-se e desejou ser
reintegrado no Céu. Estava disposto a ocupar o seu próprio lugar, ou qualquer
posição que lhe fosse designada. Mas não; o Céu não devia ser colocado em
risco. Todo o Céu poderia vir a ser maculado se ele fosse recebido de volta;
pois o pecado originou-se com ele, e dentro dele estavam as sementes da
rebelião. Tanto ele como os seus seguidores choraram e imploraram para serem de
novo recebidos no favor de Deus. Mas o pecado deles — o seu ódio, inveja e
ciúmes — tinha sido tão grande que Deus não podia apagá-lo. Tinha de permanecer,
a fim de receber sua punição final.” Primeiros
Escritos, 146.
Deus teria de bom
grado aceite de volta ao Céu o querubim cobridor se o arrependimento tivesse
sido verdadeiramente genuíno, mas este foi do carácter encontrado em Balaão e
Judas — um desejo de escapar às consequências das acções erradas em vez de
qualquer sentido de necessidade de ser liberto do mal em si mesmo. No caso de
Satanás, isto é provado pelo facto que assim que soube que não seria recebido
de volta, a impiedade que estava dentro dele brotou de novo.
Depois de ter sido
expulso do Céu, o diabo tinha acesso aos anjos de Deus quando viajavam do Céu
para a Terra. Constantemente, apresentava os seus argumentos e agravos perante
eles, apelando sempre para a simpatia e amor deles enquanto se apresentava a si
próprio como aquele que tinha trabalhado para a bênção e reforma do Céu, apenas
para ser recompensado com a expulsão. Mas, quando Jesus morreu na cruz, tudo
isto foi cortado e ele perdeu esta audiência angélica para sempre. Na sua
desesperada determinação para forçar Cristo a cometer uma acção pecaminosa, ele
foi forçado a revelar toda a arma ao seu dispor. Quando se retirou exausto e
derrotado perante um morto mas triunfante Cristo, soltou todas as armas que
tinha. A sua máscara foi retirada e foi visto como ele realmente é. Nada mais a
respeito dele havia para ser aprendido. Os expectantes anjos e habitantes dos
mundos espalhados pelo imenso espaço ficaram completamente satisfeitos. Tinham
visto no Salvador apenas bondade, amor, piedade, compaixão e justiça brilhando
no seu brilho maior, enquanto o diabo tinha aparecido mais e mais maligno, sem
remorsos, odioso, cruel e sádico nessa altura.
Diagrama
“Satanás viu que
estava desmascarado. Sua administração foi exposta perante os anjos não caídos
e o Universo celestial. Revelara-se um homicida. Derramando o sangue do Filho
de Deus, desarraigou-se Satanás das simpatias dos seres celestiais. Daí em
diante sua obra seria restrita. Qualquer que fosse a atitude que tomasse, não
mais podia esperar os anjos ao virem das cortes celestiais, nem perante eles
acusar os irmãos de Cristo de terem vestes de trevas e contaminação de pecado.
Estavam rotos os derradeiros laços de simpatia entre Satanás e o mundo
celestial.” O Desejado de Todas as Nações,
761.
Esta foi uma tremenda
vitória, um passo gigante para a resolução final do grande conflito. Para os
anjos e mundos não caídos, o propósito da luta tinha sido alcançado. O carácter
de Deus tinha sido manifestado em contraste com o carácter de Satanás. Aquilo
que Deus procurou alcançar durante quatro mil anos estava feito. Cristo, as
primícias, tinha cumprido a obra que
tinha vindo fazer e podia agora dizer, “está consumado”.
Todavia, os homens
ainda não tinham visto estas questões. No Calvário um véu estava posto sobre os
seus olhos. Nem nessa altura, nem desde então têm os homens realmente
compreendido as diferenças entre os princípios de operação divinos nem os de
Satanás, mas virá o tempo em que eles verão. Aquilo que os anjos viram na cruz,
será visto e compreendido mesmo por aqueles que nessa altura estarão
completamente perdidos. A luz brilhará com tal brilho que penetrará as mentes
mais envoltas em trevas e convencerá mesmo os mais obstinados que o Senhor é
recto e justo.
Para alcançar o que
alcançou no Calvário, o Pai eterno tinha que ter ao Seu dispor um instrumento
que fosse totalmente e só justo e em quem aquelas virtudes estivessem
desenvolvidas ao seu mais elevado grau. Somente pela manifestação do carácter
divino no seu melhor brilho podiam as trevas do diabo serem totalmente
desmascaradas. Isto será alcançado da mesma forma durante a finalização do
grande conflito. Outra vez os Seus instrumentos escolhidos em quem Ele
aperfeiçoou a Sua obra da graça, justiça e verdade brilharão com refulgente glória
nas mentes obscurecidas dos perdidos e eles verão a perfeição divina e saberão
o que rejeitaram.
Cristo não será capaz
de fazer a esta obra final em pessoa, porque já não está vestido da carne
humana pecadora. Ele realizará isto através dos corpos de carne e sangue dos
Seus filhos — os 144,000. Deve ser salientado que não serão eles mas Ele a fazer isto, porque “Essa obra,
unicamente um Ser, em todo o Universo, era capaz de realizar.” O Desejado de Todas as Nações, 22.
Os instrumentos
através de quem Ele fará isto devem ser tão imaculadamente puros como Ele foi
no Calvário, caso contrário Cristo não seria capaz de brilhar na Sua pura luz
através deles. Eles serão trazidos a esta medida de perfeição e quando essa
obra estiver completa e todas as pessoas vivas na Terra forem levadas às suas
próprias convicções pessoais a reconhecerem que Deus é em tudo verdadeiro e
justo, o fim virá. Esta é a obra das primícias e, até que ela seja realizada, o
grande conflito tem que continuar e continuará e a vinda de Cristo continuará a
ser adiada.
Nunca pode haver uma
colheita enquanto as primícias não tiverem executado a obra que lhes foi
designada.
Entretanto, Satanás
está ocupado na contestação de cada passo. Antes da cruz ele dividia a sua
atenção entre os homens e os anjos, mas desde essa altura, tendo perdido toda a
esperança de seduzir os anjos, concentrou as suas energias no homem. É por esta
razão que está escrito para os habitantes do Céu uma vez que a vitória na cruz
foi alcançada: “Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais.” Apocalipse 12:12.
Bem podiam eles
estar, porque as suas dúvidas e interrogações foram todas respondidas e Satanás
já não mais podia tentá-los. Um novo dia tinha começado e podiam saltar de
alegria. Mas aquilo que é libertação para os anjos é uma causa de preocupação
para a humanidade, como revela o texto seguinte: “Ai dos que habitam na terra e
no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco
tempo.” Apocalipse 12:12.
Todavia, apesar dos
frenéticos esforços de Satanás, o Senhor reunirá por fim as Suas primícias e a
vitória final será ganha, o grande conflito terminará e Cristo regressará para
recolher a grande colheita dos séculos. Então os habitantes desta Terra podem
juntar-se aos anjos em júbilo. As suas lutas passarão e as suas tentações
terminarão.
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